
(eu NÃO vou capotar!!!)
Dizem os lingüistas que nosso cérebro funciona no sistema binário: on-off, tem-não tem; existe-não existe etc. Ou seja, nosso cérebro é uma cópia do computador. Certamente Deus se inspirou no computador para fazer o cérebro!
De acordo com esse raciocínio, nós só conseguimos formar a negação a partir da afirmação. Primeiro o cérebro precisa criar o “sim” para depois formar a negação. O exemplo mais simples é da criança hiperativa que vai visitar os tios ricos. Preocupado, o pai aponta para um vaso chinês da dinastia Ming, de quatro séculos a.C e adverte:
- NÃO encosta nesse vaso senão eu te mato!!!
Dois minutos depois, no meio do silêncio na sala de estar, ouve-se um CRASH!
Quanto mais ingênuo – ou infantil – mais difícil é estabelecer a negativa independentemente da formação da afirmativa. A criança precisa primeiro formar a ação em sua mente “encostar no vaso” para depois criar a negação “NÃO encostar no vaso”.
Pensar de forma assertiva é retirar o “não” das frases e trabalhar a afirmação. Nesse exemplo basta explicar “filho, fique longe desse vaso senão eu te mato!”
Nosso cérebro é uma máquina muito eficiente, mas exige programação.
Na pilotagem é preciso pensar sempre de forma assertiva, positiva e afirmativa. Existem vários exemplos, mas eu gosto de contar no curso SpeedMaster de pilotagem uma passagem minha em 1998, quando corria na categoria 125 Especial.
Eu estava em segundo lugar a corrida inteira. O primeiro colocado estava uns 10 segundos na minha frente e o terceiro a uns 15 segundos atrás. É a pior condição de pilotagem que existe porque a falta de pressão leva à desconcentração e o cérebro começa a trair. Se eu chegasse em segundo sairia daquela etapa como líder do campeonato Brasileiro. Faltavam 10 voltas pra terminar a prova quando comecei a ver a sinalização do box informando que o terceiro colocado estava chegando.
Pronto, começou a seqüência de erros. A primeira foi me preocupar demais com o que estava acontecendo atrás de mim, quando eu deveria me concentrar apenas em ser rápido. Passei a pensar: “não posso errar, não posso errar” e parecia que a cada curva eu errava a entrada, a freada ou deixava a rotação do motor cair demais.
O terceiro colocado foi reduzindo cerca de um segundo e meio por volta e meu box sinalizava cada vez mais desesperados. Até que entrei na última volta com o piloto já encostado na minha roda traseira. Comecei a pensar “ele não vai me passar, ele não vai me passar”. Passou! Na última curva da última volta ele passou e eu fiquei em terceiro.
A postura correta seria pensar afirmativamente tipo: “Vou caprichar em cada curva, vou ficar na frente, vou me concentrar só na minha moto e na pilotagem” e esquecer o outro. No momento que fixei meu pensamento no outro piloto foi como se meu cérebro já tivesse formado a cena da ultrapassagem – que realmente eu “via” acontecer a cada curva.
Quando fiz um trabalho de preparação especial com o José Rubens D’Elia, especializado em pilotos, mudei essa postura e nunca mais fui traído pelo meu cérebro.
Na nossa vida, sobretudo no mundo corporativo, somos vítimas de nossas armadilhas. Quantas vezes você ligou para uma gatíssima e perguntou:
- Você não quer ir comigo no cinema?
Se ela responder “sim” estará afirmando a negativa. Ou seja, “Sim, eu NÃO quero ir com você no cinema!”.
O macho alfa assertivo liga e simplesmente diz:
- Estou passando na tua casa pra gente ir ao cinema!
Já participei de várias reuniões de negócios nas quais os reunidos repetiam:
- Não seria melhor investir em marketing?
E o diretor não sabe se responde “sim, não seria”; ou “não, seria”. Viu a confusão?
A língua portuguesa tem uma pegadinha que pouca gente percebe, mas que distorce as frases e transforma a afirmação em negação. Quer ver?
- Cair de moto não é nada agradável!
Essa frase significa: “cair de moto é agradável”.
Se analisarmos apenas o final da frase e trocarmos “nada agradável” por “desagradável”. A frase ficaria: “cair de moto não é desagradável”. Uma coisa que não é desagradável É agradável! Logo a frase se torna: “cair de moto é agradável”.
Isso porque ao colocarmos uma negativa somada à outra negativa a frase se torna positiva.
Outro exemplo: “esse papo não tem nada de verdade!” Na verdade essa frase coloca uma negativa (não) junto com outra negativa (nada) e o resultado é: “esse papo é verdadeiro”, porque “nada de verdade” = “mentira e “não ter mentira = ter verdade. O correto é afirmar “Esse papo tem nada de verdadeiro”, sem o advérbio de negação “não”.
Em outros idiomas essa mesma pegadinha é exaustivamente ensinada nas escolas, desde o primário. Mas em português eu raramente vejo pessoas que conhecem essa regra, inclusive nos grandes veículos de comunicação.
Esse fenômeno da negativa que afirma é uma característica do português falado no Brasil e reflete muito da personalidade do brasileiro em geral. Conheço várias pessoas que começam a responder uma frase qualquer com um “não” na frente, embora a resposta seja afirmativa! Em italiano é comum, sobretudo na região Toscana, as pessoas começarem a falar qualquer frase com “niente” (nada). Talvez nossa influência italiana (latim) especialmente em São Paulo, tenha importado essa característica.
Faça uma experiência e comece a agir, pensar e falar usando menos “nãos” ou “nadas” nas frases. Seu cérebro agradece!