Quarta-feira, 20 de Setembro de 2017

Comprei um capacete!

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Johnny Cecotto em primeiro plano, em 1980, em Interlagos na Copa Brasil. (Foto: Tite)

Como escolher e manter o capacete de motociclista

Comprei um capacete! Grande coisa, você poderia dizer, afinal são vendidos quase dois milhões de capacetes por ano no Brasil. O surpreendente dessa notícia é que desde 1977 eu não entrava numa loja para comprar capacete! O último tinha sido um SS Induma, com entrada de ar, imitação de um Simpson australiano. Com esse capacete eu corria de kart e andava de moto. Logo depois virei jornalista e piloto de teste e passei a ganhar tanto capacete que nunca mais comprei… até uns meses atrás.

Dizem que homens compram as coisas porque precisam. E as mulheres compram porque está barato. Eu tive meu dia de mulher. Dificilmente eu entraria numa loja para comprar um capacete, uma vez que eles é que vem até mim. Mas em uma viagem a passeio por Morungaba, interior de SP, entrei na loja Euromoto de um grande e velho amigo Vincenzo Michele.

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Este tinha sido meu último capacete comprado em loja, Note o ano...  

Ao entrar na loja dei de cara com uma coleção nova de capacetes italianos X-Lite, réplicas de pilotos dos anos 70/80 como Giacomo Agostini, Mike Hailwood, Kenny Roberts e Johnny Cecotto. Todos os capacetes eram lindos e icônicos, mas quando peguei na mão senti que também eram muito leves e bem acabados. Aí fiz aquilo que jamais deveria: vesti o capacete. Ai, ai, o tecido era muito suave e ele envolveu minha cabeça como se fosse feito por encomenda.

Mesmo com todas essas qualidades ainda estava em dúvida, porque realmente não preciso comprar um capacete, assim como um tenista profissional não precisa comprar uma raquete. Só por curiosidade perguntei o preço e veio a supressa: era muito mais barato do que imaginava e, para piorar, o Vincenzo ainda ofereceu um mega desconto, quase 1/3 do valor da etiqueta. Não teve jeito… comprei o réplica do Johnny Cecotto, piloto que conheci pessoalmente e foi campeão mundial de motovelocidade de 350cc em 1975 . E fiquei super feliz porque realmente é ótimo!

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O X-Lite réplica do Johnny Cecotto: uma beleza e confortável. (Foto: Mario Villaescusa) 

Importante explicar que nestes mais de 35 anos tive patrocínio de várias marcas de capacete e agradeço todos os fabricantes e importadores pelo incentivo e confiança. Gostaria de citar todas as marcas, mas tenho medo de esquecer alguma e cometer uma injustiça. Mas desde que saí das competições e também reduzi minha participação na mídia não achei justo ligar para uma fábrica e dar aquele velho xaveco do "me dá um capacete que eu divulgo a sua marca". Por isso a surpresa de comprar um capacete após tanto tempo e descobrir que fiz uma ótima escolha.

Como escolher

O que para qualquer pessoa é uma atividade normal, comprar capacete foi algo quase inédito pra mim. Fiquei imaginando a dificuldade que as pessoas devem ter na hora da escolha, porque são centenas de opções, com preços que variam de R$ 150,00 a R$ 5.000. Por isso decidi ajudar criando uma espécie de guia de como escolher o capacete.

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É muita opção de capacete no mercado! (Foto: Luna Bartlewski) 

Em primeiro lembre que é a TUA vida que está em jogo. Fico verdadeiramente enraivecido quando vejo pessoas até esclarecidas comprando o que existe de mais barato, com a única intenção de cumprir a lei. O cérebro é um órgão vital (sim o bolso também é) e uma lesão pode gerar graves seqüelas permanentes. Por isso a minha primeira dica é: não economize na sua vida!

Se existe uma variedade de preços tão grande não precisa apelar para as extremidades. Nem precisa comprar o de R$ 5.000 e muito menos um de R$ 150. No meio do caminho tem uma infinidade de modelos que conseguem reunir custo decente com alto nível de proteção. Mas tente interpretar o valor como um investimento, no qual o maior rendimento é a segurança. Lembre que capacetes duram muito. Se não ocorrer nada de grave, pode calcular cinco anos para um uso normal. Já os motofretistas consomem mais rápido porque ficam expostos mais tempo ao sol e o ato de tirar e colocar o capacete comprime a camada de estireno (isopor). No caso deles o capacete deve ser trocado anualmente. Mas você não fica na rua oito horas por dia, portanto, pode gastar mais porque na ponta do lápis, um capacete de R$ 5.000 significa um investimento de R$ 83 por mês, que é bem pouco pelo enorme benefício que oferece.

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Mesmo para andar de scooter deve-se usar um bom capacete: o asfalto é o mesmo! (Foto: Mario Villaescusa) 

A segunda pergunta que se deve fazer é "para que eu quero um capacete?". Sim, porque existe desde o capacete de fora-de-estrada, até os "jets" que são os abertos. Antes de mais nada saiba que a dureza do asfalto não muda quando se roda de moto pequena ou scooter. Uma das maiores bobagens que vejo nas ruas são pessoas que usam capacete aberto porque rodam de scooters. Saiba que a dureza do asfalto é a mesma e 35% dos traumas crânio-encefálico acontecem por compressão do maxilar. As velocidades mais comuns de acontecer acidentes são abaixo de 50 km/h, por isso não importa o tamanho da moto, mas sim o tamanho da pancada!

Um modelo bem versátil são os de fora de estrada, que permitem boa ventilação, mas devem ser usados com óculos próprios e não são recomendados para alta velocidade porque a pala (pára-sol) empurra o capacete para cima. Alguns tem viseira mas aí já é melhor comprar logo um capacete integral esportivo mesmo.

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Capacete off-road funciona bem se não atingir altas velocidades. (Foto:Caio Mattos) 

Já o modelo articulado (chamado de Robocop) é um dilema porque é muito versátil para quem trabalha nas ruas todos os dias, mas o pessoal acaba usando ele aberto o tempo todo, reduzindo a eficiência. Além disso existe uma lei federal que exige a retirada do capacete para entrar em locais públicos (inclusive - pasme - posto de gasolina!). Também são mais frágeis na região do maxilar por causa do mecanismo de abertura. Esse capacete foi criado pela polícia alemã e deveria ser restrito ao uso militar.

Às vezes ficamos horas com o capacete enfiado na cabeça, portanto ele precisa ser confortável. Deve ficar justo, sem pressionar demais, mas jamais folgado. Alguns capacetes entram na cabeça tão folgados que parecem um sino de Igreja. O capacete deve "abraçar" com suavidade o rosto do motociclista.

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Capacete articulado é bom, mas tem de mantê-lo fechado. (Foto: Bruno Guerreiro) 

Pequeno, médio ou grande

Apesar de o Brasil ter um mercado de motos bem estabelecido, as marcas de capacete ainda trabalham com uma grade reduzida de tamanhos. Para saber qual o número do seu capacete é simples: pegue uma fita métrica dessas de costureiro e meça o perímetro da cabeça na altura da testa. O número que aparecer na fita é o mesmo do capacete. Normalmente entre os homens é de 57 a 60. O problema é que só as marcas mais sofisticadas tem numeração com escala de um e um centímetro. Os capacetes mais simples só oferecem números pares: 56, 58, 60 etc. Entre o maior e o menor escolha o menor porque ele lasceia  rapidamente. Se o motociclista usa óculos de grau não esqueça de provar o capacete com óculos!

Existem dois tipos de fivela dos capacetes: a de duas argolas, usada principalmente em modelos de competição, e as fivelas de engate rápido, tipo de cinto de segurança. As duas oferecem um alto grau de segurança, mas no caso do engate rápido devemos lembrar que todo engate de plástico apresenta desgaste, enquanto no caso das argolas de metal a durabilidade é quase infinita.

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O capacete já salvou minha vida também na escalada. (Foto: Leandro Montoya) 

Com relação ao material do casco, também encontramos dois tipos no mercado: o plástico injetado e as fibras compostas. Assim como no caso das fivelas, os dois oferecem segurança e são aprovados pelas normas técnicas de vários países. No caso do casco de plástico, por ser injetado, a produção é em larga escala, fazendo com que o custo unitário seja menor. Enquanto no caso da laminarão o processo de fabricação é mais lento, por isso a escala é menor elevando o preço unitário.

Independentemente disso, os capacetes de fibra podem resistir a mais de uma batida no mesmo local porque a fibra tem a capacidade de se regenerar em segundos, enquanto no caso do plástico a área impactada fica comprometida. De toda forma, quando cair e bater o capacete no chão ele deve ser substituído, seja de plástico ou de fibra.

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Também já bati o cucuruto andando de skate! (Foto: Douglas Gonçalves) 

Tão importante quando o material do casco é a espessura da calota interna de estireno (chamado comercialmente de Isopor). Esse é um material que não tem efeito memória, como uma espuma. Quando o estireno é amassado ele não volta ao tamanho original e é isso que deixa o capacete folgado depois de alguns anos. O simples ato de colocar o capacete já causa esse "afrouxamento" e quando um capacete fica folgado a ponto de girar na cabeça é hora de aposentar.

Sei que dói aposentar um capacete, principalmente quanto está novo, mas um capacete folgado pode até sair da cabeça durante uma queda. Lembra do primeiro conselho lá em cima: é sua vida que está em jogo, não economize porque um dia de UTI custa muito mais caro do que qualquer capacete!

Existe um mito quando se trata de capacetes. Tem gente que acha que ele deve ser duro, quando na verdade ele deve ser flexível! Se fosse para ser duro seria feito de ferro fundido e não de fibras e plástico. O casco não é o responsável pela absorção do choque, ele recebe a pancada mas quem distribui e absorve a maior parte da energia é o estireno. Por isso o capacete deve ser trocado quando essa calota interna de isopor fica amassada, a capacidade de amortecer o impacto fica menor.

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Na estrada o modelo fechado (integral) é o mais confortável. (Foto: Vespaparazzi) 

Já sabemos que é o estireno o grande responsável por dissipar e absorver a energia, portanto quanto mais grossa for essa camada melhor. Sim, daí vem outro acessório que tem se tornado um calcanhar de Aquiles: a viseira escura interna. Para abrigar essa viseira escura a camada de estireno precisa ser reduzida pela metade na altura da testa. Se por um lado é legal ter uma viseira escura, por outro saiba que sua cabeça está mais exposta! Ah, e se rodar com a viseira externa aberta e a viseira interna abaixada ainda pode ser multado porque o Denatran não reconhece essa viseira interna como peça homologada.

Belo e durável

Até aqui não comentei nada sobre a parte estética. O que para muitos - como no meu caso - é o primeiro item na hora da escolha, para outros nem passa perto. Pode olhar em volta e perceber que tem gente que escolhe capacete como se fosse um mal necessário. Usa com raiva!

Motociclistas que amam moto (como eu) faz do capacete uma extensão da personalidade. Por isso precisa ser bonito (como eu!) e refletir a paixão pelo veículo. Capacete velho ou sujo, com a viseira riscada só pode indicar uma pessoa relaxada e descuidada. Manter um capacete é bem mais fácil do que parece.

A limpeza da calota externa é feita apenas com esponja, água e sabão. Nada de solventes, álcool etc. Tem produtos específicos para limpar plástico, mas água e sabão são mais do que suficientes. A viseira merece atenção especial porque um pequeno risco pode ser um eterno aborrecimento. E viseiras são caras! Limpe com algodão, seque bem e depois passe alguma cera líquida polidora para que as gotas de água não grudem na viseira quando chove.

A parte interna merece muita atenção porque o suor gera fungos e bactérias que causam odor e aspecto viscoso. Quando pegar chuva o ideal é secar com secador de cabelo (na temperatura média) e periodicamente deixar exposto com a abertura para o sol. Pelo menos uma vez por mês pode aspergir spray de desinfetante tipo Lisoform. Capacetes precisam de luz, mas não gostam de ficar muito tempo no sol, por isso deixe somente o necessário para secar a espuma interna.

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Em pista o capacete deve ser bem apertado, senão compromete a visão. (Foto: Caio Mattos) 

Uma pergunta freqüente entre os motociclistas é se pode ajustar o capacete quando ele fica folgado. Existem especialistas de confiança que conseguem trocar a forração interna para ajustar ao tamanho da cabeça. Se for só um ajuste fino, quando não conseguiu encontrar o tamanho correto, OK, pode mandar ajustar. Mas se for porque ele ficou velho é melhor trocar, porque é sinal que a camada de estireno já está muito compactada.

Bom, sou um usuário de capacete desde os 12 anos de idade, quando ganhei minha primeira moto e ainda não era obrigatório. Bati muito a cabeça ao longo de todos esses anos competindo nas mais diferentes modalidades de motociclismo esportivo e aparentemente estou normal. Além disso uso capacete na bicicleta, nas escaladas e agora no skate. Em todas essas atividades já sofri acidentes nos quais o capacete salvou minha cabeça, por isso conheço bem de perto a importância desse equipamento. É como se você tivesse duas cabeças: uma para bater à vontade e outra para preservar seus miolos.

Uma das principais funções do capacete é reduzir a desaceleração causada por uma queda, que pode ser muito devagar (até mesmo caminhando a pé) ou em velocidade. O trauma crânio-encefálico (TCE) começa pela desaceleração causada pelo impacto, que pode iniciar uma concussão cerebral, evoluir para um edema e até a morte cerebral. E se engana quem acha que os capacetes de bicicleta são apenas enfeites. Quem acha capacete uma frescura pode fazer o seguinte: vem correndo a pé e bate a cabeça na parede com tudo! Depois me conta como foi lá no hospital!

 

Leia também Papo Cabeça neste LINK

 

 

 

publicado por motite às 00:46
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Quinta-feira, 23 de Outubro de 2008

A difícil segurança no verão

(Como fritar uma namorada: 1. Deixe ela vestir uma roupinha arejada. 2) faça uma curva radical uhuu para se exibir aos amigos. 3) passe em cima da faixa amarela e leve um tombaço. Se ela voltar a dar pra você é uma imbecil de primeira grandeza!)

 

Entre o equipamento completo de segurança e nenhum existe o meio termo que torna mais segura e agradável a pilotagem no verão
 
Está chegando a estação do ano mais perigosa para os motociclistas e justamente a mais gos­tosa para passear. O verão chegou e com aquele calor de 40ºC à sombra, chuvas torrenciais súbitas, viagens de fim-de-semana, passeios à beira mar de short e sandália, gatinha na garupa de blusa de alçinha, biquíni fio dental, sandália de dedo, surfista/motociclista equilibrando a prancha etc e tal. Aí vem aquela tradicional per­gunta anual: o que fazer com a segurança du­rante o verão?
 
A mesma coisa que no inverno, só que mais arejado. É claro que não fica bem recomendar o uso de botas de cano longo, luvas de couro e casaco de couro apenas para um passeio à beira-mar, mas pode-se conseguir um bom meio­termo para garantir alguma segurança na épo­ca mais quente do ano.
 
Até pouco tempo atrás, os motociclistas eram obrigados a ter dois tipos de equipamentos de segurança: um para o calor e ou­tro para o frio. Hoje em dia, com novos materiais e tecnologia mais moderna os equipamentos são compatíveis com as quatro estações do ano. Mesmo assim, para os motociclistas mais tradicionais, nada impede ter dois tipos de equipamento, nas versões inverno glacial e verão saariano.
 
A começar pelo capacete. Todo bom capacete tem sistema de ventilação e forro lavável. Mesmo com calor infernal eu prefiro usar capacete fechado, com óculos escuros por baixo e deixo a viseira levemente aberta. Não gosto de usar capacetes abertos, nem aqueles de cross, com “queixeira” porque na hora de chuva de verão os pingos batem na pele como se fossem agulhas!
 
Todo mundo sabe que o capacete aberto oferece menos proteção do que o integral, mas para algumas situações ele aju­da a refrescar, sempre acompanhado de óculos de proteção. Infelizmente os burocratas que fazem as leis obrigam o uso de óculos “de segurança” que na cabeça deles são aqueles sofisticados (e caros) óculos de motocross. Um bom óculos escuro de ciclismo (ou surfe) oferece a mesma segurança, custa menos e pode ser usado fora da moto.
 
As novas luvas de motocross e enduro são feitas de material muito resistente, com proteções de plástico ou kevlar na parte superior, contam com velcro para fechar no punho e – melhor da festa – têm orifícios para ventilação.
 
Nas pernas é mais difícil encontrar material leve e resistente. Quando rodo na cidade uso o velho e bom jeans, mas na estrada tenho usado calça ventilada de poliéster (popular e erroneamente chamada de Cordura). Este tipo de calça é mais versátil porque serve como proteção e tanto faz o clima, porque chova ou faça sol ela tem uma boa troca de calor. O importante é não rodar de bermudas ou shorts, tanto pela evidente exposição da pele ao atrito com asfalto quanto à proteção contra as queimaduras de sol ou em contato com as partes quentes do motor. Pior ainda para as namoradas, que podem ficar eternamente com uma macha na perna, sem falar em outras conseqüências mais doloridas para você!
 
Os novos casacos de poliéster também mudaram muito. Hoje já se encontram no mercado produtos que oferecem forro impermeável removível e até áreas ventiladas com pequenos orifícios. Ontem fui a um lançamento da SBK que achei muito interessante: uma jaqueta chamada Bali, com ventilação e uma capa removível que pode ser guardada em uma pequena bolsa nas costas do casaco. É um tipo de sistema que eu chamaria de “marzupial”, porque leva dentro da bolsa que nem um canguru!
 
Eu me sinto desconfortável quando a pele fica em contato direto com o tecido de qualquer desses casacos. Por isso uso uma camiseta de manga comprida dessas de cross (aliás, como se viu, o equipamento de fora-de-estrada é muito útil no calor). Quando chego na praia e quero dar um rolê de moto sob o sol uso essas camisas de cross porque são ventiladas e protegem do sol. Já vi motociclistas com queimaduras graves porque estavam rodando de camiseta regata sob um sol causticante. E passar protetor solar para rodar de moto é uma meleca das grossas. Com a moto em movimento o motociclista não percebe o calor, mas basta pôr a mão no capacete ou no tanque de gasolina para sentir como está sua pele. Essa exposição pode até levar a uma desidratação.
 
Falando em desidratação, é bom ingerir mais líquido do que o normal. Melhor ainda é o suco de frutas, ou a fruta na sua forma original, e evi­tar comidas pesadas, gordurosas ou de difícil di­gestão. E por mais difícil que possa ser, não abu­se das cervejas estupidamente geladas. Deixe-­as para quando estiver na praia, com a moto des­ligada, em boa companhia, com camarões fritos etc, etc.
 
Outra dica é proteger o pescoço. Apesar de achar a coisa mais cafona do mundo, uso uma bandana enrolada no pescoço para não fritar minha nuca. Ou então recorto a manga curta de uma velha camiseta e coloco pela cabeça como se fosse uma gola postiça. É horrível, mas funciona muito bem na estrada.
 
A parte mais difícil são os pés. Os tênis são frágeis e facilmente arrancados quando o motociclista rola pelo chão. Uma bota de couro é simplesmente infernal! A solução pode estar naqueles tipos de tênis de cano alto específico para caminhada. Eu tenho um par que uso nos dias quentes e são bem ventilados. Como têm cano alto eles não saem do pé quando o motociclista é centrifugado. 
 
A moto no calor
As motos nacionais foram projetadas para su­portar as altas temperaturas tropicais, mas vale lembrar algumas possíveis alterações que a moto pode sofrer com o calor. Os óleos lubrificantes recomendados pelos fabricantes são suficientes para rodar em qualquer região do País, mas quem for utilizar a moto sob um regime elevado de rotação, em uma região predominantemente seca e quente, pode efetuar as trocas com mais freqüência, apenas para garantir a lubrificação. E usar um óleo de especificação W (winter) maior, como o 20W50, por exemplo.
 
Com relação à calibragem dos pneus, também deve-se seguir as recomendações do fabrican­te, apenas tomando o cuidado de sempre cali­brar com os pneus frios, já que o atrito com o asfalto quente faz o ar da câmara (ou do pneu) expandir, aumentando a calibragem. Ao se calibrar com os pneus quentes é normal apresentar duas ou mais libras. Jamais deve-se "sangrar" esta pres­são excedente, porque o pneu vai aumentar sua área de contato com o solo, sofrerá mais atrito e a ar da vai se expandir mais ainda, su­perando aquelas duas libras "sangradas". Quem tiver acesso pode calibrar com nitrogênio porque é um gás isento de água e sofre menos a ação da temperatura, além de ser mais leve que o ar.
 
Nas viagens longas, o motociclista que utilizar motos arrefecidas a água deve ficar atento ao termômetro da líquido. Também verifique se está no período de troca do líquido de arrefecimento e complete com a quantidade de etileno-glicol recomendada. E um recado especial para os pro­prietários de motos refrigeradas a ar com care­nagem integral: nos centros urbanos, com trân­sito lento, a carenagem dificulta a irradiação do calor e deve-se evitar ficar muito tempo com a moto parada e o motor ligado. Isso vale também para os paqueradores de sábado à noite, que rodam em baixa velocidade por longos períodos.
 
Moto ou camelo?
Verão é um convite a viajar e de preferência acompanhado. Aí volta o velho problema: onde colocar a bagagem de dois adultos, mais a bar­raca, panelas, saco de dormir e ainda sobrar es­paço para os viajantes? As motos, de fato, têm menos espaço para transportar bagagem, então a solução está na criatividade de cada um, mas sem deixar de lado a questão da segurança.
 
Para guardar as roupas a melhor opção são as bolsas laterais, tipo a1forje, lembrando de em­brulhar as roupas em sacos plásticos para não molhar em caso de chuvas de verão. Ou ainda as malas de plástico, mais práticas e protetoras. Em ci­ma do tanque de gasolina, devidamente prote­gido por uma capa, pode ser presa uma pequena bolsa específica. Motociclista e garupa po­dem carregar uma mochila, desde que não atrapalhe os movimentos, nem provoque desconforto.
 
Para prender esta bagagem toda na moto, não inventaram nada melhor do que os esticadores (ou aranha). Tudo deve estar bem preso para evitar que os automóveis que venham atrás sejam obrigados a desviar de cuecas voadoras, pane­las saltitantes ou barracas agressivas.
 
É só uma chuvinha de verão
A viagem está tranqüila, o céu azul, mas conforme os quilômetros vão passando o céu vai fi­cando cinza, com tendências a negro. São as pancadas de verão. Aquelas chuvas fortes e rá­pidas suficientes para molhar completamente um motociclista em poucos minutos.
 
Alguns simplesmente preferem entrar em um pos­to ou parar sob um viaduto esperando a chuva passar: "É só uma pancada de verão", como dizem. Mas se nas duas horas seguintes a chu­va nem dá sinais de melhora, o jeito é vestir o abrigo de chuva e seguir viagem. É importante lembrar que os primeiros minutos de chuva são os mais perigosos, porque a poeira e óleo que estavam na pista se misturam com a água, for­mando uma pasta escorregadia. Depois de uma boa enxurrada, a pista fica "lavada" e mais se­gura.
 
A velocidade de cruzeiro deve ser reduzida pa­ra evitar surpresas na hora de parar a moto. A distância para o veículo que vai à frente deve ser dobrada. E pilote sempre na faixa por onde passam os pneus dos carros, porque eles atuam como rodos, limpando o caminho para a gente! O resto é pilotar com o máximo de cui­dado e gestos suaves, evitando mudanças bruscas de trajetória, faixas pintadas ou frenagens súbitas, e esperar a chuva passar, afinal é só uma "chuvinha" de verão. Caso a chuva persistir forte, e escurecer, é mais recomendável encostar em um hotel ou pos­to e esperar até o dia seguinte. Pior do que via­jar à noite, só com chuva ...
 
Um acidente muito comum no verão acontece em baixa velocidade e a vitima geralmente é o (a) garupa. São as famosas queimaduras não por excesso de sol, mas por uma encostada no es­capamento. Estes acidentes geralmente acon­tecem quando o motociclista não resiste à tenta­ção de e encara um areião. Não que isto seja proibido, mas deve ser feito com cuidado para evitar uma queda e a marca que ficará eterna­mente gravada no corpo, lembrando que aquele verão de moto foi fogo!
 
Portanto, viver o verão com uma motocicleta não é nada mais do que fazer algumas adapta­ções à época mais quente do ano. Tanto na manutenção da motocicleta como nos cuidados com a pilotagem e com o equipamento que se usa. Mas, para quem atravessou todo o inverno cheio de casacos de couro, botas, capacete fechado, e outros equipamentos, é a época de se deixar mais solto, mas nem por isso menos seguro.
 
(pilotar na areia é uma arte, cair faz parte...)
 
Pilotagem na areia
Finalmente praia. E vem aquela tentação irresistível de experimentar as emoções de pilotar na areia, sentindo-se um campeão mundial de enduro. Mas antes de sair comendo areia deve-se observar alguns de­talhes. Para começar, a brincadeira só vale se a moto for trail. Já que os pneus de passeio só irão patinar. Então é recomendável esvaziar cerca de 50% da calibragem dos pneus e tomar alguns cuidados com a corrente de transmissão.
 
O ideal é proteger a corrente com pó de grafite. Aquele mesmo que vem dentro do lápis. A grafite tem a vantagem de "lubrificar" a corrente sem engordurar e sem deixar a areia se agarrar à corrente. Não sendo possível utilizar grafite em pó, deve-se recorrer a uma lavagem e limpeza total da corrente, retirando qualquer vestígio de óleo. Assim, quando a areia entrar em con­tato com a corrente, ela não ficará impregnada entre os elos.
 
Se a corrente estiver lubrificada com óleo a areia irá juntar-se ao o lubrificante, formando uma eficiente pasta abrasiva lixadora de elos. Depois de brincar no areião, o motociclista deve fazer uma limpeza completa na moto, passando uma fina camada de óleo nas partes cromadas, e uma lubrificação na corrente com óleo especifico em spray. Tudo isso para evitar a cor­rosão pela maresia. No calor, a corrente se aquece mais do que o normal, e os óleos comuns são facilmente expelidos pe­lo movimento, deixando a corrente seca em pouco tempo. Recentemente descobri a graxa branca em spray que pode ser uma solução nos dias quentes por ser mais abrasiva e grudar melhor mesmo sob alta temperatura.
 
Na hora de pilotar –sempre que possível em pé nas pedaleiras - é preciso ficar atento com as du­nas mais macias onde a moto pode atolar, ou mudar de trajetória independentemente da vontade do piloto. Nes­tes casos pode-se seguir as sábias recomendações de todos os pilotos: em caso de dúvida, acelere! Com a moto embalada e acelerando, a roda motriz agarra no areião e a frente fica leve. A moto vai em linha reta, sem ligar se o guidão está virado para algum lado. Depois é só relaxar e boa diversão.

 

publicado por motite às 15:41
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