Escolhas – as utilitárias
Iniciar na vida motociclística é bem mais complicado do que na vida de motorista. O automóvel é um veículo que entra – e sai – naturalmente em nossas vidas. Desde que nascemos até encerrarmos nossa existência (forma educada e eufemística de dizer “morrer”), o carro está presente. Nossas mães foram para a maternidade dentro de um carro e provavelmente nossa primeira visão do mundo foi através do pára-brisa de um carro. E nossa velha carcaça cansada irá partir desta para melhor dentro de um carro funerário. É carro o tempo todo. Os meninos brincam de carrinho e quando as meninas espertas brincam de casinha elas têm um motorista!
Já a moto não. Ela nos foi introduzida como uma intrusa em nossa história motorizada. Principalmente para nós, brasileiros, que só viemos a conhecer a popularização da moto como meio de transporte nos anos 90. A moto é a novidade, enquanto o carro é a tradição.
Por isso é mais fácil e natural escolher o primeiro carro do que a primeira moto. E também por isso que existem sujeitos especialistas como eu que gastam horas e suas impressões digitais para explicar a você aí do outro lado da tela como fazer a coisa certa. Mesmo assim tem gente que insiste em fazer a coisa errada...
A melhor forma de iniciar na vida motociclística é com uma moto pequena. E por pequena entenda as motos que vão de 100 a 250cc. Sim, 250 é pequena e não média como os donos de 250 gostam de exagerar. Em termos de desempenho a diferença não é tão grande, mas as 250 têm melhores freios e proporcionam mais conforto para piloto e garupa. Porém o consumo de gasolina é maior, assim como o custo de manutenção. Não é considerado um erro começar por uma moto de 250, como acreditam alguns. Mas o problema aparece quando um novo motociclista decide começar por uma moto de 500, 750 ou até 1.000cc, como já vi várias vezes.
Utilitárias
Se a idéia é usufruir uma moto para economizar em gasolina, manutenção e tempo de percurso, nada melhor do que as utilitárias. Elas se situam na faixa de 100 a 150cc, têm manutenção simples e barata (muita gente faz a manutenção em casa) e representam o que existe de mais econômico no mundo motorizado.
Por alguns meses usei uma Honda Biz 125 para ir de casa (zona Sul) ao trabalho (zona Norte) de São Paulo. Um percurso de 24 km (48 ida+volta) que me consumia cerca de 25 minutos. Minha colega de trabalho, vizinha de bairro, demorava de 45 minutos a uma hora para fazer o mesmo trajeto.
Sempre tive motos grandes, mas meus deslocamentos eram curtos. Quando fui trabalhar longe de casa descobri a regra inversamente proporcional do motociclista: se você mora na cidade, quando maior o deslocamento menor deve ser a moto! Minha moto de 650cc consumia em média 15 km/litro de gasolina e ainda sofria com um estresse mecânico terrível ao rodar sempre em baixa velocidade, com muitas paradas. Quanto maior o motor maior é a liberação de energia e consequentemente a necessidade de troca de calor (arrefecimento).
A pequena Biz 125 fazia 40 km/litro, não sofria tanto, porque o motor jê é feito para passar por esse estresse mecânico e o mais interessante: o tempo de percurso era o mesmo, porque se existe uma verdade insofismável é a equação da velocidade (v=espaço/tempo). Se o trânsito de São Paulo impede que uma moto rode a mais de 50 km/h tanto faz se é uma 100cc ou uma 1.200cc!
Portanto, a primeira decisão que um neo-motociclista precisa tomar na hora da escolha é se perguntar: para que eu quero uma moto? Só depois de respondida essa pergunta é que deve começar a pesquisar as motos do mercado.
Se o uso for essencialmente urbano, sem transportar garupa e servir como um meio de transporte individual, as motos utilitárias urbanas na faixa de 100 a 150 são as opções mais sensatas. Se o deslocamento for curto e sua cidade contar com boas vias pavimentadas podem-se incluir os scooters.
Mas se a idéia for usar a moto também como lazer, com pequenas viagens nos finais de semana, sem preocupação exagerada com economia, ou ainda se for aproveitar para dar carona para a esposa, filho(a), mãe, pai qualquer pessoa na garupa uma moto de 250cc será muito mais eficiente e confortável, sempre lembrando que os custos de manutenção serão maiores (sobretudo peças como pneus e freios). Hoje em dia muitos motociclistas adotaram as motos utilitárias pequenas como a “segunda moto da casa”. Usam uma moto maior para o lazer, turismo e transporte de garupa e deixam a pequena utilitária para o uso individual diário.
Qual?
Essa é a pergunta mais difícil de ser respondida: qual modelo escolher? Quando rodei de Biz 125 fiquei tão apaixonado pela motoquinha que até quis adquirir uma, mas voltei a trabalhar em casa e dispensei essa opção. Além disso, eu já tenho um scooter para os pequenos deslocamentos.
Diria que em vez de se preocupar tanto com marcas, o novo motociclista deve conhecer bem as CATEGORIAS que existem dentro dessa faixa de 100 a 200cc. São elas:
Cub ou Motonetas – Motonetas que se caracterizam por não ter o tanque de gasolina entre as pernas do motociclista e que são pilotadas sentado e não montado como uma moto, por isso eram chamadas de “moto de padre”, porque podiam ser pilotadas de batina. Geralmente têm o escudo frontal e um porta-objeto muito prático sob o banco. A mais vendida e conhecida é a Honda Biz 125, praticamente a pioneira neste estilo. Geralmente têm câmbio de engate rotativo sem embreagem manual (a embreagem é automática). São econômicas em consumo de gasolina e com baixíssimo custo de manutenção.
Utilitárias urbanas – São motos no sentido clássico mesmo, com tanque entre as pernas, pilota-se montado e não contam com porta-objetos. São as preferidas dos motociclistas profissionais, pois a produção em escala oceânica reduz os custos das peças de reposição. Também têm motor econômico e muito resistente. No entanto apresentam alguns problemas: justamente por serem as mais vendidas do mercado são também as mais procuradas pelos ladrões em busca de peças de reposição ou mesmo para uso “profissional” em pequenos delitos.
Utilitárias de uso misto – São motos que aliam o conceito de economia das pequenas, porém com um estilo off-road. Geralmente são escolhidas por motociclistas mais altos porque elas têm maior distância do banco ao solo, ou por aqueles que querem fugir do visual “motoboy”. São indicadas para quem vive em cidades de péssima pavimentação ou enfrenta estradas de terra. O motor é tão econômico quanto uma urbana, porém por usar uma relação final de transmissão (coroa/pinhão) mais curta elas atingem velocidades menores. Algumas peças são mais caras, principalmente os pneus, mas o benefício do conforto garantido pela suspensão de curso longo compensa o gasto adicional. Quando viajo ao Nordeste percebo que muitos usuários preferem rodar na terra com motos de uso urbano só porque as peças de reposição são mais baratas e são motos com melhor valor de revenda. No entanto pouca gente sabe que os pneus de asfalto se deterioram mais rapidamente quando usados em estradas de terra.
Utilitáriasmotard – Trata-se de um conceito relativamente novo que mistura conceitos da moto fora-de-estrada com motos urbanas. Elas têm o estilo de uma moto de uso misto, porém com pneus de uso urbano e são mais baixas que uma moto off-road. Ou seja, é o que se poderia chamar de “o melhor de dois mundos”, mas também alguns a encaram como o pato que tem nadadeiras e asas, mas não nada nem voa direito! Pode ser a solução para quem gosta do estilo fora-de-estrada, porém não tem estatura para alcançar os pés no chão ou que jamais roda em estradas de terra.
Utilitárias custom – Hoje já podemos contar com algumas pequenas motos na faixa de 125 a 150cc com característica custom: guidão largo, bancos largos, pequena distância do banco ao solo, pneus mais largos e um estilo que remete às Harley-Davidson. Obviamente são mais caras, mais pesadas e menos econômicas que as anteriores. O estilo foge mais ainda ao padrão “motoboy” e são indicadas especialmente aos motociclistas de baixa estatura por serem mais baixa. O banco do garupa é mais espaçoso e confortável. Mas não são indicadas para uso em trânsito intenso porque o guidão largo e alto dificulta a passagem nos corredores formados entre os carros. A posição de pilotagem torna-se cansativa quando usada por muitas horas seguidas porque o piloto apóia todo peso do corpo diretamente na coluna lombar, enquanto nos outros estilos o piloto divide o peso do corpo nas pernas.
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ATENÇÃO!
O problema de falta de conexão não era na placa de rede, como eu suspeitava, mas no modem da Net-Virtua. Depois de esperar por TRÊS DIAS (mais de 12 chamadas telefônicas) desisti dessa prestadora de serviços e contratei a Speedy. A instalação deverá ser na próxima segunda-feira de carnaval. Aguarde mais um pouco...