No curso de pilotagem ninguém se exibe. Foto: Fabu Arantes
Desculpe a falta de post ultimamente, mas os cursos de pilotagem SpeedMaster estão consumindo mais tempo do que eu imaginava. Você já sabe, né? Neste sábado (dia 7) faremos o primeiro curso voltado às motos custom, trail, big trail, naked até 450cc, big scooter, ou seja, as não-esportivas. E domingo será a vez do curso para motos over 250cc até 450cc, incluindo as Kasinski Comet 250cc. Depois, dias 14 e 15 será a vez do curso Speed para motos esportivas. Se quiser saber mais, www.speedmaster.com.br
Achei esse texto meio antigo, mas que serve até hoje. Não lembro quando foi escrito (pra variar), mas ainda tinha corrida de MotoGP do Brasil...
O exibicionista
Um motociclista parte em alta velocidade, atropela uma garota, perde o controle e atropela mais três menores. Seria um acidente comum de trânsito, não fosse pela coincidência de datas e eventos: ele aconteceu logo após o GP Rio de Motovelocidade, na avenida no Autódromo Nelson Piquet, em Jacarepaguá. Logo vieram as primeiras versões, justificando o acidente como uma conseqüência direta da corrida, ou seja, o motociclista, inflamado pela adrenalida do GP, quis imitar os pilotos e se deu mal.
Esta é uma afirmação perigosa, porque só quem testemunhou pode afirmar exatamente o que aconteceu naquela tarde de 7 de outubro. No entanto temos de considerar que naquela mesma tarde havia cerca de 40 mil pessoas nas arquibancadas. Pelo menos 3 mil motocicletas saíram daqueles estacionamentos e apenas UMA se envolveu em acidente. Será que o motociclista foi efetivamente influenciado pelas manobras dos pilotos profissionais, ou trata-se de um exibicionismo desnecessário?
Sempre que meus amigos das equipes Estilo Livre e Força e Ação, Radical Wheeling se apresentam com suas manobras radicais, com wheelings, RL e tantas outras “loucuras”, eles fazem questão de advertir ao público que aquelas manobras não devem ser feitas nas ruas, por inexperientes. Se você conhecesse qualquer um destes artistas, iria se surpreender com a normalidade de cada um. São todos profissionais, bem remunerados, patrocinados por empresas sérias, que dão shows por todo Brasil, como artistas de circo.
Não aceito a teoria de que estes shows estimulam e incentivam os motociclistas a repetir as manobras. Conversando com Risadinha (um dos primeiros wheelers do Brasil), com quem já tive a alegria não só de realizar trabalhos juntos, mas de ir na garupa em shows de wheeling, ele afirmou que sempre é procurado por motociclistas para promover cursos e até já ensaiou um curso, mas sempre surge sempre a dúvida: e se os alunos saírem se exibindo por aí?
Segundo o próprio Risadinha, quando um motociclista aprende e percebe o prazer e os riscos envolvidos, deixa de se exibir e passa a querer integrar uma equipe oficial de wheeling. Isto explica a grande quantidade de equipes de manobras com motos que surge em vários pontos do País, com estrutura profissional e patrocínios. Os motociclistas recebem cachês como artistas.
Por isso eu sempre vou defender a tese de que os acidentes não precisam de estímulos externos, mas refletem a falta de equilíbrio interno. Aqueles casos de violência entre adolescentes americanos, que atiram contra seus colegas de escola alegam influência dos filmes violentos da TV. É estranho, porque sempre assisti filmes de bang-bang e nunca saí por aí, montado num cavalo, empunhando um 45 prateado e ameaçando as pessoas com o tradicional “esta cidade é pequena demais para nós 15 milhões”. Acho que a real nestes casos é falta de acompanhamento no desenvolvimento do caráter destes jovens. Da mesma forma que aquele motociclista que provocou o acidente após o GP Rio certamente estava prestes a se arrebentar mais cedo ou mais tarde, sem que Alexandre Barros, Valentino Rossi ou Kenny Roberts tivessem algo a ver com isso.
Para confirmar aquela teoria do Risadinha, sobre o curso de Wheeling, realizei o Curso SpeedMaster de pilotagem esportiva. Os alunos tiveram 20 horas de aula, em dois dias com total acompanhamento e foram unânimes na explicação: chegaram pensando em melhorar a pilotagem para tirar racha nas estradas, mas saíram pilotando melhor e rechaçaram a idéia de correr nas estradas. O que todos perceberam, felizmente, é que saber pilotar rápido efetivamente não transforma motociclistas em superpilotos, mas aumenta barbaramente a segurança. Sabendo como reage uma moto em alta velocidade fica mais fácil e natural pilotar em qualquer velocidade. A finalidade de todo curso de pilotagem deve ser a de tornar seus alunos mais seguros e confiantes, e não apenas mais rápidos.