
(Oi, pode fazer uma pegada assim, tipo com mais atitude?)
Hoje decidi não escrever sobre motos, vou dar uma pausa a você. Aproveite!
Pegada com atitude
Impressionante como aparecem palavras que entram na moda de forma quase viral, sem que tenham qualquer significado. No último Salão Automec, destinado ao setor de auto-peças decidi retribuir a gentileza de vários amigos assessores de imprensa e fiz questão de assistir às apresentações de lançamentos de novos componentes, campanhas, novidades técnicas und so weiter.
Nesse verdadeiro calvário fui acompanhado de alguns colegas jornalistas e da minha querida e divertida amiga Carol Villanova, jornalista que escreve sobre carros, caminhões, Fórmula 1 e tudo mais que tiver motor. Uma expressão nos acompanhou em todas essas intermináveis e chatésimas apresentações: “agregar valor”. Tudo era agregação de valor. Brinde é agregar valor. Embalagem agrega valor. Botão colorido agrega valor ao rádio. Espelho retrovisor anti-ofuscante agrega valor. Qualquer porcaria agrega valor a uma porcaria que valia menos antes da agregação.
Começamos a ficar irritados e passamos a agregar valor a tudo. Se alguém pedia um cafezinho eu emendava: “pode agregar o valor de duas colheres de açúcar?”, ou “Sim, um café com creme para agregar valor”.
Cheguei mesmo à conclusão que as profissionais mais antigas do mundo não mais fariam programa. A partir daquele dia, as garotas que trabalham na casa da luz vermelham estariam apenas agregando valor à periquita.
- Moço, para dar uma agregada de valor são 100 reais, mais o táxi.
- Puxa, mas essa agregação é demais!
- Olha, podemos desagregar uns 20 reais, mas menos que isso o senhor terá de recorrer à auto-agregação de valor.
Nesse momento nascia a self-agregation, uma forma eufemística para a velha e desagregada bronha.
E o político corrupto?
- Olha para aprovar aquela obra o senhor precisa agregar mais valor à caixinha!
Tem muita obra pública que ficou mais cara por conta de uma agregação de valores por fora.
Em seguida fui à uma reunião de pauta e a palavra mais repetida na tarde foi “pegada”.
- Precisamos fazer uma matéria com uma pegada mais aventureira. Precisa mudar a pegada da revista. As fotos precisam de uma pegada mais emocionante. A diagramação precisa de uma pegada masculina.
Mas que batatada! No meu tempo pegada masculina era a marca deixada por um homem na areia.
Essa pegação só não é pior do que a tal atitude!!! Ai meu saquinho!
- Vamos lá, garota, mostre mais atitude! Para conduzir esse trabalho você precisa de atitude. A moda no próximo verão terá mais atitude.
Atitude de quê? A palavra atitude em si não significa pôla nenhuma! Precisa de um complemento, tipo “tenha atitude otimista”, ou “você precisa adotar uma atitude de liderança”, ou ainda “a moda será definida por uma postura mais sóbria” und so weiter.
Que pobreza!
Para as três opções “agregar valor”, “pegada” e “atitude” existem várias palavras na língua portuguesa que traduzem com muito mais fidelidade o que se pretende descrever. Mas parece que ao adotar expressões sem sentido como atitude e pegada o redator agrega valor ao seu texto. Pois que vá agregar valor na &$#@*&%
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(em 800 metros 8 casas lavando a calçada!)
Até quando???
Hoje (sexta-feira) fui passear com a Valentina e fiquei estarrecido. São Paulo está a mais de 30 dias sem chuva de verdade. O ar está seco, a pele ressecada, meu nariz sangra e é visível a péssima qualidade do ar. Sem chuva o fantasma do racionamento de água começa a rondar.
E o que eu vi?
Em 800 metros de rua nada menos que OITO donas-de-casa estavam “lavando” a calçada. Meu Deus, até quando essa “atitude” de desrespeito com a coletividade? São as mesmas pessoas que levam seus cachorros pra cagar no quintal dos outros. Que buzinam na porta para chamar o morador. Que fazem barulho até madrugada. Tenho certeza que essas pessoas posam de “preocupadas” com o aquecimento global, com as criancinhas da Etiópia e com o fechamento da Daslu. Mas jogam água pelo ralo como se água não fosse um bem valioso.
Por culpa dessa gente sem menor compromisso com o coletivo tenho certeza que muito breve o Estado terá de sobretaxar a água. E eu, com minha pegada econômica, pagarei por estas cornas. Ah, não eram empregadas, não, eram as donas das casas mesmo!
Algumas dicas de preservação:
1) Recolha a água da máquina de lavar roupa e louça em baldes e use para lavar pisos.
2) Se você não consegue fechar o chuveiro enquanto s ensaboa, coloque um balde ao seu lado e use essa água pra regar as plantas (mas sem sabão!)
3) Não lave o carro em casa, os lava-rápidos são preparados para usar o mínimo de água.
4) Procure pequenos vazamentos
5) E mais importante: ensine a sua empregada a usar a água com parcimônia.
(30 dias de sol e a água escorrendo pela rua...)
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PoeTite
Todo escritor tem sua fase poética. A poesia é fundamental para ensinar a dizer muito escrevendo pouco. A poesia ensina a ser sintético. É um ótimo exercício para conhecer a língua portuguesa.
Uns 10 anos atrás eu escrevi centenas de poesias, algumas de corno, outras mais alegres e outras totalmente sem sentido. Era para ser um livro, mas quem nesse mundo de meu Deus compraria um livro de poesias??? Só os cornos do mundo!
Então, hoje você vai conhecer uma, afinal essa pôla é um Blog e Blog é pra escrever qq coisa que der na cachola. Pois então tome!
Sono
Que sono, que sono
por mais que durma
não passa este sono
meus olhos lacrimejam
passados de sono, profundo sono
À noite, ao dia, à tarde
sempre o sono, diário sono
os olhos arranham, ardem
caem de sono, cansado sono
misterioso toma minh'alma
de súbito sono, eterno sono
não há nada que acalma
este sono, implacável sono
consome fronha e lençol
este sono, insaciável sono
nunca mais verei o sol
por culpa do sono, escuro sono
no ônibus passo o ponto
lotado de sono, perdido sono
na moto roda o tonto
caindo de sono, desequilibrado sono
durmo na esteira da praia
torrado de sono, ardido sono
não vejo a garota de saia
por causa do sono, estéreo sono
Que sono é este?
estéreo, ardido
desequilibrado, perdido
escuro, insaciável
eterno, implacável
cansado, tedioso
profundo, misterioso.
Pois que não é sono com certeza
Mas disfarçada de sono, a tristeza