Fora de série, extreterrestre, biônico: este é Marc Márquez! (Fotos: MotoGP.com)
Marc Márquez vence o GP da Alemanha e volta ao Olimpo. Remy Gardner e Pedro Acosta dominam nas Moto2 e Moto3
Foram mais de 12 meses de sofrimento, dúvidas e ansiedade. Desde que fraturou o úmero na primeira etapa do campeonato de 2020 a vida do espanhol Marc Márquez virou um calvário. Graças à uma infeliz decisão – não se sabe de quem – ele tentou voltar apenas uma semana após a fratura, exagerou nos exercícios físicos e a placa de titânio que sustentava o osso quebrou causando sérias lesões. Depois de mais duas cirurgias, enxerto ósseo, infecção e quase perder o braço, surgiram dúvidas quanto à sua capacidade de recuperação. Mas veio o GP da Alemanha, no circuito de Sachsenring e tudo virou passado.
Marc largou bem e não permitiu nem que o compatriota Aleix Espargaró completasse uma volta na liderança com a surpreendente Aprilia. Na última curva antes da reta principal MM93 ultrapassou, assumiu a liderança e não perdeu mais. Quando começaram a cair pingos de chuva no meio da prova ele aumentou ainda mais o ritmo e abriu uma confortável distância para vencer nesta pista pela 11ª vez!
Miguelito Oliveira: segura esse português, porque a KTM está voando!
Após a prova, Fabio Quartararo (Yamaha), que chegou em terceiro, comentou “Ele é de outro planeta”. Quando até os pilotos concorrentes admitem que Marc Márquez é extraterrestre realmente é sinal claro de superioridade.
Tudo que aconteceu nessa prova, nas três categorias, perdeu importância perto desta vitória, mas vamos lá, resumir o que rolou. Na MotoGP finalmente a equipe Honda pôde voltar a sorrir, ou melhor, chorar, mas desta vez de emoção. Após a bandeirada foi um chororô dentro dos boxes e teve até japonês às lágrimas. Era a prova definitiva de que só tem uma pessoa no mundo capaz de dominar a Honda RC 211: Marc Márquez. Muitos tentaram, até com o mesmo DNA, como foi com Alex Márquez, mas ninguém conseguiu entender como fazer essa moto render mais que as outras.
A corrida teve ótima atuação – de novo – de Miguel Oliveira (KTM) que conseguiu passar todo mundo à sua frente quando a pista ficou úmida. Frustração para o francês Johann Zarco (Ducati) que fez a pole-position nos treinos, mas caiu logo após fechar a volta voadora. Os mecânicos deixaram a moto em ordem para a corrida, mas sabe como é, não ficou igual e o francês vai ter de esperar mais um pouco pela primeira vitória na MotoGP.
Que fase... Mais uma queda para o marrento Danilo Petrucci (Ducati). Ainda levou Alex Marquez junto.
Fique de olho na Aprilia! A marca italiana evoluiu muito, tem velocidade em reta, só falta um piloto que mantenha o ritmo por toda a prova. Aleix Espargaró ficou boa parte da corrida entre os quatro primeiros, mas cruzou a linha de chegada em sétimo. Quem cresceu na prova foi Quartararo, que ficou boa parte do tempo entre os seis primeiros e nas voltas finais subiu para terceiro, mantendo a liderança do mundial. Se o jovem piloto da Yamaha quiser ser campeão do mundo esta pode ser sua chance de ouro. Não pode mais desperdiçar pontos com zíper do macacão, síndrome compartimental, depressão, inferno astral, nada disso. Ou foca no campeonato ou será engolido.
Outro que partiu pra cima nas voltas finais foi o sul africano Brad Binder, confirmando a ótima fase da KTM. Ficou em quarto depois de largar em 13º. Decepção para as Ducati que renderam bem nas primeiras voltas, mas ficaram no limbo da metade para o fim. Mais decepcionante só mesmo as atuações de Valentino Rossi (Yamaha) e Maverick Viñales (Yamaha). O primeiro deveria realmente sair de cena com dignidade, porque não dá mais para ver um piloto deste quilate disputando posições abaixo de 15º lugar. Já Viñales, que corre com uma moto igual à do Quartararo, vai precisar mesmo é de trabalhar a cabeça. Porque equipamento tem de sobra. Foi o último colocado na pista! As motos são iguais, mas cada um tem seu próprio engenheiro, então Viñales precisa colocar uma plaquinha na porta do seu box: precisa-se engenheiro!
O campeonato ganhou um pouquinho de equilíbrio após essa etapa, com Quartararo na frente, com 22 pontos a mais sobre Johann Zarco. MM93 subiu muitas posições mas está ainda em 10º com 41 pontos. Muita água há de rolar sob a ponte ainda.
Moto2
Tem coisa mais clichê do que “filho de peixe”? Pode até ser, mas em 2021 o australiano Remy Gardner (KTM), filho do campeão mundial Wayne Gardner (1987), sacramentou o DNA campeão ao vencer a terceira etapa consecutiva, com uma ultrapassagem belíssima sobre o companheiro de equipe Raul Fernandez – que cairia logo depois. A corrida em si foi meio monótona porque é visível a superioridade das motos da equipe KTM Ajo. Aqui vale um esclarecimento: as motos não são da marca KTM, porque só tem quatro marcas de chassis: Kalex, Boscoscuro, MV Agusta e NTS. E os motores são todos Triumph de três cilindros. Então por que a KTM tem uma equipe?
Gardner venceu a 200ª corrida da Moto2 e vai em busca do título.
A resposta é para formar uma escada para seus pilotos. A KTM tem uma estrutura fortíssima na Moto3, aí sim, com chassis e motor da marca própria. Depois uma equipe na MotoGP também com equipamento da marca. Como fazer para levar um piloto da Moto3 para a MotoGP sem passar pela Moto2? Simples, montando uma equipe nas três categorias. Foi esta receita que fez nascer o português mais bem sucedido na história da motovelocidade, Miguel Oliveira.
A corrida em si só valeu pela segunda colocação do tatuado Aron Canet, com o chassis Boscoscuro, contra um batalhão de Kalex. O espanhol do team Aspar é muito veloz, mas sofre muitas quedas ao longo das temporadas. Quando acertar a cabeça pode ser uma promessa de vitória. O campeonato está todo desenhado para o filho de peixe, Remy Gardner. Abriu 36 pontos sobre o companheiro Raul Fernandez e pode administrar essa vantagem com calma. Gardner já tem vaga garantida na MotoGP para 2022.
El Pedrito: nasce um fenômeno na motovelocidade chamado Pedro Acosta (37).
Moto3
Depois do susto na última volta do GP da Catalunha, o espanhol fenômeno, Pedro Acosta (KTM) voltou a brilhar de forma imperativa. Largou no meio do bolo, como sempre, engoliu todo mundo e na sexta volta já era líder. Só que desta vez se concentrou nas voltas finais para não ser surpreendido de novo. Venceu, abriu mais de 50 pontos na liderança do campeonato e agora corre sem preocupação. Principalmente porque os segundos colocados nas provas se alternam demais, pulverizando os pontos. O segundo colocado no GP da Alemanha foi o japonês Kaito Toba (KTM), que está em 12º no campeonato. Já o segundo colocado no campeonato, Sergio Garcia (GasGas) chegou em sétimo na corrida. Se nenhum meteoro cair na Terra, nem ele se machucar, Pedro Acosta será campeão mundial da Moto3 em 2021.
Ué, cadê todo mundo? Lorenzo chega 10 segundos na frente. (foto:MotoGP.com)
Depois do GP da França o campeonato equilibrou
Ainda bem que o GP da França foi atípico. Essa coisa de um piloto largar, abrir 10 segundos e vencer sem ser incomodado por ninguém é coisa de Fórmula 1. Na motovelocidade os vencedores não costumam ter vida fácil da largada até a chegada. É só comparar as diferenças entre os primeiros colocados na linha de chegada da MotoGP com os grande prêmios de F-1. Enquanto na moto essas diferenças raramente passam de um segundo, nos monopostos ela raramente é menor de 10 segundos. Só mesmo o Galvão Bueno acha a F1 emocionante, mas ele recebe comissão dos contratos de patrocínio.
Só que já é segundo GP da temporada que o vencedor abre um quarteirão e some na frente dos outros. No GP das Américas, nos EUA, foi a vez de Marc Marquez enfiar quase sete segundos no Jorge Lorenzo. Isso procupa? Não, porque na motovelocidade continua sendo raro ver o que Jorge Lorenzo fez e fez bem feito: impôs um ritmo de classificação nas 28 voltas como se não houvesse amanhã. Um domínio de quem tem uma frieza fora do comum, o que aliás é esperado de um campeão mundial.
Quem patinou na largada foi Valentino Rossi. Depois de um treino sofrível que lhe deu apenas o sétimo lugar no grid, a oito décimos da pole do Lorenzo, Rossi largou no pelotão da merda e, claro, deu merda! Foi atrapalhado, se atrapalhou e cruzou a primeira volta em sexto. Depois fez uma sucessão de ultrapassagens com precisão cirúrgica e se mandou em segundo atrás do Lorenzo, que já tinha 5 segundos de vantagem... Na F1 isso é titica, mas na MotoGP é uma eternidade.
Ianonne: melhor correr a pé mesmo. (foto: MotoGP.com)
Aaah Ducati. Acho que o único consolo da equipe italiana é saber que em 2017 vai ter um piloto com a frieza do Jorge Lorenzo, porque os calientes Andreas estão dando um prejuízo enorme. Se olharmos os tempos de volta da Ducati percebe-se que estão exatamente no mesmo ritmo das japonesas Honda e Yamaha. Está faltando aquele piloto “redondo” que consegue andar no limite sem escorregar na própria baba.
Bom, esse GP da França foi um festival de quedas. Segundo o locutor da SporTV a culpa era do asfalto, mas os pilotos todos afirmaram que o pneu dianteiro da Michelin pra essa corrida não passava o feeling de limite. Simplesmente saía de baixo e deixava o piloto de nariz no asfalto. Mais uma vez os pilotos “cerebrais” como Lorenzo e Rossi sabem identificar o limite antes de a moto sumir debaixo das pernas.
O tombo sincronizado de Andrea Dovizioso e Marc Marquez foi a prova definitiva de que o problema estava nos pneus dianteiros. Ambos caíram igualzinho e não acredite no que se escreve nas redes sociais: o MM não reclamou do Dovizioso quando se viu no chão, ele reclamou consigo mesmo! Sim, isso acontece com todo mundo. Também não foi causado pelo remendo no asfalto, senão os outros 15 pilotos teriam caído também.
Depois da corrida os dois se explicaram ao canal Fox. Dovi disse que foi traído pelo pneu dianteiro no momento que estava apertando o ritmo para não deixar Rossi fugir e se proteger dos ataques do Marquez. Já MM deu a mesma explicação: a moto saiu de frente no momento que tentou dar um tiquinho a mais de gás. Segundo ele, esse pneu já tinha apresentado o mesmo problema em Jerez e dicidiu reduzir o ritmo para garantir o terceiro lugar, pensando no campeonato. Mas por que então em Le Mans decidiu apertar?
- Porque já tinha três motos na frente e isso seria ruim para a tabela geral. Não podia ficar só mantendo o ritmo, precisava atacar! Explicou o espanholito.
Ao final da corrida, a equipe Ducati divulgou o mapa da telemetria do Dovizioso confirmando tudo que o italiano disse. No momento da queda ele havia inclinado a moto dois graus a mais do que o normal e... chão!
Para o campeonato essa prova embolou de vez e trouxe mais emoção. Dos três primeiros colocados cada um já teve seu chão. No caso de Lorenzo e Rossi isso representou zero ponto. Já Marquez amadureceu tanto no ano passado que levantou a moto e foi buscar três pontinhos que podem ser decisivos num ambiente tão equilibrado.
Destaque também para Maverick Viñales, de 21 anos, que fez uma corrida de gente grande dando o pódio à Suzuki. Já de contrato assinado com a Yamaha para 2017, ele vai ter uma baita moto nas mãos e um companheiro de equipe com título de “doutor”. Vai crescer muito!
Entre as motos, a Yamaha é a moto mais bem resolvida para os compostos da Michelin. Quando Lorenzo afirmou que perdeu o GP da Espanha por causa dos pneus não estava mimimizando, foi uma escolha errada mesmo. Um grande piloto não comete o mesmo erro duas vezes, como acabamos de ver. A Honda ainda não mostrou constância e intercala corridas excelentes com outras medianas. Não pode contar com Dani Pedrosa para ajudar MM e ainda tem de ver seu piloto chegando atrás de Suzuki e Ducati... Esta, por sua vez, tem tudo para ganhar uma etapa em 2016, tudo em termos de engenharia, mas está faltando piloto...
Moto2 e 3
Na Moto2 continua a torcida para Franco Morbidelli, o ítalo-brasiliano que leva a bandeira do Brasil no capacete. O cabra é bom, ninguém chega entre os cinco primeiros em uma prova do mundial sendo um bobo. Mas ainda falta aquele toque de gênio para chegar lá na frente. Mas a disputa está bem equilibrada entre Alex Rins e Sam Lowes. É uma categoria que dá gosto de ver porque tem um zilhão de motos escorregando de lado.
Já na Moto3 parece que Brad Binder venceu a segunda consecutiva, abriu uma larga vantagem na tabela para administrar o campeonato. E o malaio Khairul Pawi foi mesmo fogo de palha: só vai no piso molhado, portanto é bom fazer uma dança da chuva a cada prova.
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