(Vc tá me vendo ali??? foto: Tite)
ATENÇÃO bando de chatos do meu coração. Vou dar um sossego a vocês todos e levar minha ranzinzice pra bem longe por uma semana inteira. Minhas filhas - verdadeiros anjos - terão de me aguentar chateando-as no litoral fluminense, apesar de eu ser flamenguista. Bom, elas serão canonizadas por me aguentarem todos esses anos.
Não sou louco de dizer pra onde vou, senão vai encher de chatos me chateando!
Dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo a paciência de vcs vai explodir pq vou voltar com uma carga novinha de chateação.
Do chato mór!
Tite
(Morra de inveja... Vou velejar!!! Foto: Tite)
(Pãts, como sou chato! Foto: Chatite)
Fiquei sabendo pelo guarda noturno que sou considerado o chato da rua. Pra mim isso é o maior elogio que poderia receber desses estranhos que moram vizinhos à minha casa, porque deles eu só poderia esperar isso mesmo. Afinal, só eu gosto de acordar cedo nos finais de semana para escalar, dar aula de pilotagem, viajar de moto, cuidar das minhas mudas etc. E para acordar cedo é saudável DORMIR cedo. Todo mundo tem direito de fazer festas em casa, quem não faz? Mas não precisa entrar pela madrugada com som, gritarias e risadas. Como tenho sono leve, nestes casos chego a chamar a polícia porque não gosto de discutir sobre direitos e deveres com gente bêbada.
Fazer barulho e incomodar a vizinhança a noite toda é legal. Respeitar a lei, ser sensato e criar bons vínculos pessoais é ser chato. Aliás, respeitar os outros é chato pra caramba! Legal é cada um cuidar do próprio nariz. Não é assim que os donos de Monza com película escura filosofam: “Deus criou a vida para que cada um cuide da sua”. Genial a frase! Um monumento à educação!
Também sou o chato que pede para os moradores recolherem o cocô dos cachorros. Até fiz uma campanha: “Tenha educação, recolha a merda do seu cão!” Bem poético! Fiz faixa, pendurei nas árvores e passei a ser o chato. Porque é legal deixar cocô espalhado pela rua e calçada, Principalmente para quem passeia com carrinho de bebê (agora sou avô), ou quem se locomove por meio de cadeira de rodas. ISSO é legal, chato é recolher a merda do cachorro.
Outra chatice minha é pedir que vizinhos aprendam a destinar o lixo de forma responsável. Imagine que uma vizinha deixou várias latas de tinta ainda cheias pra fora do portão, na ingênua esperança de que o coletor de lixo as levasse. Adivinha o que os vândalos de plantão fizeram com a tinta? Respeitar os horários e tipos de coleta, separar lixo reciclável é ser chato. Legal é deixar lixo orgânico misturado com inorgânico para que catadores de lixo façam a maior sujeira na porta de casa. Mais legal ainda é deixar lixo com resto de comida ficar exposto na rua por dois dias para que cachorros, gatos, baratas e ratos tenham do que se alimentar. Mais legal ainda é queimar o lixo no quintal, porque além da beleza da fumaça ganhando o céu, ainda tem o cheiro de plástico queimado que é uma delícia!
Podar as árvores também é uma chatice sem tamanho. É muito mais legal deixar as árvores crescerem naturalmente e deixar o jardim do vizinho sem uma réstia de sol. É chato demais pedir que respeitem o direito à insolação natural. Legal é ignorar que o sol nasce pra todos.
E fazer silêncio? Quer coisa mais chata? Rodar com uma moto com escape original é tão chato que deveria ser proibido por lei! É infinitamente mais legal usar escape esportivo, sem silenciador e passar pelas ruas de madrugada acelerando e soltando pipocos. Isso é tão legal e divertido que deveria fazer parte do currículo escolar desde o jardim da infância!
- Hoje a titia vai ensinar a fazer barulho!
Ah, bastam 15 minutos dentro de um buffet infantil para perceber que já fazemos isso. Os adultos que tem a responsabilidade de educar pensam que criança gosta de barulho. Desde o teatro infantil – mal feito – até as festas temáticas de buffets, é quase obrigatório ter muito barulho. Assim a criança se tornará um adulto legal, barulhento e não um mala sem alça silencioso.
Na frente da minha casa mora uma família legal. Os pais tocam a buzina para a empregada abrir a porta e a perua escolar também buzina duas vezes por dia: na hora de recolher e devolver os pentelhinhos. Adivinhem qual tipo de comportamento estas crianças desenvolverão? O chato silencioso ou o legal barulhento?
Nos anos 80 um amigo trilheiro foi morar na Alemanha, seduzido por um bom emprego e salário idem. Nem precisou economizar muito para comprar uma moto de trilha e sair feliz pelas estradinhas de terra da pequena cidade que morava. No auge de sua felicidade uma surpresa: Der Polizei!
O policial educadamente pediu que ele procurasse uma pista de motocross e não circulasse por aquelas trilhas porque estava incomodando a vizinhança. Meu amigo olhou para todas as direções e não viu nem uma casa sequer. Foi quando o policial apontou lá longe, uma fumacinha saindo de uma chaminé e explicou:
- Lá mora UM senhor apenas. E ele tem direito ao silêncio!
No último final de semana fui passar o domingo na bucólica vila de Monte Verde (MG), com suas ruazinhas estreitas e plantações de pinus. Perdi a conta da quantidade de motos 125 com escape “estralador” que passava soltando pipoco. Pense numa coisa legal! A vida deve ser muito chata sem poder ouvir esses pipocos ou ver um bebê de seis meses pular de susto com os “POW” do escapamento. Que tédio não poder deixar as pessoas ouvir apenas os sons da natureza. Legal é soltar pipoco ou parar o carro em uma esquina, abrir o capô do porta-malas e deixar que todos ouçam funk a 1.000 watts de potência!
Não sei o que vai ser da minha vida. Um cara chato como eu está destinado a ser solitário, tratar da úlcera e ainda por cima sem receber visitas no hospital. Quem vai querer visitar um chato?
Como diz um vizinho, tão chato quanto eu, “todo brasileiro deveria fazer estágio na Europa para aprender o significado da vida em sociedade”.
Mas o que estou escrevendo? Nós vivemos um Lisarb. Onde legal é ser chato. E chato é ser legal.