Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2021

Tem pneu novo chegando: Pirelli Diablo Rosso IV

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Pneu escolhido pela maioria dos fabricantes de motos de alto desempenho. (Divulgação)

O bom Diablo

Pirelli Diablo Rosso chega a cinco milhões de pneus vendidos e comemora com o lançamento da quarta geração.

Nascida em 2008, a marca Diablo Rosso aproveita a tecnologia desenvolvida pela Pirelli no Campeonato Mundial de Superbike da FIM para oferecer o melhor desempenho de pilotagem. A família de pneus Pirelli Diablo Rosso entra no novo ano com números recordes e comemora a conquista de um marco importante: mais de cinco milhões de pneus radiais vendidos desde a sua introdução no mercado em 2008.

O Diablo representa a excelência da Pirelli no mundo dos pneus de alto desempenho projetados para veículos de duas rodas. A família de produtos Diablo, após sua introdução no mercado em 2002, rapidamente evoluiu para incluir em seu amplo portfólio pneus dedicados a outros segmentos de mercado, indo de produtos para corrida profissional até superesportivas de rua. A marca Diablo traz consigo mais de 18 anos de experiência, tecnologia e vitórias nas mais prestigiadas competições nacionais e internacionais de duas rodas.

Dentro da gama Diablo, os produtos Diablo Rosso são dedicados para máquinas para uso diário com aspiração esportiva. O nome Diablo Rosso nasceu com a intenção de homenagear a cor distinta da equipe nacional de automobilismo italiana desde 1922, que era vermelha de corrida.

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Quer conhecer a linha completa Diablo Rosso? Clique no banner acima!

Os fabricantes de motocicletas mais prestigiados do mundo escolhem os produtos Diablo Rosso como equipamento original para seus modelos de topo de linha, enquanto muitas revistas e sites internacionais respeitados consideram os produtos Diablo Rosso uma referência no setor. Entre os principais produtos desta família estão, atualmente, pneus como Diablo Rosso Corsa II, Diablo Rosso III e Diablo Rosso Scooter, ainda pneus de referência em seus respectivos segmentos.

Graças ao alto desempenho de cada um desses produtos, apoiados pela capacidade dos engenheiros da Pirelli de antecipar as demandas de um mercado em constante evolução e usar materiais e tecnologias de ponta, a família de produtos Diablo Rosso atingiu a importante marca de cinco milhões de pneus radiais vendidos em todo o mundo.

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Ducati só usa Pirelli em 100% da linha. Eu testei esse na Itália. (Foto: DRE)

Números respeitáveis ​​que permitem a Pirelli anunciar com grande satisfação e orgulho a quarta geração desta família de pneus, com a chegada do Diablo Rosso IV, o novo produto superesportivo criado para continuar a história desta marca de sucesso. Como sucessor direto do Diablo Rosso III, o Diablo Rosso IV elevou o nível desta gama de produtos para um nível ainda mais alto, tanto em condições de pista seca quanto molhada.

O Diablo Rosso IV é dedicado aos motociclistas que amam um estilo de pilotagem mais dinâmico, proprietários de motos superesportivas, hipernaked ou crossovers que exigem do pneu um alto nível de aderência, em todos os tipos de asfalto e condições climáticas, bem como um feedback preciso e ótima dirigibilidade para que aproveitem ao máximo a alta performance de suas motos.

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Novo Pirelli Diablo Rosso IV: em breve no Brasil! (Divulgação)

Minha vida com Diablo

Bom, até a linha lá de cima você leu o press-release da Pirelli sobre a história da linha Diablo e o lançamento da série Diablo Rosso IV. Agora vou contar minha experiência pessoal com esses pneus.

Começou bem lá atrás, em 1999, quando a Pirelli ainda usava o nome Dragon Evo. Fui convidado para testar estes pneus no autódromo de Las Vegas e essa história você pode rever clicando AQUI. Mais importante que isso é que a partir desta data a Pirelli deu uma guinada na imagem dos pneus esportivos, principalmente no Brasil.

Aqui, como sempre, a onda dos “especialistas em tudo” criou uma falsa impressão de que a Pirelli era “bom pra CG”, mas não era bom para motos grandes. Essa impressão veio do fato de as Honda CG saírem de linha com pneus Pirelli, enquanto no Mundial de MotoGP as motos corriam com um pneu da marca francesa (vocês sabem qual é). Daí veio essa “fake news” de que pneu pra moto grande tinha de ser o francês.

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Meu teste do Pirelli Dragon Evo em 1999, nos EUA. (Arquivo pessoal)

Como toda fake news, nunca teve nenhum pingo de comprovação científica. Pelo contrário. Durante uma período tivemos no Brasil dois campeonatos de motovelocidade disputados em conjunto. Num deles era obrigatório a usar os pneus franceses. No outro pneus Pirelli. Os pilotos que disputavam os dois campeonatos confirmaram que os Pirelli eram até três segundos mais rápidos do que os franceses na mesma pista. Fim da fake news.

Mas eu ainda escuto esse papagaiada principalmente nas redes sociais. E sempre aquela conversinha que já esclareci um milhão de vezes: o sujeito troca os pneus Pirelli pelos franceses e depois escreve “nooooossa, os pneus são chiclete, mano, muito melhor que os Pirelli”. Filho, você trocou um pneu GASTO por um NOVO! Qualquer marca daria um feeling melhor, salame!

Para saber se um pneu é efetivamente melhor e mais rápido do que outro precisa pegar dois pares NOVOS, ir para a pista no mesmo dia e hora e testar da mesma moto! Os únicos pilotos que fizeram isso foram os que disputaram os dois campeonatos simultâneos de motovelocidade e só eles pode atestar qual foi mais ou menos rápidos, qual dura mais, qual tem melhor frenagem, aceleração etc. Não é o padeiro do seu bairro que comprou uma Suzuki GSX-R 1100 de 1997 que vai saber a diferença entre as duas marcas!

Eu posso atestar a diferença porque testei os dois – e mais pneu japonês, inglês e alemão – e a balança sempre pesou mais para o lado da Pirelli, pelo menos desde que nasceu a geração Diablo Rosso.

Agora algumas dicas:

1) Se for escolher um pneu esportivo para pilotar na estrada fuja dos pneus de competição (especificação Racing), que muita gente chama de “pneu chiclete”, porque as condições da estrada são totalmente diferentes das de um autódromo. Quanto mais esportivo for um pneu (de qualquer marca), mais ele exige condições específicas de temperatura, piso e pressão. Se o asfalto estiver abaixo de 40ºC, numa condição de estrada, dificilmente ele vai responder com 100% de eficiência. E você não leva um par de cobertores térmicos na mochila.

2) Jamais use pneu de competição usado em sua moto de estrada. Ele não foi feito pensando em passar por buracos e muito menos em piso molhado. Na corrida, quando chove, o piloto entra no box e troca de pneus. Na estrada você faz como?

3) Para uso em estrada pode-se recorrer a estes novos Diablo Corsa IV porque são os pneus de série da maioria das motos de alto desempenho, portanto já preveem condições de uso na estrada, (temperatura baixa, buracos, chuva, eventualmente a cremosa na garupa). Além disso podem ser usados com eficiência nos track-days em autódromos.

4) Não existe mágica quando se fala em borracha: se é super aderente não vai durar muito! É uma escolha e como toda escolha significa uma renúncia. Se quiser pneu para durar trocentos quilômetros tudo bem, mas não vai se meter num track-day com ele. Quer um pneu para deitar nas curvas mais que Valentino Rossi? Beleza, mas não espere rodar até o Alaska! Não aguento mais essa geração mimizenta que reclama até da cor do pneu, mas não entende lhufas.

5) Sua moto tem apenas dois pneus; se um falhar fica sem nenhum, porque motos não andam numa roda. Então quando se trata de escolher pneu procure especialistas de verdade e não “oskara” do Facebook!!!

publicado por motite às 15:15
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Domingo, 18 de Outubro de 2020

Cálculo de Rins, como foi a etapa de Aragão de MotoGP

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A festa dos Alexis: Rins e Marquez no pódio, imagina com público! (Foto: MotoGP.com)

Alex Rins – Suzuki – se torna o oitavo piloto a vencer na MotoGP e embola o campeonato. Sam Lowes vence na Moto2 e Jaume Masia dá a 100a vitória para Honda na Moto3.

Desculpe o trocadilho, mas o espanhol Alex Rins (Suzuki) usou uma estratégia calculada na escolha de pneus para se tornar o oitavo vencedor nesta super emocionante edição do mundial de MotoGP. Ainda  a Suzuki voltou a liderar o mundial de MotoGP de novo desde o ano 2000 com Kenny Roberts Jr.

Se os espanhóis já estavam felizes com a vitória de um filho da terra, o pódio foi completado pela motivado Alex Márquez (Honda) e o agora líder do campeonato, Joan Mir, também de Suzuki. Só deu bandeira da Espanha, no belo circuito de Motorland, em Aragão.

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A linda imagem dos Alex com o famoso "Muro de Aragón" ao fundo. (MotoGP.com)

A corrida começou novamente com uma hora de atraso, por isso o público brasileiro, mais uma vez, perdeu as entrevistas pós-corrida e o pódio, pois a programação da FoxSports já estava comprometida com o sinal do campeonato espanhol de futebol às 10:52. Desta vez o motivo do atraso foi mais do que justificável: com a interrupção do campeonato por conta da pandemia de Covid-19, o calendário chegou nas últimas etapas já no outono europeu. Com temperaturas que chegaram a 8ºC, os pneus não davam aderência suficiente e os pilotos estavam caindo que nem fruta madura.

Mesmo situada bem ao sul da Europa – quase na África – a região de Aragão amanheceu na sexta-feira com 12ºC o que causou um festival de quedas. Por isso a Dorna decidiu atrasar a largada da Moto3 em uma hora.

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Joan Mir fez ótima prova e lidera o mundial de MotoGP. (MotoGP.com)

Os treinos colocaram duas Yamaha na primeira fila, com a 10a pole-position de Fabio Quartararo, seguido de Maverick Viñales e da Honda do inspirado Cal Crutchlow. Quem deu piti nos treinos foi o italiano Andrea Dovizioso (Ducati) que alegou ter sido atrapalhado pelo colega Danilo Petrucci (Ducati), ficando apenas na 13a posição, algo terrível para quem briga pelo título. Alex Rins fez o 10º tempo e Alex Márquez o 11º.

Na largada Viñales partiu como um Exocet e abriu uma distância que dava a entender que seria uma vitória de ponta a ponta, seguido de Quartararo e Franco Morbidelli (Yamaha). Mas lá de trás começavam a despontar Alex Rins – que fez excelente largada – e Alex Márquez. Enquanto Fabio Quartararo começava a perder ritmo, a dupla de Alex escalava o pelotão.

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Antes da metade da corrida já dava para perceber que Viñales não sustentaria a liderança. Na nona volta Rins ultrapassou e se consolidou na liderança até a bandeirada. Alex Márquez com uma Honda muito bem equilibrada continuou a escalar o pelotão até chegar a segundo e encostar no líder. Chegou a quase ultrapassar na penúltima volta, mas uma escorregada do pneu traseiro fez ele reduzir e finalmente Alex Rins cruzou para sua terceira vitória na categoria, primeira de 2020 e subir à sétima posição geral na tabela.

Quem saiu de Aragon com sorriso de orelha a orelha foi Joan Mir, que se manteve em terceiro, se preservando de eventual queda na traiçoeira Curva 2 e assumiu a primeira posição depois de uma corrida sofrível do ex-líder Quartararo. O francês da Yamaha Petronas foi perdendo ritmo e sua dificuldade em curvas era visível. Terminou em 18º com problema de perda de pressão no pneu dianteiro. É uma daquelas situações que se diz “é raro, mas acontece sempre”!

Ainda tem 100 pontos em disputa, mas Joan Mir pode repetir o feito do também espanhol, Emilio Alzamora, que foi campeão mundial de 125cc em 1999 sem vencer nenhuma prova.

A nota curiosa dessa etapa é que pela primeira vez desde 1999 a MotoGP teve uma corrida sem um campeão mundial da categoria. Porque Marc Márquez ainda está no estaleiro e Valentino Rossi foi dispensado depois de testar positivo para Covid-19. Melhoras ao doutor.

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Mais elegante que filho de barbeiro: Sam Lowes venceu de novo. (MotoGP.com)

Maledetta 2

Vai ser difícil para os italianos da Moto2 esquecerem a Curva 2 de Motorland. Foi ela a responsável por embaralhar o campeonato durante toda a corrida. Logo no começo o líder Luca Marini (VR 46) caiu na Curva 2 depois de perder aderência do pneu dianteiro.

Sam Lowes (Marc VDS), que fez a pole, estava em segundo, tranquilo com Marco Bezzecchi (VR46) na liderança e com toda pinta de vencedor. Como Marini estava fora, a vitória de Bezzecchi o colocaria na liderança do mundial. Mas... quando tem condicional é porque não deu! Ele também foi vítima da Curva 2, numa queda que parecia replay da do Marini. As duas motos da equipe VR 46 foram embora na mesma curva!

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O motivo dessas quedas é que os pilotos vem de uma longa curva à esquerda, depois a reta de chegada, outra curva à esquerda e chega na 2 para a direita. O pneu vem superaquecido do lado esquerdo e quando faz a transição para a direita o piloto precisa ser muito suave. O autor desta “receita” foi o vencedor, Sam Lowes que explicou depois da vitória. “Fiquei preocupado com a Curva 2 o tempo todo, mas depois de alguns sustos passei a ser mais suave e deu certo”.

Melhor para Enea Bastianini (Italtrans) que arrancou das mãos de Jorge Martin (KTM) a segunda posição na metade da última volta. Com isso, ele passou a liderar o mundial de Moto2 com dois pontos de vantagem sobre o sereno Sam Lowes e cinco de vantagem para Luca Marini que despencou para a terceira posição. Mas ainda tem 100 pontos em disputa!

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Quem viu, viu

A Moto3 é aquele tipo de categoria que não permite o espectador nem sequer piscar. Principalmente na última volta e mais ainda na última curva. O que aconteceu nessa chegada da Moto3 em Motorland é difícil de descrever. Para identificar os seis primeiros colocados só com auxílio de replay.

A principal preocupação do líder do campeonato, Albert Arenas (KTM), era manter uma distância segura do segundo colocado, Ai Ogura (Honda). Com uma briga ferrenha pelas primeiras posições, Arenas conseguiu cumprir a meta até quase a bandeirada. O “quase” fica por conta das últimas duas voltas que foram desastrosas pra ele. Na penúltima perdeu a liderança, deixou a moto escorregar demais e foi para o quarto lugar. Mas nada é tão ruim que não possa piorar: a poucos metros do final foi ultrapassado por Jeremy Alcoba (Honda) e John McPhee (Honda) para cruzar em sétimo.

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Jaume Masia deu show em Aragón. (MotoGP.com)

Enquanto isso, lá na frente Jaume Masia (Honda) que havia largado em 17º ganhava posições, enfileirando ultrapassagens em sequência até assumir a ponta faltando duas voltas. Foi o nono vencedor em 10 etapas e deixou a classificação ainda mais tranquila para Arenas porque Ai Ogura terminou apenas em 14º lugar, sem esboçar menor ânimo para combate.

Completaram o pódio, Darry Binder (KTM) num sprint fantástico e Raul Fernandez (KTM) que ainda está buscando a primeira vitória do ano.

Próximo domingo, 25, os pilotos voltam ao grid de largada na mesma pista para o GP de Teruel.

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Este meu macacão branquinho correu sérios riscos no Rio de Janeiro. (Foto: Fabio Arantes)

Basti...dores!

Vou começar explicando pela enésima vez como funciona esse papo de sinal. Se a corrida começa no horário combinado, ela termina muito antes dos jogos do campeonato espanhol de futebol. Pra ser bem exato, 45 minutos antes. Mas se as corridas começam com uma hora de atraso ela invade o sinal do futebol e não tem choro! Oito minutos antes de a programação do futebol entrar no ar nós temos de entregar o sinal. Pura questão de grade. Isso já aconteceu com outros esportes, com F-1 e até com futebol, quando atrasa e ameaça o horário do Faustão! Por isso não teve entrevistas nem pódio.

Mas eu assisti pelo canal privado e posso garantir que foi igual a todos os outros! O Alex Rins disse que sabia que chegaria na frente desde a primeira volta, só não imaginava tão na frente. Que ele esperou ser atacado pelo Alex Márquez, mas sentiu que tinha ritmo para segurar a posição. Agradeceu à equipe, família e foi muito fofo ao agradecer também à namorada! Garantiu a noite!

Dito isso, vou contar que os bastidores desta etapa foram terríveis. Sempre achei que o maior pesadelo de quem trabalha com rádio e TV era acordar sem voz. Tem coisa pior. A voz dá pra fazer exercícios e recuperar. Mas descobri que nada é mais grave do que um piriri! Para ser mais científico: gastrenterocolite, popular diarreia! Sim, amigos(as), não sabe como um macarrão com frutos do mar pode mandar um comentarista à pique.

No meio da madrugada acordei com um vulcão em erupção no meu estômago. Felizmente o banheiro fica a poucos (e pequenos) passos da cama, porque foi cronometrado. O que se seguiu deixaria o acidente com o Exxon Valdez parecer um gota no oceano.

Pensa que acabou? Nada, meu celular não sabe ler e não foi informado que neste ano não teríamos horário de verão. Ninguém avisou e ele me acordou uma hora antes do previsto, porém sem me avisar que era uma hora antes. Fiz todo ritual de aquecimento de voz (sem muita forca, por motivos óbvios), preparei meu café bem fraco e vesti o fone de ouvido precisamente às 7:00, esperando o link da transmissão. Deu sete horas, nada. O tempo foi passando e nada. Mandei um zap pro Edgard de Mello Filho e pro Hamilton Rodrigues e nada.

Pronto, pensei, o mundo acabou e vou chegar atrasado por causa de um piriri! Só fui perceber que meu relógio estava errado quando olhei pro chat da transmissão e vi que tinha uma diferença de uma hora!

No meio da Moto3 veio a pontada. Aquela que endurece até os pelos do sovaco. Mas eu não podia sair. Quando deu a bandeirada avisei pelo chat BANHEIRO!!!

Poizé, e você achava que vida de comentarista era puro glamour! Visitei o sagrado trono real e depois foi tranquilo. Aprendi a lição: véspera de corrida só canja de galinha ou biscoito de polvilho!

Sabe do pior? Isso já aconteceu comigo quando eu corrida de 125 Especial. Numa corrida no Rio de Janeiro eu confiei na macarronada do hotel e passei a noite de sábado me debulhando em suor e outras secreções. Na manhã de domingo acordei em estado líquido e minha largada seria precisamente ao meio dia, num calor de 40ºC. Era a receita da desgraça.

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Foi preciso muita concentração pra eu levantar esse pesado troféu sem sofrer acidentes! (Foto: Idário Araújo)

Domingo de manhã, no caminho para a pista, parei numa farmácia e comprei soro fisiológico e um pacote de fralda geriátrica. Afinal eu só tinha UM macacão... e era branco!

Na hora do warm-up fui me vestir escondido para colocar a fralda. Pensa numa coisa desconfortável! Parecia que tinha 15 mil reais enfiado no ... lá mesmo. Só senador consegue! Ficou tão desagradável que dei só duas voltas para texturizar os pneus (slicks) e voltei pros boxes pensando em como melhorar aquilo.

Foi quando minha namorada sugeriu usar absorvente! Afinal ele já foi feito pra viver naquela região. Quer dizer, geograficamente falando, um pouco mais à frente. Para a corrida lancei mão do absorvente, aderente à cueca, e fui pra largada pensando no tamanho do possível desastre que seria um simples espirro.

Quando acendeu a luz verde os problemas acabaram, porque correr numa moto de 60 kg, com 56 CV, pneus slicks, no saudoso autódromo de Jacarepaguá, chegando a 212 km/h no final da reta, no meio de um bando de loucos faz o esfíncter travar de um jeito que não passa nem ultravioleta!

Por incrível que pareça, ainda consegui um pódio! Mas subi os degraus com passinhos bem pequenos e sem fazer força!

 

 

 

publicado por motite às 20:14
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Segunda-feira, 21 de Setembro de 2020

Mundial de Motovelocidade: Equilíbrio obrigado

 

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Vini, vidi, Viñales: espanhol finalmente deu a volta por cima (Fotos: MotoGP.com)

Mais um vencedor na MotoGP e as três categorias estão super equilibradas

Havia muito tempo que o campeonato mundial de Motovelocidade não apresentava tanto equilíbrio em todas as categorias. A necessidade de fazer duas corridas na mesma pista contribuiu demais com o equilíbrio porque deu chance de as equipes trabalharem mais nas motos. Assim, o Grande Prêmio da Emilia Romagna, novamente no circuito Marco Simoncelli, em Misano, viu as provas ainda mais emocionantes.

Na MotoE foi uma rodada dupla com corridas no sábado e domingo e vitórias de Dominique Aegerter e Matteo Ferrari respectivamente. Na Moto3 a surpreendente vitória de Romano Fenati (Husqvarna), o mais velho do grid. Na Moto2, em corrida confusa com duas paralisações, quem levou a melhor foi o italiano Enea Bastianini e na MotoGP finalmente Maverick Viñales conseguiu sua primeira vitória em 2020, atestando a ótima fase da Yamaha.

MotoE, rapidinhas

A pressão é o pior dos mundos para um piloto de moto, especialmente os que brigam por títulos. O brasileiro Eric Granado viveu uma tremenda pressão depois de começar o ano com vitória na abertura em Jerez, Espanha. Na segunda prova foi abalroado por Matteo Ferrari e a partir daí foi uma sucessão de contratempos. Nesta primeira corrida de Misano conseguiu a quarta posição na largada, largou mal, consegui se recuperar mas caiu ao tentar passar por Xavier Simeon, levando o piloto espanhol junto. Quem venceu foi o suíço Dominique Aegerter.

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Eric: pressão e luta por uma vaga na Moto2.

Na segunda corrida o grid de largada foi definido pela posição de chegada da corrida 1 e isso fez Eric largar muito atrás. O que se viu depois da largada foi uma primeira volta inacreditável do brasileiro: ultrapassou oito motos! Chegou a estar em sétimo, mas superaqueceu os freios, aliviou, perdeu três posições e conseguiu se recuperar para terminar em sétimo. A vitória mais uma vez foi de Matteo Ferrari, que assumiu a liderança da categoria depois de Aegerter ser derrubado e não marcar pontos.

Para o Eric a situação do campeonato ficou bem crítica. Restam duas rodadas e ele ficou 43 pontos atrás do líder. Mas uma coisa é certa: ele já está de malas prontas para a Moto2. O que ele mostrou, independentemente de resultados, já o credencia para subir de categoria. Só precisa esperar pela equipe certa.

Moto3, Fenati de volta

Mais uma daquelas corridas de testar o coração. É a categoria mais disputada do mundial, os pilotos são jovens entre 16 e 25 anos, as motos muito leves, pequenas e difíceis de pilotar. Mas em cada volta tem mais ultrapassagens que toda a temporada de F-1. Imagina o sufoco para narrador e comentaristas. E não é raro um piloto largar lá de trás para vencer a corrida. Para ficar mais emocionante ainda, as provas são decididas praticamente na linha de chegada.

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Fenatti: tiozinho Bad Boy se deu bem na última volta.

Depois de zerar em duas etapas, o espanhol Albert Arenas (KTM) precisava correr pensando no campeonato. Seguiu o roteiro. Ficou sempre no pelotão da frente, chegou a estar em segundo, mas na penúltima volta precisou alargar uma curva para evitar um choque e perdeu várias posições. Conseguiu terminar em quarto, mas viu seu rival Ai Ogura (Honda) fazer uma corrida fantástica, saindo do 12º lugar para cruzar em terceiro.

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O vencedor foi o polêmico Romano Fenati. O piloto italiano já foi protagonista de dois episódios de mal comportamento na pista. Em 2015, correndo na Moto3, deu um coice no finlandês Niklas Ajo depois dos treinos e foi punido. Mas o pior veio em 2018, já na Moto2 quando numa atitude irresponsável e imperdoável acionou o freio dianteiro da moto de Stefano Manzi que poderia ter causado um grave acidente. Fenati quase foi banido do motociclismo, mas ainda conseguiu uma vaga na Moto3. É o piloto mais velho da categoria (24 anos) e brincou com isso na entrevista do parque fechado. Toni Arbolino completou o pódio.

No campeonato Arenas ainda lidera com apenas dois pontos de vantagem sobre o japonês Ogura.

Moto2 bestial!

A categoria já estava caminhando para uma liderança isolada do italiano Luca Marini. O meio irmão de Valentino Rossi vinha de vitória, liderou praticamente todos os treinos e dava pinta de que sairia de Misano com uma liderança ainda mais tranquila. Mas veio a chuva.

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Bestial: La Bestia correu com a faca entre os dentes na Moto2.

Na verdade quase nada, não durou nem 10 minutos, mas foi suficiente para provocar um salseiro na direção de prova. Na sétima volta o americano Joe Roberts caiu e os fiscais acionaram a bandeira branca com um xis vermelho, muito parecida com a bandeira que indica carro de serviço na pista, que é branca com uma cruz vermelha (muito original). Na confusão alguns pilotos continuaram acelerando e um deles foi Enea Bastianini, que assumiu a ponta, por pouco tempo, porque mostraram a bandeira vermelha interrompendo a prova.

Assim que as motos entraram nos boxes a garoa parou. E ninguém trocou pneu nenhum. Na Moto2 não tem aquela opção de ter uma moto extra pra deixar com pneus de chuva. Tem de desmontar tudo e dá muito trabalho.

Os comissários liberaram a pista, todos voltaram de pneus slick, alinharam para a largada e... começou a chover forte! Nova paralisação, motos de volta para os boxes e... parou de chover!!! Parece que o clima estava delirante porque enquanto os mecânicos decidiam o que fazer saiu um belo sol, secando a pista.

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Capacete MT KRE: leveza e beleza!

Novo alinhamento, mas tiveram de encurtar a prova para apenas 10 voltas o que deu um tempero ainda mais apimentado. Nesta terceira largada Bastianini justificou o apelido de Bestia e sumiu! Abriu uma vantagem confortável para cruzar em primeiro, com Marco Bezzecchi em segundo e Sam Lowes em terceiro. Luca Marini fez uma corrida pensando em minimizar as perdas e ficou em quarto, mantendo a liderança da categoria. Mas a diferença para Bastianini caiu para apenas cinco pontos.

MotoGP, la vendetta

Aconteceu de tudo com Maverick Viñales em 2020. Fez três pole positions, pulou da moto a 240 km/h, sofreu com pneus e finalmente chegou ao degrau mais alto do pódio. Não foi fácil. Durante o intervalo entre a primeira e a segunda prova em Misano as equipes tiveram um treino livre e a Yamaha testou um escapamento pra lá de estranho na tentativa de ganhar velocidade nas retas. Não funcionou e nos treinos de classificação as Yamaha eram as motos mais lentas, alcançando 290,1 km/h enquanto as Ducati chegavam a 302,1 km/h.

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Pecco Bagnaia: falta pouco pra ele vencer a primeira.

Mas quem cravou a pole foi Viñales com a Yamaha (com o escapamento normal). Como explicar isso? Simples: é a diferença entre ser rápido e ser veloz. Nem sempre a moto mais veloz em reta é a mais rápida na volta completa. As Yamaha são mais rápidas no contorno de curva, enquanto as Ducati são mais velozes em reta. Como as pistas tem mais curvas do que retas, isso explica a diferença. É mais rápido quem contorna melhor as curvas!

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Mas na largada as Ducati nem deram bola pra essa teoria e Francesco Bagnaia sumiu na liderança. Caminhava para sua primeira vitória na categoria mas o excesso de vontade custou uma queda inexplicável, porque estava dentro de um ritmo normal. Ainda restava a Ducati de Jack Miller para fazer frente às Yamaha, mas um problema insólito tirou o australiano da corrida: a sobreviseira que Fabio Quartararo tirou no momento da largada grudou no radiador da moto de Miller, superaqueceu e o sensor de temperatura avisou que era melhor parar antes de explodir o motor.

A partir da queda do líder, Bagnaia, Maverick Viñales só precisou administrar os mais de quatro segundos de vantagem e deixou a briga pelo segundo lugar entre Pol Espargaró (KTM) e Fabio Quartararo (Yamaha). Ninguém lembrou do Joan Mir (Suzuki), que partiu da 11a posição para o quarto lugar, cravando voltas rápidas em sequência. A Suzuki é um caso curioso: não vai bem nos treinos, mas a partir da metade da corrida cresce de rendimento. E o mundo viu como Joan Mir chegou, passou e conseguiu um brilhante segundo lugar. Quartararo terminou em terceiro na pista, mas excedeu o limite da pista e foi punido em três segundos, entregando o lugar no pódio para Pol Espargaró.

Depois da bandeirada Viñales estava visivelmente emocionado por ter tirado uma carga enorme dos ombros. Foi o sexto vencedor diferente em 2020 e o quarto piloto da classe principal a largar na pole e vencer em Misano. O que pode ter determinado sua conquista foi a decisão de trocar de pneus com a moto já no grid de largada. Um golpe de mestre!

Destaque para Alex Marques (Honda) que fez o melhor tempo no warm-up e terminou em sétimo, seu melhor resultado no ano. E mais uma corrida apagada para Andrea Dovizioso, que conseguiu um sexto lugar suado, melhor piloto da Ducati. Ele correu com a palavra “desempregado” em inglês no macacão, o que pode ter criado um clima estranho na equipe. Ainda lidera o mundial, com 84 pontos, um a mais que Quartararo e Viñales e quatro à frente de Mir. Estes quatro pilotos certamente decidirão o título do estranho ano de 2020 na temporada mais equilibrada dos últimos tempos.

O que eu não disse na transmissão

Meu domingo começou pontualmente às 3:30 da manhã. Dessa vez o despertador tocou na hora certa e tive tempo de tomar café tranquilamente, fazer as abluções matinais normais e às 4:30 estava logado na plataforma de transmissão. Sem sustos!

Na MotoE é aquele sufoco de uma corrida de sete voltas, quando a gente pisca o olho, puf, acaba! Como foi a primeira corrida do dia eu troquei uns nomes, mas nada de grave e acho que nem perceberam. Vou contar uma coisa: é difícil pacas identificar pilotos numa tela pequena. No estúdio temos uma tela de quase 1,5 metro e agora tenho uma telinha de 14 polegadas.

O Eric fez uma primeira volta insana, mas depois teve problemas de freio e conseguiu se recuperar. Pela andar da carruagem acredito piamente que ele já tem vaga garantida na Moto2, mas pra conseguir uma equipe de ponta vai ter de fazer resultado top 3 nas duas provas que restam. Quanto melhor sua posição no ranking maior a chance de entrar numa boa equipe sem levar um caminhão de dinheiro.

Na Moto3 tudo correu no maior sossego. Fora o fato de ter mais ultrapassagens por metro quadrado do que qualquer categoria. Isso é um desafio para qualquer narrador. Pra piorar as equipes montam duas motos totalmente iguais e só conseguimos identificar quem é quem ao ver o number plate. Mesmo assim temos conferir o tempo todo no live timing tudo que está rolando. E não é que o gerador do live timing deu pau! De repente a classificação mudou no painel, mas na imagem estava igual. Deu um nó, mas o Hamilton Rodrigues segurou a onda e consertou ainda no ar!

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As bandeiras internacionais: nossa como a bandeira branca é MUITO diferente da branca com xis vermelho!

Mas confusão mesmo foi na Moto2. Tudo por causa de uma garoa à toa. Foi aquela papagaiada que todo mundo viu: motos nos boxes, ninguém trocou pneu, voltaram pra pista, choveu de verdade, voltaram pros boxes, não trocaram pneus e largaram de novo. Foi o maior intervalo que tivemos entre as corridas e tive a chance de finalmente dar algumas dicas de pilotagem na rua e estrada, com o tema chuva e pneus. Sobre tecnologia de capacete, macacão etc. Quem ouviu, ouviu, quem não ouviu não vai ouvir mais porque os VTs são editados e só passam as corridas.

Pela primeira vez na história da Motovelocidade as transmissões tem dois ex-pilotos como comentaristas, dois especialistas que estudam profundamente o tema e mesmo assim temos de aguentar as viúvas da SporTV! Tem gente que prefere ouvir que comprou a TV em 24 vezes nas Casas Bahia, ou pra aumentar o volume pra acordar a vó. Sério, tem gente que sente saudades disso!

E chegou a MotoGP. Nesta categoria a regra é deixar o Alexandre mais livre pra comentar porque ninguém conhece mais o que rola lá dentro do que ele mesmo. As viúvas também reclamam disso: que o Alexandre só fala de pneus. Só que são os pneus que decidem quem vai ganhar ou perder uma corrida na MotoGP. Só isso!

O que eu não disse neste domingo: que eu gosto do estilo do Viñales, ninguém chamou ele de "Mavecão V-8", graças a Deus! Acho que ele sofreu muito com a característica das Yamaha, que andam bem quando estão isoladas, sem disputas. Pouca gente sabe, mas Maverick Viñales é um baita pilotaço de motocross. Chegou mesmo a pensar no mundial de cross, mas quando conheceu o asfalto se apaixonou. E ele morou anos com a italiana Kaira Fontanesi, seis vezes campeã mundial de motocross feminino. Imagina como era a conversa no café da manhã! Aliás, pra quem acha "normal"  aquele sotaque italiano falando inglês, sugiro que procure a entrevista da Kaira para TV americana para ver como é possível um italiano falar inglês perfeitamente!

Também não falei: não frega niente a Ducati ser mais veloz em reta se as Yamaha são mais rápidas em curvas! Como ficou provado semana passada na vitória de Franco Morbidelli e neste domingo com Viñales. Mas pode escrever: Bagnaia vai vencer sua primeira corrida na MotoGP ainda neste ano!

 

 

 

publicado por motite às 12:50
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Terça-feira, 7 de Abril de 2020

Capacete, sua vida cabe aqui - Parte I

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Passei boa parte da minha vida dentro de um capacete (Foto: Claudinei Cordiolli)

Proteja sua cabeça, ela tem muita história.

Tente imaginar tudo que já viveu. A infância, o cheiro da comida da vó, o primeiro dia de escola, o vento fresco no campo. O carinho dos pais, família e amigos. Os primeiros machucados, ardidos e eternos. Pense em todo amor e frustração que já viveu. Dos prazeres mais simples aos desafios mais complexos. Uma carreira, o primeiro salário, anos de aprendizado. Imagine o tanto de conhecimento que já acumulou. Toda nossa vida está guardada em nossa mente como um computador com inesgotável capacidade de memória. Agora imagine perder tudo isso em uma fração de segundo. É o que pode acontecer quando se bate a cabeça.

Quem ainda não percebeu que o cérebro é um órgão vital? Sim, ele é tão importante para nos manter vivos e ativos quanto o coração. Daí vem a expressão “morte cerebral”, quando o indivíduo funciona da cabeça pra baixo, mas morre por inatividade cerebral. O coração bate, o fígado funciona, os rins filtram o sangue, mas a pessoa é declarada mortinha da silva. E toda a história de uma vida se vai como um sopro.

Parece óbvio que proteger o cérebro é vital! Mas não é isso que vemos nas ruas, nas casas, no trabalho. Não se dá a devida importância ao capacete como se ele fosse uma prova de fragilidade ou de falta de coragem. Assim, todos os dias, em algum lugar, uma história de vida se vai como um HD formatado. Ah, e não tem backup.

Se existe alguém no mundo capaz de comprovar a eficiência do capacete em diversas situações esse alguém sou eu. Desde a pré-adolescência já tive a oportunidade de bater a cabeça dezenas de vezes. Algumas bem graves e outras bem de leve. Em todas as atividades que pratico – moto, escalada, bicicleta e skate – já tive acidentes que teriam consequências bem graves (talvez fatais) não fosse pelo uso do capacete.

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Até para fazer manutenção em casa eu uso capacete, luvas e óculos. (Foto: Tite)

Sou tão xiita com essa questão que até mesmo para fazer manutenção em casa eu coloco o capacete, luvas e óculos de proteção. Quem me conhece sabe o pavor quase doentio que tenho ao ver pessoas subindo em telhado, em árvores ou em muros sem qualquer proteção. Já perdi um amigo e outro ficou paraplégico em acidentes domésticos tão prosaicos quanto a velha necessidade de regular a antena da TV.

Recentemente o Brasil entrou em choque ao saber da morte do apresentador Gugu Liberato em um acidente doméstico que poderia ter terminado apenas com um susto e luxações.

Em conversa com um diretor do SAMU de São Paulo, descobri que a maioria absoluta dos atendimentos são de acidentes domésticos e não de trânsito. É fácil entender: São Paulo tem 12,5 milhões de habitantes e seis milhões de veículos. Tem muito mais gente dentro de casa do que nos veículos.

Uma história de cabeçadas

Vou contar como era ser motociclista nos anos 70. O capacete não era obrigatório e só se usava muito de vez em quando nas estradas. Usar capacete era quase uma prova de covardia, de falta de macheza. Como eu tive um pai bem rigoroso, ele obrigava o uso do capacete sob ameaça de vender a moto. No começo eu não gostava, mas aos poucos fui acostumando, principalmente por vaidade: sem capacete a pele ficava ensebada, cheia de perebas e o cabelo oleoso e embaraçado (não ria!).

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Minha primeira moto em 1974, sem capacete, como todo mundo. (Foto: arquivo pessoal)

Quando o uso do capacete se tornou lei eu já usava 100% do tempo e pelo menos em uma ocasião ele salvou minha vida: peguei uma emenda de ponte desnivelada que fez a moto capotar de frente e aterrissei de focinho no chão. As marcas no capacete não deixaram dúvidas que eu podia ter formatado meu HD aos 15 anos de idade!

Depois, quando comecei a correr, primeiro de kart e depois de moto, perdi a conta das vezes que o capacete me salvou. No kart eu capotei cinematograficamente na curva mais rápida do kartódromo de Interlagos e lembro da batida seca com o cocuruto no asfalto. Nunca esqueci o barulho da fibra estalando na pancada. Em outra ocasião meu kart travou no final da reta e o piloto que estava atrás subiu nas minhas costas e deixou a marca do chassi no meu capacete!

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Note o kart de trás com as rodas no ar, depois bateria na minha cabeça! (Foto: arquivo pessoal)

Nas competições de moto nem consigo lembrar todos os acidentes, principalmente nas provas fora de estrada. Uma vez passei reto numa curva e meti a cabeça num mourão de cerca a uns 90 km/h destruindo um capacete novinho! O primeiro importado! O saldo do acidente foi um dedão quebrado.

Competição é assim mesmo. Os tombos fazem parte e todo piloto tem uma história de salvação pelo capacete.

Eu tenho uma filosofia: quem corre não racha. Quem pilota em pista não tira racha na rua. É que nem praticante de lutas marciais. Quem luta não briga na rua. A melhor coisa que aconteceu na minha adolescência foi meus pais permitirem correr porque isso evitou que me transformasse num rachador de rua.

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Corri muitos anos de motovelocidade e bati várias vezes a cabeça, mas estou vivo! (foto: Arquivo Pessoal)

Bike também machuca

Porém, por mais que eu acreditasse na importância do capacete ainda tinha muita resistência ao uso na bicicleta. Achava meio um exagero, afinal estava só dando um rolê e a bicicleta é praticamente um brinquedo. Foi só quando conheci o preparador físico José Rubens D´Elia que comecei a usar sob ameaça de violência física. Um dia ele apareceu com um capacete Bell importado, lindo, super bem acabado, jogou no meu colo e ameaçou: “se te pegar andando de bike sem capacete te encho de porrada”. Lembrou meu pai.

Empolgado com o capacete novinho, chique e cheio de charme decidi ser um ciclista politicamente correto e instalar buzina e espelhos retrovisores na bike. No caminho para a loja eu quase atropelei uma mulher com duas sacolas de compra e para desviar caí de cabeça no chão. Literalmente! Bati a testa, o nariz, ralei as mãos, os cotovelos e os mamilos (pense num banho ardido). Quando vi o capacete com a pala destruída e o casco amassado me deu aquela dor aguda na barriga e só imaginei o que teria acontecido se estivesse sem. Comprei outro capacete igual e nunca mais subi numa bike sem capacete.

Pensa que acabou? Nada! No ano 2000 comecei mais uma atividade com muita chance de quebrar o côco: a escalada! Nos primeiros anos eu simplesmente ignorava todas as recomendações de usar capacete, afinal queria um contato com a natureza e o capacete tirava um pouco da liberdade, o que não passava de uma desculpinha esfarrapada. Até que... um escalador acima de mim deslocou uma pedra que passou a centímetros da minha testa.

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Na escalada sofri uma queda e o capacete me salvou, de novo. (Foto: Leandro Montoya)

Comprei um capacete de escalada e passei a usar o tempo todo, mesmo nos trechos de caminhada perto das encostas. Só não dormia de capacete porque era desconfortável.

E veio o acidente. Em um trecho relativamente fácil, a rocha que estava me apoiando se desprendeu e caí uns 12 metros. De costas. A primeira coisa que bateu no platô foi minha mochila, que amorteceu parte da pancada. A segunda foi minha cabeça. Fez aquele estalo de plástico quebrando, meu óculos saíram voando aos pedaços e quebrei um dente. Quando vi a marca da pancada no capacete mais uma vez gelei e, apesar de todo ralado, terminei a escalada e ainda voltei pra casa pilotando a moto. Detalhe: neste dia eu tinha deixado o meu capacete em São Paulo e só não morri porque peguei um emprestado a pretexto de não queimar a careca no sol.

Pensa que acabou?

Em 2018 outra atividade entrou na minha vida. Procurando uma atividade física menos chata que academia, redescobri o skate depois de 46 anos! Só que dessa vez já usei capacete desde o primeiro dia. No começo usava o mesmo da escalada, depois comprei um de snowboard porque achei os capacetes de skate muito frágeis.

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No skate eu uso um capacete de snowboard porque acho mais seguro. (Foto: Kabé Rossi)

Como toda atividade que envolve risco de queda, no começo ninguém se machuca sério. Só depois de acreditar que já sabe tudo é que acontecem os acidentes. Foi assim mesmo: demorei pra sofrer a primeira queda mais forte, mas ela veio e fui catapultado de costas do skate, bati as costas e a cabeça tão forte que até dei uma leve apagada. O relatório de danos revelou um ralado no cóccix, mais um óculos de grau pro lixo e o capacete ralado. Comprei outro.

Duas semanas depois um garoto de 15 anos morreu ao bater violentamente a cabeça descendo a mesma ladeira.

Então o quê?

Por isso eu me desespero vendo as pessoas agirem como se fossem invulneráveis. Vejo ciclistas andando entre os carros, sem nenhuma proteção, desafiando a morte a cada quarteirão. Ou quando vejo os micro modais elétricos se popularizando sem trabalharem a devida importância ao uso do capacete. São patinetes, bikes, monociclos e scooters elétricos que, à falta de uma regulamentação, são conduzidos por pessoas sem nenhuma proteção.

Acredito que vamos assistir ainda muita notícia triste de acidentes com esses micro veículos até que se tenha consciência da importância de usar um equipamento tão simples, barato e eficiente quanto um capacete. Não existe desculpa: um capacete de bike pesa menos de meio quilo e pode ser levado em uma mochila. É o mais versátil e pode ser usado para qualquer um desses modais.

Um teste feito nos EUA mostrou a eficiência do capacete de bicicleta, comparando com outros tipos. Vale a pena ver clicando AQUI.

Só não deixe de usar. Mesmo que seja “só uma voltinha”, mesmo que seja “chato de transportar”, ou que seja “feio e desengonçado”, ou ainda “que estrague o penteado”. Nenhuma desculpa justifica o risco que representa uma batida de cabeça. Volte lá no primeiro parágrafo e reflita: vale a pena perder tudo que você já viveu?

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publicado por motite às 20:31
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