Uma lenda sobre rodas: pilotar Harley é uma experiência de vida! (Divulgação)
Pilotar uma Harley é uma experiência que todo mundo merece uma vez na vida
Um dos meus maiores erros como jornalista especializado foi querer avaliar Harley-Davidson como uma moto. Eu e a maioria dos meus colegas de profissão. Não se avalia a moto Harley-Davidson, mas o ESTILO Harley-Davidson.
Ninguém acorda de manhã, vai pra rua para comprar uma moto e volta pra casa de Harley. Porque não é assim que funciona com essa marca. Harley-Davidson é uma das marcas mais icônicas do nosso tempo, um grande case de marketing mundial – como Coca-Cola – e a compra de uma Harley é considerada 100% emocional e passional. Exige tempo, estudo e, acima de tudo, desejo.
Paixão, você sabe, não se explica, se vive. A paixão é aquele sentimento que faz o mais elevado ser humano se tornar uma criança birrenta de seis anos. Se existisse explicação para paixão o mundo seria muito sem graça. Mas vou contar apenas – de novo – como foi meu primeiro contato com uma Harley.
Só pilotando para entender esse efeito que uma Harley provoca nas pessoas. (Foto:Tite)
Meu berçário no jornalismo foi na redação da revista Duas Rodas, sob as asas de Roberto Araújo e Josias Silveira. O Josias já tinha uma vasta história com motos e sempre que se falava em Harley-Davidson ele quase se ajoelhava em direção à Milwakee para rezar. Imagine o que foi a chegada da primeira Harley importada oficialmente, em 1991, durante o período de importações sobretaxadas, ainda mais um modelo inédito, recém lançado nos EUA.
Coube a mim a missão de pegar essa Harley 883 Sportster e levar para o Josias dar a benção e posar para as fotos, porque eu tinha muita cara de bebê para ser modelo de Harley. Assim que a moto foi ativada, montei e saí pelas ruas. Não precisou mais de um quarteirão pra eu pensar: “mas que merda de moto!”. Vibrava demais, a frente pesada, suspensão dura, escalonamento de marchas esquisito, um calor insano gerado pelo motor, pedaleiras esquisitas. Bom, eu estava acostumado com as motos japonesas “normais”. Mas não escrevi nada disso no texto, senão seria esquartejado em praça pública.
Foi só quando atingi a maturidade – que nos homens acontece lá pelos 55 anos – que entendi o real significado de ter uma Harley-Davidson. Não é como ter uma moto. É um objetivo de vida, uma conquista, a realização de um desejo que vem sendo alimentado por toda uma vida.
Som, GPS, indicador de marcha, pensa num painel completo. (Foto: Tite)
Essa ficha caiu quando comecei a dar aulas de pilotagem para iniciantes. E foi aparecendo pessoas – homens e mulheres – interessadas em aprender a pilotar para comprar a primeira moto de suas vidas. Qual? Harley-Davidson! Esse fenômeno eu já descrevi em várias colunas (veja os links no final) e não adianta tentar demover da ideia de comprar uma Harley como primeira moto, porque não tem argumento que funcione. Lembra da criança birrenta de seis anos?
Transatlântica
Já no final de 2020 recebi o convite da Harley do Brasil para experimentar a Ultra Limited RE, modelo super luxuoso, que mais se assemelha a um carro de duas rodas. Imensas malas laterais, um enorme baú, sistema de som que aumenta e diminui o volume conforme a velocidade, motor V-2 parcialmente arrefecido a líquido, já mais próximo da modernidade. Esqueça aquelas velhas Harleys que vibravam, hoje com tanto coxim colocado entre o motor e a sustentação do quadro só se sente alguma vibração quando a moto está parada em marcha lenta. Uma vez em movimento fica macia e lisa como qualquer modelo japonês, alemão ou inglês. Mas eu disse que não iria avaliar a moto em si, e sim a experiência! Vamos lá!
Toda vez que tenho de pilotar uma dessas gigantescas motos de mais de 300 kg fico meio preocupado. Vem aquela velha pergunta: “e se eu deixar ela cair?”. Felizmente nunca aconteceu comigo, mesmo assim pegar a marginal Pinheiros e encarar o trânsito de Harleyzona sempre gera ansiedade.
Primeiro eu quase fico maluco com tanto botão. Somando os dois punhos são 10 comandos para acionar controles eletrônicos de tração, funções do painel (com tela de cristal líquido), GPS, estação de rádio, compartilhamento de dados com celular, cruise control, aquecedor de manopla e mais um bocado de coisa. Menos o para-brisa, que é fixo e desvia bem o vento por coma da cabeça.
Tem dez comandos diferentes nos punhos. Na extremidade está o aquecedor de manopla. (Divulgação)
Pilotar essa moto no trânsito maluco de São Paulo foi uma aventura. Depois que me acostumei com a largura e peso consegui até mesmo circular pelos corredores entre os carros, dando calor nos motoboys! O segredo para controlar em baixa velocidade é esquecer o freio dianteiro, abusar da embreagem (dura!), abusar do freio traseiro e inclinar mais a moto do que o corpo.
Não diria que é a moto para uso diário para quem mora em uma grande metrópole. Mas pode ser usada naqueles dias que não dá a menor vontade de pegar o carro e ir para uma reunião de trabalho em grande estilo.
O melhor cenário para desfrutar dessa Harley é a estrada. Pode ser reta, com curvas, pista simples, pista dupla, mão única ou mão dupla, seja como for, desde que seja estrada. Escolhi um percurso com cardápio completo para avaliar vários itens: retonas enormes, curvas de todo tipo, para avaliar todos os aspectos.
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Road queen
Estrada larga, com quatro faixas, limite de velocidade de 120 km/h. Pensa numa tranquilidade. Dá pra esquecer da vida. O acionamento do controle de velocidade é super fácil e mantenho 110 km/h, tiro as mãos do guidão, olho a paisagem, tudo como se estivesse flutuando a um metro do asfalto. Sem barulho, só música da Rádio Kiss FM. Sem vibração. O calor das pernas pode ser reduzido abrindo duas “escotilhas” na frente das pernas. Também tem aletas que direcionam o ar para o corpo do piloto. Parece moto com ar condicionado.
Um dos grandes prazeres de uma Harley com esse motor de 1.868 cm3, com torque de mais de 16 Kgf.m a 3.000 RPM é a sensação de "motor sem fim". Ao contrário dos motores japoneses, a Harley não "pede" marcha o tempo todo. Algumas vezes eu cheguei a esquecer de engatar a sexta – que é tipo uma overdrive –, principalmente nas estradas ou avenidas. Felizmente o painel tem um indicador de marcha muito útil por sinal.
Chegou o trecho de curvas. Houve uma época que os pneus de Harley era horríveis. Não previam a possibilidade de pegar uma serra cheia de curvas. Parecia que dono de Harley só rodava na Rota 66, uma reta infinita. Felizmente isso ficou no passado e hoje os pneus têm perfil e ângulos de motos “normais”. Como a Harley exige que os pneus originais tenham a marca e o logotipo Harley-Davidson, nem todo fabricante de pneus concorda com essa exigência, mas mesmo assim produzem pneus que atendem todos os modelos. O original é inglês Dunlop.
Não há dúvidas de que o hábitat dessa moto são as estradas. (Divulgação)
Também já ficou no passado aquele papo de que Harley não faz curva. Claro que uma distância entre-eixos de um quarteirão não permite sassaricar como se estivesse numa naked ou esportiva, mas olha, se o piloto é bão e não tem dó daquelas plataformas raspando no asfalto até dá pra se divertir bastante. A melhor forma de fazer curva com uma Harley pesadona e de guidão largo é usar e abusar do contra-esterço. Mas no caso deste modelo específico as pernas ficam menos esticadas e dá até pra forçar os joelhos no tanque. Eu usei um truque que já tinha usado antes na outra mega Harley que avaliei, é colocar os pés nas pedaleiras do garupa, mas só quando estiver no trecho de curvas. E não vai ter recurso de usar o freio traseiro, claro.
Como eu sou um testador raiz, claro que peguei uma mega tempestade de verão, acompanhado do meu amigo Rodrigo Ferreira, numa BMW S 1000XR. Quando estávamos nos preparando para pegar a estrada de volta vimos que o céu estava negro no horizonte. Os dois, super espertos decidiram “vamos assim mesmo!”. Que arrependimento!
Além de potente esse motor é uma obra de arte! (Foto: Tite)
Pegamos a tempestade na parte mais reta da viagem, mas a visibilidade era baixa e entrei numa curva bem mais rápido do que deveria. Os mais de 300 kg da Harleyzona exigem um espaço maior de frenagem, sobretudo no piso molhado. Entrei na curva, a moto derrapou nas duas rodas, vi a cena de vários pedaços – inclusive meus – espalhando pelo asfalto, a cara do assessor de imprensa quando visse o estrago, mas... consegui uns 10 cm de asfalto limpo e consegui terminar a curva com as pernas bambas e uma cueca a menos no enxoval.
Com a estrada alagada eu acionei o controle de tração, embora o melhor controle de tração ainda seja o pavor de destruir qualquer coisa que custe mais de cem mil Reais. A parte boa de pegar chuva de Harley é oferecer um pouquinho mais de conforto. O amplo para-brisa protege do vento e dos pingos que parecem agulhas na pele. As pernas também ficam escondidas atrás dos alto-falantes. Além do conforto do aquecedor de manopla que já vai secando as luvas mesmo durante a chuva.
Quer mais skatabilidade do que isso? Dá pra levar DOIS skates na boa! (Fotos e skates: Tite)
Como sempre, viajar de Harley, dessas chamadas de super touring, é uma experiência que todo motociclista experiente deve ter uma vez na vida. É diferente de qualquer outra moto, as pessoas olham, perguntam, admiram. É como escrevi várias vezes: não se avalia a “moto” Harley, mas o “estilo de vida” Harley.
Quando algum piloto uma Harley-Davidson ela não tem muito que mostrar sobre a moto, mas tem muita a expor sobre seu estilo de vida.
Sim, antes de terminar o velho e bom teste de skatabilidade. Nota 10 com louvor! Consegui levar dois skates: um dentro do baú e outro fora na grelha. Excelente! Já o famoso IPM – Índice de Pegação de Mina – a nota também é dez, porque além de levar uma vida de rainha, dar uma volta na garupa da Harley é um sonho!
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NOTA: Enquanto eu preparava esse texto o grupo ABA, maior concessionário da Harley no Brasil, anunciou o descredenciamento da marca. Eles seguirão com a loja e atendimento aos donos de Harley, mas não serão mais uma concessionária. Circularam boatos de que a Harley deixaria o mercado brasileiro. Eu duvido! O Brasil é um dos maiores mercados da Harley no mundo. Não seriam ingênuos de perder tudo que construíram.
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