Quarta-feira, 30 de Dezembro de 2020

Pra todo chão, como anda o Honda X-ADV 750

Xadv_abre.jpg

Um produto muito interessante que aceita qualquer terreno. (Fotos: Tite Simões e Alê Silva)

Conheça o maxi scooter Honda X-Adv 750*, o SUV das motos

Imagine a seguinte situação. Uma viagem por estrada de asfalto chega em uma bifurcação e o GPS oferece duas opções: 10 km por estrada de terra ou dar uma volta de 50 km por estrada de asfalto. Quem estiver de moto esportiva, custom ou scooter vai preferir rodar mais pelo conforto do asfalto. Mas se estiver numa trail ou no scooter Honda X-Adv 750 basta seguir em frente pelo caminho mais curto, sem se importar com o piso.

Esta é a proposta deste scooterzão com motor e suspensões de moto, postura de big trail e facilidades de scooter, com preço sugerido de R$ 69.900 (mas na prática o céu é o limite). O jeito mais fácil de entender a X-Adv é comparar com os modernos crossover como Honda HRV, que não tem tração 4x4, mas aceita o desafio de enfrentar uma estrada de terra. Aliás, uma curiosidade: o motor do X-Adv foi inspirado no motor do Honda Fit, inclusive tem características bem automobilísticas como curso maior que diâmetro e potência a baixo regime: 54,8 CV a 6.250 RPM.

xadv_2.jpg

Na terra, sem medo de ser feliz, nem de se arrebentar!

O motor não é novidade por aqui, porque trata-se do mesmo da Honda NC 750X, que no Brasil veio apenas na versão com câmbio convencional, mas na Europa e EUA também é oferecida com câmbio automático de dupla embreagem. Aliás, esse é o grande destaque desta X-Adv: o câmbio! Não se trata de um câmbio por polia variável (CVT) como na maioria dos scooters, mas sim de um genuíno “dual clutch”, ou DCT, com opções de trocas manuais por botões no punho esquerdo, ou em duas opções de trocas automáticas.

Só o capítulo câmbio daria para passar horas explicando, mas esta é uma avaliação e o mais importante é saber como funciona na prática.

Na prática

O X-Adv foi uma criação de engenheiros e projetistas italianos na sede da Honda Itália. Pela aparência e análise de projeto percebe-se que foi feito para diversão. Tudo nele é um convite para viajar e se divertir sem fronteiras. Tem uma inspiração bem clara na Honda Africa Twin, a grande aventureira da marca. Inclusive o charme das rodas raiadas (com raios perimetrais), equipadas com pneus radiais Bridgestone Trail Wing de uso misto sem câmaras.

Xadv_painel.jpg

O painel é um show à parte, tem todo tipo de informação e pode ser customizado!

As suspensões foram pensadas para enfrentar pisos irregulares, com bengalas invertidas e monoamortecedor traseiro, receita típica de uma moto fora de estrada. Inclusive a altura do banco de 820 mm é a confirmação dessa vocação todo terreno. Pra mim é alta, mas a ausência do tanque na frente do umbigo ajuda na hora de parar, subir e descer da X-Adv.

A programação de teste seria de cerca de 500 km num dia, enfrentando trânsito urbano, rodovias, serra e, claro, um belo trecho de fora de estrada. Felizmente estávamos vivendo um período de seca, que me livraria de atolar na lama!

Xadv_7.png

Muito conforto no asfalto e consumo médio de 25 km/litro. 

Como a maior curiosidade era com relação ao câmbio, fiz todo tipo de experiência. Já tive contato com esse tipo de câmbio antes quando pilotei a Honda VFR 1200X e lembro que o mais estranho foi não contar com a manete de embreagem.

Ao acionar a partida o painel mostra o câmbio na posição D (drive), quando as trocas de marcha são automáticas. As trocas são a cerca de 2.500 RPM e as vezes, de acordo com a velocidade o câmbio fica alternando as marchas e no trânsito intenso de São Paulo eu preferia colocar na posição M (manual) para decidir pela melhor relação.

xadv_punho.jpg

Punho esquerdo com os comandos do câmbio: no dedo indicador sobe marcha, no dedão desce.

Já na rodovia foi a vez de testar o câmbio nas posições S (sport), quando as trocas são em rotações mais elevadas. Na saída do pedágio usei a opção manual para saber como seriam as trocas e mesmo depois de entrar na rotação máxima o sistema corta a ignição, mas não troca de marcha, só se acionar o botão +. Por outro lado, ao deixar cair a rotação, mesmo no manual, o câmbio reduz sozinho porque além de colocar o motor em risco, o scooter pode simplesmente apagar e deixar o piloto em perigo.

Na velocidade de cruzeiro, a 120 km/h, o motor de dois cilindros tem funcionamento muito liso, com baixo nível de vibração, a modestos 3.900 RPM. Como o para-brisa tem cinco regulagens é fácil encontrar a que desvia o vento por cima da cabeça. Por uma questão de segurança essa regulagem só é possível com as duas mãos, obrigando a parar. Porque é muito grande a tentação de mexer com o scooter em movimento. Não conta pra ninguém, mas eu consegui regular com uma mão só (não tente fazer isso em casa!!!).

Super_banner_NewsLetter_580x72px_angell (1).gif

Quer um pneu 100% ON pro seu X-ADV 750? Clique no banner que vai direto.

Dança das curvas

Velocidade máxima nunca foi minha preocupação em avaliações porque isso não faz a menor diferença. Mas como sei que é uma das principais curiosidades, pesquisei na internet e vi que a maioria deu 175 km/h em condições normais, o que já é muito bom para esse tipo de moto. Neste trecho a média de consumo ficou alta porque abusamos da velocidade, fazendo 21,5 km/litro.

No caso, o plural não é figura de linguagem, mas convidei um velho amigo para me acompanhar justamente porque ele havia acabado de comprar uma igualzinha! Alexandre Silva, de 45 anos, empresário, experiente piloto de rali, se interessou pela X-Adv assim que viu a primeira imagem. Passou dias me infernizando para conseguir uma emprestada, mas a pouca paciência (é ariano) dele acabou fazendo comprar sem testar mesmo. Meses depois recebeu a moto sem ter feito nenhum metro de teste ride. A escolha foi pela necessidade de uma moto que pudesse chegar em sua casa de campo por uma estrada de terra. E que fosse confortável nos 200 km de asfalto.

xadv_bau.jpg

Como diz em Minas, cabe um bocado de trem no porta-objeto. E tem tomada 12V.

Isso foi fácil de confirmar. Com banco largo em dois níveis conforto é o que não falta para piloto e garupa. Realmente tem toda vocação para uma cruzadora devoradora de quilômetros. Como a posição de pilotagem é típica de scooter, na qual o piloto fica sentado e não montado, depois de muito tempo pilotando percebi que recolhendo os pés bem para trás, como numa moto, melhora um pouco a postura, sobretudo nas curvas, que foi o cardápio seguinte.

Assim que chegamos na serra de Campos do Jordão minha ansiedade foi lá na faixa vermelha. Nas duas primeiras curvas já percebi que é bem diferente de uma moto, porque a ausência de tanque de gasolina na frente do piloto e de pedaleiras muda totalmente a “tocada”, exigindo muito mais força no guidão do que numa moto. Os pneus não passam um feeling muito preciso do limite e a tendência é alargar a curva.

Xadv_bocal.jpg

Durante o sacolejo no fora de estrada subiu um cheiro forte de gasolina. O bocal fica entre as pernas.

(Nota do redator: sempre que viajo de moto com esse seboso do Alexandre Silva eu peço de joelhos para manter um ritmo de gente civilizada, que não posso levar multa com motos de teste, que eu tenho 60 anos e os ossos demoram pra colar, que eu pretendo testar muitas motos mais na minha vida. Como bom lesado que é ele respeita isso... por menos de 10 km! E acabamos fazendo um Tourist Trophy da Ilha de Man. Tudo culpa dele!!! Para a minha sorte, o terceiro desmiolado desse grupo, o Eduardo Gualberto, só comprou a X-Adv dele depois desta viagem. Detalhe: ele saiu de uma Africa Twin para o X-Adv!)

Depois de subir toda a serra percebemos que daria para inclinar ainda mais nas curvas. Na verdade o limite é bem alto, mas foi difícil acreditar! Confiável são os freios, com dois discos flutuantes na frente, equipados com pinças radiais capazes de morder com vontade! Pra quem não tem intimidade com scooter estranha usar só as mãos para frear. O instinto faz procurar o pedal do freio no pé direito às vezes... Como todo scooter a gente acaba usando mais o freio traseiro nas reduções de velocidade mais leves.

Xadv_8.png

A sua jaqueta de poliéster ou calça jeans precisam ajuste, ou reforma? Clique na foto que tudo se resolve.

No trecho sinuoso a melhor opção foi, sem dúvida, manter o câmbio na posição manual e escolher as marchas pelos botões. Ao contrário dos scooters com câmbio CVT, neste com dupla embreagem é possível sentir o efeito redutor do câmbio (popular “freio-motor”). É pura diversão.

A exemplo dos carros com câmbio de dupla embreagem, se mantiver na posição sport ou mesmo na drive e o piloto girar o acelerador rapidamente o sistema entende que precisa retomar a velocidade e reduz uma ou mais marchas. Aliás a central eletrônica que gerencia todo funcionamento do X-Adv sempre vai buscar a melhor combinação para reduzir o consumo e melhorar o desempenho, mesmo assim, como bom neto de italianos, fui teimoso e usei a maior parte do tempo no manual.

Do pó vieste...

Ao pó retornarás! Sou suspeito pra afirmar porque disputei provas de enduro e rali por 10 doloridos anos. Por isso adoro pilotar por estradas de terra seja com qual roda for. Nosso roteiro incluiu um percurso de cerca de 35 km por estradas de terra com vários tipos de terrenos, na região de São Bento de Sapucaí, quase divisa de SP com MG.

A primeira impressão não foi muito boa, porque os pneus radiais são muito duros pra pilotar na terra. Isso faz a frente saltitar demais e copiar muito as irregularidades. Essa sensação é reforçada pela roda dianteira de 17 polegadas, que “sente” mais os buracos do que uma roda de 21 polegadas, óbvio. Outro complicativo é a falta de pedaleiras, mas isso a Honda já percebeu e oferece como acessório um kit de pedaleiras “de verdade” da Rizoma.

Xadv_pedaleiras.jpg

Pedaleira de moto opcional: tem da Rizoma, mas também no Aliexpress! Essencial pra rodar na terra.

Em algumas situações que exige a pilotagem em pé demora um pouco para o piloto levantar do banco pela característica do scooter. A falta do tanque de gasolina na frente para apoiar as pernas também torna a pilotagem fora-de-estrada meio estranha. É mais uma questão de costume, porque depois de uns kms comecei a me ajeitar e até a arriscar uns saltos.

A primeira coisa a fazer quando entrar na terra é desligar o controle de tração, colocar o câmbio no manual e acionar o botão G (ground). Nessa configuração o X-Adv fica mais fácil de pilotar porque tem situações no off-road que derrapar é preciso. Só senti falta da opção de desligar o ABS. É um detalhe a ser pensado porque no piso irregular a manete do freio dianteiro começa a vibrar e perde sensibilidade de frenagem. Além disso, a roda traseira precisa ficar livre pra derrapar mesmo nas frenagens.

Em compensação o sistema eletrônico consegue perceber se a moto está na descida íngreme e reduz a marcha mesmo que esteja no manual. É uma forma de garantir o “freio motor”, fundamental pra pilotar na terra. Idem na subida: se o piloto não trocar de marcha o sistema troca sozinho. Fizemos várias simulações de pilotagem, da mais conservadora a mais agressiva e posso afirmar que para cruzar um trecho de estradas de terra o X-Adv manda muito bem, mas não é um off-road de raiz, do tipo que o piloto acorda cedo e sai de casa para fazer trilhas. Lembro que só pegamos piso seco e empoeirado, não sei como se comportaria na lama!

Conclusão

Durante uma das paradas para refrescar do calor de 36ºC do nosso desequilibrado inverno, conversei com o Alexandre Silva e levantamos alguns aspectos de uso do Honda X-Adv.

– Nos primeiros dias de uso é normal reduzir uma marcha na hora de acionar a buzina! Até se acostumar com os botões leva algum tempo e sustos.

Xadv_terra.jpg

Rolê na terra: dá pra superar, mas não foi feita para grandes desafios de um rali!

– Se a ideia for usar exclusivamente no asfalto seria bom trocar os pneus por versões mais esportivas, já disponíveis no mercado. Esse Brigestone Trail Wing se revelou barulhento no asfalto, principalmente entre 80 e 90 km/h. A Pirelli já oferece uma opção mais ON para reposição.

– O desenho é muito moderno e bonito, seria um crime instalar um bauleto no bagageiro, mas já existem opções que agridem menos o bom gosto. Tem até malas laterais, mas aí pode mandar prender o dono que fizer isso.

– Deveria ter a opção de desligar o ABS, pelo menos o traseiro.

– Nas rodovias é confortável, especialmente para quem vai na garupa

– Nos trechos de sacolejo fora de estrada começou a subir um cheiro forte de gasolina (o bocal fica na frente do piloto bem ali perto das partes baixas). Como isso apareceu nos dois scooters não dá pra falar em problema de uma unidade. É algo para ser avaliado pela turma da engenharia.

– Poderia ter um porta-luvas no escudo frontal.

– Muito boa a tomada 12V sob o banco, mas ainda vem em formato circular (tipo acendedor de cigarro), muito importante para ferramentas, mas poderia ter a opção de USB. Precisa lembrar de levar um adaptador.

– Porta objeto sob o banco de boa dimensão, iluminado, cabe qualquer tipo de capacete.

– No uso urbano é muito ágil e versátil, chega a parecer uma moto menor.

– A média geral de consumo de todo o teste foi de 25,2 km/litro, ótimo para esse tamanho de motor.

Xadv_4.jpg

Estradinhas de terra e a imensa Pedra do Baú ao fundo. Fomos até lá,

Neste estranho ano de 2020 a Honda acaba de lançar a versão 150cc, a partir da estrutura da PCX 150, mas com câmbio CVT. Pode aguardar a versão de 300cc também. Para o 750 ainda tem fila de espera e o preço é salgado. Pelo mesmo valor pode-se comprar motos trail “de verdade” com mais potência e versatilidade. O grande argumento de venda é mesmo o estilo meio “transformer” e o aspecto divertido da pilotagem. E quando o assunto é diversão não há caro ou barato!

O que tenho percebido pelos usuários que conheço, o uso tem sido essencialmente ON Road e a escolha tem tudo a ver com estilo e um detalhe que me deixa até envergonhado: a menor possibilidade de roubo. Chega a doer ter de admitir que chegamos num ponto tão baixo de qualidade como sociedade que nossas escolhas devem se basear naquilo que os ladrões gostam, ou não.

Xadv_1.png

Esse Alexandre Silva não serve pra muita coisa, mas de vez em quando acerta umas fotos!

Pontos de venda, ficha técnica e detalhes, clique AQUI.

* Este teste foi realizado com a versão 2019. O modelo 2020 teve mudanças no painel, farol, porta objetos e o motor ganhou uns 2 CV, aguarde nova avaliação.

publicado por motite às 15:26
link | comentar | ver comentários (2) | favorito
Domingo, 27 de Dezembro de 2020

A História de uma lenda: o primeiro teste da Honda CBX 750F nacional.

abregeral.jpg

Eu sou o de amarelo... como sempre! (Todas as fotos são reproduções do original do Mário Bock)

Primeiro teste da Honda CBX 750F nacional!

Novembro de 1986, São Paulo, bairro da Vila Mariana. Era lá que ficava a sede da Sigla Editora, que publicava a revista Duas Rodas. Era meus primeiros passos no jornalismo especializado e depois de testar centenas de motos – a maioria pequenas até 450 cc – chegou a vez de assumir uma enorme responsabilidade: testar a Honda CBX 750F nacionalizada. Uma moto esperada por anos, com um nível de ansiedade lá nas alturas. Na verdade foi uma matéria a oito mãos porque participaram dela os experientes Josias Silveira, o editor Roberto Araújo, o testador principal Gabriel Marazzi e eu, o foca da redação. Tudo registrado pelas lentes do Mário Bock.

Algumas curiosidades deste teste.

1) Nós fomos a única publicação especializada que conseguiu logo de cara comparar a versão nacionalizada com a japonesa importada, porque o Josias tinha uma na garagem de casa. Foi um banho nos concorrentes (mais um...).

2) Repare no volume de material escrito! Eu tive a manha de contar: 18.100 caracteres (sem ficha técnica nem medições), algo inimaginável nos dias de hoje, que ninguém quer ler mais nada, só vídeo no Iutubiu.

3) Preste muita atenção na quantidade de esporro que a Honda leva em várias situações, especialmente no caso dos pneus com câmera. O Roberto Araújo era o único da equipe que tinha passado por jornal “de verdade” o Jornal da Tarde. Ele trazia aquela alma investigativa dos jornalistas sérios e jogava no cara do entrevistado, tipo “olha eu sei que você está mentindo, mas vamos publicar a nossa versão”! Karaka, se alguém fizer isso hoje em dia vai preso! Eu escutava ele falando com os executivos da Honda pelo telefone e me escondia embaixo da mesa com medo do tamanho da bomba que seria jogada. Mas o efeito era justamente o inverso: quanto mais ele batia na Honda e Yamaha (e todas as outras), mais éramos respeitados no meio.

4) Fiz questão de manter o texto integral da época, inclusive a moeda era o Cruzado. Se quiser saber qual valor em dólar tem vários conversores no Google.

5) Preste atenção nas medições do Gabriel Marazzi. Tudo feito com cronômetros e trena conforme já expliquei AQUI uma vez. Os números eram precisos! Boa leitura!

capa.jpg

A capa história!

CBX 750F contra CBX 750F

Foram seis meses de expectativa. Desde que a Honda mostrou a CBX 750F na cor preta (veja edição nº 130) e Duas Rodas descobriu com exclusividade que seriam apenas 700 unidades importadas para “investigação de mercado”, ficava uma pergunta no ar: como seria a CBX 750F efetivamente nacional? Agora ela chegou.

Tem 40% de nacionalização, a roda dianteira é de 18" e não de 16" como a importada, a carenagem foi modificada, as suspensões dianteira e traseira perderam suas regulagens, embora na dianteira permaneça o TRAC (que é o sistema antimergulhante da Honda); entre várias outras modificações.

O motor continua o mesmo quatro tempos, quatro cilindros em linha, refrigerado a ar, 747cc (67,0x53,0 mm), com 16 válvulas (quatro por cilindro), e a potência é de 82 CV a 9.500 rpm. Permanecem portanto as boas características como elasticidade, crescimento de giro uniforme, respostas e acelerações rápidas. Nas medições realizadas por Gabriel Marazzi, esta CBX "made in Brazil" atingiu uma velocidade máxima de 213,9 Km/h na melhor passagem, contra 209 Km/h da CBX importada e o consumo médio foi igual, de 10,8 Km/litro. Ou seja, as possíveis diferenças de motor são desprezíveis em relação ao modelo importado, e podem inclusive ser em função das diferenças normais entre cada unidade.

duas juntas.jpg

Sim, o diretor de arte cortou nossas cabeças, isso era comum naquela época!

As principais modificações foram no conjunto dianteiro de suspensão e roda. A moto nacionalizada está equipada com aro dianteiro de 18" e perdeu as regulagens de suspensão e do sistema antimergulhante TRAC. Agora, a moto está mais simplificada, ao contrário do que anunciou o diretor comercial da Honda, Reizo Tanaka, em entrevista a Duas Rodas (edição n. 135, setembro de 1986), na qual ele declara textualmente "a política da Honda não permite adaptações na CBX 750F brasileira".

O desenho made in Brazil

Esteticamente, a moto ganhou novo grafismo, combinando as cores branca, vermelha e preta. A carenagem foi alterada, ficando mais alta porque os dois semi-guidões ficaram dois centímetros mais altos, e a bolha acrílica é mais envolvente. O encosto da carenagem agora é feito por galão (cantoneira de borracha), enquanto no modelo importado a fixação é feita por coxim de borracha, com melhor acabamento.

A iluminação continua sendo feita por dois faróis, mas agora cobertos por apenas uma lente, o que deixou a moto mais bonita e manteve um importante item de segurança, já que raramente queimam as duas lâmpadas do farol ao mesmo tempo.

oaradas.jpg

Fomos a única revista a comparar as duas versões.

O estilo mais agressivo da versão anterior, toda preta, sem cromados, deu lugar a um visual colorido com escapamentos cromados. Toda a "carroceria" da moto, ou seja, carenagem, tanque, laterais, rabeta e pára-lamas é produzida aqui, com algumas alterações visando modificar o conjunto. O escapamento não recebeu o cromo preto por dificuldades tecnológicas da nossa indústria, em compensação agora ele é divisível, o que pode representar, uma economia em caso de substituição.

Todo o sistema elétrico permaneceu igual, ou seja, 12 Volts com bateria de 14 A/h, e alternador com capacidade de 320 Watts a 5.000 rpm. A ignição é eletrônica e a moto possui sistema de partida elétrica, eliminando o pedal de partida. Para quem sentir falta deste acessório, basta verificar os automóveis que não têm mais manivelas de partida há muitos anos, e que são muito mais difíceis de empurrar, quando a bateria está descarregada.

roda.jpg

A roda dianteira de 18" foi razão de muita discussão... até hoje!

Frente brasileira

Olhando a CBX importada e a nacional, percebe-se que a roda dianteira da japonesa é menor. Automaticamente faz-se uma ligação com as competições: a roda menor é melhor. Na prática não precisa ser bem assim. Nas pistas, como as velocidades aumentam cada vez mais, estava ficando difícil acelerar estupidamente entre uma curva e outra com a moto ainda inclinada, graças ao efeito giroscópico. É esse efeito que mantém a moto “em pé” quando em movimento. Assim, as motos de competição passaram a adotar a roda dianteira de 16". Como conseqüência, essas motos ficaram visualmente mais bonitas e agressivas, além de mais ágeis, criando um modismo para as motos esportivas de rua.

banner_300x300px_angel-GT-ll.jpg

Tem uma moto clássica e precisa de pneus? Clique nessa imagem acima!

Outra alteração foi nos pneus, que não são mais tubeless (sem câmara ). A justificativa oficial da Honda para a colocação de câmaras foi a dificuldade de manutenção que o tubeless oferece, já que poucos borracheiros no Brasil teriam equipamentos para consertar este tipo de pneu.

Mas o argumento enfrenta dois obstáculos: o primeiro é que a grande maioria dos carros nacionais já é equipada com pneus sem câmara, o que faz com que a maioria dos borracheiros esteja adaptada a esse tipo de manutenção. Segundo, em entrevista com técnicos da HRDB Honda Development of Brazil, que tem sede no Japão, mas cujos técnicos estiveram no Brasil na época da apresentação do modelo à imprensa, não se escondeu a razão real: para usar pneus sem câmara seria preciso usar o mesmo tipo de roda da CBX importada (Comstar). A roda de alumínio fundido tem porosidades que eliminam a possibilidade de uso do pneu sem câmara com segurança.

motor.jpg

Motor de quatro cilindros e 85 CV.

Como resultado da adoção do aro dianteiro de 18", a geometria da suspensão dianteira mudou. O curso se manteve com 150mm, assim como o cáster, com 27° mas o trail passou de 93 para 101 mm. A distância entre eixos aumentou de 1.465mm para 1.490mm, aumentando também o comprimento total da moto de 2.146 para 2.185mm.

A falta de regulagem na suspensão dianteira (e do equalizador de pressão de ar) foi explicada pela fábrica, como uma forma de proteger o motociclista brasileiro, já que desacostumados com regulagens complexas, os brasileiros poderiam mexer sem conhecimento e piorar a estabilidade da moto. Novamente, na mesma entrevista com os homens da HRDB, descobriu-se que a Showa do Brasil, que fornece os amortecedores, não teria condições tecnológicas para desenvolver a suspensão com regulagem. Pelo mesmo motivo, eliminou-se as quatro regulagens do sistema antimergulhante TRAC, que apesar de continuar existindo, está regulado no que seria a posição 2,5 numa escala de 1 a 4.

A suspensão traseira perdeu as três posições de regulagem do amortecedor único. Rodando com garupa, a suspensão chegou a bater no fim do curso (que passou de 115mm para 103mm, na roda), lembrando o comportamento das CB 450. Os motivos para a eliminação das regulagens estão no capítulo anterior.

painel.jpg

Na posição de pilotagem da moto nacional, não se percebe o aumento de um centímetro na altura do banco ao solo. Os instrumentos são importados e continuam iguais, com velocímetro à esquerda marcando até 240 Km/h; ao centro está o contagiros com a faixa vermelha iniciando em 10.000 rpm; à direita, um único relógio agrupa marcador de nível do combustível e voltímetro.

No painel (importado), a Honda brasileira fez uma alteração discutível. No modelo japonês existia uma luz espia indicando se a lâmpada da lanterna traseira havia se queimado. Na versão nacionalizada, esta luz não foi utilizada, por motivos tecnológicos, e para não ficar um buraco, inventaram a indicação de "Top", ou seja, que indica quando a sexta e última marcha foi engatada. Graças ao motor elástico da CBX, esta luz fica praticamente acesa a maior parte do tempo, o que pode incomodar em viagens noturnas, com aquela luzinha cor de violeta sempre "chamando a atenção do motociclista.

cidade.jpg

De macacão super à vontade pela cidade... 

Os comandos são iguais aos da CBX importada, apenas o corta-corrente mudou de preto para vermelho. Ao centro dos semi-guidões está a chave de ignição, com trava incorporada e a caixa de fusíveis, que agora usa fusíveis do tipo faca, e não de vidro.

logo_ellegancy.jpg

Sua jaqueta moderna não combina com sua moto clássica? Saiba que tem jeito, basta clicar no banner acima.

Rodando

Durante os testes pudemos comparar os rendimentos da versão importada (emprestada compulsoriamente pelo nosso diretor editorial Josias Silveira). Foi aí que todas as justificativas da fábrica foram sendo conferidas e a primeira descoberta foi de que o aro dianteiro de 18" se dá melhor nos acidentes geográficos que existem pelas ruas e estradas brasileiras. A segunda foi a de que regulagens em suspensão dianteira fazem falta, um ajuste na suspensão sempre torna a pilotagem mais segura e confortável.

deitamuito.jpg

Os pneus nacionais com câmara não chegaram a afetar a estabilidade e nas frenagens as diferenças em relação à importada são desprezíveis, cabendo às diferenças normais de um veículo para outro. Em curvas os pneus se mostraram eficientes mesmo em curvas de alta, feitas “no limite”. O guidão mais alto melhorou a postura e deixou a moto mais fácil de “costurar” no trânsito urbano.

Mesmo com todas as alterações, a Honda CBX 750F é uma moto excepcional, que pode ser pilotada a mais de 200 Km/h em uma estrada segura, com o contagiros chegando perto da faixa vermelha; ou em uma estrada de terra a 30 Km/h, ou ainda em uma avenida à beira-mar, numa noite de verão.

Mercado

Desde sua chegada a CBX 750F se tornou recordista brasileira de ágio. Dos Cz$129.290,00 tabelados pelo CIP, ela chegou a atingir Cz$ 450.000,00 no "mercado paralelo". A razão é simples: muita procura e pouca oferta. Com apenas 100 motos por mês distribuídas pelo Brasil, o que sequer dava uma moto por revenda (são mais de 400 pelo Brasil), foi inevitável o aumento de preço.

tite_josias.jpg

Dentro do macacão preto está o Josias Silveira.

A grande novidade em termos de mercado da nova CBX 750F é o número de produção. Ele passa a ser de 300 unidades/mês, e seu novo preço de tabela, que foi autorizado pelo CIP, agora é de Cz$ 137.238,00. Mas, na verdade, tudo indica que também esse novo preço é apenas teórico: pelo menos a curto prazo deve continuar o ágio. O maior número de unidades que chega ao mercado deve, porém, fazer com que ele caia gradualmente, conforme o público que espera por essa moto for tendo acesso ao produto.

Mas, de qualquer forma, um pouco mais cara ou barata, um ponto pode ser festejado: o Brasil faz, finalmente, uma 750cc.

Gabriel Marazzi e Geraldo Simões

carenagem.jpg

Farol duplo, mas com a mesma lente. Esta versão ficou eternamente conhecida como "Hollywwod".

Box 1

Quanto custa um tombo?

Provavelmente um dos fantasmas que persegue os proprietários de Honda CBX 750F (depois dos ladrões de motos) são os caixas de balcão de peças das revendas. Chegar na oficina e falar com voz cheia "troca a embreagem!", por exemplo, pode custar, realmente, muitos ricos cruzadinhos.

Com a nacionalização da maioria dos componentes da CBX, inclusive suspensão dianteira completa e até mesmo o quadro, a manutenção geral da moto em caso de defeitos ou acidentes tende a ter seu custo reduzido. Mas não é tudo que serve no modelo 86, a "preta". A carenagem, por exemplo, é bastante diferente e tem seus encaixes posicionados em outros lugares na nova CBX, de modo que não serve na antiga. Do mesmo modo o farol, painel (este ainda é importado mas não é intercambiável entre a 86 e a 87) e tanque não podem ser substituídos nesses modelos diferentes.

Os amortecedores dianteiros da nova CBX também não servem na preta, tampouco poderá ser utilizada a suspensão dianteira completa da outra, devido à diferença dos ângulos de direção que elas possuem (haveria problemas de estabilidade e dirigibilidade). Ainda o guidão do modelo nacional terá problemas ao ser instalado na "preta", devido ao comprimento dos cabos e mangueiras de comando. Mas componentes menores como piscas, lanterna traseira, manetes, pedaleiras e escapamento, além de pequenas peças, as nacionais poderão ser utilizadas no modelo importado, certamente a preços mais acessíveis. Em relação a isso, é intenção do fabricante continuar a importar peças de reposição, além das do motor e câmbio, que não se compatibilizem integralmente com a moto em relação à estética ou eficiência de funcionamento. Os preços dos componentes de reposição para CBX nacional ainda não estavam acertados na ocasião do fechamento desta edição, para que se pudesse compará-los aos preços das peças importadas, que são muito elevados. Para se ter uma idéia, a carenagem completa com farol, da "preta", custa sem colocação Cz$ 38.757,00, enquanto que a suspensão dianteira completa custa Cz$ 28.894,00 sem rodas e freios, o guidão em duas partes custa Cz$ 5.900,00; os pneus Cz$ 10.237,00 jogo e as rodas Cz$ 25.130,00 (as duas). O tanque custa Cz$ 16.500.00, o banco Cz88.910,00 e os escapamentos Cz$ 17.966,00.

Box 2

As mudanças, na nossa análise.

São bastante numerosas as mudanças na CBX 750F versão 1987. Em muitas dessas “novidades nacionalizadas” a questão pode ser discutida apenas tecnicamente. Em outras, envolve a opinião e mesmo o gosto de quem julga. Para saber o que é nacional e o que é importado na moto, é mais fácil numerar o que é importado: motor e câmbio completos, painel de instrumentos completo, caixa de fusíveis, tampa do  tanque de combustível, torneira do tanque de combustível, corrente de transmissão, guidão e acrílico da carenagem. O restante é tudo nacional.

Para determinar na parte que foi nacionalizada o que melhorou, piorou ou é indiferente, a equipe básica de testes de Duas Rodas se reuniu e colocando lado a lado a CBX 750F preta 86 ao lado da 87 branca cada um dos itens foi comparado e analisado. Aqui a média dos resultados na opinião de Josias Silveira, Roberto Araújo, Geraldo Simões e Gabriel Marazzi:

tabela_opinioes.jpg

O boletim da 750F

Box 3

Opiniões

Olhei a CBX nacional pela primeira vez. Minha reação diante do guidão e carenagem altos e aquela roda “enorme" na dianteira: “é uma moto para maiores de 40 anos”. Lembrei-me que já estou nesta classificação de idade e reformulei: "é uma moto para motociclistas bem mais velhos ou mais barrigudos". Andando com a CBX nacional a coisa não ficou tão ruim. Ela anda "direitinho" e não chega a te jogar no chão por causa de duas polegadas a mais na roda dianteira. Mas ela perdeu a agilidade e a leveza que um aro 16" na frente e as suspensões e o TRAC reguláveis permitiam. Uma leveza muito difícil de se achar em motos (realmente) de grande cilindrada. Uma agilidade que serve inclusive para fugir dos buracos.

Discordo da Honda e da 'ala jovem" da redação (Marazzi e Geraldo) quanto ao aro18" ser mais adequado às "condições brasileiras". Se fosse assim todas as motos nacionais, mesmo as passeio, teriam aro 23" na dianteira, além de pneu cross, e salva-vidas para enfrentar inundações.

A CBX nacional tem seus encantos mas falta a agressividade, o "pique" e a esportividade da "pretona". Mesmo que o ronco de um motor quatro cilindros possa compensar estas faltas, na minha opinião, apenas parcialmente.

Josias Silveira

Antes mesmo da apresentação da Honda CBX 750F à imprensa e ao público, já era sabido que o modelo seguinte, quando terminassem as 700 unidades importadas iniciais, seria muito simplificado e perderia até a charmosa "rodinha" dianteira de 16 polegadas. Durante os testes da "preta", viagens

e coisa e tal, gostei muito da moto, realmente sensacional. E, sinceramente, já não gostava da próxima versão, antes mesmo de saber como ela seria. A Yamaha RD 350LC me entusiasmou mais. Agora, com a nova Honda CBX 750F, as coisas mudam um pouco. A primeira vista, seu grafismo e cores me espantaram um pouco, e as "nacionalizações" levantaram suspeitas quanto à eficiência da parte mecânica e estabilidade. Mas depois de rodar algumas centenas de quilômetros com ela em estradas, ruas, durante testes e mesmo passeios em fins de semana, com paciência a CBX nacional me conquistou.

Mais adequada ao meu estilo de pilotagem que a preta, ela não mostrou em nenhum momento abalos em estabilidade ou dirigibilidade, chegando até a ter melhor desempenho que o modelo anterior testado.

As simplificações existem, não há mais regulagens de amortecimento e intensidade do sistema antimergulhante, o acabamento em relação ao modelo importado realmente é inferior (só um pouco), mas ela continua a ser a Honda CBX 750F, com seus 82 CV e velocidade máxima acima dos 210 Km/h. E com um ronco de seu motor de quatro cilindros que não deixou de me emocionar desde que eu era um garoto de 10 anos, em 1969, quando vi

(e ouvi) pela primeira vez uma Honda CB 750 Four.

Gabriel Marazzi

Durante o lançamento da CBX 750F nacional, os representantes da Honda do Brasil e do Japão não se cansaram de dizer que a fábrica jamais lançaria um produto que não fosse seguro. Até aí, tudo bem, mas o pneu sem câmara (tubeless) é comprovadamente mais seguro do que o com câmara.

Não é à toa que as motos esportivas no Exterior utilizam o tubeless. A falta de regulagens nos amortecedores dianteiros e traseiro pode não colocar a segurança do motociclista em jogo, mas quando se passa numa lombada, com garupa, o amortecedor traseiro bate no fim do curso e nas curvas com irregularidades a frente chega a escorregar. Tudo isso poderia ser amenizado se o motociclista pudesse escolher a regulagem mais apropriada para a utilização da moto.

Depois que a moto começa a andar é fácil esquecer as justificativas “oficiais" e saborear as boas qualidades mecânicas que foram preservadas, como o motor dócil e ao mesmo tempo veloz, e os freios supereficientes.

Porém, ao parar a moto novamente, a decepção: acabaram" com o acabamento na CBX nacional. Desde arestas de solda no quadro (brasileiro) até a falta de polimento da alavanca de câmbio, dão a impressão que o "nosso" controle de qualidade anda meio sonolento e precisa abrir mais o olho, a exemplo da indústria japonesa.

Em linhas gerais, a Honda merece o reconhecimento pela rápida nacionalização de 40% de uma moto tão complexa, mas por enquanto, ainda "não senti firmeza" com esta moto. Quando a fábrica aumentar a "tiragem” talvez as coisas melhorem.

Geraldo Simões

Box 4

Pirelli: "sem câmara é melhor”.

Antes do lançamento da CBX 750F nacionalizada circulou um "boato" de que a nova moto viria com pneu dianteiro de aro 18", com câmara. A razão apontada, era porque a Pirelli Brasil não teria condições de fabricar pneus de aro 16" e sêm câmara, como da moto importada. A Pirelli, pórem não confirmava essa informação e, oficialmente, a Honda jamais afirmou que a modificação se devia a dificuldades de fornecimento da Pirelli.

A Honda, afirmou Attilio Cepollaro, gerente de produtos originais da Pirelli, é nosso cliente há muito tempo. Fizemos exatamente o que nos pediram. Mas poderia ser outro pneu, ou outra medida. Quanto a pneu com câmara, ou sem, a Pirelli entende que o pneu sem câmara oferece maior segurança, sendo um produto mais evoluído.

Roberto Araújo

MEDIÇÕES

ficha tecnica.jpg

fichatecnica.jpg

 

publicado por motite às 21:28
link | comentar | favorito
Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2020

História da Foto: de sete-galo pelo Brasil!

cbx750_bsb.jpg

Foram 3.600 km pilotando um sonho! (Todas as fotos autorais)

A História da Foto: uma viagem de CBX 750F pelo planalto

O ano é 1986, a moeda era o Cruzado e a moto mais desejada do mercado era a Honda CBX 750F, importada do Japão. Foram apenas 800 unidades colocadas à venda, o que gerou uma briga de foice e um ágio estratosférico em plena época de inflações galopantes e rastejantes.

Eu estava com 27 anos, trabalhava como editor da revista Clube Honda e como redator na revista Duas Rodas. Naquela época jornalista especializado tinha um peso muito diferente perante as fábricas. Nossas opiniões determinavam estratégias de mercado, definiam mudanças nos produtos e eram muito bem respeitadas pelas matrizes lá no distante Japão.

Por isso tínhamos muito mais liberdade para escolher a pauta e definir como e onde testar as motos. Nesta viagem eu aproveitei um jogo da Seleção Brasileira para rodar o máximo com as estradas vazias. Deu certo e ainda com a vantagem da prorrogação e pênaltis. (eu contei uma parte dessa história AQUI)

Note que a redação foi toda na terceira pessoa. Um recurso chamado “plural majestático”, usado para não criar uma aproximação com o leitor. Dá a impressão que eu estava acompanhado, mas estava sozinho, deliciosamente sozinho.Depois de insistir bastante os editores me deixaram escrever na primeira pessoa.

Também perceba como a liberdade de redação permitia escrever que eu viaja a 140 km/h em estradas com limite de 80 km/h. Mentira, eu viajava muito mais rápido do que isso, Várias vezes passei de 200 km/h principalmente durante o período do jogo.

Saudades dessa época política e totalmente incorreta. Não foi um teste da moto, mas servia apenas para incentivar o público a comprar uma sete-galo e sair viajando pelo Brasil. O que lembro dessa moto é ter nas mãos um sonho de consumo de milhares de brasileiros e com liberdade para fazer qualquer coisa. A roda dianteira de 16 polegadas me fez pular mais que siri na lata, mas com 27 anos ninguém tem problema de coluna. Quanto mais eu andava, mais queria andar. Só parava pra abastecer (não faço ideia de consumo), comer e dormir. Viajei à noite, de madrugada, sob chuva, neblina, de calça jeans e casaco de couro.

Agora uma confissão: no trecho de serra de Teresópolis para o Rio de Janeiro eu fiquei tão pirado com as curvas e a qualidade do piso que chegando no fim da serra, fiz o retorno e subi tudo de novo, para descer mais uma vez!!! Pouco tarado! Ah, e quando eu comentava sobre as ótimas estradas, lembre que isso foi 34 anos atrás!!!

Fiz centenas de fotos, mas só publicamos estas e o arquivo se perdeu nas várias mudanças de editora. Aproveite mais uma história da foto!

bsb_abre.jpg

Levei essa sete-galo japonesa para conhecer Brasília! (Fotos: Tudo eu)

 Uma CBX pelo Brasil

Um dia ideal para viajar de moto tem que ser ensolarado. A melhor estrada deve ter um asfalto liso, ser bem sinalizada e de preferência sem muitos carros e caminhões. Portanto não houve melhor opção de roteiro do que conhecer Brasília a bordo de uma Honda CBX 750F num sábado em que a Seleção Brasileira de Futebol tentava passar pela França e alcançar a semifinal da Copa do Mundo de 1986.

1.000 quilômetros por dia

A equipe de Clube Honda saiu de São Paulo pela manhã com a intenção de rodar o máximo possível antes que o jogo terminasse, e assim aproveitar que o País inteiro estava diante da tela de TV, esvaziando as estradas. O plano de viagem previa uma jornada direta até Goiânia (GO), com escala em Uberlândia (MG) para almoço e descanso.

Nos primeiros 100 quilômetros de estrada deu para sentir que os outros 900 seriam vencidos sem dificuldades. A moto se mostrou extremamente confortável e a velocidade de cruzeiro (atual cruzado) podia ser até de 140km/h mantendo absoluta segurança, graças tanto aos três discos de freio, quanto à estabilidade que a moto oferece. As estradas até o triângulo mineiro são a Rodovia dos Bandeirantes, com quatro faixas em cada pista e a Via Anhangüera, com duas faixas nas duas pistas. O piso está em ótimas condições e qualquer moto pode trafegar mesmo à noite com muita segurança.

bsb_4.jpg

Fotografar era uma paixão, mas esse quadriculado é resultado do escaneamento da revista, o popular muarê.

Cidade fantasma

Depois de quase 700 quilômetros rodados, chegamos a Uberlândia com muita fome e vontade de ver e conversar com pessoas, enfim sair da clausura de um capacete fechado. Mas para nossa surpresa a cidade estava completamente vazia. O comércio estava fechado, inclusive bares, lanchonetes e restaurantes Um ou outro cidadão corria de um lado para outro, aproveitando o intervalo do jogo.

A única saída foi parar num dos restaurantes de estrada. Foi aí que descobrimos aonde é que estavam os caminhões. Todos os caminhoneiros e até ônibus de turismo tinham parado para assistir ao jogo.

Tomamos um lanche rápido para aproveitar os 45 minutos finais da partida com a estrada vazia. Não ia ser fácil rodar 300 quilômetros em 45 minutos, mas acabamos “ganhando” mais 30 minutos de prorrogação e quando começava a escurecer paramos pela última vez na estrada.

Pela expressão dos caminhoneiros parecia que não vinha boa notícia pela frente. De fato o Brasil tinha acabado de ser eliminado na disputa de pênaltis e não era nada agradável a visão de motoristas frustrados "empurrando" a derrota goela abaixo com ajuda de pinga.

bsb_esplanada.jpg

Mansões do Lago Paranoá, só casa bacana mantida com seu dinheiro!

Fizemos os últimos 200 quilômetros à noite, apreensivos com a reação dos outros motoristas devidamente "calibrados". A estrada a partir do Rio Grande na divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais, passou a ter pista única com uma faixa cada e à noite os dois faróis halógenos da CBX 750F ajudaram a manter a segurança até chegarmos definitivamente em Goiânia.

A capital brasileira das motos

Nunca soubemos de alguma pesquisa neste sentido, mas provavelmente Goiânia é o lugar com mais motos por habitante do Pais. A moto é o veículo oficial da região. Desde o dono da fazenda, até o boiadeiro todos têm motos. E nem mesmo a derrota do selecionado brasileiro afastou os goianos da Praça Tamandaré, ponto de encontro dos motoqueiros. A chegada da CBX 750F na cidade fez o povo esquecer um pouco do futebol. Até o porteiro do hotel quis saber tudo sobre a moto.

A espinha dorsal da cidade é mesmo a Praça Tamandaré e algumas ruas em volta. Além de muita moto, a cidade também goza (ệpa!) de um enorme contingente de mulheres bonitas, portanto quem gosta de moto e de namoro corre pra Goiânia. Mas existem outras atrações, para quem não é chegado em motos (ou namoro), como a Feira de Artesanato Universitário, que acontece aos domingos de manhã na Rua Goiás.

Super_banner_NewsLetter_580x72px_angell (1).gif

Quer escolher um pneu pra viajar sem dor de cabeça? Clique no banner acima!

Bom dia, Brasília

Saímos de Goiânia com destino a Brasília, mas antes fomos conhecer a cidade histórica de Goiás, com suas construções do século XVIII e ruas com calçamento original. E um passeio imperdível, uma espécie de volta ao passado, rodando por ruas que mantêm as mesmas características e construções, desde a sua fundação, no início da colonização brasileira. Não deixem de ver os artesanatos em barro e pedra-sabão expostos na Associação dos Artesãos de Goiás e no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Goiás.

bsb_3.jpg

Cidades históricas e feira de artesanato.

Próxima parada, Brasília. A cidade planejada, construída no centro geográfico do Brasil, resultado do sonho do ex-presidente Juscelino Kubitschek e que tem como maiores atrações as próprias construções, que são verdadeiras obras de arte da arquitetura. Para quem não consegue passar tantos quilômetros sem ver uma gota d'água, em Brasília pode aproveitar para conhecer a península dos ministros, à margem da lagoa de Paranoá, aonde estão as residências oficiais dos ministros e embaixadores.

Um bom lugar para se perguntar o que é que fazem com todo dinheiro que o País pede ao Fundo Monetário Internacional...

A noite em Brasília oferece muitas opções de programas, desde concertos musicais, até peças de teatro, além das boates e bares. Não existe um ponto de encontro dos motoqueiros, como em Goiânia, mas a rapaziada natural se reúne no bar Bom Demais, que além de fornecer boa comida natural, costuma apresentar eventos como música instrumental, lançamentos de livros, leitura de poesias e o que mais rolar pela Capital.

Aliás, tem gente que diz que o Brasil tem uma capital que é federal! Hum, esta foi nacional.

ellegancy_fran.jpg

Vai viajar, mas precisa ajustar o macacão ou a jaqueta? Só clicar nessa foto acima

Voltando pelo litoral

O planalto Central, onde estão Brasília e Goiânia, se caracteriza pelo clima quente e seco. Portanto não resistimos a tentação de voltar a São Paulo "cortando caminho" pelo Rio de Janeiro e aproveitar para verificar como estão as estradas por estes lados.

Entre Brasília e Belo Horizonte, dormimos em Luizlândia, num confortável hotel de beira de estrada, a um preço confortabilíssimo de Cz$ 60,00 por pessoa. A estrada até Belo Horizonte está passando por algumas

reformas e convém prestar muita atenção, sobretudo à noite, nos trechos em reparos. Além disso, os boiadeiros costumam levar suas 3.654 cabeças de gado para passear pelas estradas, o que representa dois perigos para os motociclistas, transformar uma vaca em virado a paulista ou escorregar num cocô bem no meio da curva Neste trecho, duas paradas obrigatórias: a represa de três Marias, na cidade do mesmo nome e a Gruta do Maquiné, na cidade de Cordisburgo, ambas já no Estado de Minas Gerais.

Bsb_catedral.jpg

A foto original é bem mais bonita por causa da paineira em flor.

A viagem de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro passa por regiões bonitas, com a estrada em excelentes condições e atravessando cidades serranas como Petrópolis e Teresópolis, já no Estado do Rio de Janeiro.

Enfim, maresia

Depois de dias e quilómetros sem sentir o cheiro do Oceano Atlântico, aterrissamos no Rio para um breve pernoite e iniciamos a última e mais agradável parte de roteiro, Rio-São Paulo pelo litoral, através da BR 101. Ao nosso lado esquerdo o Oceano, ao direito a Serra do Mar e embaixo de nós a fantástica CBX 750F vencendo as curvas da Serra com estabilidade de fazer inveja ao nosso melhor carro esporte.

Finalmente o cheiro do mar e um pouco de curva para quebrar a monotonia de quase 2.500 quilômetros de reta. Fizemos duas paradas obrigatórias: em Angra dos Reis, para ver de perto a usina nuclear, e em Paraty para saborear frutos do mar vendo as construções antigas ainda preservadas e conservadas.

Três mil e seiscentos quilómetros depois, estamos novamente em São Paulo. Foram seis dias de vagem somente por estradas asfaltadas e bem conservadas. Um roteiro indicado tanto para as novíssimas e velozes CBX 750F, quanto para as CB 450. Mas isso não impede que um proprietário de qualquer moto de 125cc ou 250cc siga o mesmo roteiro. Apenas terá que se um pouco mais paciente sem nenhuma pressa para terminar a viagem.

publicado por motite às 21:18
link | comentar | ver comentários (2) | favorito
Domingo, 22 de Novembro de 2020

MotoGP: Um ano marcante

88-miguel-oliveir.jpg

Vitória maiúscula do português Miguel Oliveira no GP de Portugal. (MotoGP.com)

O mundial de motovelocidade termina como começou: surpreendente. Miguel Oliveira, Remy Gardner e Raul Fernandez foram os vencedores na MotoGP, Moto2 e Moto3.

Que ano, que campeonato e que corridas! Vai ficar para história o campeonato de motovelocidade de 2020. Teve de tudo: etapa com apenas duas categorias (a primeira no Qatar), interrupção por conta de pandemia, acidentes apavorantes, pilotos com Covi-19 e todo tipo de zebra. Para coroar um ano tão cheio de surpresas nada como uma etapa de tirar o fôlego em uma das pistas mais lindas e desafiadoras do calendário.

Desde os treinos de sexta-feira o mundo viu que o circuito de Portimão, na belíssima região de Algarve, Portugal, premiaria os pilotos que tivessem alguma intimidade com a pista. Com uma topografia singular, a pista de 4.592 metros tem subida, descidas, curvas cegas, frenagens em descida, frenagens em curvas cegas, ou seja, um cardápio de tudo que pode complicar a vida de motos e pilotos. Neste tipo de pista muito técnica se dá bem que descobre os “atalhos”, que são traçados incomuns mas que dão resultado no cronômetro. Nesta pista nem sempre o caminho mais curto entre dois pontos é o mais rápido e quem acha o caminho primeiro fica quieto e se dá bem.

21-franco-morbidell.jpg

O romano-pernambucano Franco Morbidelli fez uma temporada impecável com a moto velha. (MotoGP.com)

Dois pilotos se destacaram na MotoGP desde as primeiras voltas: Stefan Bradl (Honda/Repsol), porque correu lá de Superbike; e Miguel Oliveira (KTM/RedBull), porque já treinou de todo tipo de moto na pista perto de casa. Alguns pilotos treinaram com motos de série só para conhecer a pista, mas não dá muito resultado, porque uma coisa é chegar no fim da reta a 280 km/h e outra é chegar a 328 km/h!

Por isso não foi surpresa que o piloto português (que é formado em odontologia) fizesse a pole position no sábado. O que assustou foi ver o fraco desempenho da Suzuki que não se acertou na pista e seus pilotos ficaram no fim do pelotão. Na verdade só Alex Rins tinha de mostrar serviço para tentar beliscar o vice-campeonato, porque Joan Mir já estava com a cabeça nas férias desde a segunda-feira passada. Mais uma vez Franco Morbidelli (Yamaha/Petronas) foi o que conseguiu melhor representar a Yamaha, e o agressivo (mas gente boa) Jack Miller (Ducati/Pramac) foi o melhor de Ducati. Na corrida de despedida Cal Crutchlow (Honda/LCR) surpreendeu e conseguiu a melhor posição de largada no ano em quarto.

Ellegancy_mina.jpg

Seu macacão ficou apertado? folgado? Ralou no asfalto? Clique na foto acima que resolve!

Na largada da MotoGP Miguel Oliveira partiu em primeiro e simplesmente ignorou os adversários, colocando mais de oito segundos de vantagem na bandeirada. Fez a pole, vitória e melhor volta, bem diferente da primeira vitória (na Estíria) que viu a vitória cair no colo na última curva. Jack Miller ficou a prova inteira colado em Franco Morbidelli e só garantiu a segunda colocação na última volta. Franco fechou o pódio e conquistou um heróico vice-campeonato, com três vitórias, usando a moto de 2019.

Arroba_banner_300x250px_scooter.jpg

Quer um pneu maneiro pro seu scooter? Clica na imagem aí de cima...

Triste a situação da Yamaha oficial que só andou para trás. Mais ainda quando se sabe que a marca recusou uma moto 2020 para Franco Morbidelli. No meio do ano Valentino Rossi deu uma entrevista afirmando que “o mais triste não é ver que a moto 2020 é pior que a 2019, ela é igual!”. No mundo das corridas, quando um equipamento mais novo é igual ao anterior significa que andou para trás! Após a corrida Valentino já começava a dar pinta de desilusão com relação a 2021. Certamente ele fez um contrato que permite parar quando bem entender.

46-valentino1.jpg

Valentino Rossi teve um ano cheio de problemas, nova equipe em 2021. (motogp.com)

Muitos pilotos deixarão suas equipes e alguns até se despediram da categoria, como foi o caso de Adrea Dovizioso (Ducati) e Cal Crutchlow. Foi muito bonito e emocionante ver como as equipes e mesmo os pilotos se despediram de seus pilotos. No caso de Dovizioso os pilotos o cumprimentaram ainda na pista, mostrando que parte mas deixa uma legião de amigos. Não creio que ele faça um “ano sabático”, porque todo mundo viu o ritmo cardíaco dele na prova de hoje; 181 bpm é muito alto para essa atividade, basta comparar com Maverick Viñales, Fábio Quartararo e outros na faixa de 20 anos que mantém o ritmo na casa de 120 bpm. É a idade mandando o recado. Queria ver o do VR46!

O título de 2020 da MotoGP ficou em ótimas mãos: Joan Mir, jovem, talentoso, humilde e um verdadeiro gente boa!

Moto2, o revés

Até a etapa de Teruel tudo levava a crer que Sam Lowes (Marc VDS) seria o campeão da Moto2, principalmente depois de três vitórias seguidas. Mas uma queda do GP da Europa jogou areia nos planos. Pra piorar caiu novamente nos treinos do GP da Comunidade Valenciana e aí a maioneses desandou de vez porque machucou o punho direito e marcou apenas dois pontos numa corrida heróica. Confesso que torci por ele, mas a queda no GP da Europa foi um baque, porque bastava ele manter o segundo lugar para levantar o caneco, pena que arriscou demais.

33_bastianini.jpg

Enea Bastianini: final de temporada avassalador e título na Moto2 (motogp.com)

Com isso o italiano Enea Bastianini (Italtrans) somou pontos importantes e assumiu a liderança do mundial de forma mineira, somando pontos e três vitórias. Nesta última etapa, em Portugal, precisava apenas ficar perto de Lowes e Luca Marini (Sky/VR46). Fez a lição de casa, terminou em quinto e deu mais um título mundial para a Itália.

A surpresa positiva da corrida foi a pilotagem madura e equilibrada de Remy Gardner (SAG Team) que largou na pole, mas passou quase a corrida toda em segundo, comboiando Marini. Antes da largada eu mesmo não acreditava nele, porque já tinha dado muitas provas de instabilidade, intercalando bons desempenhos com quedas infantis. Mas dessa vez queimei a língua (de novo!), porque a duas voltas do fim partiu para o ataque e conquistou a primeira vitória na categoria, que teve um pouco de Brasil: o dono da equipe é o brasileiro Eduardo Perales. Luca Marini terminou empatado em pontos com Sam Lowes e só prevaleceu o critério de desempate porque teve um terceiro lugar a mais.

87-remy-gardner.jpg

O pai, Wayne, tocava muito; o filho, Remy toca muito: esta é a verdadeira Família do Remy. (motogp.com)

Moto3, decisão na última volta

Como sempre a Moto3, categoria mais equilibrada e emocionante, abriu a programação com uma corrida de acabar com os nervos de qualquer torcedor. Três pilotos tinham chances matemáticas de título: Albert Arenas (KTM), Ai Ogura (Honda) e Tony Arbolino (Honda). E até a última volta não houve refresco.

Alheio a tudo isso e já com o pé na Moto2, Raul Fernandez (KTM) fez a pole, largou bem e sumiu na frente até a bandeirada, algo raríssimo de acontecer na Moto3. Ogura até conseguiu sair na frente de Arenas, mas aos poucos foi perdendo ritmo. Enquanto isso, Tony Arbolino foi escalando o pelotão e apareceu na frente no terço final da prova. Mas as emoções estavam reservadas para as duas últimas voltas.

25-raul-fernandez.jpg

TOCA RAUUUL: Raul Fernandez foi soberbo na Moto3. (motogp.com)

Albert Arenas começou a ter problemas no pneu traseiro, deu uma desgarrada assustadora, recuperou mas foi parar na 12ª posição. Já Ogura conseguiu se livrar do tráfego e se colocou em oitavo. Se estas posições se mantivessem na chegada Arenas seria campeão por dois pontos de vantagem. Mas na última volta Ogura colou no sétimo, Celestino Vietti (KTM) que estava grudado no Darryn Binder (KTM), que vinha colado em Arbolino. Se Ogura conseguisse passar os três seria campeão. Mas não foi!

Ogura terminou em oitavo, Arenas em 12º e o espanhol conquistou um título mais que merecido com três vitórias no ano. Detalhe curioso da carreira desse espanhol: ele estreou no mundial substituindo Eric Granado no GP de Valência em 2014.

75-albert-arena.jpg

Arenas (75) teve de segurar um rojão na Moto3 para ser campeão mundial. (motogp.com)

Os basti...dores!

Amigos dessa vez eu quase morri mesmo. De verdade! Tudo porque dei aula no sábado e esqueci o carregador do notebook lá no Shopping D, que fica do outro lado da cidade a 25 km da minha casa! Pior: só percebi quando fui ligar hoje às 7:30 e o sinal seria aberto às 7:55 para a largada da Moto3. A bateria do notebook não duraria as mais de três horas de transmissão porque o vídeo consome muito mais energia.

Ah, mas eu tenho o desktop iMac de última geração, que custou os zóios da cara e mais um rim. Legal, corri pra ele e descobri estarrecido que o microfone externo deu pau. Isso deve ter sido no século passado, mas eu nunca tinha testado. E o tempo correndo. Tentei de tudo e... nada.

Ah, mas tudo bem, porque eu tenho ainda o PC da editora Oficina 259 (leia-se Reginaldo Leme), para quem eu trabalho há 200 anos. Pluguei fone de ouvido, microfone, acessei o link da vídeo conferência e... tela azul! Nada! Nadica de nada. Chamei o pessoal da técnica da FoxSports, que acionou remotamente o PC e instalou uns programas trick-tricks de simulador de câmera e, quando faltava UM minuto pra abrir o sinal, eis que eu entro na sala!!! Todo estabanado, chamando Raul Fernandez de Raul Seixas e Ogura de Miagi Sam!

A resolução do PC não chega nem perto da do iMac ou do MacBook Air, por isso demorei pra identificar os números das motos. Mas passado o susto foi tudo bem...

Assim completamos todas as provas de 2020. Agradeci publicamente no ar os meus colegas de bancada Edgard Mello Filho (uma honra enome trabalhar com ele), Hamilton Rodrigues (que elegantemente lembrou de Téo José), Alexandre Barros, Rodrigo Mattar, minha professorinha querida de locução, Mariana, aos técnicos da FoxSports, o motoboy, todo mundo que de alguma forma ajudou a enfrentar essa bucha de canhão que pegamos.

Também agradeço à minha esposa pelos domingos de sol perdidos e por manter os cachorros em silêncio por mais de quatro horas!

Nunca fui de mídia eletrônica, sempre fui redator, fotógrafo, cinegrafista e escritor (além de professor). Enfrentar esse desafio foi insano e sei que dei várias bolas fora, mas também fiz muitos gols, como é tudo na vida. Aprendi demais com esses profissionais e tive um retorno muito positivo por parte da diretoria da FoxSports/ESPN, que foi um alívio. Como diz Fausto Silva, “fazer ao vivo não é pra qualquer um”.

Não sabemos nada ainda do que será em 2021. A FoxSports sai de cena e entra oficialmente ESPN. Mudarão diretores, sede, gerência e não sabemos nada sobre a manutenção ou não desta equipe. Eu espero de coração estar com vocês em 2021. Mas se não rolar saibam que foi uma experiência única, assustadora e valiosíssima!
Até a próxima!!!

Estudio.jpg

Meu super estúdio caseiro, com três computadores ligados ao mesmo tempo. (Tite)

pets&mike_2.jpg

Obrigado por ficarem quietinhos nas manhãs de domingo! 

 

publicado por motite às 23:03
link | comentar | ver comentários (2) | favorito
Domingo, 18 de Outubro de 2020

Cálculo de Rins, como foi a etapa de Aragão de MotoGP

duplaalex.jpeg

A festa dos Alexis: Rins e Marquez no pódio, imagina com público! (Foto: MotoGP.com)

Alex Rins – Suzuki – se torna o oitavo piloto a vencer na MotoGP e embola o campeonato. Sam Lowes vence na Moto2 e Jaume Masia dá a 100a vitória para Honda na Moto3.

Desculpe o trocadilho, mas o espanhol Alex Rins (Suzuki) usou uma estratégia calculada na escolha de pneus para se tornar o oitavo vencedor nesta super emocionante edição do mundial de MotoGP. Ainda  a Suzuki voltou a liderar o mundial de MotoGP de novo desde o ano 2000 com Kenny Roberts Jr.

Se os espanhóis já estavam felizes com a vitória de um filho da terra, o pódio foi completado pela motivado Alex Márquez (Honda) e o agora líder do campeonato, Joan Mir, também de Suzuki. Só deu bandeira da Espanha, no belo circuito de Motorland, em Aragão.

AlexRins_aragon.jpg

A linda imagem dos Alex com o famoso "Muro de Aragón" ao fundo. (MotoGP.com)

A corrida começou novamente com uma hora de atraso, por isso o público brasileiro, mais uma vez, perdeu as entrevistas pós-corrida e o pódio, pois a programação da FoxSports já estava comprometida com o sinal do campeonato espanhol de futebol às 10:52. Desta vez o motivo do atraso foi mais do que justificável: com a interrupção do campeonato por conta da pandemia de Covid-19, o calendário chegou nas últimas etapas já no outono europeu. Com temperaturas que chegaram a 8ºC, os pneus não davam aderência suficiente e os pilotos estavam caindo que nem fruta madura.

Mesmo situada bem ao sul da Europa – quase na África – a região de Aragão amanheceu na sexta-feira com 12ºC o que causou um festival de quedas. Por isso a Dorna decidiu atrasar a largada da Moto3 em uma hora.

36-joan-mir_aragon.jpg

Joan Mir fez ótima prova e lidera o mundial de MotoGP. (MotoGP.com)

Os treinos colocaram duas Yamaha na primeira fila, com a 10a pole-position de Fabio Quartararo, seguido de Maverick Viñales e da Honda do inspirado Cal Crutchlow. Quem deu piti nos treinos foi o italiano Andrea Dovizioso (Ducati) que alegou ter sido atrapalhado pelo colega Danilo Petrucci (Ducati), ficando apenas na 13a posição, algo terrível para quem briga pelo título. Alex Rins fez o 10º tempo e Alex Márquez o 11º.

Na largada Viñales partiu como um Exocet e abriu uma distância que dava a entender que seria uma vitória de ponta a ponta, seguido de Quartararo e Franco Morbidelli (Yamaha). Mas lá de trás começavam a despontar Alex Rins – que fez excelente largada – e Alex Márquez. Enquanto Fabio Quartararo começava a perder ritmo, a dupla de Alex escalava o pelotão.

capacete_MT.jpg

Antes da metade da corrida já dava para perceber que Viñales não sustentaria a liderança. Na nona volta Rins ultrapassou e se consolidou na liderança até a bandeirada. Alex Márquez com uma Honda muito bem equilibrada continuou a escalar o pelotão até chegar a segundo e encostar no líder. Chegou a quase ultrapassar na penúltima volta, mas uma escorregada do pneu traseiro fez ele reduzir e finalmente Alex Rins cruzou para sua terceira vitória na categoria, primeira de 2020 e subir à sétima posição geral na tabela.

Quem saiu de Aragon com sorriso de orelha a orelha foi Joan Mir, que se manteve em terceiro, se preservando de eventual queda na traiçoeira Curva 2 e assumiu a primeira posição depois de uma corrida sofrível do ex-líder Quartararo. O francês da Yamaha Petronas foi perdendo ritmo e sua dificuldade em curvas era visível. Terminou em 18º com problema de perda de pressão no pneu dianteiro. É uma daquelas situações que se diz “é raro, mas acontece sempre”!

Ainda tem 100 pontos em disputa, mas Joan Mir pode repetir o feito do também espanhol, Emilio Alzamora, que foi campeão mundial de 125cc em 1999 sem vencer nenhuma prova.

A nota curiosa dessa etapa é que pela primeira vez desde 1999 a MotoGP teve uma corrida sem um campeão mundial da categoria. Porque Marc Márquez ainda está no estaleiro e Valentino Rossi foi dispensado depois de testar positivo para Covid-19. Melhoras ao doutor.

22-SamLowes_aragon.jpg

Mais elegante que filho de barbeiro: Sam Lowes venceu de novo. (MotoGP.com)

Maledetta 2

Vai ser difícil para os italianos da Moto2 esquecerem a Curva 2 de Motorland. Foi ela a responsável por embaralhar o campeonato durante toda a corrida. Logo no começo o líder Luca Marini (VR 46) caiu na Curva 2 depois de perder aderência do pneu dianteiro.

Sam Lowes (Marc VDS), que fez a pole, estava em segundo, tranquilo com Marco Bezzecchi (VR46) na liderança e com toda pinta de vencedor. Como Marini estava fora, a vitória de Bezzecchi o colocaria na liderança do mundial. Mas... quando tem condicional é porque não deu! Ele também foi vítima da Curva 2, numa queda que parecia replay da do Marini. As duas motos da equipe VR 46 foram embora na mesma curva!

Arroba_banner_300x250px_scooter.jpg

O motivo dessas quedas é que os pilotos vem de uma longa curva à esquerda, depois a reta de chegada, outra curva à esquerda e chega na 2 para a direita. O pneu vem superaquecido do lado esquerdo e quando faz a transição para a direita o piloto precisa ser muito suave. O autor desta “receita” foi o vencedor, Sam Lowes que explicou depois da vitória. “Fiquei preocupado com a Curva 2 o tempo todo, mas depois de alguns sustos passei a ser mais suave e deu certo”.

Melhor para Enea Bastianini (Italtrans) que arrancou das mãos de Jorge Martin (KTM) a segunda posição na metade da última volta. Com isso, ele passou a liderar o mundial de Moto2 com dois pontos de vantagem sobre o sereno Sam Lowes e cinco de vantagem para Luca Marini que despencou para a terceira posição. Mas ainda tem 100 pontos em disputa!

logo_ellegancy.jpg

Quem viu, viu

A Moto3 é aquele tipo de categoria que não permite o espectador nem sequer piscar. Principalmente na última volta e mais ainda na última curva. O que aconteceu nessa chegada da Moto3 em Motorland é difícil de descrever. Para identificar os seis primeiros colocados só com auxílio de replay.

A principal preocupação do líder do campeonato, Albert Arenas (KTM), era manter uma distância segura do segundo colocado, Ai Ogura (Honda). Com uma briga ferrenha pelas primeiras posições, Arenas conseguiu cumprir a meta até quase a bandeirada. O “quase” fica por conta das últimas duas voltas que foram desastrosas pra ele. Na penúltima perdeu a liderança, deixou a moto escorregar demais e foi para o quarto lugar. Mas nada é tão ruim que não possa piorar: a poucos metros do final foi ultrapassado por Jeremy Alcoba (Honda) e John McPhee (Honda) para cruzar em sétimo.

5-JaumeMasia_Aragon.jpg

Jaume Masia deu show em Aragón. (MotoGP.com)

Enquanto isso, lá na frente Jaume Masia (Honda) que havia largado em 17º ganhava posições, enfileirando ultrapassagens em sequência até assumir a ponta faltando duas voltas. Foi o nono vencedor em 10 etapas e deixou a classificação ainda mais tranquila para Arenas porque Ai Ogura terminou apenas em 14º lugar, sem esboçar menor ânimo para combate.

Completaram o pódio, Darry Binder (KTM) num sprint fantástico e Raul Fernandez (KTM) que ainda está buscando a primeira vitória do ano.

Próximo domingo, 25, os pilotos voltam ao grid de largada na mesma pista para o GP de Teruel.

RS125.jpg

Este meu macacão branquinho correu sérios riscos no Rio de Janeiro. (Foto: Fabio Arantes)

Basti...dores!

Vou começar explicando pela enésima vez como funciona esse papo de sinal. Se a corrida começa no horário combinado, ela termina muito antes dos jogos do campeonato espanhol de futebol. Pra ser bem exato, 45 minutos antes. Mas se as corridas começam com uma hora de atraso ela invade o sinal do futebol e não tem choro! Oito minutos antes de a programação do futebol entrar no ar nós temos de entregar o sinal. Pura questão de grade. Isso já aconteceu com outros esportes, com F-1 e até com futebol, quando atrasa e ameaça o horário do Faustão! Por isso não teve entrevistas nem pódio.

Mas eu assisti pelo canal privado e posso garantir que foi igual a todos os outros! O Alex Rins disse que sabia que chegaria na frente desde a primeira volta, só não imaginava tão na frente. Que ele esperou ser atacado pelo Alex Márquez, mas sentiu que tinha ritmo para segurar a posição. Agradeceu à equipe, família e foi muito fofo ao agradecer também à namorada! Garantiu a noite!

Dito isso, vou contar que os bastidores desta etapa foram terríveis. Sempre achei que o maior pesadelo de quem trabalha com rádio e TV era acordar sem voz. Tem coisa pior. A voz dá pra fazer exercícios e recuperar. Mas descobri que nada é mais grave do que um piriri! Para ser mais científico: gastrenterocolite, popular diarreia! Sim, amigos(as), não sabe como um macarrão com frutos do mar pode mandar um comentarista à pique.

No meio da madrugada acordei com um vulcão em erupção no meu estômago. Felizmente o banheiro fica a poucos (e pequenos) passos da cama, porque foi cronometrado. O que se seguiu deixaria o acidente com o Exxon Valdez parecer um gota no oceano.

Pensa que acabou? Nada, meu celular não sabe ler e não foi informado que neste ano não teríamos horário de verão. Ninguém avisou e ele me acordou uma hora antes do previsto, porém sem me avisar que era uma hora antes. Fiz todo ritual de aquecimento de voz (sem muita forca, por motivos óbvios), preparei meu café bem fraco e vesti o fone de ouvido precisamente às 7:00, esperando o link da transmissão. Deu sete horas, nada. O tempo foi passando e nada. Mandei um zap pro Edgard de Mello Filho e pro Hamilton Rodrigues e nada.

Pronto, pensei, o mundo acabou e vou chegar atrasado por causa de um piriri! Só fui perceber que meu relógio estava errado quando olhei pro chat da transmissão e vi que tinha uma diferença de uma hora!

No meio da Moto3 veio a pontada. Aquela que endurece até os pelos do sovaco. Mas eu não podia sair. Quando deu a bandeirada avisei pelo chat BANHEIRO!!!

Poizé, e você achava que vida de comentarista era puro glamour! Visitei o sagrado trono real e depois foi tranquilo. Aprendi a lição: véspera de corrida só canja de galinha ou biscoito de polvilho!

Sabe do pior? Isso já aconteceu comigo quando eu corrida de 125 Especial. Numa corrida no Rio de Janeiro eu confiei na macarronada do hotel e passei a noite de sábado me debulhando em suor e outras secreções. Na manhã de domingo acordei em estado líquido e minha largada seria precisamente ao meio dia, num calor de 40ºC. Era a receita da desgraça.

podio.jpeg

Foi preciso muita concentração pra eu levantar esse pesado troféu sem sofrer acidentes! (Foto: Idário Araújo)

Domingo de manhã, no caminho para a pista, parei numa farmácia e comprei soro fisiológico e um pacote de fralda geriátrica. Afinal eu só tinha UM macacão... e era branco!

Na hora do warm-up fui me vestir escondido para colocar a fralda. Pensa numa coisa desconfortável! Parecia que tinha 15 mil reais enfiado no ... lá mesmo. Só senador consegue! Ficou tão desagradável que dei só duas voltas para texturizar os pneus (slicks) e voltei pros boxes pensando em como melhorar aquilo.

Foi quando minha namorada sugeriu usar absorvente! Afinal ele já foi feito pra viver naquela região. Quer dizer, geograficamente falando, um pouco mais à frente. Para a corrida lancei mão do absorvente, aderente à cueca, e fui pra largada pensando no tamanho do possível desastre que seria um simples espirro.

Quando acendeu a luz verde os problemas acabaram, porque correr numa moto de 60 kg, com 56 CV, pneus slicks, no saudoso autódromo de Jacarepaguá, chegando a 212 km/h no final da reta, no meio de um bando de loucos faz o esfíncter travar de um jeito que não passa nem ultravioleta!

Por incrível que pareça, ainda consegui um pódio! Mas subi os degraus com passinhos bem pequenos e sem fazer força!

 

 

 

publicado por motite às 20:14
link | comentar | ver comentários (2) | favorito
Quinta-feira, 15 de Outubro de 2020

EXCLUSIVO: Eric Granado fala do desafio de correr no Mundial de Superbike

Eric_perfil.jpg

O jovem paulistano terá um enorme desafio neste fim de semana (Foto: BestPR)

Desafio será neste fim de semana em Estoril, Portugal

Aos 24 anos e com a carreira em ascensão, o jovem brasileiro Eric Granado fará sua estreia no próximo final de semana no Mundial de Superbike, principal campeonato internacional de motos de fábrica – e portanto uma importante vitrine esportiva para a indústria. Convidado pela Honda do Brasil para disputar a última etapa do torneio, no Estoril, em Portugal, em poucos dias Eric se viu às voltas com muitas novidades e um grande desafio.
A própria Honda está em sua temporada de retorno ao campeonato após 18 anos de ausência, contanto a equipe oficial HRC e a satélite MIE Racing Honda Team. Granado irá pilotar a nova moto Honda CBR 1000 RR-R SP preparada pela MIE Racing. O brasileiro competirá na categoria WorldSBK, a principal do campeonato. Abaixo, Eric analisa o que tem pela frente neste final de semana.

O que você espera fazer nessa corrida de estreia?
Eu não vou entrar na pista pensando em resultado. Eu vou subir na moto e entregar o melhor que puder. Essa que vai ser minha perspectiva no final de semana. A única vantagem que tenho inicialmente é conhecer a pista. Conquistei no Estoril duas vitórias quando fui campeão europeu de Moto2 em 2017. O traçado foi recapeado, então deve estar melhor do que quando eu competi lá – deve estar mais rápido. De resto, tenho muitas variáveis novas. Desde a equipe, a moto, os rivais na pista, meu companheiro de equipe, tudo será um aprendizado. Espero mesmo aprender muito.

Super_banner_NewsLetter_580x72px_angell.gif

O Mundial de Superbike é uma alternativa para sua carreira?
Eu acredito que a Superbike nunca esteve em um nível tão alto. Temos grandes pilotos, equipes de fábrica muito preparadas e motos de grande potência e tecnologia. É um pacote muito interessante e é impossível, como piloto profissional, não sonhar em estar lá definitivamente. Claro, minha meta sempre foi a MotoGP. Mas tudo tem seu tempo. Dito isso, quero muito agradecer à Honda do Brasil por esta oportunidade. Eu vejo isso como um fruto especial do nosso relacionamento, já que deste 2017 conquistamos títulos na Superbike Brasil juntos. Estou muito grato por essa história que estamos construindo.

Eric-01.jpg

No Brasil ele corre com uma Honda CBR 1000RR Fireblade. (Foto: BestPR)

Falando em Superbike Brasil, correr nesse campeonato vai ajudar a se adaptar no Mundial de Superbike?
Existem diferenças técnicas entre as motos dos dois campeonatos. A que usamos no Brasil é potente e veloz, mas a do Mundial tem um pacote de freio, chassi, eletrônica e motor diferentes. Na eletrônica, coisas como anti-wheeling, controle de tração e outros dispositivos vão exigir um aprendizado, pois durante a corrida eles podem ser decisivos, dependendo da condição da pista, com ou sem chuva etc. Então, o meu principal foco será entender como isso tudo funciona na moto e como ajustar em cada condição de aderência, temperatura e desgaste dos pneus.

Fisicamente, é uma categoria exigente?
Sempre que você tem pilotos de alto nível, a corrida te leva a um limite físico ou psicológico. E a Superbike tem um grupo muito forte, além de as motos serem potentes e rápidas. Motovelocidade já é normalmente é um esporte muito físico. Mas eu tenho uma rotina de preparação muito completa. Treino não apenas de moto, mas também de bike e faço uma preparação específica bastante intensa. Acho que isso não será problema e por isso vou poder me concentrar em trabalhar com a equipe para chegar a um bom acerto da moto para o classificatório e a corrida. Se conseguir isso, farei uma boa estreia.

Eric-01.jpg

Eric lidera o campeonato brasileiro de Superbike invicto. (Fotos BestPR)

O que essa estreia representa para você?
Se eu te disser que não estava preparado, estaria mentindo. Me preparei a vida toda para correr em categorias desse nível. De outro lado, se disser que estava preparado, também não será 100% verdade, por que essas coisas são sempre um desafio grande. E foi algo que a Honda do Brasil resolveu me proporcionar. E eu topei na hora. O certo é que eu chego em um grande momento, o campeonato nunca esteve tão competitivo. O nível é altíssimo. E é isso o que realmente me motiva.

Você estará em uma equipe satélite, a MIE Racing. O que espera encontrar na pista?
Eu sei que é um time muito profissional e está contribuindo para que esse retorno da Honda seja bem sucedido. Meu companheiro de equipe, Takumi Takahashi, é muito rápido e tem uma boa experiência. Acho que vão me ajudar muito nessa estreia.

logo_ellegancy.jpg

A Honda voltou ao Mundial de Superbike depois de 18 anos de ausência. Como você vê esse retorno?
Eu sou piloto Honda no Brasil. A marca tem uma imagem de seriedade, incluindo nos carros, mas é interessante quando você está dentro do time e vê as coisas acontecerem de perto, como é o meu caso no Brasil. Eu acredito que em breve veremos esse time fazer grandes coisas no Mundial. É uma questão de tempo.


Corridas – O encontro do Mundial de Superbike no Estoril terá esta sexta-feira (16) dedidada aos treinos livres. No sábado (17), os pilotos entram na pista para o classificatório e a disputa da primeira corrida do final de semana. O domingo (18) verá outro classificatório, no formato de corrida, e a disputa da prova que encerra o final de semana e também a temporada 2020 do Mundial.

Fonte: Assessoria de Imprensa BestPR - São Paulo.

publicado por motite às 13:38
link | comentar | favorito
Domingo, 11 de Outubro de 2020

Que domingo! Mais uma etapa de tirar o fôlego no mundial de Motovelocidade.

9danilo-petrucci.jpg

Petrucci (9) Divizioso e Miller: trio Ducati na frente! (Foto: MotoGP.com)

Danili Petrucci, Sam Loews, Celestino Vietti e Niki Tuuli vencem em Le Mans

Que domingo, que alegria fazer parte disso e quanta emoção! O que foi essa etapa do mundial de Motovelocidade! Danilo Petrucci (Ducati) foi o sétimo vencedor diferente até o momento. Sam Lowes (Marc VDS) manteve a fleuma britânica para vencer na Moto2. Celestino Vietti (KTM) venceu mais uma vez nas últimas voltas. E na MotoE o vencedor foi Niki Tuuli, mas a gesta foi de Jordi Torres que conquistou o título mundial, em mais uma corrida desastrada para Eric Granado.

Como sempre vou começar pelos bastidores. Desta vez correu tudo certo na transmissão. Em um dado momento o microfone do Alexandre Barros deu pau, depois foi com o Edgard de Mello Filho, depois com Hamilton Rodrigues e só eu escapei ileso. E de novo pude acordar um pouco mais tarde porque a programação foi atrasada novamente por causa da F-1, mas dessa vez fomos avisados com bastante antecedência. Ainda fico meio nervoso antes de começar, mas pelo menos já consigo dormir bem na noite anterior. O aquecimento de voz ainda é um problema porque ficar fazendo ruídos assustadores às 5 da manhã incomoda os vizinhos, cachorros, gatos e acho que até os pernilongos!

A primeira prova do dia foi a Moto3 já pra acordar ligado em 220V. Antes da largada eu tinha previsto que Albert Arenas (KTM) faria uma corrida pensando no título. Principalmente porque seu adversário direto, Ai Ogura (Honda) estava largando em 17º lugar. Era controlar a emoção e chegar inteiro ao final. Dito e feito. Largou na frente que nem um míssil, se manteve sempre entre os quatro primeiros e só foi surpreendido pelo Celestino Vietti porque o italiano percebeu – a cinco voltas do fim – que poderia vencer. E venceu mesmo! Arenas conseguiu cumprir o objetivo de terminar inteiro em terceiro, com Tony Arbolino (Honda) em segundo.

celestinovietti.jpg

Um cara de bem com a vida: este é o italiano Celestino Vietti da Moto3. (MotoGP.com)

Ai Ogura fez uma estratégia de marcar o máximo de pontos e ficou lá atrás, terminando em nono. Falando em nono, a presepada do dia ficou por conta do vecchietto Romano Fenati (Husqvarna) que estampou a traseira do seu companheiro de equipe Alonso Lopez. Fenati, que já tem uma extensa ficha corrida, ficou ainda mais queimado na categoria.

Arenas saiu de Le Mans num baita lucro com seis pontos de vantagem sobre Ogura, mas ambos viram um Celestino Vietti chegar a apenas 16 pontos do líder. Ainda tem 125 pontos em jogo!

Super_banner_NewsLetter_580x72px_angell (1).gif

Mamma mia

O box da equipe Ducati emudeceu por quase 46 minutos. Nem mosca circulava naquele ar carregado. Durante metade da corrida da MotoGP os três primeiros colocados eram pilotos Ducati: Danilo Petrucci, Andrea Dovizioso e Jack Miller. Com o asfalto molhado, pneus de chuva e temperatura congelante tudo podia acontecer com estes três cascas-grossas liderando o pelotão. Especialmente Jack Miller que já tem um currículo extenso de destruição de motos.

20-fabio-quartararo.jpg

Fabio Quartararo preferiu não correr riscos. (MotoGP.com)

Fabio Quartararo (Yamaha) percebeu que não era hora de se arriscar e se preservou pensando no título. Em compensação os franco-atiradores, sem chances de grandes classificações no campeonato, partiram pra cima que nem vikings numa aldeia de virgens. Dois deles se destacaram: Alex Rins (Suzuki), que chegou neste bloco, passou Miller e Dovizioso, se preparava pra dar o bote em cima do Petrucci mas caiu (de novo). Outro foi Alex Márquez (Honda), que já estava devendo uma boa atuação desde a primeira etapa e viu uma chance de ouro. Largou em 18º e chegou em segundo a 1,3 segundo do vencedor! Ganhou o respeito do mundo todo.

73-alex-marquez.jpg

Desta vez Alex Márquez mostrou porque foi campeão mundial duas vezes. (MotoGP.com)

Láureas também para Pol Espargaró que levou a KTM ao pódio, em uma corrida segura. Andrea Dovizioso preferiu salvar os pontos do quarto lugar em vez de arriscar marcar nenhum. E Johan Zarco (Ducati) fez uma manobra imcrível ao ultrapassar Miguel Oliveira (KTM) na última curva da última volta para terminar em quinto. Grande pecado para Valentino Rossi (Yamaha), que tinha tudo para fazer outra grande corrida, graças à vasta experiência na chuva, mas caiu na segunda curva!

O campeonato ainda está sorrindo para Fabio Quartararo e na próxima etapa, na Espanha, comenta-se que Marc Márquez poderá voltar. Pena para Stefan Bradl que conseguiu sua melhor colocação no papel de substituto, ao finalizar em oitavo. Mas ótimo para dar ainda mais emoção e este já eletrizante campeonato.

capacete_MT.jpg

Quer um capacete leve? MT KRE.

Fleumático

De todos os temperamentos da psicologia – sanguíneo, colérico, melancólico e fleumático – o que melhor traduz o inglês Sam Lowes (Marc VDS) é fleumático. Ele desce da moto depois de 25 voltas e um quase tombo com aparência de quem chegou de um chá das cinco. E limpo, ainda por cima! A Moto2 começou quando a pista já formava um trilho seco. É a pior condição de asfalto para os pilotos. A chamada nem-nem: nem seco, nem molhado. Alguns pilotos saíram dos boxes com pneus lisos (slicks) e outros com intermediários (mais ou menos de chuva). E deixaram para decidir a escolha na hora da largada.

Foi aquele festival de trocas de pneus. Mas uma equipe vacilou: a Tennor American Racing do simpático Joe Roberts. Quando o fiscal de pista levantou a placa de 3 minutos a roda traseira da moto dele ainda estava fora. O fiscal mandou todo mundo da equipe pros boxes e Joe Roberts teve de deixar a pole-position livre para largar em último.

22-samlowes-moto2.jpg

Com a calma britânica e paciência chinesa, Sam Lowes venceu mais uma. (MotoGP.com)

Aí aconteceu a segunda grande presepada do dia, essa muito mais perigosa. As motos estavam alinhadas no grid e nada de Joe Roberts chegar. O fiscal de grid acenou a bandeira verde mas Roberts ainda estava chegando. Resultado: quando deram a largada Joe Roberts estava saindo da curva e atrás do carro de segurança, o que é absoluto e totalmente proibido pelo regulamento. A largada deveria ter sido anulada, mas... fingiram que nada aconteceu! Eu dei um grito na transmissão e acho que acordei muita gente!

O líder do campeonato, Luca Marini (VR 46) achou melhor se preservar, pensando que tem cinco corridas encavaladas pela frente, e decidiu aliviar tanto que nem sequer marcou pontos, terminando em 17º. Mas esquece ele. O pau comeu foi lá na frente.

logo_ellegancy.jpg

 

Primeiro o inglês Jake Dixon (Petronas) assumiu a ponta e foi embora, levando junto outro inglês, Sam Lowes. Os dois se isolaram na frente. Logo atrás o trio formado por Marco Bezzecchi (VR46), Remy Gardner (TKKR) e Augusto Fernandez (Marc VDS) se atracou até a bandeirada. Foi o duelo mais emocionante da prova, tanto que o diretor de imagem esqueceu dos líderes e focou nestes três. Mas... eu ouvi o som de uma queda pelo áudio original e ficamos esperando pra ver quem tinha sido a vítima: Jake Dixon, simplesmente perdeu a frente e viu o que seria a primeira vitória no mundial escorrer pela caixa de brita. Uma grande pena porque colocaria o piloto em evidência e dificilmente teria outra chance. Mas pista úmida é traiçoeira mesmo.

Com Sam Lowes seis segundos à frente o mundo grudou o olho naquele trio. Quando entraram na última volta Remy estava em terceiro e mostrou muita precisão para dar o bote faltando duas curvas para o fim, de forma inesperada e milimétrica. Bezzecchi terminou em terceiro, desapontado, mas num tremendo lucro porque Luca Marini nem pontuou.

A TV mostrou o choro do Dixon ao chegar nos boxes. Achei ótima essa demonstração de humanidade para que o mundo saiba que por trás daqueles capacetes vivem heróis sim, mas que sofrem como todo ser humano. Eu já perdi uma corrida na última curva mas só fui chorar quando cheguei em casa...

40-JordiTorres_motoE.jpg

Jordi Torres, um campeão muito gente boa! (MotoGP.com)

MotoEeeeee...

É um campeonato curto, com provas curtas e, desculpe o trocadilho, sujeito a curto circuito! O campeonato mundial de MotoE teve duas etapas em Le Mans, encerrando a segunda temporada. No sábado, com a pista seca, mas gelada, vimos um festival de absurdos. Primeiro com a queda de Matia Casadei (SIC 58), quando a moto ficou parada no meio da pista e a prova teve de ser interrompida. Os fiscais não podem encostar nas motos elétricas sob risco de esturricar numa descarga elétrica. Só os “minions” devidamente preparados podem remover a moto e isso demora.

Na segunda largada outra pancadaria, dessa vez com Dominique Aegerter (Dynavolt), meu professor Nicolò Canepa (LCR) e Xavier Simeon (LCR), logo em seguida o líder Mateo Ferrai (Gresini) também foi catapultado da moto. Como as motos não ficaram na pista a prova não foi interrompida. Mas para desviar da confusão Eric Granado (Avintia) caiu para última posição. Remou uma barbaridade para conseguir o sexto lugar.

66-niki-tuulilg.jpg

Niki Tuuli, finlandês gosta de frio! (MotoGP.com)

Lá na frente Jordi Torres ignorou tudo e todos e venceu, colocando uma mão na taça. Depois vieram Mike Di Meglio (Marc VDS) e Niki Tuuli (Avant Ajo).

No domingo foi a última e decisiva prova. Dessa vez com a pista úmida e Jordi Torres só precisava o oitavo lugar para ser campeão. Cumpriu a tarefa, terminou em sexto e levou o caneco. A prova foi vencida pelo finlandês Niki Tuuli (que foi o primeiro vencedor desta categoria), com o francês Mike de Meglio logo atrás e o australiano Josh Hook (Pramac) em terceiro.

Eric Granado teve uma corrida pra esquecer. Largou muito bem, mas na segunda curva perdeu o ponto de frenagem e escorregou, levando junto Alejandro Medina (Aspar). No balanço o brasileiro teve um ano difícil. Começou muito bem com uma vitória na primeira etapa, mas na segunda foi abalroado quando estava em segundo brigando pela vitória. Daí em diante muitas provas difíceis e acidentes o fizeram despencar na classificação para o sétimo lugar. Para 2021 ainda não tinha uma equipe definida, mas com chances de voltar para a Moto2. Vamos torcer!

51_eric_granado.jpg

Eric começou bem, mas foi sofrendo problemas ao longo do ano. (Foto: BestPR)

O que eu não disse

No intervalo da Moto3 para MotoGP comecei a contar uma história do dia que pilotei uma superbike (Aprilia RSV Mille) em um circuito oval em Las Vegas, EUA. Depois não consegui terminar porque chegou o Alexandre Barros e o ômi fala pra caramba! E depois esqueci...

A história é a seguinte: no ano 2000 eu fui para os Estados Unidos, mais precisamente em Las Vegas, para testar os novos pneus Dragon Evo da Pirelli para Superbikes. A pista Las Vegas Motor SpeedWay eu já conhecia porque tinha feito um curso lá no ano anterior, mas dessa vez incluíram um trecho do oval da Nascar. Parecia moleza, mas aquela curva inclinada é literalmente uma parede. Tentei subir a pé e na metade já estava com os bofes de fora!

historia_pneus_aprilia.jpg

Eu na Aprilia RSV Mille no circuito de Las Vegas: de 285 km/h para 60 km/h em uma frenagem.

A pista era sossegada, mas esse trecho do oval fazíamos de mão no fundo, motor cortando giro e mantinha a moto dando final por uns 5 segundos. Uma eternidade quando você está em cima da moto. Depois uma frenagem para primeira marcha e uma curva de 60 km/h. Imagina o soco no estômago!

Estava tudo tranquilo, mas antes de eu entrar na pista o mecânico me puxou no canto e falou “cuidado com a transição do circuito misto para o oval”. Guardei essa informação, saí para a primeira volta e não vi nenhum problema nessa transição. Sim, eu estava a uns 80 km/h.

Na segunda volta completa cheguei nesse ponto a uns 180 km/h. Quando saí do misto para entrar no oval foi como se tivesse passado por cima de um degrau invisível. Deu um tranco tão forte que bati o queixo no painel e os miúdos no tanque. Fiquei grogue, voltei pros boxes encolhido que nem um feto, desci da moto, pedi um saco gelo pro queixo e outro pro... você sabe. O mecânico veio calmamente na minha direção e falou com o sotaque napolinado: “mas que cazzo, eu te avisei!!!”. Depois disso o teste correu normal mas demoraria alguns meses para eu voltar a ser fértil.

historia_pneus_gsx600.jpg

Eu, de Suzuki GSX-R 600 no circuito misto de Las Vegas: deita muito! 

Bastidores

E não poderia deixar de comentar sobre o lado de cá do balcão da transmissão. Revi as corridas e posso afirmar peremptoriamente: somando os treinos de sábado e as corridas de domingo, neste fim de semana NUNCA se deu tanta informação sobre motos, pneus, pilotagem etc.

Ainda estamos aguentando as viúvas, claro, mas se pegar tudo que explicamos, eu, Edgard e Alexandre Barros nos dois dias de provas teve mais informação do que todos os 13 anos da emissora anterior e seu locutor engraçadinho. Não criticamos a sua sogra, não te chamamos de pobre, não falamos que você chegou da balada agora, não torcemos pra nenhum piloto, nem mesmo para o brasileiro Eric Granado, não fizemos a louca fã de nenhum piloto e muito menos inventamos apelidos para ninguém. Mas ainda tem gente que sente falta disso...

Pra você que acha que faltam detalhes técnicos, existe o canal para fazer perguntas: Twitter! Eu tenho, mas não uso. O narrador Hamilton Rodrigues que controla isso. Manda a pergunta pra ele que nós respondemos. Mas se não mandar depois não fica mimimizando no Facebook “ain, eles não dão detalhes técnicos, mimimi...”. Manda, pow, coloca a cara lá que nós respondemos, mas se não perguntar eu não vou ficar enchendo o saco dos outros explicando octanagem, arrefecimento, velocidade angular de virabrequim, cáster, trail o escambau a quatro. Tem dois ex-pilotos, um ex-chefe de equipe de moto pra responder tudo sobre moto, fiquem à vontade porque agora são especialistas de verdade.

 

 

publicado por motite às 23:21
link | comentar | ver comentários (1) | favorito
Segunda-feira, 28 de Setembro de 2020

Não Vale! Como foi o GP da Catalunha

Vale46_Quarta20.jpg

Que pena, Valentino, essa corrida era tua! (Fotos: MotoGP.com)

Por pouco não vimos o 200º pódio de Valentino Rossi

Vou começar pelo fim. Quando Alex Rins estava dando a entrevista após terminar em terceiro lugar no GP da Catalunha, na MotoGP, a transmissão da FoxSports foi interrompida. O que houve? Foi tudo culpa da DORNA! Porque mesmo ciente do calendário da Fórmula 1 desde março, a organizadora da MotoGP manteve a programação da MotoGP. Quer dizer, manteve até a última sexta-feira, 25, quando enviou um comunicado afirmando a mudança na programação de todo o evento, que começaria uma hora mais tarde, para não bater de frente com a audiência da F-1. Com isso a grade invadiu o horário dos outros esportes da emissora e o sinal precisou ser desligado pontualmente às 10:50, Portanto, não canalize a raiva na FoxSports, mas sim na DORNA.

Dito isso vamos às corridas!

Moto3, primeira de Binder

A categoria mais disputada e equilibrada do mundial de motovelocidade viu mais uma vez o italiano Tony Arbolino (Honda) fazer a pole-position, o que não significa quase nada em se tratando da categoria que tem mais ultrapassagens por volta. Darryn Binder (KTM) fez apenas o nono tempo. Entre eles havia todo um batalhão de pilotos com chances reais de vitória, a começar pelo argentino Gabriel Rodrigo (Honda), um estranho caso de piloto muito rápido, competente, brigador, mas que da metade para o fim da corrida misteriosamente perde várias posições.

40_darrynbinder.jpg

Binder, pela preimeira vez!

A corrida foi daquelas que acabar com qualquer narrador. Tantas trocas de posições que o gerador de caracteres da classificação muda a cada curva. O Espanhol Albert Arenas (KTM) vinha de uma queda na segunda prova de Rimini e viu sua primeira posição no campeonato cair para apenas dois pontos. Precisava chegar na frente e torcer para o japonês Ai Ogura (Honda) chegar bem atrás. Suas preces estavam dando certo, porque depois da largada Arenas se mandou lá na frente, enquanto Ogura escalava o pelotão da 24a posição para 15º marcando apenas um pontinho.

Mas em corrida existe aquela máxima: tudo dá certo enquanto não dá errado. Numa tentativa desesperada de ultrapassagem, John McPhee (Honda) perdeu a frente da moto e arremessou Arenas para a caixa de brita. Fim de prova para os dois e três corridas sem marcar pontos para o espanhol.

logo_ellegancy.jpg

Depois deste anti-climax Darryn Binder se colocou entre os três, de forma muito consistente, brigando com Jaume Masia (Honda), Arbolino, Rodrigo, Vietti e cia ltda. Na última das 21 voltas não dava pra apostar em ninguém. Tudo indicava que Arbolino iria vencer, mas na Curva 5 alargou demais a trajetória, Binder aproveitou, passou e ganhou! Foi a primeira vitória do sul-africano, irmão mais novo do Brad Binder (que corre na MotoGP).

Moto2, slider Lowes

O inglês Sam Lowes (Kalex) estava devendo uma performance convincente depois de muitas quedas. Talento e competência ele tem de sobra, mas mostrou afobação em três etapas seguidas, se distanciando na tabela e perdendo credibilidade entre o público. Mas no GP da Calalunha tudo ficou no passado. Ele foi simplesmente o piloto mais rápido na pista do começo ao fim, ultrapassou o líder Luca Marini (Kalex). Marini, que não é bobo e está mais de olho no título do que na corrida, nem ofereceu resistência. Deixou Lowes passar e ficou mantendo uma distância segura.

22-sam-lowes.jpg

Sam Lowes foi rápido, mas exagerou dos pneus.

Quando tudo parecia caminhar para uma vitória do inglês, eu chamei a atenção durante a transmissão na FoxSports para o estilo “sujo” de pilotagem de Lowes. Ele derrapa demais e isso superaquece os pneus. Não corre risco de consumir antes do final porque esses pneus da Moto2 são bem duros e aguentam a prova, mas quando superaquece o pneu derrapa mais ainda. Resultado: um erro na Curva 5 (sempre ela) fez ele perder o primeiro lugar faltando duas voltas para o fim!

Quem fez um corridão foi o italiano Fabio Di Giannantonio (Speed Up) que conseguiu o primeiro pódio ao completar em terceiro lugar. Marini se distanciou ainda mais na liderança do mundial, colocando 20 pontos de vantagem sobre Enea Bastianini (Kalex) que se enroscou no segundo pelotão e terminou em sexto atrás do veloz, mas irregular, Joe Roberts (Kalex).

10_lucamarini.jpg

Luca Marini pilotou como gente grande! 

MotoGP, a terceira do Quarta

O francês Fabio Quartararo (Yamaha) estava vivendo uma fase difícil: depois de duas vitórias nas duas primeiras etapas ele enfrentou muitos problemas com a Yamaha da equipe privada Petronas. Alguns críticos – que não entende de corrida, claro – davam ele como uma espécie de “cavalo paraguaio”, gíria usada no futebol para descrever uma equipe que começa bem e depois vai decepcionando. Mas ao analisar os pilotos da Yamaha oficial dava para perceber que o problema era mais estrutural do que humano.

Super_banner_NewsLetter_580x72px_angell.gif

De fato, porque depois da segunda corrida da Áustria as Yamaha começaram a reagir com duas vitórias seguidas (Viñales e Morbidelli). Neste GP da Catalunha deram um baile nos treinos fazendo a primeira fila inteira com Morbidelli (primeira pole da carreira), Quartararo e um inspiradíssimo Valentino Rossi. O mundo parou para assistir os últimos minutos de treino no sábado. E mais uma vez as Yamaha* era as motos menos velozes na reta, perdendo 20 km/h em relação às Ducati. Isso mostra que o que falta de velocidade na reta, sobra de eficiência nas curvas.

21-franco-morbidelli.jpg

Morbidelli puxando a fila com Rossi e Quartararo

Na corrida as três Yamaha dispararam na frente com o velocíssimo Jack Miller (Ducati) colado atrás. Quartararo tinha mais ritmo e logo roubou a primeira posição do italiano Franco Morbidelli. Algumas voltas depois foi a vez de Valentino passar Mordibo e prever finalmente a conquista do 200º pódio na carreira. E mais: pelo ritmo que Rossi estava mantendo era previsível que ele pudesse até mesmo vencer. Mas... quis o destino que ele fosse a terra na 15a das 24 voltas. Uma queda estranha porque a moto saiu de frente na saída da curva, quando o piloto já está acelerando. Foi o maior balde de água fria do campeonato até o momento.

Valentino estava correndo mais tranquilo depois de ser confirmado como companheiro de equipe de Franco Morbidelli, na equipe Yamaha/Petronas em 2021. Por isso estava ainda mais alegre e de olho numa vitória histórica. Pena que foi pro chão.

capacete_MT.jpg

A partir daí o destaque foi impressionante evolução das suas Suzuki, com Joan Mir e Alex Rins. As Suzuki tem um problema de estabilidade quando está com tanque cheio. Além disso não conseguem ser tão rápidas com pneus de classificação. Por isso largam mais atrás e durante a corrida crescem exponencialmente. Joan Mir engoliu Morbidelli e se estabeleceu em segundo. Depois foi a vez de Rins aparecer lá de trás para também ultrapassar Morbido e fechar o primeiro pódio de 2020. Festa na Suzuki como se tivessem vencido o mundial!

O destaque infeliz foi a presepada causada por Danilo Petrucci (Ducati) logo após a largada. Ele escorregou no meio de uma sequência de S, desacelerou e Joan Zarco (Ducati) precisou desacelerar, perdeu aderência, caiu e levou Andrea Dovizioso (Ducati) junto. Em suma, em menos de 500 metros de corrida duas Ducati já estavam fora da prova. Petrucci recuperou o equilíbrio, continuou e terminou em oitavo.

Agora Quartararo tirou um peso enorme dos ombros. Depois da prova ele disse que estava ainda mais feliz do que ao vencer pela primeira vez. Abriu apenas oito pontos sobre o constante Joan Mir e o campeonato continua muito equilibrado, sem a menor previsão de favoritos. Próxima etapa: dia 11/10 em Le Mans, França.

Bastidores

Continuamos sofrendo todo tipo de enrosco técnico na transmissão feita por internet, com cada um na sua casa, separados por uma conexão rápida. Dessa vez os paus começaram com o narrador Hamilton Rodrigues, que na metade da prova da Moto3 ficou com um delay enorme, de quase cinco segundos. Para corrigir isso é precisa fazer o refresh (F5) na página, mas como já expliquei isso leva até 25 segundos. Quando percebemos a Moto3 tinha entrado nas voltas finais e um refresh naquele momento poderia ser pior. Por isso quem viu pela TV percebeu que o Binder cruzou a linha de chegada, mas só depois o narrador soltou a garganta anunciando o vencedor. E teve mais!

Na hora das entrevistas pós corrida eu já me acostumei com inglês dos italianos, espanhóis e franceses, mas quando chegou a vez do sul-africano Darryn Binder, além do inglês bem unusual, ele fala com a boca fechada, muito e rápido, o que foi um sufoco pra traduzir (muito respeito aos tradutores simultâneos). Consegui pescar algumas palavras, tipo 2012, 16 anos, pais, primeira vez etc e tive de criar em cima. Pelo menos não falei que ele foi pai pela primeira vez aos 16 anos em 2012.

Depois veio a presepada da Dorna, com a mudança na programação. Passei o domingo explicando pra um monte de gente que foi culpa da DORNA e só dela. O campeonato espanhol de futebol já estava marcado muito antes. Tínhamos de entregar o sinal pro pessoal do futebol às 10:45, não importando se o jogo só fosse começar às 11:05, porque tem os comentários pré jogo, propagandas etc. Se a prova tivesse sido realizada no horário previsto teríamos encerrado às 10:05 como sempre e veríamos entrevistas, pódios, champanhe, comentários etc. Mas, mais uma vez, não foi responsabilidade da FoxSports, mas da covardia da DORNA!

Agora imagina o nosso desespero até a 15a volta, com chances reais de Valentino alcançar o 200º pódio ou, pior, de vencer a corrida!!! Se isso acontecesse eu pegaria o primeiro ônibus espacial para Marte. Quando ele caiu foi um UFA! geral. Mas ainda tinha o Morbidelli, com a bandeira do Brasil no capacete! Graças ao Rins também nos livramos dessa.

Sobre o Morbidelli quero fazer uma observação semântica: ele NÃO é ítalo-brasileiro, parem com isso. Essa denominação se dá a quem tem DUPLA CIDADANIA. Nasceu na Itália, mas tem cidadania brasileira. No caso de uma pessoa que tem pai italiano e mãe brasileira, nascido em ROMA, o cara é ITALIANO!!! Punto e basta. Senão eu seria luso-italiano, minhas filhas seriam brasília-alemãs e outras sandices. Isso é puro pachequismo da emissora anterior que viu a necessidade de enfiar uma bandeira brasileira goela abaixo. Agora, se ele tiver passaporte da Comunidade Europeia e do Mercosul, aí sim...

Melhores momentos da MotoGP clique AQUI.

publicado por motite às 18:27
link | comentar | favorito
Segunda-feira, 21 de Setembro de 2020

Mundial de Motovelocidade: Equilíbrio obrigado

 

vinales_mis.jpg

Vini, vidi, Viñales: espanhol finalmente deu a volta por cima (Fotos: MotoGP.com)

Mais um vencedor na MotoGP e as três categorias estão super equilibradas

Havia muito tempo que o campeonato mundial de Motovelocidade não apresentava tanto equilíbrio em todas as categorias. A necessidade de fazer duas corridas na mesma pista contribuiu demais com o equilíbrio porque deu chance de as equipes trabalharem mais nas motos. Assim, o Grande Prêmio da Emilia Romagna, novamente no circuito Marco Simoncelli, em Misano, viu as provas ainda mais emocionantes.

Na MotoE foi uma rodada dupla com corridas no sábado e domingo e vitórias de Dominique Aegerter e Matteo Ferrari respectivamente. Na Moto3 a surpreendente vitória de Romano Fenati (Husqvarna), o mais velho do grid. Na Moto2, em corrida confusa com duas paralisações, quem levou a melhor foi o italiano Enea Bastianini e na MotoGP finalmente Maverick Viñales conseguiu sua primeira vitória em 2020, atestando a ótima fase da Yamaha.

MotoE, rapidinhas

A pressão é o pior dos mundos para um piloto de moto, especialmente os que brigam por títulos. O brasileiro Eric Granado viveu uma tremenda pressão depois de começar o ano com vitória na abertura em Jerez, Espanha. Na segunda prova foi abalroado por Matteo Ferrari e a partir daí foi uma sucessão de contratempos. Nesta primeira corrida de Misano conseguiu a quarta posição na largada, largou mal, consegui se recuperar mas caiu ao tentar passar por Xavier Simeon, levando o piloto espanhol junto. Quem venceu foi o suíço Dominique Aegerter.

Eric_mis.jpg

Eric: pressão e luta por uma vaga na Moto2.

Na segunda corrida o grid de largada foi definido pela posição de chegada da corrida 1 e isso fez Eric largar muito atrás. O que se viu depois da largada foi uma primeira volta inacreditável do brasileiro: ultrapassou oito motos! Chegou a estar em sétimo, mas superaqueceu os freios, aliviou, perdeu três posições e conseguiu se recuperar para terminar em sétimo. A vitória mais uma vez foi de Matteo Ferrari, que assumiu a liderança da categoria depois de Aegerter ser derrubado e não marcar pontos.

Para o Eric a situação do campeonato ficou bem crítica. Restam duas rodadas e ele ficou 43 pontos atrás do líder. Mas uma coisa é certa: ele já está de malas prontas para a Moto2. O que ele mostrou, independentemente de resultados, já o credencia para subir de categoria. Só precisa esperar pela equipe certa.

Moto3, Fenati de volta

Mais uma daquelas corridas de testar o coração. É a categoria mais disputada do mundial, os pilotos são jovens entre 16 e 25 anos, as motos muito leves, pequenas e difíceis de pilotar. Mas em cada volta tem mais ultrapassagens que toda a temporada de F-1. Imagina o sufoco para narrador e comentaristas. E não é raro um piloto largar lá de trás para vencer a corrida. Para ficar mais emocionante ainda, as provas são decididas praticamente na linha de chegada.

RomanoFenatti_mis.jpg

Fenatti: tiozinho Bad Boy se deu bem na última volta.

Depois de zerar em duas etapas, o espanhol Albert Arenas (KTM) precisava correr pensando no campeonato. Seguiu o roteiro. Ficou sempre no pelotão da frente, chegou a estar em segundo, mas na penúltima volta precisou alargar uma curva para evitar um choque e perdeu várias posições. Conseguiu terminar em quarto, mas viu seu rival Ai Ogura (Honda) fazer uma corrida fantástica, saindo do 12º lugar para cruzar em terceiro.

Super_banner_NewsLetter_580x72px_angell (1).gif

O vencedor foi o polêmico Romano Fenati. O piloto italiano já foi protagonista de dois episódios de mal comportamento na pista. Em 2015, correndo na Moto3, deu um coice no finlandês Niklas Ajo depois dos treinos e foi punido. Mas o pior veio em 2018, já na Moto2 quando numa atitude irresponsável e imperdoável acionou o freio dianteiro da moto de Stefano Manzi que poderia ter causado um grave acidente. Fenati quase foi banido do motociclismo, mas ainda conseguiu uma vaga na Moto3. É o piloto mais velho da categoria (24 anos) e brincou com isso na entrevista do parque fechado. Toni Arbolino completou o pódio.

No campeonato Arenas ainda lidera com apenas dois pontos de vantagem sobre o japonês Ogura.

Moto2 bestial!

A categoria já estava caminhando para uma liderança isolada do italiano Luca Marini. O meio irmão de Valentino Rossi vinha de vitória, liderou praticamente todos os treinos e dava pinta de que sairia de Misano com uma liderança ainda mais tranquila. Mas veio a chuva.

EneaBastianini_mis.jpg

Bestial: La Bestia correu com a faca entre os dentes na Moto2.

Na verdade quase nada, não durou nem 10 minutos, mas foi suficiente para provocar um salseiro na direção de prova. Na sétima volta o americano Joe Roberts caiu e os fiscais acionaram a bandeira branca com um xis vermelho, muito parecida com a bandeira que indica carro de serviço na pista, que é branca com uma cruz vermelha (muito original). Na confusão alguns pilotos continuaram acelerando e um deles foi Enea Bastianini, que assumiu a ponta, por pouco tempo, porque mostraram a bandeira vermelha interrompendo a prova.

Assim que as motos entraram nos boxes a garoa parou. E ninguém trocou pneu nenhum. Na Moto2 não tem aquela opção de ter uma moto extra pra deixar com pneus de chuva. Tem de desmontar tudo e dá muito trabalho.

Os comissários liberaram a pista, todos voltaram de pneus slick, alinharam para a largada e... começou a chover forte! Nova paralisação, motos de volta para os boxes e... parou de chover!!! Parece que o clima estava delirante porque enquanto os mecânicos decidiam o que fazer saiu um belo sol, secando a pista.

capacete_MT.jpg

Capacete MT KRE: leveza e beleza!

Novo alinhamento, mas tiveram de encurtar a prova para apenas 10 voltas o que deu um tempero ainda mais apimentado. Nesta terceira largada Bastianini justificou o apelido de Bestia e sumiu! Abriu uma vantagem confortável para cruzar em primeiro, com Marco Bezzecchi em segundo e Sam Lowes em terceiro. Luca Marini fez uma corrida pensando em minimizar as perdas e ficou em quarto, mantendo a liderança da categoria. Mas a diferença para Bastianini caiu para apenas cinco pontos.

MotoGP, la vendetta

Aconteceu de tudo com Maverick Viñales em 2020. Fez três pole positions, pulou da moto a 240 km/h, sofreu com pneus e finalmente chegou ao degrau mais alto do pódio. Não foi fácil. Durante o intervalo entre a primeira e a segunda prova em Misano as equipes tiveram um treino livre e a Yamaha testou um escapamento pra lá de estranho na tentativa de ganhar velocidade nas retas. Não funcionou e nos treinos de classificação as Yamaha eram as motos mais lentas, alcançando 290,1 km/h enquanto as Ducati chegavam a 302,1 km/h.

63-francesco-bagnaia.jpg

Pecco Bagnaia: falta pouco pra ele vencer a primeira.

Mas quem cravou a pole foi Viñales com a Yamaha (com o escapamento normal). Como explicar isso? Simples: é a diferença entre ser rápido e ser veloz. Nem sempre a moto mais veloz em reta é a mais rápida na volta completa. As Yamaha são mais rápidas no contorno de curva, enquanto as Ducati são mais velozes em reta. Como as pistas tem mais curvas do que retas, isso explica a diferença. É mais rápido quem contorna melhor as curvas!

logo_ellegancy.jpg

Mas na largada as Ducati nem deram bola pra essa teoria e Francesco Bagnaia sumiu na liderança. Caminhava para sua primeira vitória na categoria mas o excesso de vontade custou uma queda inexplicável, porque estava dentro de um ritmo normal. Ainda restava a Ducati de Jack Miller para fazer frente às Yamaha, mas um problema insólito tirou o australiano da corrida: a sobreviseira que Fabio Quartararo tirou no momento da largada grudou no radiador da moto de Miller, superaqueceu e o sensor de temperatura avisou que era melhor parar antes de explodir o motor.

A partir da queda do líder, Bagnaia, Maverick Viñales só precisou administrar os mais de quatro segundos de vantagem e deixou a briga pelo segundo lugar entre Pol Espargaró (KTM) e Fabio Quartararo (Yamaha). Ninguém lembrou do Joan Mir (Suzuki), que partiu da 11a posição para o quarto lugar, cravando voltas rápidas em sequência. A Suzuki é um caso curioso: não vai bem nos treinos, mas a partir da metade da corrida cresce de rendimento. E o mundo viu como Joan Mir chegou, passou e conseguiu um brilhante segundo lugar. Quartararo terminou em terceiro na pista, mas excedeu o limite da pista e foi punido em três segundos, entregando o lugar no pódio para Pol Espargaró.

Depois da bandeirada Viñales estava visivelmente emocionado por ter tirado uma carga enorme dos ombros. Foi o sexto vencedor diferente em 2020 e o quarto piloto da classe principal a largar na pole e vencer em Misano. O que pode ter determinado sua conquista foi a decisão de trocar de pneus com a moto já no grid de largada. Um golpe de mestre!

Destaque para Alex Marques (Honda) que fez o melhor tempo no warm-up e terminou em sétimo, seu melhor resultado no ano. E mais uma corrida apagada para Andrea Dovizioso, que conseguiu um sexto lugar suado, melhor piloto da Ducati. Ele correu com a palavra “desempregado” em inglês no macacão, o que pode ter criado um clima estranho na equipe. Ainda lidera o mundial, com 84 pontos, um a mais que Quartararo e Viñales e quatro à frente de Mir. Estes quatro pilotos certamente decidirão o título do estranho ano de 2020 na temporada mais equilibrada dos últimos tempos.

O que eu não disse na transmissão

Meu domingo começou pontualmente às 3:30 da manhã. Dessa vez o despertador tocou na hora certa e tive tempo de tomar café tranquilamente, fazer as abluções matinais normais e às 4:30 estava logado na plataforma de transmissão. Sem sustos!

Na MotoE é aquele sufoco de uma corrida de sete voltas, quando a gente pisca o olho, puf, acaba! Como foi a primeira corrida do dia eu troquei uns nomes, mas nada de grave e acho que nem perceberam. Vou contar uma coisa: é difícil pacas identificar pilotos numa tela pequena. No estúdio temos uma tela de quase 1,5 metro e agora tenho uma telinha de 14 polegadas.

O Eric fez uma primeira volta insana, mas depois teve problemas de freio e conseguiu se recuperar. Pela andar da carruagem acredito piamente que ele já tem vaga garantida na Moto2, mas pra conseguir uma equipe de ponta vai ter de fazer resultado top 3 nas duas provas que restam. Quanto melhor sua posição no ranking maior a chance de entrar numa boa equipe sem levar um caminhão de dinheiro.

Na Moto3 tudo correu no maior sossego. Fora o fato de ter mais ultrapassagens por metro quadrado do que qualquer categoria. Isso é um desafio para qualquer narrador. Pra piorar as equipes montam duas motos totalmente iguais e só conseguimos identificar quem é quem ao ver o number plate. Mesmo assim temos conferir o tempo todo no live timing tudo que está rolando. E não é que o gerador do live timing deu pau! De repente a classificação mudou no painel, mas na imagem estava igual. Deu um nó, mas o Hamilton Rodrigues segurou a onda e consertou ainda no ar!

bandiere.png

As bandeiras internacionais: nossa como a bandeira branca é MUITO diferente da branca com xis vermelho!

Mas confusão mesmo foi na Moto2. Tudo por causa de uma garoa à toa. Foi aquela papagaiada que todo mundo viu: motos nos boxes, ninguém trocou pneu, voltaram pra pista, choveu de verdade, voltaram pros boxes, não trocaram pneus e largaram de novo. Foi o maior intervalo que tivemos entre as corridas e tive a chance de finalmente dar algumas dicas de pilotagem na rua e estrada, com o tema chuva e pneus. Sobre tecnologia de capacete, macacão etc. Quem ouviu, ouviu, quem não ouviu não vai ouvir mais porque os VTs são editados e só passam as corridas.

Pela primeira vez na história da Motovelocidade as transmissões tem dois ex-pilotos como comentaristas, dois especialistas que estudam profundamente o tema e mesmo assim temos de aguentar as viúvas da SporTV! Tem gente que prefere ouvir que comprou a TV em 24 vezes nas Casas Bahia, ou pra aumentar o volume pra acordar a vó. Sério, tem gente que sente saudades disso!

E chegou a MotoGP. Nesta categoria a regra é deixar o Alexandre mais livre pra comentar porque ninguém conhece mais o que rola lá dentro do que ele mesmo. As viúvas também reclamam disso: que o Alexandre só fala de pneus. Só que são os pneus que decidem quem vai ganhar ou perder uma corrida na MotoGP. Só isso!

O que eu não disse neste domingo: que eu gosto do estilo do Viñales, ninguém chamou ele de "Mavecão V-8", graças a Deus! Acho que ele sofreu muito com a característica das Yamaha, que andam bem quando estão isoladas, sem disputas. Pouca gente sabe, mas Maverick Viñales é um baita pilotaço de motocross. Chegou mesmo a pensar no mundial de cross, mas quando conheceu o asfalto se apaixonou. E ele morou anos com a italiana Kaira Fontanesi, seis vezes campeã mundial de motocross feminino. Imagina como era a conversa no café da manhã! Aliás, pra quem acha "normal"  aquele sotaque italiano falando inglês, sugiro que procure a entrevista da Kaira para TV americana para ver como é possível um italiano falar inglês perfeitamente!

Também não falei: não frega niente a Ducati ser mais veloz em reta se as Yamaha são mais rápidas em curvas! Como ficou provado semana passada na vitória de Franco Morbidelli e neste domingo com Viñales. Mas pode escrever: Bagnaia vai vencer sua primeira corrida na MotoGP ainda neste ano!

 

 

 

publicado por motite às 12:50
link | comentar | favorito
Segunda-feira, 14 de Setembro de 2020

Grande Prêmio de San Marino: avanti Italia!

primeiravoltamotogp.jpg

Que corrida, amigos! Franco liderou da largada à chegada! (Foto: MotoGP.com)

Das quatro categorias os pilotos italianos venceram em três

Dois dias antes da sétima etapa do mundial de motovelocidade ninguém sabia ainda se as corridas seriam transmitidas pela FoxSports. Eu já estava em depressão profunda quando recebi um whats na sexta-feira às 11:30 confirmando a transmissão. Porém minha escala só saiu no sábado às 19:30. Pense num nervoso. Vou detalhar os bastidores no final!

O Grande Prêmio de San Marino, disputado domingo (13) na bela Riviera de Rimini, em Misano, teve de tudo: Eric Granado fez uma corrida difícil depois de largar em último e terminar em 10º. John McPhee largou em 17º e foi o único não-italiano a vencer no fim de semana. Luca Marini engatou um ponto morto no meio da curva, mesmo assim venceu na Moto2. E Franco Morbidelli conseguiu sua primeira vitória na MotoGP, tornando o quinto vencedor diferente nas seis etapas da MotoGP do estranho ano de 2020.

MotoE: castigo

Tudo bem, é regulamento: se exceder os limites da pista sofre punição. Como na MotoE os pilotos só tem uma volta para fazer a classificação, se perder essa volta fica sem tempo. Foi o que aconteceu com Eric Granado. O brasileiro fez a melhor volta da super-pole, mas excedeu o limite da pista em questão de centímetros. Foi obrigado a largar em último e conseguiu uma bela recuperação para chegar em 10º. Ele ficou enroscado no pelotão e não conseguiu se livrar, porque tinha equipamento para brigar por posições melhores.

Eric.jpg

Corrida paciente de Eric Granado na MotoE (Foto: MotoGP.com)

Segundo o paulista: “Infelizmente é muito difícil fazer uma corrida de recuperação em apenas sete voltas, que é a duração das corridas da Moto-E, em função da durabilidade das baterias das motos elétricas. Tentei passar o máximo de pilotos possível. Encontrei no caminho um grupo que estava em um ritmo mais lento que o meu e perdi muito tempo com eles”, comentou o jovem brasileiro de 24 anos. “Hoje o importante era marcar pontos e terminar o mais na frente possível. Claro que estou chateado, não é o que eu esperava. Ontem, com o tempo que virei, era para ter largado da pole position, mas nem tudo sai sempre como a gente espera”.  

A corrida foi vencida pelo atual campeão Matteo Ferrari, depois de largar em quarto também por causa de punição. Ferrari fez a pole de fato, mas como ele foi considerado culpado pelo acidente com Eric Granado na segunda prova de Jerez e perdeu três posições. Foi o tempero que precisava para deixar a corrida ainda mais apimentada com os seis primeiros se pegando até o final das sete voltas.

motoE_ferrari.jpg

Pega sensacional nas sete voltas da MotoE. (Foto: MotoGP.com)

Temos de entender a MotoE ainda como um grande laboratório. Muita coisa já melhorou, mas ainda está longe de ser uma moto de competição com o mesmo carisma das motos com motor a combustão. A bateria pesa uma enormidade, quase como se o piloto tivesse um bujão de gás entre as pernas. Mexe com o centro de massa e deixa a moto mais complicada nas frenagens. Além disso o motor elétrico não tem câmbio, nem embreagem. Na largada é difícil modular o acelerador para não empinar. Podemos colocar pelo menos mais uma temporada completa para ver os rumos da categoria.

Quanto ao Eric, acredito mesmo que ele receba convite para a Moto2, dessa vez em uma equipe decente. Ele carimbou esse passaporte nas duas últimas provas de 2019 e nas duas primeiras de 2020. Só não está mais bem colocado por causa da traulitada do Matteo Ferrari. O bom é que ele está motivado e a equipe é de qualidade.

Moto3: McPheeeeeeee

É a categoria mais equilibrada do mundial. Marcas diferentes de motores e quadro, mas isso não muda nada. Só de ver o que aconteceu na classificação ilustra esse equilíbrio: do primeiro, Ai Ogura, ao 17º, John McPhee, a diferença foi de menos de um segundo. Sei que é repetitivo explicar isso, mas a posição de largada na motovelocidade é menos importante do que no automobilismo. Mais ainda na Moto3, porque a pista de San Marino tem longas retas que permite pegar vácuo. Se o piloto consegue essa ajuda pode subir 10 posições. Ou perder!

mcphee.jpg

Baixinho, magrinho, mas gigante na pilotagem, assim é John McPhee. (MotoGP.com)

Narrar a Moto3 é para matar de enfarte. Não tem 500 metros de pista sem que esteja um piloto ultrapassando outro. Já antes da largada dava para apostar em qualquer um dos 20 primeiros colocados no grid de largada. O argentino Gabriel Rodrigo é sempre um candidato a vitória, mas alguma coisa nele o faz perder ritmo no quarto final. Não é pneu, porque a Moto3 não consome pneu. Não é motor, porque motores 250 quatro tempos não perdem rendimento ao longo da corrida. Só pode ser emocional. Um caso mais para divã do que técnico.

O líder, Albert Arenas chegou a estar em terceiro. Se terminasse nessa posição abriria mais de 30 pontos de vantagem. Mas ficou embolado com os seis primeiros colocados e acabou sendo tocado de leve, perdeu a linha da curva, entrou na sujeira e... pimba! Caiu. Pra piorar seu domingo o vice líder do campeonato, John McPhee fez uma última volta de gênio para cruzar em primeiro. Não é incomum um piloto largar abaixo de 15º lugar e vencer. Este ano isso já aconteceu na Moto2 com o Tatsuta Nagashima. O pódio na Moto3 foi completado pelos japoneses Ai Ogura e Tatsuki Suzuki. Com a segunda corrida sem marcar pontos o espanhol Arenas continua liderando, mas a diferença caiu para apenas cinco pontos para Ogura.

Nesta corrida eu cometi um erro imperdoável. Comentei em cima do narrador oficial, que perdeu a concentração e não viu a bandeirada. Foi 100% erro meu e já me penitenciei por isso. Aliás essa transmissão aconteceu de tudo, leia os bastidores no final.

Moto2 Covid nele

Dois desfalques na Moto2: Jorge Martin, que testou positivo para Covid-19 e Remy Gardner que largaria na pole-position, mas caiu no warm-up e quebrou o pé esquerdo. Cair no warm-up é atestado de salame, porque esse treino não serve para definir nada, apenas para checar se está tudo em ordem com a moto e a com a pista. Não é para baixar tempo! Confesso que eu já caí no warm-up uma vez e meu chefe de equipe quase comeu meu fígado! Nunca mais aconteceu...

Antes mesmo de as motos alinharem para o grid todos os pilotos da Moto2 subiram uma posição na largada. Assim, a primeira fila ficou tutti a casa, com três pilotos italianos: Luca Marini, Marco Bezzecchi e Enea Bastianini. Largaram e chegaram nesta ordem, algo bem raro de se ver nesta categoria.

marini_bezechi_bastianini.jpg

Los três amigos: Marini, Bezzecchi e Bastianini. (MotoGP.com)

Mas, lendo assim, parece que foi entediante. Na verdade Marini e Bezzecchi trocaram de posições várias vezes. Numa delas Marini foi reduzir de segunda para primeira marcha mas entrou no ponto-morto! Quase perdeu a curva, conseguiu segurar em ainda venceu a prova. Bastianini também quase foi pro chão, deu uma salvada à Marc Márquez, fez um sprint final emocionante, mas não conseguiu superar Bezzecchi. Esse neutro falso é mais comum de acontecer do que se imagina e a moto perde rotação e estabilidade. O piloto precisa pensar rápido para deixar a moto em pé, esperar a rotação cair e voltar para a trajetória. Isso custa quase 1,5 segundo na volta. Quando não sai da pista!

Pode-se entregar o prêmio de “piloto do dia” para o inglês Sam Lowes. Ele foi punido por ter causado uma forte colisão no GP da Estíria e obrigado a largar dos boxes. Fez uma corridaça e terminou em oitavo a apenas 16 segundos do vencedor. Imagine se ele largasse na posição normal. Com o pódio 100% italiano a Moto2 lembrou um campeonato italiano. Difícil mesmo foi entender o que os três falaram na entrevista do paddock antes do pódio. O dialeto “anglo-italiânico” desafia qualquer tradutor simultâneo. Esta foi outra surpresa: eu fui escalado para fazer a tradução simultânea sem saber de nada, quase enfartei parte 2.

Com este resultado Luca Marini se isolou na liderança do campeonato e praticamente sacramentou sua subida para a MotoGP em 2021. Atrás dele estes dois mesmo: Bezzecchi e Bastianini.

banner_300x300px_angel-GT-ll.jpg

MotoGP, a primeira de Franco

Morbido em italiano significa macio, fofo. Este é o apelido de Franco Morbidelli, piloto romano de 26 anos, da Yamaha, que teve uma vida difícil. Nunca contou com muita verba para correr de moto, mesmo assim foi campeão na extinta categoria Super Stock até ser “adotado” pela academia VR 46 de Valentino Rossi. Foi campeão mundial de Moto2 em 2017 e em 2018 estreou na MotoGP. Agora que já sabe quem é, veja o que ele fez.

Antes de comentar a corrida uma observação: o Franco Morbidelli nasceu em ROMA, capital da ITÁLIA, portanto não tem nada de “ítalo-brasileiro”. Ele é tão ITALIANO quanto Valentino Rossi e meu avô Renato. Só que vocês passaram anos ouvindo uma manifestação ufanista que tentou colocá-lo como mezzo brasiliano. Já aviso: isso no jornalismo chama-se “pachequismo”, quando tenta levantar alguma coisa verde-amarela só pra efeitos de marketing nacionalista. Jornalistas sérios não fazem isso, OK? A diferença entre patriotismo e ufanismo é que o patriota quer um país melhor; o ufanista quer que o país dele seja melhor do que os outros. Punto e basta!

francoentra.jpg

Aquele sorriso de quem sabe que está no topo do mundo: Franco Morbidelli. (MotoGP.com)

Sobre o capacete dele. Foi a primeira vez em anos que ele correu sem as bandeiras do Brasil e da Itália. Justamente na prova que conseguiu sua primeira vitória. Coincidência? Não, na verdade ele usou o capacete como forma de chamar a atenção para a igualdade de etnias. Ele é filho de uma pernambucana negra que foi para Itália trabalhar como cabelereira (até hoje). Ele nasceu mulato, cabelos encaracolados e com mais cara de brasileiro do que italiano (parece meu irmão jovem). Por isso diz que sentiu muito preconceito por causa da sua origem afro. Decidiu fazer disso uma bandeira e escreveu a palavra “igualdade” em vários idiomas e pintou a cara dele como personagem do filme “Faça a coisa certa” do cineasta negro Spike Lee.

franco_casco.jpg

Mensagem no capacete do piloto Franco: igualdade! (MotoGP.com) 

Morbido fez uma largada perfeita, assumiu a ponta na primeira curva e desapareceu na frente dos outros. A Yamaha tem uma característica do motor quatro cilindros em linha que a torna rápida no contorno das curvas. Por outro lado, os motores V-4 conseguem frear mais dentro da curva e acelerar antes. Quando um piloto de Yamaha se isola no primeiro lugar tem mais facilidade para abrir uma folga, mas se enroscar com as motos com motores V-4 fica difícil ultrapassar e fugir deles. Pode reparar: as três vitórias da Yamaha foram com o piloto se isolando na frente.

Excelente largada de Valentino Rossi que pulou para segundo e conseguiu se defender dos ataques insanos do inconstante Jack Miller na melhor Ducati até o momento. Durante boa parte da prova estes três se distanciaram dos demais: as Suzuki de Alex Rins e Joan Mir e a Ducati do convalescente Francesco Bagnaia. Até metade da prova os três primeiros se mantiveram nas suas posições, mas Miller começou a perder ritmo, enquanto Bagnaia e as Suzuki começavam a escalar posições.

Morbido.jpg

Foi a terceira vez que tocou o hino italiano no domingo. (MotoGP.com)

Num desempenho heroico Bagnaia superou Rossi e foi para cruzar em segundo. Para Valentino seria a chance de finalmente alcançar o 200º pódio da carreira, mas Joan Mir arrancou essa chance na última volta! Nas tradicionais brincadeiras, Rossi pintou comprimidos de Viagra no capacete, meio que sugerindo que estava “turbinado”!

A vitória gigantesca de Morbidelli serviu para lavar a alma da Yamaha depois das duas provas decepcionantes na Áustria. Por outro lado as KTM sumiram na etapa de Rimini e as Honda, bem, para a Honda é melhor esquecer que houve 2020. E não pense que a volta de Marc Márquez vai levar a moto de volta ao topo do pódio. Neste período que a marca oficial ficou sem seu principal piloto as outras equipes estão evoluindo. Com um Alex Márquez estreante e Stefan Bradl como piloto reserva não dá para esperar uma melhora no equipamento.

Logo_MT.png

Um acidente com lesão nunca será algo a comemorar, mas a ausência do Marc Márquez deu um equilíbrio tão grande na categoria que Andrea Dovizioso, sexto colocado, saiu líder do campeonato, seis pontos à frente de Fabio Quartararo. Falando nele, caiu, levantou, até desistir de vez e viu a liderança do mundial escapar das suas mãos. Pelo menos ainda está em segundo, seis pontos à frente de Jack Miller.

Bastidores: pânico na geral

Essa etapa foi a mais confusa e tensa desde que a Fox assumiu as transmissões. Primeiro fomos pegos de surpresa com a notícia de quebra de contrato com a Dorna. O Brasil corria o risco de ficar sem sinal da MotoGP. Foi preciso que a Disney entrasse em cena e fizesse um acordo diretamente com a Dorna para garantir o sinal. Isso foi oficializado na sexta-feira às 11:30 da manhã. Imagine meu nervosismo! Fomos salvos pelo Mickey!

ellegancy.jpg

Tem mais: o Téo José que já estava mandando super bem foi embora para o SBT fazer a Taça Libertadores de Futebol. (E dizem a Fórmula 1, que vai sair da Globo no final do ano). Tudo isso mexeu demais comigo porque bateu uma baita insegurança de transmitir com uma pessoa que eu não conhecia. O Hamilton Rodrigues já transmitiu motovelocidade nos anos 80, mas tenta imaginar o que é transmitir um torneio com 100 nomes diferentes, pronúncias diferentes e com uma telinha de 14 polegadas! Claro que ia ser um tiro no escuro.

Pensa que acabou? Dei aula no sábado o dia todo, sob um sol de 40ºC em Piracicaba. Falando mais que o homem da cobra, entrando e saindo do ar-condicionado. Adivinha o que aconteceu com a minha garganta? Virou uma pelota de BomBril. Já sabia que minha voz estaria um lixo no domingo. Como nada é tão ruim que não possa piorar coloquei o despertador para tocar às 3:30, mas esqueci de incluir o DIA!!!

Acordei de susto às 4:30 com a equipe toda já linkada para a transmissão!!! Não tive tempo de aquecer a voz, nem tomar café. Entrei no ar com a voz de uma múmia que saiu do sarcófago depois de 2.000 anos. E foi assim até o fim. Parecia que tinha um gato entalado na minha garganta.

Pensa que acabou? O microfone do Edgard Mello Filho pipocou o tempo todo. Era um problema de conexão e não conseguimos resolver. Por isso ele ficou mais quieto do que o normal e jogaram a peteca no meu colo com a voz de múmia. Tive de alongar os comentários com aquele gato entalado na garganta. Tentei resolver durante a transmissão bebendo café quente, mas o café esfriou...

Falando em calor, meu escritório devia estar uns 30ºC e não pude ligar o ar para não vazar o som, nem azedar a garganta. Eu suava mais que tampa de marmita, nervoso e cagado de arara.

Pensa que acabou? Quando acabou a corrida da MotoE, os pilotos foram para o parc fermée (mais chique em francês) para dar as entrevistas. O Dominique Aergeter (pronuncia-se éguetah) terminou de falar e ficou aquele silêncio constrangedor; cri...cri...cri e nada! Até que assumi a tradução e vou contar uma coisa: os tradutores simultâneos deveriam ganhar uma fortuna, porque é difícil pra cacete elevado ao quadrado. Principalmente os pilotos italianos que falam um inglês propositalmente incompreensível. Aquilo não é sotaque, é o tal nacionalismo exacerbado porque conheci centenas de executivos italianos que falam inglês impecável. O Nicolò Canepa foi meu instrutor em Mugelo e ele fala perfeitamente, não é aceitável que uma pessoa que passa a maior parte da vida em um ambiente de âmbito internacional fale inglês com essa pronúncia de uma criança de quatro anos!

Na hora da MotoGP eu passei a batata quente pro Alexandre Barros que morou na Itália e Espanha e sabe esses dialetos todos!

Pensa que acabou? Você sabe que estamos transmitindo cada um em sua casa. O link depende da qualidade da internet de cada um e neste domingo a bruxa se soltou de vez. O áudio do Edgard deu pau e meu vídeo também. Para corrigir tivemos de dar refresh na página, o popular F5 várias vezes. Só que isso custa uns 10 a 20 segundos sem imagem. Imagine ficar 20 segundos sem imagem na Moto3!!! Isso se repetiu várias vezes e foi o que me fez acreditar que o Fabio Quartararo caiu de novo. Não vi a informação de replay na tela! Foi o segundo pênalti do dia.

Quer saber: ficar das 5 às 10 da manhã falando sem parar ao vivo, cometer dois erros foi até café pequeno. Teve mais incidentes: o louco do meu cachorro acordou e começou a pular em cima de mim querendo passear. Tudo bem se ele não pesasse 35 kg!

Domingo que vem tem mais, na mesma pista!

cebaessaos.jpg

Ele só pensa em passear!

 

 

 

publicado por motite às 13:49
link | comentar | ver comentários (2) | favorito

.mais sobre mim


. ver perfil

. seguir perfil

. 14 seguidores

.Procura aqui

.Fevereiro 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
22
23
24
25
26
27
28
29

.Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

.posts recentes

. Pra todo chão, como anda ...

. A História de uma lenda: ...

. História da Foto: de sete...

. MotoGP: Um ano marcante

. Cálculo de Rins, como foi...

. EXCLUSIVO: Eric Granado f...

. Que domingo! Mais uma eta...

. Não Vale! Como foi o GP d...

. Mundial de Motovelocidade...

. Grande Prêmio de San Mari...

.arquivos

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Julho 2023

. Maio 2023

. Janeiro 2023

. Novembro 2022

. Agosto 2022

. Julho 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Julho 2019

. Junho 2019

. Março 2019

. Junho 2018

. Abril 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Outubro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

. Agosto 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Maio 2015

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Março 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

.tags

. todas as tags

blogs SAPO

.subscrever feeds