Quinta-feira, 14 de Julho de 2011

Neuro seguro

 (Cérebro: sabendo usar não vai faltar nem espalhar pelo asfalto...)

Aprenda a dominar o cérebro para pilotar melhor

A cada dia são mais evidentes e aceitos os estudos que envolvem a neurociência e programação neurolingüística, disciplinas que ensinam a controlar o pensamento de forma a obter melhores resultados no estudo, no trabalho, no esporte e na vida em geral. Um dos preceitos da neurolinguística é que nascemos com o cérebro formatado e ao longo da vida vamos inserindo dados. Até aqui, sem muita novidade.

O que pode fazer a diferença na vida é a forma como imputamos os dados na nossa mente. Mais ainda, a forma como construímos os comandos no cérebro para executar as ações. Uma das grandes dificuldades que as pessoas têm para emagrecer está na forma como mandamos essa informação para o cérebro. Se um nutricionista disser “a partir de hoje você não poderá mais comer tortas de chocolate, feijoada, batata frita nem peles crocantes de frango, seu cérebro construirá as imagens de torta de chocolate, feijoada, batata frita, etc. A forma correta é recomendar alimentação balanceada, com frutas, legumes e cereais. As imagens podem ser insossas, mas o resultado é mais eficiente.

Ainda no tema “regime” um erro comum é afirmar “preciso perder peso”. Nosso cérebro foi adestrado desde pequeno a considerar as perdas como algo ruim, que traz dor e a idéia de perder qualquer coisa, mesmo que seja peso, não combina com o que ele aprendeu. Por isso as pessoas boicotam a si mesmas na hora de “perder” peso. É o cérebro que não nos deixa perder...

Outro exemplo. O brasileiro tem uma forma estranha de construir certas frases. Ao convidar alguém para a balada, por exemplo, é normal ouvir o seguinte pedido: “oi, você não quer sair pra jantar sexta-feira?”. Se o ouvinte do outro lado da linha responder “sim” estará afirmando, na verdade, “sim, eu não quero”, porque a pergunta foi construída na negativa e não na afirmativa. Para evitar o fora, o ideal é ligar já na afirmativa: “vamos jantar sexta-feira?” Ou se quiser ser mais direto ainda, simplesmente diga: “passo na sua casa às 8:00 da noite!” e pronto!

Mais um caso. O português falado no Brasil pode conspirar contra a sua real vontade. Basta analisar que “pois não” quer dizer sim e “ora, pois sim” quer dizer não! Além disso existe a construção de frase na dupla negativa, que causa o efeito contrário. Quer ver? É comum ouvir a frase “cair de moto não é nada agradável”. Se substituirmos o “nada agradável” por “desagradável” a frase fica assim: “cair de moto não é desagradável”. Se o que não é desagradável é agradável, a frase virou do avesso e ficou assim “cair de moto é agradável!”. O correto em qualquer idioma é afirmar “cair de moto é nada agradável”, sem o advérbio de negação no meio! Da mesma forma não se diz “não estou nem aí pra segurança”, porque são dois advérbios de negação (nem e não) na mesma frase e a regra matemática vale também para gramática: menos com menos dá mais! O correto é “estou nem aí para esse assunto”...

O que isso tem a ver com a pilotagem de moto? Tudo! Porque são pelos comandos enviados ao cérebro que a decisão pode resultar em uma saída ou em uma caída!

O principal conspirador do nosso cérebro são os olhos. Não adianta tentar desviar de um obstáculo se você fixar o olhar diretamente nele. Como nós temos essa tradição de construir as ações na negativa o seu cérebro acaba sendo traído. Basta pensar “não posso acertar o buraco” para que seus olhos se fixem no buraco e esqueçam do real desvio ao buraco. A atitude correta é pensar “preciso desviar” e esquecer da existência do buraco.

Essa tapeação com nosso cérebro é mais comum de observar nas crianças durante os primeiros sete anos. Basta falar para ela “não mexe no vaso chinês de 400 anos da sua tia” para que a obra de arte acabe em pedacinhos. A criança não consegue enxergar uma “não ação”. Primeiro ela precisa construir a ação para depois negá-la. Para evitar o prejuízo a postura correta é “fique longe deste vaso”. Se a ordem for acompanhada das devidas ameaças físicas pode dar melhor resultado, claro!

No curso SpeedMaster® de pilotagem nós realizamos um exercício muito simples, no qual é colocado um cone no meio de uma enorme reta e o aluno só precisa desviar. Depois de ver o cone voar várias vezes, eu chamo todo mundo e recomendo “Olhem para onde querem passar, esqueçam o cone”,  aí todo mundo passa sem problema.

 

A forma como conversamos com nosso cérebro pode influenciar ações determinantes como frenagem e a mais cerebral das manobras que é o contra-esterço. No caso da frenagem, o erro mais comum é acionar o freio dianteiro violentamente no meio da curva. Tudo porque, diante do pânico, nosso cérebro congela na última ação. Isso é herança dos nossos antepassados primatas.

Conhece aquela frase “macaco velho não bota mão em cumbuca”? Ela vem da forma como alguns caçadores faziam armadilhas para pegar os macacos vivos. Eles prendiam uma cabaça a uma corrente, com um orifício grande o bastante para entrar a mão aberta do macaco, mas fechado o suficiente para impedir que a mão saísse com o punho cerrado. Então o caçador colocava um punhado de comida dentro da cabaça. O macaco metia a mão lá dentro, pegava a comida e ficava preso pelo punho. Como o cérebro, diante do pânico, congelou na última ação – pegar a comida – o macaco não se dava conta que bastava abrir a mão para fugir. Quando ele conseguia soltar a comida e escapar nunca mais metia a mão em cumbuca!

Esta postura está na nossa herança genética. Quando o motociclista aciona os freios dianteiro e traseiro simultaneamente e a roda traseira começa a derrapar, basta soltar o pé do pedal do freio traseiro que tudo volta ao controle sozinho, pela ação da Física. Mas o motociclista novato, diante do pânico, congela a última ação e continua derrapando até cair! No caso do freio dianteiro, o erro é acioná-lo no meio da curva, provocando o stand-up que faz a moto ficar em pé e sair reto. Bastava soltar o freio dianteiro e acionar o traseiro que tudo terminaria bem. Em suma, basta enviar o comando certo para o cérebro desfazer a última ação.

Já no caso do contra-esterço... bom, como é muito mais complexo vamos deixar para a próxima coluna senão vamos fritar nossos neurônios!

 

 

publicado por motite às 14:54
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10 comentários:
De Carlos CC a 14 de Julho de 2011
na foto, parece umas válvulas de moto encostadas no cérebro. hahhhaa.

pior, (err digo melhor) que funciona este esquema de mirar pra onde vc quer seguir, mas eu não consigo acostumar-me. hehe
De Thiago a 14 de Julho de 2011
Belo!! Tite, este video acho que deixa claro o que vc disse no texto.

http://youtu.be/2cvNI2YmGXg

Achei a reação do piloto (e que piloto) fantástica e evitou, mesmo na grama, um acidente do cacete!!!
De Jorge forny a 14 de Julho de 2011
Excelente post, já uso essa "programação" na pilotagem a muito tempo. Aqui na área tem um quebra-molas com um cantinho bem estreito que ninguém consegue passar, só eu, pq fico olhando para aquela valetinha que cabe muito mal o pneu da frente e passo! Contra-esterço também, vc tem que pensar em girar o guidão ao contrário da curva, empurrar o tanque com o joelho e pisar firme na pedaleira do interior da curva, e tudo isso em milésimos de segundo! As pedaleiras da Falcon já estão gastas... Mas é o que vc falou, tudo é questão de treino.
Abração
De Roger a 15 de Julho de 2011
Já tinha lido algo do Tite a esse respeito anteriormente, que me ajudou na idéia de criar um traçado mental (uma linha vermelha) ao longo da pista. Isto me ajuda a fazer o traçado correto, focar longe na pista e "desviar" a linha ( e os olhos) para fora de buracos.
Gostaria de saber se profissionalmente se usa algo parecido

De qualquer modo, não é fácil "reprogramar" o próprio cérebro, para mudar a "ordem" de olhar bem no meio do buraco ou de usar freio dianteiro em curva, é preciso muito condicionamento.
Basicamente é necessário repetir, repetir, repetir e repetir até que as reações se tornem conscientes mas automáticas.

De elias a 15 de Julho de 2011
Já tinha lido sobre isso a muito tempo, mas você vai esquecendo, não é mesmo? Espero ansioso o texto sobre contra-esterço, embora já tenha tentado na prática, mas acho muito radical, na curva além de pendular, fazer o contra-estorço, penso que é um exagero!
De Roger a 21 de Julho de 2011
Se entendi bem tudo o que o Tite escreveu sobre o assunto e conheço um pouco de física, o contra esterço e o pendulo tem objetivos bem diferentes:

- o pendulo é feito para que junto ao deitar da moto, contraponha a força centrífuga. Usar o pendulo para deitar ou controlar a moto não é correto, pois ele não dá o controle preciso nem a possibilidade de uma reação rápida. Na realidade, com os perfis atuais de pneu e em uma tocada "normal", dá pra deitar bastante e anular toda a força sem precisar pendular.

- o contra esterço se usa para deitar ou levantar e assim direcionar a moto de forma precisa. Se tiver no meio de uma curva fazendo pendulo e tiver um burcao no caminho, somente com o contra esterço vc consegue mudar a trajetória e desviar.

Tite, diz aí se estou certo ...
De motite a 27 de Julho de 2011
mahomenos. O deslocamento do corpo é necessário para vencer a inércia que quer manter a moto em linha reta. No fundo seria o seguinte: as pernas fazem a força bruta, mas as mãos fazem o ajuste fino por meio do contra-esterço.
De Daniel a 26 de Julho de 2011
Tite estou montando uma motinho de pista 250cc. Qual conselho vc daria para um iniciante???
abs
De motite a 27 de Julho de 2011
Daniel, leia este post: http://motite.blogs.sapo.pt/9930.html

tá tudo lá!
De Bruno Ribeiro a 29 de Julho de 2011
Boa tarde, Tite, beleza?

Então, você diz que o contra-esterço é a mais cerebral das manobras, mais que a frenagem...
Eu gostaria de saber porquê, pois acho q frear exige muito mais do cérebro que contra-esterçar...
Tô no aguardo do próximo artigo sobre isso!

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