Sexta-feira, 11 de Novembro de 2011

Postura é tudo - Segunda parte

Sob medida

 

Veja como a postura pode ajudar a pilotar melhor

 

Na coluna passada nós apresentamos a postura correta para pilotar motos utilitárias, na faixa de 125 a 150 cc para trabalho. Agora chegou a vez de mostrar como se posicionar em duas categorias de motos que se assemelham em alguns aspectos: esportivas e nakeds. As nakeds (ou nuas, em inglês) nada mais são do que motos esportivas, com motor menos potente, suspensões mais “macias” e o guidão colocado sobre a mesa superior. Justamente o guidão será o maior responsável pela principal diferença na postura.

 

Começando pela esportiva. Certamente você já notou que uma moto esportiva não tem um guidão. Na verdade são dois semi-guidões apontados para baixo e que ficam presos diretamente na parte superior da suspensão dianteira. Em alguns casos por cima da mesa superior, em outros por baixo. Mas tente imaginar que o dono de uma esportiva pilota praticamente com a mão na suspensão dianteira.

 

(Na moto esportiva a posição do piloto descreve um "Z" e isso alivia as impactos na coluna)

 

Essa característica é proposital para deixar o tronco mais baixo possível e manter o piloto bem inclinado para a frente. Assim o tórax não oferece tanta resistência ao vento. Mas esta postura tem alguns efeitos colaterais.

 

Primeiro saiba que as motos esportivas modernas são projetadas para distribuir 51% do peso na dianteira. Além disso a traseira é levemente mais alta, praticamente jogando o piloto para frente. Para complicar, parte do trabalho da suspensão dianteira se transfere para o piloto. Como conseqüência a tendência é o motociclista se apoiar nas mãos, forçando o punho e o ante-braço. Com o peso do corpo jogando para baixo e a suspensão mandando trancos para a cima, depois de algumas horas de pilotagem as dores musculares minam a energia e atenção do motociclista.

 

Para aliviar o esforço nas mãos, primeiro o motociclista deve manter os braços sempre com um pequeno ângulo nos cotovelos e nunca totalmente esticado. Fazendo assim, parte do impacto que vem da suspensão é amortecido pelos cotovelos. Mas o que vai realmente aliviar é o uso das pernas.

 

Então vamos rever toda a postura. Os braços se mantêm em ângulo, os punhos acompanham a reta descrita pelos ante-braços e os ombros relaxados. Os pés devem apoiar nas pedaleiras apenas com as pontas da bota e os joelhos forçando o tanque. Ao “abraçar” o tanque com as pernas o corpo fica preso pela cintura e o motociclista pode relaxar o esforço nas mãos e punhos. Em suma, quem deve fazer o trabalho pesado de manter o piloto preso à moto são as pernas. E aproveite porque as pernas têm músculos mais fortes, elásticos e resistentes do que os braços.

 

Mesmo nas frenagens, o piloto deve se segurar no tanque pelas pernas e pelo abdome, aliviando ao máximo a transferência de massa para os punhos. Dessa forma a suspensão dianteira fica livre para trabalhar em toda a extensão e compressão. Quando o motociclista se apóia demais nos braços e punhos, sem perceber, ele está “travando” a suspensão dianteira, limitando o curso. Ao passar em buraco ou lombada a frente reage como se alguém tivesse “endurecido” os amortecedores.

 

Idem à traseira. Quanto mais o piloto alivia a pressão sobre o banco e transfere sua massa para as pedaleiras, melhor para a suspensão traseira. Nem precisa fazer força. Basta manter sempre as pontas dos pés apoiadas nas pedaleiras, que já são bem recuadas, para que parte do seu peso seja transferido para os pés. Em caso de buraco ou lombada, basta apoiar mais nas pedaleiras e levantar um pouquinho o traseiro do banco para dar uma bela ajuda à suspensão traseira.

 

Claro que as pessoas mais altas terão dificuldade para manter as pontas dos pés nas pedaleiras, afinal as motos esportivas foram projetadas para pilotos na faixa de 1.75m. Existem no mercado algumas pedaleiras reguláveis que ajudam a encontrar a melhor postura para quem está muito fora dessa medida, para mais ou para menos. A tendência é relaxar e deixar a ponta do pé escorregar, prendendo-se pelo calcanhar. Tudo bem nos trechos de reta, mas quando chegar as curvas é melhor recolher o “trem de pouso” e deixar os pés sempre acima da linha das pedaleiras.

 

Também evite repousar a ponta dos pés sobre as alavancas de freio e câmbio. Sem perceber, você pode acionar o freio por longos quilômetros. Isso gera superaquecimento e quando precisar do freio traseiro... não acha nada!

 

Já nas nakeds é tudo muito parecido, com a diferença que o guidão – de verdade – é apoiado em mancais que são colocados sobre a mesa superior. Ora, o guidão nada mais é do que uma alavanca, que obedece ao princípio universal de toda alavanca: quanto maior, menor a força aplicada para deslocar a massa. Além disso fica posicionado mais alto em relação às esportivas.

 

(Nas nakeds o piloto fica quase na mesma postura da esportiva, com as pernas recuadas)

 

A posição das mãos e braços continuam iguais: braços em ângulo e punhos alinhados. Mas as mãos ficam relaxadas sobre as manoplas e não deixe os dedos apoiados nas manetes de freio e embreagem.

 

Já as pernas não precisam agarrar o tanque com tanta força, porque o corpo fica mais ereto, sem ser arremessado para a frente como nas esportivas. Mas nas frenagens é sempre bom “abraçar” o tanque com as pernas como forma de evitar o deslocamento para a frente. Os pés também devem ficar sempre acima da linha das pedaleiras e longe dos pedais de freio e câmbio.

 

Preste sempre atenção na postura geral. Em todos os tipos de motos o tórax deve sempre ficar levemente inclinado para a frente, de forma a descarregar os esforços na coluna. Se perceber que os ombros estão contraídos, relaxe. Com nossa experiência de mais de 30 anos como instrutor, sabemos identificar quando um motociclista não está à vontade sobre a moto. O primeiro sinal são os ombros contraídos, encolhidos, deixando o motociclista com aspecto de tartaruga escondida no casco. A gente quase não vê o pescoço! O segredo da pilotagem é manter a mente vigilante, mas o corpo relaxado.

 

Quando o motociclista pilota tenso provoca cansaço prematuro e as dores decorrentes do cansaço levam ao déficit de atenção. O motociclista passa a dar mais atenção às dores do que ao que se passa à sua volta. Além de algumas lesões por esforço ou pancada, como o popular “bico de papagaio” na coluna, o motociclista pode simplesmente “desligar” e levar um baita susto!

 

Relaxe e aproveite

 

As motos das categorias custom, cruiser, trail e big trail são feitas para relaxar e curtir a viagem

 

Neste terceiro artigo da série “postura” vamos mostrar três categorias de motos que são sinônimos de estrada e lazer: as custom, com a grande distância entre-eixos, guidões largos e abertos e pedaleiras avançadas; as cruisers, que são aquelas enormes, com bancos que parecem poltronas e até sistema de som, e as de uso misto cidade-campo que enfrentam qualquer terreno com muita versatilidade.

 

Começando pelas custom. Em primeiro lugar é preciso derrubar um mito do senso-comum. Muita gente acredita – e a propaganda reforça – que motos custom são as mais confortáveis. Não é bem assim. Por ter as pedaleiras muito avançadas (em relação ao centro da moto) o piloto precisa manter as pernas quase esticadas. Com isso as pernas deixam de funcionar como auxiliares no amortecimento e boa parte do impacto na roda traseira é transferida para o piloto. Nessa transferência, a resultante cai bem na coluna do motociclista, provocando pequenos choques nos discos intervertebrais, que são uma espécie de “coxins” colocados entre as vértebras. Depois de algumas horas nessa posição pode levar a irritação desses discos e a consequente dor na coluna.

 

(A linha amarela representa a postura do piloto em uma custom. Note o ângulo quase reto entre a coluna e as pernas)

 

Essa posição é ainda mais agravada quando o dono de custom troca o guidão original por um bem alto, apelidado de “sovacão”, porque além de perder o auxílio das pernas no amortecimento, também perde a flexão dos cotovelos que é outro aliado importante para absorver impactos.

 

Mas agora você já comprou uma custom, então veja como se posicionar e agir para reduzir esse efeito colateral. Os braços devem continuar sempre em ângulo, nunca totalmente esticados, com os cotovelos levemente dobrados. Os punhos também seguem a linha das mãos.

 

As pernas não têm muita alternativa, elas ficarão quase esticadas, dependendo da distância das pedaleiras e do tamanho do motociclista. Só procure manter os joelhos colados no tanque porque com a ação do vento as pernas são empurradas para fora e forçam a musculatura da virilha. Se ficarem bem perto do tanque o ar desvia para as laterais.

 

A ação do vento também é responsável pela única atenção especial com os pés. Você já deve ter reparado que algumas motos custom têm pedaleiras normais e outras têm uma plataforma. A função da plataforma não é estética. Ela serve para impedir que o vento, em alta velocidade, force os pés para fora das pedaleiras. Motos custom de alta potência, que passam de 140 km/h deveriam usar a plataforma para melhorar o conforto. Com as pedaleiras comuns o vento força a sola da bota e o motociclista é obrigado a empurrar o pé contra a pedaleira. Isso gera cansaço, que causa o já comentado déficit de atenção.

 

Outra dica importante para os pés é observar o posicionamento nas curvas. Como as motos custom são muito baixas em relação ao solo, as pedaleiras raspam com facilidade no asfalto. Se o calcanhar ficar muito para baixo, fora da pedaleira, pode raspar no asfalto e arrancar o pé da pedaleira. Nesse caso a plataforma também ajuda. E, ao contrário das outras categorias de motos, nas custom você pode ficar com a ponta do pé sobre o pedal do freio, porque a inclinação da canela (do motociclista) impede que fique pressionando o pedal sem querer.

 

Alguns acessórios ajudam a melhorar o conforto nas custom. Além da já citada plataforma, o pára-brisa funciona muito bem nas viagens longas. Nem toda custom combina com esse equipamento, mas se pensar no quanto aumenta o conforto é quase inevitável. O apoio para a garupa, chamado de sissy-bar é outro acessório que melhora muito a vida de quem vai atrás!

 

As categorias trail e big trail se assemelham na ciclística: pedaleiras recuadas e guidão largo. Uma das características que faz das motos de uso misto muito confortáveis é a distância do banco às pedaleiras. Isso permite pilotar com as penas menos dobradas forçando menos os músculos das coxas e panturrilha. No entanto o banco é levemente inclinado para a frente, empurrando a cintura em direção ao tanque, especialmente nas motos abaixo de 600cc. É preciso ficar esperto para não escorregar demais e ficar sempre montado na parte mais fina do banco.

 

(Nas motos de uso misto os pés também ficam recuados, mas a coluna se mantém mais ereta)

 

Outra característica que faz das motos de uso misto muito confortáveis é o grande curso das suspensões que reduzem grande parte do impacto na coluna do piloto. Além do banco com uma camada bem grossa de espuma. Nestas motos o motociclista fica mais ereto e precisa lembrar de inclinar levemente o tórax para não sobrecarregar demais os já citados discos intervertebrais. Alguns modelos contam com um pequeno pára-brisa que ajuda a desviar o vento, mas se tiver opção por um maior também melhora bastante.

 

Por fim, as motos cruisers. Bom, essas motos são verdadeiras poltronas sobre rodas. Não existe nada mais confortável em duas rodas e ouso dizer mais até do que muitos carros. Como nem tudo é perfeito, a grande dificuldade dessas motos que passam de 300 kg de peso é manobrá-las em baixa velocidade ou, pior ainda, desligadas. Alguns modelos contam com marcha a ré. E têm até piloto automático, que na verdade é apenas uma espécie de trava eletrônica no acelerador, aliviando o esforço na mão direita.

 

(Bom, nas cruisers o piloto se posiciona como se estivesse na poltrona da sala: conforto absoluto!)

 

Seja qual for a sua moto, uma outra dica esperta é usar alguns equipamentos que aliviam bastante o esforço da coluna. Um deles é a cinta abdominal integrada ao protetor de coluna. Essa cinta mantém a coluna mais ereta, mesmo quando o corpo relaxa. Ela tem ainda a função de proteger a coluna em caso de impacto.

 

Outro acessório é uma descoberta bem antiga e que tem me rendido horas de alívio sobre a moto. São as almofadas de gel feitas para cadeirantes. Pacientes que precisam usar cadeira de rodas por período prolongado usam uma almofada para aliviar a pressão sobre os glúteos e permitir a circulação do sangue na região. Essa almofada pode ser adquirida nas lojas especializadas em produtos ortopédicos (que geralmente ficam perto de hospitais), mas já existem modelos feitos exclusivamente para motos. Ela é fixada no banco por meio de uma fita de velcro. Além de permitir a melhor circulação do sangue, essa almofada reduz a vibração primária na coluna e ainda ajuda a arrefecer a região dos glúteos nos dias quentes. Conheci motociclistas no nordeste que chegavam a guardar a almofada na geladeira!!!

 

Preste atenção principalmente ao seu corpo. Antes de pegar a estrada por um logo período convém fazer algum alongamento nas pernas, coluna e braços. Durante a viagem, caso sentir algum sinal de sonolência, dor ou cansaço pare, se alimente e repita alguns dos alongamentos. O simples ato de se espreguiçar já é um bom alongamento. E vale aquela máxima regra da segurança: cansaço provoca falta de atenção!

 

 

publicado por motite às 13:18
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