Quinta-feira, 5 de Fevereiro de 2009

Medo & Coragem

A moto em pleno contra-esterço: o piloto está curtindo ou tem medo?

 

Ainda na linha "reciclagem de material" achei mais um artigo perdido em meus archivus. Além de editar acrescentei novas informações. Continuo dedicando-me à correria dos cursos de pilotagem deste final de semana (7 e 8 de fevereiro). Mas na segunda-feira tudo volta ao normal...

 

 

Medo & Coragem
O jornalista, amigo e professor de pilotagem, Expedito Marazzi, já falecido, costumava dizer:
 
– Quem diz não ter medo é louco ou é um tremendo mentiroso.
 
Sábias palavras. Nestes (muitos) anos que freqüento o motociclismo, seja como testador, como piloto, ou como um motociclista padrão, passei várias situações de medo, algumas vezes controlado, outras completamente desesperado. Mas qualquer um que perguntar a um piloto profissional se ele tem medo, a resposta quase sempre é um sonoro NÃO! Mentira da grossa.
 
O medo tem uma função muito importante de modo geral, porque é o que nos protege contra os perigos naturais. Para aqueles que dizem desconhecer o significado da palavra medo, aqui vai a definição: é a sensação de ansiedade diante do perigo.
 
Quando sentimos medo? O medo normal é decorrente de situações de risco, que provoca uma descarga de adrenalina na corrente sangüínea, faz os pêlos arrepiarem e os músculos das costas se enrijecem. Depois de um grande susto é comum sentir dores musculares decorrentes da descarga de adrenalina.
 
Para os pilotos, a adrenalina é bem vinda porque mantém o ritmo cardíaco acelerado, oxigena melhor o cérebro e produz respostas mais rápidas aos estímulos sensoriais. Existe até uma teoria sobre o vício. Alguns especialistas em comportamento humano justificam o prazer de arriscar a vida como um vício em adrenalina. O piloto simplesmente não consegue mais ficar muito tempo sem adrenalina. Bom, pelo menos é uma droga 100% natural e sem contra-indicações, produzida pelo próprio corpo e não por “pastores” bolivianos.
 
Costumo dizer que o medo é um aliado. Numa corrida, o piloto mantém o medo sob controle e só passa a entrar em pânico realmente quando a situação foge do seu domínio. Enquanto está na pista, freando, acelerando e fazendo curvas, o piloto tem noção de tudo e dificilmente sente medo. No momento que perde o controle da moto e sai reto numa curva, por exemplo, indo a 180 km/h em direção a um muro de concreto, o medo é absurdo, porque não dá para prever o desfecho do acidente. Aqueles décimos de segundo em que o piloto está no ar, voando de cabeça pro asfalto, tornam-se horas intermináveis, quando passa muita coisa pela cabeça.
 
Nas ruas e estradas o medo deve ser levado em conta. É o medo que vai fazer um motociclista respeitar seus próprios limites e não entrar na conversa de seus amigos que fazem curvas “no gás” numa estrada de mão dupla. Neste sentido, o medo pode ser traduzido como um respeito à sua vida e à dos outros.
 
O medo só torna-se um problema quando ele é compulsivo ou de origem inexplicável. Por exemplo, a síndrome do pânico. São pessoas traumatizadas que não conseguem nem chegar perto de uma moto, muito menos sair pilotando. Para estes casos, forçar a barra querendo enfrentar o problema sozinho pode ser mais perigoso. Existem especialistas em desinibição no trânsito, que conseguem “adestrar” o motociclista, eliminando os efeitos do trauma. Ou mesmo terapeutas que descobrem a origem do pânico e trabalham no sentido de eliminá-lo.
 
De qualquer forma, o medo não é um inimigo, desde que em grau aceitável. É mais ou menos como o ciúmes: um pouquinho não afeta o relacionamento, mas em grau exagerado torna a vida insuportável.
 
Prazer
Moto sempre foi sinônimo de prazer & dor. O medo vem da possibilidade diante da dor. Já o prazer é a satisfação pessoal em realizar algo de muito bom. Diante do prazer nosso organismo também secreta um hormônio parente da adrenalina: a endorfina!
 
A exemplo da adrenalina, a endorfina é conhecida como “a droga do prazer”, só que é fabricada pelo nosso corpo e não tem contra-indicações, embora também cause dependência. Aliás, a raiz de toda dependência, seja química, física ou amorosa é a liberação de endorfina quando sobre efeito do agente do prazer.
 
Por exemplo: fumar traz prazer ao fumante e ele libera endorfina. O tabagismo vem da necessidade de provocar essa descarga de endorfina e não exatamente da fumaça que a pessoa ingere.
 
Isso explica porque alguns pilotos simplesmente não conseguem parar de correr! Ficaram dependentes da carga de endorfina+adrenalina liberada a cada competição. Nas recentes 500 Milhas vi uma enorme quantidade de PVC (Piloto Véio de Competição) e até recebi convite para correr. Os veteranos foram muito bem, um deles até ganhou na classificação geral, mas eu encontrei na escalada a minha dose necessária de adrenalina+endorfina sem precisar gastar uma fortuna!
 
Escalar libera mais endorfina do que adrenalina. Foto: Luna
 
Clinicamente falando, a endorfina faz bem à saúde, desde que não cause a dependência. Por outro lado, a adrenalina que traz benefícios na hora de se preparar para uma ação física inesperada. A diferença crucial do ponto de vista clínico é que a adrenalina é um vaso constritor, ou seja, ela endurece e comprime os vasos sanquíneos para acelerar a circulação de sangue e enviar mais rapidamente força aos músculos. Enquanto a endorfina é um vaso dilatador, que provoca queda na pressão arterial e gera a sensação de bem-estar. Aquele soninho depois do sexo, por exemplo, é causado pela queda na pressão arterial depois da explosão de prazer. Viu, mulheres, nada de nos encher o saco com o tradicional: “Ah, mas você vai dormir justo agora?”.

 

publicado por motite às 17:19
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