
(Foto @ João Montovani)
Com a nova BMW GS 1200 viajar é melhor do que chegar
Imagine-se estressado. Tipo prestes a explodir. Uma forma de relaxar é pegar a estrada e deixar a mente livre de qualquer preocupação. Se a estrada é a cura, o melhor remédio no frasco de duas rodas é a BMW GS 1200. Nascida para ser a moto-para-dar-a-volta-ao-mundo ela chega ao Brasil na versão 2008 ainda mais viajável e com altíssimo poder anti-estressante. Posso garantir que é bem mais divertido – e econômico – do que ficar deitado de barriga pra cima, olhando o teto branco do consultório de um analista freudiano. Ah, e a BMW não tem contra-indicação e ainda melhora sua auto-estima (ou moto-estima).
A aparência volumosa engana e assusta. Mas na prática quase nem se percebe os mais de 230 kg (a seco). Boa parte desse peso está no motor de dois cilindros paralelos – também conhecido como boxer – de exatos 1.198 cc, que desenvolve 105 cv a 7.000 rpm. Esse motor é a prova de que a tecnologia supera muitos preconceitos. Quando alguém poderia imaginar em pleno século 21 que uma das motos mais desejadas do planeta teria motor arrefecido a ar de cilindros opostos?
Pois a insistência alemã em manter o motor com a mesma arquitetura do primeiro propulsor com o logotipo BMW de 1929 rompeu com todos os paradigmas da mecânica. Se alguns engenheiros apocalípticos condenaram os motores refrigerados a ar, alegando alto consumo e excesso de poluição, a tecnologia provou o contrário. Equipada com injeção eletrônica e catalisador essa BMW pode ser ligada na sala de casa sem matar ninguém. E dentro da proposta de ser uma moto pra dar volta ao mundo, um sistema de arrefecimento a ar elimina uma grande preocupação que é um radiador, uma ventoinha e suas válvulas.
Sobe e desce
Antes de colocar a big (e bota big nisso!) trail em movimento foi preciso uma aula sobre os comandos. Claro que nada é simples em se tratando de alemães. Se o idioma deles tem três gêneros (masculino, feminino e neutro) não seria diferente com as motos. Todas as motos têm apenas um botão para ligar e desligar os piscas. Na BMW são três: um pra esquerda, um pra direita e um terceiro pra desligar. O projetista deve ser polidáctilo! Até acostumar com o botão da buzina o novo dono de uma BMW viverá fortes emoções apertando o pisca!
A lição mais comprida foi do ajuste das suspensões. Essa GS conta com um sistema ESA – electronic suspension adjustment – que permite alterar 12 parâmetros de acerto das suspensões dianteira e traseira sem mexer um parafuso nem tirar o traseiro do banco. Basta ir clicando o botão ESA no punho esquerdo e sentir a moto subindo e descendo. E como o vocabulário alemão é cheio daquelas palavras com 9 consoantes e uma vogal, esses ajustes aparecem no painel de cristal líquido na forma de infográficos. Também no punho esquerdo está o controle de atuação do freio ABS e do controle de tração. Pra rodar na terra recomendo desligar o freio ABS e deixar o controle de tração na posição intermediária. Hehe, na verdade eu desliguei o controle de tração porque é muito divertido ver as pedras voando a cada acelerada! Até a calibragem dos pneus pode ser conferida pelo painel.
Há muito tempo as fábricas perceberam que os donos de motos big-trail usavam-nas quase exclusivamente nas estradas asfaltadas. A partir dessa ótica a BMW passou a oferecer duas versões da GS: uma mais on-road e a Adventure, com itens mais endurísticos como tanque de gasolina maior, rodas raiadas e proteções de alumínio para não despedaçar a moto a cada simples queda. A versão que avaliamos é a GS “normal”, voltada para uso mais civilizado. Mesmo assim ela encara uma estrada de terra de forma muito dócil, ao contrário do que sua aparência mastodôntica poderia supor. O banco tem até regulagem de altura para que pilotos prejudicados verticalmente possam colocar os pés no chão em situações de emergência. Posso atestar que funciona... felizmente!

Nas estradas de asfalto essa BMW passa a sensação de que o fim do mundo fica ali na esquina. Extremamente confortável para piloto e garupa, silenciosa e deliciosa de pilotar, chega a dar certa tristeza quando a viagem termina. O aspecto de moto de tiozão é enganoso porque ela chega fácil a 220 km/h (206 km/h reais) e tem estabilidade de sobra pra acompanhar motos mais esportivas. E só pra não ficar rasgando elogios, o pára-lama traseiro tem algum erro de projeto porque na chuva joga muita água e sujeira nas costas de quem está na garupa. Geralmente esse “alguém” já é naturalmente faladora. Imagine o tamanho da bronca!
Com um consumo médio na faixa de 15 km/litro, a autonomia da versão GS é de 300 km, enquanto na versão Adventure é de 495 km. Dá pra ir até o fim do mundo... e voltar!
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Publicado originalmente na revista Car & Driver número 6.
E eu que prometi não publicar mais testes...
Não liguem se faltam dados como consumo, mas teste de moto em revista de carro é diferente mesmo!