Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015

Vida corrida- a última corrida - parte 1

kart_SP.jpg

Tudo começou aqui: em 1977 no kart

A partir desta postagem vou contar, em capítulos, a minha última corrida de moto e a decisão de parar de correr, mesmo a um passo de ser campeão brasileiro.

Como é difícil parar de correr...

Quando alinhei em último lugar para o grid de largada da última etapa do campeonato brasileiro de motovelocidade de 1999 já tinha decidido que aquela seria a última corrida oficial da minha vida. Estava com quase 40 anos, muito bem fisicamente, mas cansado de tudo que envolve corridas motorizadas. Justamente porque a melhor parte de correr é aquele momento entre a luz verde e a bandeira quadriculada, mas esse período dura pouco perto das horas intermináveis que envolvem todo preparativo. Só não esperava largar em último lugar, posição que só tinha acontecido antes comigo por algum tipo de punição dos treinos.

A minha carreira foi bem atípica, porque eu comecei a pilotar motos com 12 anos e aos 14 já sonhava ser piloto de corridas. Mas obviamente que meus pais detestaram a idéia. Graças a uma manobra meio cabotina, aproveitei o clima de festa em casa pelo meu irmão mais velho ter ingressado na faculdade de medicina e falei pra minha mãe:

- Mãe, me compra um kart!

 E ela:

 - Compro qualquer coisa que você quiser, quer um Fórmula 1???

 Deu certo e assim corri dois anos de kart, mas ficou aquela vontadinha de ser piloto de moto! Com a chegada das motos fora-de-estrada aproveitei para disputar enduros por uma década. Mas continuava aquela coceira de correr de moto em Interlagos. Até que realizei esse sonho em 1989 ao surrupiar uma Yamaha RD 350 de teste e participar de três provas do campeonato Paulista. Depois nunca mais... Mas o destino tinha reservado uma surpresa pra mim.

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Experiência de três corridas de RD 350 

 Em 1997 a Honda decidiu importar algumas motos de 125cc especiais, as mesmas que eram usadas nos campeonatos mundial e europeu. Uma máquina de corrida de verdade, com motor dois tempos, arrefecido a água, capaz de desenvolver mais de 50 cavalos para um peso de 60 kg. Leve e ardida. Nessa época eu era editor de uma importante revista de moto que decidiu montar uma equipe nessa categoria. Como a decisão foi tomada na véspera da primeira corrida, faltava o piloto e o diretor de redação entrou na sala, apontou pra mim e disse:

 - Se prepara porque você vai correr a primeira etapa!

 Pense num nervosismo! Havia oito anos que não pilotava uma moto de corrida, estava sedentário, acima do peso e apavorado. Mesmo assim topei o desafio. Por pura falta de opçãoe para preservar o emprego...

 Assim que botei os olhos na moto me apaixonei. Estava toda original, branca, imaculadamente branca. O preparador mandou eu vestir o equipamento e disse pra amaciar o motor. Para sair do box foi um sufoco. A potência máxima era a 10.000 RPM e o torque a 9.000 RPM. Precisava manter o motor nessa faixa de 1.000 RPM. A primeira marcha ia a 90 km/h e tinha mais cinco! Para sair era preciso manter o giro a 9.500 RPM e fritar a embreagem até ela ganhar velocidade e sair.

Riodejaneiro.jpg

Honda RS 125 de 1994, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro: difícil de pilotar!

 Logo de cara percebi que a moto era pequena demais! E eu era travado por falta de atividade física. Não conseguia vestir a moto porque as pedaleiras eram altas e recuadas, eu parecia um feto de macacão em cima da moto. Nas primeiras voltas fiquei me acostumando com o pneu slick e o freio dianteiro muito potente. Terminada essa primeira sessão de treinos foi a hora de acelerar pra valer. Na primeira volta tudo bem, mas na segunda vim de mão colada na reta e quando meti a mão no freio dianteiro quase fui arremessado por cima da carenagem. O tanque estava encerado e não consegui segurar meu corpo diante de uma frenagem tão radical. O resultado foi uma sacada no tanque que quase esmagou duas castanhas.

Depois dessa primeira experiência dolorida vi que a moto era até gostosa de pilotar, mas muito difícil de acertar. Esse primeiro ano fiz algumas provas esporádicas e terminei o campeonato em nono lugar. No segundo ano já consegui fazer todas as etapas e terminei em quarto. E no terceiro e último ano comecei liderando por puro golpe de sorte e cheguei na derradeira etapa como líder, com três pontos de vantagem para o segundo colocado. Mas teria de largar em último...

(Continua...)

 

 

publicado por motite às 01:41
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