Um dos testes mais comentados: o comparativo com a Lander 250. (Foto: Tite)
Usada da vez: Honda XR 250 Tornado
Uma das motos mais versáteis e completas do mercado brasileiro
Sempre gostei mais de motos de uso misto. Tive dúzias delas, desde a 180cc dois tempos, até várias Honda XL e XLX 250R, Agrale, Suzuki, BMW e até uma problemática Cagiva. Mas a que sempre quis ter, mas nunca comprei, foi a Honda XR 250 Tornado. Desde o primeiro dia que vi foi amor à primeira vista. Nesta época eu tinha uma Suzuki DR 650RE que considero uma das melhores motos já produzidas no planeta Terra. mas eu morrida de vontade de ter uma Tornado.
Por conta da minha condição de testador palpiteiro, rodei trocentos mil quilômetros de Tornado nas mais variadas condições. Ouso dizer que devo ser o jornalista que mais rodou com esta moto em teste. No período de comercialização da Tornado eu trabalhei em duas revistas especializadas diferentes e nas duas fiz testes de longa duração. E quanto mais pilotava essa moto, mais apaixonado eu ficava. Mas nunca tive uma para chamar de minha.
Pouca gente sabe, mas o motor 250cc, quatro tempos, de quatro válvulas e duplo comando da Honda nasceu para equipar uma moto fora de estrada. O projeto caiu como uma luva para o nascimento, em 2001, da Honda XR 250 Tornado, grande sucesso de vendas da marca no Brasil. Só depois este motor foi adaptado a uma moto urbana, a Twister 250. Mas desde sempre ficou mais bem casado com a versão offroad. Para ser honesto, a Twister nunca foi um produto 100% bem projetado. Algumas falhas persistiram até o fim da linha.
Que me desculpem as outras, mas Tornado tem de ser vermelha!
Revendo minha coleção de revistas acho mesmo que fui o jornalista que fez mais quilometragem em cima de uma Tornado. Além dos inúmeros testes, fiz várias viagens de longa duração montado no banco estreito e duro! Em uma delas, de Natal, RN, a Salvador, BA, até contraí um matrimônio! Em outra ocasião fui até Campo Grande (MS) e entrei no meio de um rally em pleno Pantanal Matogrossense. Também tive a chance de comparar com as principais concorrentes, desde a Yamaha XT 225 e depois com a Yamaha XTZ Lander 250, este último um teste que entrou para a história!
Só pra contar um pequeno (entre centenas) de causos, na viagem de Natal para Salvador eu usei um acessório para minha bunda aguentar o banco estreito e duro. Era uma almofada de gel que eu prendia com uma cinta de velcro. Num trecho de terra fui levantar do banco e zum, lá se foi a almofada. Só percebi alguns kms depois quando voltei pro banco. Voltei pela estrada, já á noite, com aquele farol fraquinho, sem esperança de achar minha almofada quando vejo um cachorro todo enroladinho no meio da estrada. Estava deitado na minha almofada. Recuperei a almofada e segui viagem. Sem ela seria muito difícil sobreviver àquele banco.
Rodas de alumínio deixam a Tornado mais aventureira ainda.
Desde sempre achei as motos de uso misto mais adequadas às estradas e ruas brasileiras. Lembre, apenas 13% de todas as vias do Brasil são asfaltadas. Isso mesmo, parece ficção, mas é a pura verdade. Nos 87% restantes é bom ter um veículo que enfrente bem estas condições. No caso da Tornado ela encarava tão bem o fora de estrada que várias vezes me joguei em trilhas pesadas com a moto original, sem nenhuma alteração em pneus ou relação.
Outro aspecto interessante deste modelo é seu desenho que permanece atual até os dias de hoje. Uma surpresa para quem ama a Tornado é que ela saiu de linha no Brasil em 2008, mas continuou sendo produzida até 2019 para o mercado argentino! Sim, era possível ter uma Tornado “zero km” em 2019! O que acabou com a venda da Tornado em terras brasileiras foram as regras de emissão de poluentes da PROMOT. Inviabilizou os motores com carburador e acelerou a chegada da XRE 300 com injeção eletrônica.
A Tornado pode ser usada dentro e fora de estrada.
Um detalhe que fez muito sucesso foi o painel digital. De tão bem bolado e desenhado ele se tornou um item de customização entre as motos de outras categorias. Virou mania colocar painel de Tornado em todo tipo de moto! Por isso mesmo a Tornado foi por muitos anos uma moto muito visada pelos bandidos! Mas também porque é boa de fuga!
Como é
A Tornado 250 é uma moto muita balanceada para circular nos ambientes urbanos e rurais. O sistema de suspensão, derivado diretamente das motocross da marca, adota o conjunto traseiro Pro-Link monoamortecido regulável, com 224 mm de curso, enquanto a dianteira tem bengalas com tubos de 41mm de diâmetro e 245mm de curso.
O mais fantástico dessa suspensão é o comportamento no fora de estrada pesado. Eu mesmo tive a chance de comprovar em várias oportunidades, especialmente no rally em pleno Pantanal. Nesta ocasião, além de provar o bom trabalho da suspensão, pude comprovar a eficiência dos pneus de uso misto – muito mais off do que on road – Metzeler Enduro 3 Sahara. Porém no uso estradeiro estes pneus se mostraram exageradamente barulhentos. Neste caso não há o que fazer: para os pneus terem eficiência na terra precisam ter sulcos largos e profundos e isso causa ruído mesmo.
Minha participação no rally com a Tornado. Na mesma trilha dos pilotos "de verdade". (Foto: Café)
Neste rally pantaneiro peguei um longo trecho de areião pesado e nem sequer diminuí a calibragem. Entrava e saía do asfalto para terra e vice versa várias vezes e pude confirmar o quão versátil é a Tornado. Podem ser barulhentos, mas os pneus são muito versáteis.
Se for usar na Tornado essencialmente no asfalto existem opções de pneus mais on e menos barulhento, como o Pirelli MT 60, por exemplo. Ele oferece a versatilidade com menos ruído no asfalto.
Entre as broncas mais comuns dos donos de Tornado a altura do assento é uma das mais ouvidas. Quando nova, essa distância do banco ao solo é de 880mm, muita coisa, o que acabou prejudicando muito a venda para o público feminino e entre os mais baixos. Como o amortecedor traseiro tem um curso bem grande, depois que o piloto assume a posição de pilotagem, a moto abaixa bastante.
Acredite, a Tornado foi fabricada até 2019, mas para exportação.
Um dos destaques da Tornado é o câmbio de seis marchas, que atua como se a sexta marcha fosse uma espécie de “overdrive”. Além de manter o motor em rotação mais baixa na última marcha, ajuda bastante a melhorar o consumo. Nas dezenas de viagens que fiz com essa moto o consumo foi dentro do esperado para a categoria. A melhor marca foi de 36 km/litro rodando com toda paciência do mundo. E a pior foi de 14 km/litro quando precisei encarar mais de 1.000 km de estrada em apenas um dia de viagem.
Aliás, na viagem de Natal a Salvador passei um tremendo sufoco à noite. O farol da Tornado tem lâmpada de 35W, mas a lente pequena não espalha o facho e num trecho de rodovia sem as faixas pintadas no asfalto optei por dormir em um posto de gasolina a continuar em voo cego. No meio da noite fui salvo por um mecânico de moto que ofereceu para carregar a moto (e eu) até Maceió, AL. Consegui dormir numa pousada.
A polêmica velocidade
Uma polêmica envolvendo essa moto foi na minha viagem até Campo Grande. Num trecho da estrada peguei uma longa descida, com uma forte ventania de cauda e o velocímetro chegou a 163 km/h. Eu já tinha percebido que aquela Tornado tinha um motor mais forte do que as outras que tinha testado. Isso pode acontecer por vários motivos, em motos novas. Eu mesmo fiquei besta ao ver o número no painel. Uma das explicações é justamente o câmbio de seis marchas. Como a Tornado não tem conta-giros nunca soubemos se ela “enchia” a sexta até 7.500 RPM em condições normais. Com este vento de popa acho que foi suficiente para literalmente empurrar a moto até essa velocidade absurda.
Quando este teste foi publicado na revista da MOTO! o revisor vacilou a saiu 168 km/h. Isso gerou uma comoção nas redes sociais (Orkut, na época). O que os “haters” omitiram foi a parte que eu explicava que na mesma estrada quando pegava o vento contrário a velocidade máxima não passava de 90 km/h em quinta marcha, porque se engatasse a sexta a velocidade piorava mais. À noite eu vi o noticiário informando que a região tinha sido assolada por uma ventania incomum. Eu que diga, quase saí voando!
Painel tão moderno que serviu a muitos projetos de customização.
Nos testes feitos em condições normais, ao nível do mar, nos dois sentidos, a maior velocidade máxima alcançada por esta Tornado foi de 142 km/h. O normal era por volta de 132 a 135 km/h. Isso pouco importa, porque este motor de 23,2 CV a 7.500 RPM tem um desempenho suficiente para uso normal e permitir uma viagem tranquila – como eu mesmo provei várias vezes. O câmbio de seis marchas ajuda nas respostas mais vigorosas. A aceleração de 0 a 100 km/h foi feita em média em 12,5 segundos.
Dois outros testes importantes realizados com a Tornado foram o de 24 horas sem parar na revista MOTO! e o de 10.000 km rodados. No primeiro teste chamou atenção o consumo de óleo que chegou a 300 ML para 1.640 km rodados. Pode parecer alto para um motor novo, mas nos testes 24 horas a moto é submetida o tempo todo na sua aceleração máxima. Além disso o motor arrefecido a ar consome óleo mesmo. Por isso é bom ficar esperto e verificar o nível de óleo a cada 1.500 km.
Teste de 10.000 km: em busca do ruído do motor. (reprodução revista MOTO!)
Já no teste de 10.000 km o que mais chamou atenção foi o ruído no motor. Começou dentro do normal, mas depois aumentou e as explicações passaram pelo principal suspeito que era o rolamento de virabrequim com folga ou o pino do pistão também com folga excessiva. Estes dois “problemas” foram solucionados nas Tornado mais novas. Os dois testes foram realizados em 2001 no ano do lançamento.
Ao longo dos seus sete anos de vida a Tornado teve apenas pequenas mudanças na estética (grafismo, escapamento, o kit de plástico do tanque), mas na parte mecânica permaneceu sempre o mesmo confiável propulsor alimentado por carburador.
Uma das reclamações mais ouvidas dos proprietários era com relação ao freio traseiro a tambor. Essa bronca aumentou quando a Yamaha lançou a concorrente Lander 250 com freio traseiro a disco. Na prática o freio da Tornado, mesmo com disco apenas na frente, é mais eficiente do que o da Lander, porque a mangueira do freio dianteiro da Yamaha é meio “borrachuda”.
O que observar?
Por ser uma moto de uso misto é importante saber se a Tornado usada frequentou muito as estradas de terra. Observe os rolamentos da caixa de direção, da balança traseira e das rodas. Os aros são de alumínio, um dos charmes dessa moto, verifique se estão sem amassados ou tortos. Também é bom conferir os retentores das bengalas porque o guarda-pó esconde os vazamentos.
A suspensão traseira pode ficar cheia de barulhos se não for feita a manutenção periódica. Basta subir na moto e forçar pra baixo em busca de ruídos. Também é bom trocar o óleo das bengalas se a moto avaliada tiver mais de 30.000 km.
Os preços variam de R$ 6.500 a R$ 13.500 (em São Paulo). Difícil é achar uma em estado original porque esta é uma das motos com mais equipamentos de personalização do mercado, principalmente o escapamento. Alguns de muito bom gosto, mas muitos de gosto bem duvidoso. É quase uma raridade encontrar uma Tornado com escape original. Outro desafio é encontrar com menos de 50.000 km rodados porque é uma moto feita pra viajar, mas com sorte tem até com 20.000 km rodados. As cores produzidas foram: branca, vermelha, azul, preta e amarela.
FICHA TÉCNICA
Motor
Tipo – quatro tempos, monocilindro, arrefecido a ar, quatro válvulas, duplo comando no cabeçote.
Cilindrada – 249 cc
Diâmetro/curso – 73x59,5 mm
Potência – 23,2 CV a 7.500 RPM
Torque – 2,41 Kgf.m a 6.000 RPM
Taxa de Compressão – 9,3:1
Alimentação –carburador 30 mm
Câmbio – seis marchas; embreagem acionamento mecânico
Transmissão – coroa, corrente (com O-rings) e pinhão
Quadro - tubular semiduplo de aço
Suspensão dianteira – garfo telescópico regulável. 245 mm
Suspensão traseira – monoamortecedor Pro-Link 224 mm
Distância entre eixos – 1.414 mm
Freio dianteiro – disco
Freio traseiro – tambor
Pneu dianteiro – 90/90-21
Pneu traseiro – 120/80-18
Comprimento total mm – 2.130
Largura total mm – 829
Altura do assento – 840 mm
Peso seco – 131 kg
Tanque – 11,5 litros
Consumo de combustível – 25,5 km/litro (média geral); pior medida 14 km/litro, melhor medida 36 km/litro
Velocidade máxima (declarada) – 130 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h – 12,25 segundos
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