(Estas fotos não são no Brasil, mas no Japão!!!)
Quando a Internet surgiu no horizonte da comunicação de massa muitos especialistas previram que o volume de informação aumentaria muito o nível de conhecimento em várias esferas. Essa previsão é absolutamente verdadeira, porque hoje conseguimos obter um conteúdo de informação ao tempo de um microsegundo. Pena que este volume de informação nem sempre tem validade científica.
Hoje percebo que muitos mitos e preconceitos que antes eram restritos às rodinhas de amigos se espalham com a velocidade da fibra ótica. E aquela internet que deveria nos trazer conhecimento serve também para espalhar o desconhecimento, a mentira ou os famosos embustes (hoax) que tratam uma mentira como se fosse uma verdade científica.
Curiosamente, os embustes se espalham com mais rapidez do que uma informação verdadeira. Recentemente vi circularem duas mensagens absolutamente mentirosas, mas que uma vez desmentidas até por autoridades oficiais, as correções não receberam o mesmo tratamento viral da versão mentirosa. Em outras palavras: a mentira é melhor aceita do que a verdade. Será essa característica humana que nos levará ao fim do mundo em dezembro de 2012? Como se vê, não se pode mais distinguir o que é verdade do que é embuste.
Uma delas trazia a imagem de câmeras de vídeos instaladas em guard-rails e rapidamente alguém inventou que era uma nova forma de radares que seriam instalados nas marginais em SP. Coincidentemente, nesta época eu estava prestando serviço de consultoria para uma empresa de transporte e achei no Google uma empresa japonesa que produzia câmeras especiais de vigilância que ficam disfarçadas no guard-rail ou em cones de borracha. Pois não é que pegaram estas fotos e saíram espalhando que eram os novos radares!!!
O segundo embuste foi mais sério e de um mal gosto inacreditável. Acharam uma série de fotos de um acidente de moto nos EUA e alteraram a história. No acidente real, um motociclista se espatifou na traseira de um caminhão com tamanha violência que ele ficou preso pela cabeça na caçamba de alumínio. As imagens são horríveis e foram colocadas em um site de segurança veicular, com detalhes sobro acidente e as lesões do motociclista que, obviamente, morreu no local.
(Esse cara morreu muito bem morrido!)
Acredite, mas pegaram estas imagens e saíram espalhando com a mentirosa versão de que um policial tinha primeiro visto a moto destruída no acostamento e depois viu um caminhão rodando com um motociclista engatado na caçamba!!! Pra piorar – ou amenizar – a mentirosa mensagem termina dizendo que o motociclista sobreviveu graças ao capacete! Pura mentira, porque morreu mesmo e não tem a menor graça espalhar este tipo de coisa mórbida.
No campo dos veículos motorizados recebo semanalmente mensagens contendo desde mentiras inocentes até as mais perigosas. Geralmente o alvo são as motos, porque é um veículo relativamente novo na vida das pessoas e cheio de mistérios. Com o equilíbrio da economia as classes D e E tiveram acesso às motos como meio de transporte mais eficiente do que os precários ônibus e trens. Com estes neo-motociclistas veio também uma enorme carência de informação. Mesmo as pessoas mais simples conseguem entender o funcionamento de um carro porque é um veículo que faz parte das nossas vidas desde o nascimento até a morte. Mas as motos são um enigma. Daí os excessos de erros e informações levianas.
Conheça os 7 Pecados Capitais da Internet:
1) Trocar o óleo a cada 1.000 km. A confusão se dá graças ao Manual do Proprietário das motos utilitárias que trazem a informação de que a PRIMEIRA troca deve ser feita com 1.000 km porque é uma forma de retirar sobras de material que podem ter se deslocado durante o período de amaciamento. As demais trocas podem ser feitas com os 3.000 km indicados pelo fabricante da moto. Só que motociclistas profissionais (motoboys) usam a moto sob condições muito severas e trocam óleo a cada 1.500 km. Mesmo nestes casos a troca na metade do indicado já é um exagero, porque naqueles 3.000 km indicados pelo fabricante já implica uma enorme margem de segurança. Pior que essa crença já se espalhou para donos de motos grandes e esse comportamento resulta em um despejo desnecessário de poluentes no ambiente. Para quem usa a moto de forma racional e equilibrada, o período recomendado pelo fabricante está de ótimo tamanho. Dentro deste pecado existe um “subpecado”: motores não consomem óleo! Como não??? Todo motor, desde o mais simples, até o de Fórmula 1 consome óleo, porque é uma conseqüência natural do aquecimento do motor. Leio com freqüência assustadora pessoas reclamando que foi trocar o óleo e faltava meio litro, ou 300 ml. Alguns motores de concepção mais antiga consomem até 30% de óleo a cada 1.000 km, sem que se possa chamar isso de defeito. Em uso severo, o motor da moto mais vendida do Brasil chega a consumir estes 30% sem que hajam vazamentos. Cabe ao motociclista acatar a recomendação do fabricante e verificar o nível a cada 1.000 km. Mas não precisa trocar, tá?
2) Descarbonização. Essa é uma das aberrações mais comuns. Também refere-se à troca de óleo. Algum “mexânico” inventou isso lá nos anos 50 e acabou sendo resgatado graças à internet. Funciona assim: o sujeito retira o óleo usado do motor, fecha o bujão e enche o cárter com querosene ou produtos chamados de “flush” (descarga, em inglês). Depois liga o motor por alguns segundos e drena o querosene, antes de colocar o óleo novo. É a forma mais fácil de acabar com o motor de uma moto!!! Dentro do motor existem anéis de vedação (retentores) feitos de borracha e que nasceram para viver mergulhados no óleo. O solvente ataca esses anéis e provocam os vazamentos internos. Por isso a gente vê tanta moto soltando fumaça pelo escapamento...
3) Rodízio de pneus. Essa é mais comum no Norte/Nordeste. A região Nordeste vive uma explosão de consumo geral e especialmente de moto. Em pouco mais de 10 anos o mercado de motos no NE cresceu 750% enquanto o resto do país cresceu 445%. Isso explica muitos procedimentos errados apenas por falta de informação que leva o neo-motociclista a tratar a moto como se fosse um carro de duas rodas. Nos carros é normal fazer rodízio de pneus – embora já seja condenado por especialistas. Mas nas motos o pneu dianteiro é muito diferente do traseiro e têm funções bem específicas. No piso molhado o pneu dianteiro funciona como uma lâmina que corta a água e o traseiro completa o serviço. Por isso é quase impossível uma moto aquaplanar. Ao usar o pneu traseiro na frente o risco de aquaplanagem é enorme porque o desenho do pneu não foi projetado para ser usado dessa posição.
4) Para cada dois pneus traseiros troca-se apenas um dianteiro. Nããão! Esta é uma mentira recorrente porque é natural o pneu traseiro gastar mais rápido por um motivo até evidente: é o pneu da roda motriz, que recebe todo esforço da tração. Nas motos utilitárias, também é o pneu que recebe mais carga quando roda com baú ou com garupa (nas moto-taxis). Como o fator de maior desgaste do pneu é carga (massa), é normal o pneu traseiro gastar mais. Só que na hora de trocar deve-se trocar sempre os dois, porque a moto é um veículo tandem, com uma roda na frente da outra. Como elas rodam a mesma distância, quando o traseiro estiver gasto é sinal que o dianteiro já está comprometido, mesmo que aparentemente novo. Outro engano comum é usar pneus de modelo diferente na frente e atrás. Pneus de motos devem sempre ser do mesmo modelo e marca; quando se misturam marcas ou modelos ocorre o que se chama de “crise de paridade”, quando o pneu traseiro “não entende” o que faz o dianteiro!
5) Reduzir a marcha diminui o espaço numa frenagem de emergência. Este equívoco é cometido por causa das competições e de uma das grandes mentiras sobre pilotagem: o freio motor! Motor é motor; freio é freio. Não existe “freio-motor” em veículos leves, muito menos em moto, a redução que se sente pode ser chamada de “efeito redutor”, mas nunca de frenagem. Para que o motor tenha efeito redutor na roda é preciso que a rotação angular do motor (giro) seja menor que o da roda motriz. Isso só é possível se o câmbio for equipado com uma caixa redutora, como nos caminhões e veículos pesados. Os caminhões contam com este efeito de freio-motor porque precisam frear 20 a 30 toneladas o que seria difícil só com o freio mecânico das rodas. Carros e motos precisam anular o motor para frear no menor espaço possível. Para isso é preciso acionar a embreagem junto com o freio e esquecer o câmbio. Não acredita? Então faça a seguinte experiência: engate a primeira marcha do seu carro (ou moto) solte a embreagem e deixe pegar velocidade sem acelerar. Depois tente frear sem acionar a embreagem. A sensação é que o motor continua empurrando o carro. Isso porque a rotação do motor é maior do que das rodas. A confusão do freio-motor se dá porque nas competições os pilotos reduzem a marcha nas entradas de curva. Mas isso só é feito para que a moto (ou carro) tenha rotação para sair da curva. Quem freia é o freio; quem empurra é o motor. Pronto e acabou!
6) Pneu mais largo melhora a estabilidade. Mais uma vez é a confusão criada por acreditar que moto é um carro de duas rodas. Nos carros os pneus mais largos podem melhorar a estabilidade porque oferecem maior área de borracha em contato com o solo. Mas nas motos é diferente, porque a moto precisa inclinar nas curvas. Quanto mais inclinar, maior pode ser a velocidade de contorno da curva. Para que consiga um grande grau de inclinação é fundamental que o pneu tenha o desenho convexo. Quanto mais convexo, maior a inclinação. Ao usar um pneu mais largo na mesma medida de roda, o pneu ficará deformado, reduzindo a convexidade do desenho. Logo, a moto inclinará menos na curva. Claro que existem tolerâncias. Por exemplo, ao passar de um pneu 180 para 190 não causará um problema. Nem de 130 para 140. Mas alguns motociclistas exageram e, em função de um padrão estético, querem usar o mais largo possível, passando de 130 para 150 ou de 160 para 190. Aí será um martírio inclinar a moto nas curvas. Nos fóruns pode-se até ler depoimentos sobre a “melhora” ao usar um pneu mais largo. Mas esta sensação de melhora não vem da largura do pneu e sim do fato de ser NOVO! O cara tira um pneu velho, gasto e coloca um novo, claro que vai sentir melhora, mas não é resultado da largura!
7) O capacete deve ser duro! Esta mentira é alimentada até por jornalistas inexperientes, principalmente de TV. A função primordial do capacete é reduzir a transferência das ondas de choque para o crânio de quem está usando. Se for uma peça dura, a onda de choque chega com grande intensidade lá dentro da cabeça, transformando o cérebro num mingau. Se capacete tivesse de ser duro a gente deveria usar um sino da cabeça! Na verdade o capacete deve ser flexível, deformável e bem acolchoado para que a energia do choque seja dissipada o máximo possível antes de chegar no cérebro. Por isso usam-se o estireno (isopor) e camadas internas de espuma. A calota precisa ter flexibilidade, não muita para não pular que nem uma bola de basquete, mas o suficiente para espalhar a energia pela superfície. Pelo mesmo motivo, o capacete deve ser o mais justo possível, porque se ficar folgado o capacete bate no chão e a cabeça bate contra a parte interna do capacete. Sei que é chato, mas é melhor bem justo até não se deslocar com o vento.
Existem ainda muitos outros pecados, mas estes sete são os capitais, aqueles que mandam o motociclista diretamente para o inferno, sem escala no purgatório!
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