Segunda-feira, 4 de Agosto de 2008
(Eu, com 18 anos, alinhando o motor no chassi di kart)
Já escrevi várias vezes que o verdadeiro candidato a futuro piloto não pergunta “como faço para ser piloto”, ele vai nas corridas e descobre pelos próprios meios. Ser piloto precisa estar na corrente sangüínea como um vírus. Não conheço um piloto bem sucedido que tivesse “descoberto” o caminho das pedras enviando carta para revistas. Foi sempre um processo natural.
Quando perguntaram para o Pelé como ser um bom jogador de futebol ele respondeu: “você precisa ser jogador de futebol 24 horas por dia, dormir agarrado à bola, acordar e programar seu dia pensando na bola e não largar a bola por nada, nem pra comer!”.
Pois com piloto não é diferente. Um piloto de verdade respira competição 24 horas por dia. Precisa ser natural e não forçado por algum pai desesperado, nem empurrado por “padrinhos” por meio de patrocínios. São famosos os casos de pilotos fabricados, inclusive com plano de carreira programado e que resultaram em retumbantes fracassos.
O primeiro passo para ser piloto é conviver PESSOALMENTE com o mundo das competições. Era curioso notar que às segundas-feiras o número de leitores querendo ser piloto aumentava significativamente. Porque assistiam pela TV as competições no domingo e acordavam na segunda-feira com vontade de ser piloto!
Não é assim que a coisa funciona. Por isso vou dar umas dicas bem básicas para economizar tempo, dinheiro e frustrações.
1) Compareça às competições: ninguém vira jogador de futebol ou lutador de boxe apenas vendo pela televisão! Descubra o calendário de competições e veja quando terá corrida na (ou perto da) sua cidade. Nos treinos livres de sexta-feira é permitido entrar nos boxes. Vá até a pista e acompanhe o trabalho das equipes. Apresente-se como voluntário para ajudar em qualquer atividade, desde lavador de peça até cronometrista; essa é uma forma honesta de se conseguir uma credencial. Faça qualquer coisa que não atrapalhe e seja solícito para qualquer situação. Se precisar de alguém para buscar pão com mortadela na padaria seja o primeiro a se oferecer!
Na minha adolescência – antes de ser piloto – eu vivia nos boxes de Interlagos fazendo qualquer coisa para ajudar uma equipe. Fiz abastecimento, cronometragem, misturava gasolina com óleo 2T, emprestava ferramenta, inventava gambiarra, buscava comida, qualquer coisa só para ver de perto como funcionava a estrutura de uma competição. Quando o piloto entrava na pista era como seu EU estivesse naquele macacão pilotando aquela moto. Essa sensação ninguém tira de mim e é inexplicável.
Lembro de ter passado mais de 30 horas acordado para ajudar uma equipe do meu bairro (Moema) nas 24 horas de Interlagos. Leia essa história “Tempos de Glória” na página 90 do meu livro “O Mundo É Uma Roda”. Essa convivência com as competições é o primeiro passo para ser piloto.
(Já com 27 anos, preparando em casa uma moto de enduro)
2) Conheça o veículo – seja qual for sua paixão, kart, carro, moto, barco etc, a regra número um é estudar o veículo. No meu caso essa é uma situação quase congênita, pois meu avô materno, Seu Renato, sempre adorou mexer em carros e motos. Com 10 anos de idade eu já abria o capô do carro do meu pai e ficava olhando aquele motor tentando desvendar o que cada peça fazia. Finalmente com 14 anos fui cursar colegial técnico em mecânica e aí sim desvendei o mundo dos motores, bielas, carburadores, platinado (isso é antigo!), pistão, cabeçote, válvulas etc etc!
Todo piloto precisa ser um pouco mecânico. A maior lembrança que tenho do Ayrton Senna na época do kart era vê-lo sempre no meio dos mecânicos fazendo ele mesmo as alterações em chassi, transmissão, carburação e até limpando o kart. Lembra do conselho do Pelé? Ayrton respirava corrida 24 horas por dia e até nas poucas vezes em que tentei entabular uma conversa fora desse tema ele fazia questão de voltar para as corridas. Talvez isso explique o fato de ele ter se tornado o Pelé do automobilismo.
(Ayrton Senna era piloto e mecânico 24 horas por dia. Foto:Tite)
Por isso acho que o curso de mecânica é um dos primeiros passos de quem quer ser piloto. Se não quiser fazer curso (são poucos no Brasil) sempre existe a opção de se oferecer como ajudante em uma oficina. Também fiz isso no começo e passava horas dentro de oficinas, sem ganhar nada, só pra entender tudo e depois tentar fazer a mesma coisa na minha moto – o que invariavelmente terminava em tragédia! Ah, estourei alguns motores até entender que tudo na mecânica tem limites!
Por hoje é só! A série “Vida Corrida” continua em ocasião extra-ordinária qualquer dia desses!
(Minha primeira paixão: meu kart!)
De Adalberto a 4 de Agosto de 2008
Mais um otimo texto, parabens.
Meu conhecimento em mecanica eh bem teorico mesmo, mas preciso botar em pratica...
De Angelo Rossini a 4 de Agosto de 2008
O problema é que no Brasil quase não tem campeonatos! Pior ! Quase não tem circuitos. É praticamente imposivel fazer um campeonato paulista de motovelocidade pq não tem onde correr. E correr o brasileiro fica caro pra caramba ! Imagina ter que levar, moto, peças, mecânico, estrutura, etc pra tudo que é canto do país. Não tem campeonatos de base no Brasil ! Ou o cara entra direto no brasileiro ou não corre !
Se tivesse uns 3 circuitos no estado de SP e um campeonato paulista com 6 etapas (2 por circuito), com duas categorias (600 e 1000) correndo com motos originais de fábrica onde o cara possam ir e voltar pra casa com a moto e não precise de um mecânico (moto original não quebra nem precisa regular). Ou seja, custo baixo! Imagina o sucesso que seria ! Morungaba ia ficar as moscas nos finais de semana de corrida !!
De
motite a 5 de Agosto de 2008
Ângelo
A idéia dessas colunas é ensinar a como se tornar piloto e não discutir o motociclismo nacional. Além disso, vc está pensando SÒ em SP, mas no interior e em outros estados existem sim campeonatos regionais, inclusive de 125cc em kartódromos e até em circuitos de rua.
O problema de SP é isolado e não representa o motociclismo brasileiro. Isso é um trabalho em conjunto entre Federação, Motoclubes e a Prefeitura de SP que aluga o autódromo para eventos extra-motorizados e não deixa datas sobrando para as competições de moto.
O campeonato paulista já foi o mais forte do Brasil, mas deixaram os aptrocinadores tão p*** da vida que queimaram o motociclismo na cidade. Muito tubarão para pouca carne!
Conheço empresas que já investiram no motociclismo e não querem nunca mais ouvir falar de moto! Em SP tem muito cacique dando ordem e pouco índio para obedecer.
De Angelo Rossini a 5 de Agosto de 2008
Foi mal ter saido do tema da coluna. É que já procurei bastante sobre como participar de uma corrida de moto e fiquei chocado com os custos e com a falta de opções. Realmente só pensei em São Paulo pq é onde deveria ter mais campeonatos e é onde tem menos...... e teoricamente é simples organizar um campeonato. Eu sei que em vários lugares do Brasil tem campeonatos menores. Um tempo atraz me falaram que tá tendo um campeonato no Paraná com motos de rua e custos baixos, pena ser longe pra mim.
De Paulo Ricardo a 5 de Agosto de 2008
Angelo... tinha que tecategoria 125cc tbm poxa, se não eu ficaria de fora... kkkkkk
Grande tite...ótimo texto
De felipe meirelles a 15 de Março de 2010
olá, sou felipe meirelles e sou piloto de kart em bagé rs , não concordo muito com a sua tése de dizer que para ser um piloto proficional não precisa perguntar para alguem como fasso , sempre quiz ser um piloto proficional mas devido as condições financeiras nunca pude, e sei que tenho talento pois iniciei a correr faz 2 anos de kart e tenho 31 anos, e no ano passado ja fui campeão aqui na categoria 180kilos com motor rd 135cc nesse ano ja na primeira corrida eu venci estou na frente no campeonato mas sei que sera quaze impossivel eu ter uma oportunidade de fazer um teste por exemplo num stok-car , um exemplo que vou dar é o seguite : aqui paresse que o mundo foi esquecido pelo brasil se quizer fazer algum contato meu email é felipe mei@hotmail.com agradesso a oportunidade de poder falar...
De Leonardo a 19 de Setembro de 2011
Olá, tenho 15 anosc e corro de kart todos os finais de semana, ja vi competiçoes a minha paixão é o automobilismo, estou tentando ingressar na carreira, comprando meu kart e me inscrivendo em competições mais disputadas ( compito na CPKA, um associação q organiza um campeonato de 11 etapas ao ano de kart de aluguel) tenho meu capacete , macacao etc.. mas necessito de ajuda financeira para a manutenção do kart, mecanico, etc como eu arrumo patrocinio sendo um piloto amador q não tem um historico nas corridas mais disputadas, ( como o paulista e o brasileiro de kart ) e sou de Moema tambem! hahah valeu
De Jordan de Alexandre a 25 de Novembro de 2011
Meu avô e ra mecânico, todos os meu tios e primos são carreteiros ou mecânicos. Cresci dentro de oficinas e ferro-velhos. Tenho uma atração e paixão pelos motores que nem consigo explicar. Porém, como não sou de família abastada, nem tenho "padrinhos", minha pista de corrida sempre foi a BR, desde os meus 14 anos quando apredi a dirigir. Quem sabe um dia, quando eu me chocar com outro carro ou qualquer outro obstáculo, meu safety car entre na pista e eu for socorrido por uma ambulância, tendo a por meus últimos instantes a sensação de ser piloto de verdade. QUEM SABE um dia, alguém além dos "barões" tenha oportunidades de realizar seus sonhos ou de seus filhos? Por enquanto, proletário e pista, ainda não combinam.($...)
Comentar post