(Essa luz de neblina não pode ser usada isoladamente na cidade nem na estrada)
Diariamente ouvimos pela rádio e vemos pela TV inúmeros acidentes de trânsito nas ruas e estradas envolvendo carros, ônibus e caminhões, mas a mídia só lembra de pegar no pé dos motociclistas. Por quê?
É uma questão muito mais cultural do que a gente imagina. E não se engane, neste caso o termo “cultural” tem a conotação sociológica de “história dos hábitos e costumes de uma população”. Nada a ver com formação escolar. Dirigir carros é uma tarefa socialmente considerada fácil, necessária e primária. Já expliquei várias vezes que o homos-urbanus praticamente nasce dentro de um carro e convive com este veículo até depois da morte (o coche funerário, que nada mais é do que um carro preto!).
Por isso todo motorista se considera ótimo ao volante. Faz aulas de adestramento, um exame ridículo, exame teórico igualmente ridículo e está credenciado para dirigir um automóvel até o final dos seus dias, que pode ser depois de muitas décadas, ou logo em seguida, espetado em algum poste. Mesmo assim se considera um excelente motorista e ponto final! Alguma vez na vida você ouviu alguém declarar “cara, eu dirijo mal pra caramba”?
Curiosamente, no mundo corporativo um profissional não nasce pronto e muito menos se mantém ótimo sem investir em formação. Começa na escola elementar, depois segue pelo curso superior, pós-graduação etc. E ainda não é suficiente, porque é preciso continuar investindo em cursos de especialização em função de novas tecnologias ou até para se adaptar a um determinado mercado ou conjuntura.
(Luz de neblina + farol baixo = OK)
Só para exemplificar, no meu tempo de estudante de jornalismo os professores aconselhavam: “se quiser ser um bom jornalista é preciso falar inglês fluente!”. Depois, a concorrência e a necessidade fizeram os jornalistas adquirirem algum conhecimento elementar de fotografia. E lá fomos nós, fazer cursos, comprar máquinas e sair fotografando. Quando chegaram os computadores foi a hora de aprender Word, Excel, Pagemaker etc. E lá fomos nós, mergulhar em manuais gigantescos, escritos em inglês... Até que chegamos no século 21 e fomos obrigados a assimilar o uso de máquinas fotográficas, gravadores e filmadoras digitais, Photoshop, editores de imagem, linguagem HTML, Flash, Adobe aaaaaaaahhhhhhhhhhhh...
E o motorista? Os carros mudaram, a tecnologia embarcada mudou, as cidades mudaram, as leis mudaram, mas ninguém se interessou em fazer qualquer tipo de curso de especialização ou atualização! Quando os primeiros carros com freio ABS chegaram ao Brasil foi um festival de pancadas nas estradas. Mal informados por parte da imprensa, os motoristas achavam que o ABS fazia milagres e diminuía os espaços de frenagens. Bastava frear em piso irregular e ... catapimba no poste!
Nos anos 80 o motorista tinha de segurar o volante de uma maneira. Hoje é diferente porque existe um air-bag colocado no volante e o motorista não se pode cruzar o braço na frente da direção sob risco de, caso a bolsa se inflar, ele se auto nocautear com o punho no queixo! Antes o banco regulava só pra frente e para trás. Hoje tem regulagem de altura. Antes os espelhos retrovisores eram de vidro plano, hoje são convexos. Antes o motor carburado economizava gasolina quando colocado na “banguela”. Hoje, com a injeção eletrônica, se fizer isso gastará mais combustível. E muito mais...
(Lanterna + neon sob o carro = brega perigoso!)
Mesmo assim não se ouve falar em cursos de reciclagem ou especialização aos motoristas. Os cursos de reciclagem promovidos pelos Detrans e Ciretrans são ridículos e limitam-se a ensinar as leis de trânsito, meia dúzia de regras e o temível curso de “primeiros-socorros” que só serve para agravar a situação de uma vítima de trânsito.
Uma situação típica é o motorista que roda à noite na cidade apenas com a luz de neblina e as lanternas acesas. Ele não sabe – porque ninguém ensinou – mas além de ter menos visibilidade, esse veículo é menos visível pelos motociclistas, motoristas e pedestres. A luz de neblina atinge entre 5 e 10 metros de focalização, enquanto o farol baixo chega a 20 metros. Além disso, o foco da luz de neblina aponta para frente e para baixo, ao passo que o farol ilumina também para cima. Como os motociclistas são obrigados a usar um adesivo reflexivo no capacete, esse adesivo só será visível com o farol baixo aceso, mas mão com a luz de neblina.
Pior ainda são os carros tunados! Essa excrescência em quatro rodas chamada tuning é uma das grandes responsáveis por carros cada vez menos seguros. Uma das manias é usar luz negra no capô e sob o carro, numa demonstração de cafonice ilimitada. O motorista roda com todas as luzes apagadas e só o neon no capô e embaixo da carruagem brega! Ninguém consegue ver esse horror, nem os pedestres!
Em suma, antes de os motoristas saíram destilando seu ódio contra motociclistas é preciso olhar para o próprio umbigo.
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