Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2011

Porque quer

"Oi eu vou ali morrer e já volto..."

 

De uns tempos pra cá me transformei naquilo que os jornalistas chamam de “fonte”, um sujeito que tem as respostas para determinadas perguntas. Minha especialidade com segurança de motociclista se tornou uma fonte para colegas da imprensa. Dias atrás recebi a ligação de uma jornalista de um grande veículo de comunicação (prefiro omitir nomes). A pergunta veio em uma semana especialmente dramática para os paulistanos, porque foram dois acidentes fatais por dia, engrossando as estatísticas macabras. Ela perguntou:

 

- Por que morrem tantos motociclistas? (ou algo parecido com isso)

 

Antes de responder pensei naquelas centenas de vezes que discursei sobre a educação de trânsito, fiscalização, faixas segregadas, falta de formação, baixo nível de escolaridade das vítimas etc etc e mais etc!

 

Só que cansei de divagar sobre esse assunto e dei a resposta que sempre quis, mas nunca tive coragem:

 

- Morrem porque querem!

 

Diante do susto natural da jornalista, repeti a resposta e ela reforçou que seria uma matéria publicada, se eu não queria rever a resposta. Respondi que não, que poderia deixar inclusive entre parênteses, citando meu nome como fonte, tipo:

 

O jornalista e instrutor Geraldo Simões, 51 anos, afirmou à reportagem que os motociclistas de São Paulo morrem “porque querem”.

 

Bom, a matéria saiu sem a minha declaração... porque a coragem que tive para assumir aquilo que autoridades tentam disfarçar, a colega não teve para publicar. Assim, as argumentações foram todas aquelas que todo mundo sabe na ponta da língua, mas que são todas um enorme disfarce para a mais óbvia das realidades: estes motociclistas morrem porque querem e ponto final.

 

Claro que há os acidentes, que devem ser classificados como tal quando nenhum dos agentes envolvidos teve a intenção de provocar. Mas acidentes são raros em São Paulo. O mais comum é a mais elementar das causas: a negligência, associada à prepotência, atributos de personalidade que imperam nos motoristas e motociclistas de SP. Se há negligência está clara a intenção por trás da ação.

 

Ah, mas o motorista mudou de faixa sem olhar! Sim, mas o motociclista estava rodando a 90 km/h no corredor com uma moto sem freio, com pneus carecas e de capacete desafivelado. Isto pode ser caracterizado como acidente? O choque talvez, mas a conseqüência não! O choque foi um acidente, mas o óbito foi causado por pura negligência.

 

Diariamente eu levo fechadas de motoristas nas mais criativas variações. Tem fechada pela esquerda, pela direita e até dos dois lados ao mesmo tempo. Só que rodo a uma velocidade compatível com os outros veículos, minha moto tem freios eficientes e pneus novos. Porque eu não quero me estabacar! E se cair meu capacete é novo, meu casaco é estruturado e uso calça com reforço.

 

Non ducor, duco

O lema da cidade de São Paulo expressa uma atitude tão tipicamente de motociclistas e motoristas paulistanos que soa como profecia. Não sou conduzido, conduzo! Ninguém me diz onde, nem como devo conduzir, mas conduzo à minha maneira, sem regras, sem sensatez, nem ordem. Minha lei é meu umbigo!

 

Com raríssimas exceções – mas bota raro nisso, tipo que precisa lente de aumento pra encontrar – a vítima fatal de um acidente de moto foi totalmente inocente. Casos como linha de pipa com cerol, caminhão sem freio na descida, bêbado que fura o semáforo são raros, mas adquirem muito destaque pelo dolo envolvido.

 

Só que os acidentes fatais que são contabilizados – e que vejo, porque estou diariamente nas ruas – são provocados por absoluta negligência do motociclista. Daí meu desabafo do “morre porque quer!”. Porque quer rodar no corredor a 90 km/h. Porque quer rodar com pneu careca. Porque quer usar um capacete de R$ 50 desafivelado. Porque quer rodar na calçada a 50 km/h. Porque quer pular o canteiro central de uma grande avenida.

 

Resumindo, morrem porque querem!

 

Soma-se esta conduta ao triste fato de as vítimas fatais se encontrarem na maioria entre 18 e 25 anos e temos mais uma trágica coincidência estatística. A adolescência, período que vai dos 12 aos 18 anos tem como característica a prepotência, comportamento que faz o indivíduo acreditar que as coisas ruins só acontecem com os outros. Como a maioria das vítimas são do sexo masculino e a adolescência do homem vai até os 25 anos (ou 50, segundo as mulheres!), isso explica boa parte destas vítimas.

 

Basta conferir qual a idade de alistamento militar para entender como o Estado pode aproveitar a prepotência a seu favor. Na faixa dos 18 aos 25 anos o soldado vai pro front achando que nada de ruim vai acontecer com ele, até um projétil .50 atravessar o cabeção.

 

Portanto, temos a fórmula ideal para que tudo de errado dê certo: sensação de prepotência + negligência = morte súbita!

 

Ou seja, morrem porque querem!

 

E querem saber? Não há a menor chance de esta situação melhorar. Pelo contrário, a tendência é piorar com a entrada cada vez maior de novos motociclistas. Mas também não pense que esta situação é limitada aos motoboys ou fretista.

 

É bom esclarecer que existem os motoboys e existe o comportamento motoboy. O que os especialistas chamam de arquétipo, uma repetição do mesmo comportamento. Tem donos de motos esportivas, BMW caríssimas que agem da mesma forma e que depois de um acidente fatal é transformado em vítima.

 

Os rachas na estrada, os atalhos pela calçada, a alta velocidade nos corredores mostram que os “playboys” também morrem porque querem!

 

Responda sinceramente: se fosse chamado pelas forças armadas para defender seu país do front de batalha, de fuzil na mão você iria? Eu não! Não quero morrer tão cedo nem entrar no fogo cruzado! Por isso não existe exército de soldados quarentões. A gente sabe que as coisas ruins também acontecem conosco!

 

-       0 – 0 – 0

 

Salvem os mauricinhos!

 

A Prefeitura de São Paulo acaba de criar duas grandes cretinices de uma só vez:

 

1 - Pretende demolir as casas na região conhecida como Cracolândia, que compreende a rua Santa Ifigênia, maior comércio de eletrônicos a céu aberto do Brasil. A justificativa é a velha necessidade de se tapar o sol com a peneira, ou seja, dar um sumiço nos fumadores e fornecedores de crack.

 

Lembrei da piada do cara que chega em casa e pega a mulher transando com o vizinho no sofá da sala. Decidido a acabar com esta pouca vergonha o corno toma uma decisão radical: vende o sofá!

 

O num Kassab vai vender o sofá porque fumadores e fornecedores de crack se mudarão para outro bairro!

 

2 – Apareceu com uma ideia de jerico de criar vias expressas, construir túneis e fazer  marginais das marginais. Isso mesmo, fazer um anel viário, tudo para melhorar o trânsito de... de... carros!!! Ou seja, a municipalidade, burguesa na essência, quer melhorar o transporte individual para que os amigos mauricinhos possam circular de Porsche Cayenne sem pegar tanto trânsito.

 

Prefeito, nós já temos 7 milhões de veículos circulando na cidade. Já chega! Precisamos TIRAR veículos de circulação. Isso só se faz melhorando o transporte PÚBLICO, aquele tipo de transporte que leva também mauricinhos, mas que atende quem acorda as quatro da matina pra pegar dois ônibus, um trem e chega ao trabalho as sete!

 

 

publicado por motite às 16:59
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30 comentários:
De Geraldo Júnior a 31 de Janeiro de 2011
Tite,
Concordo com você em tudo! Todos os dias saio da minha casa na Zona Sul e vou até a Zona Leste onde fica a minha empresa... e todos os dias vejo e as vezes registro com o celular as imprudências no trânsito... são carros e motos na contra-mão da Av. Washington Luiz... motoboys em alta velocidade e fazendo conversões proibidas...e até já pensei em montar um blog com estas imagens, que já passam de 100...o que acha?
De Renato a 31 de Janeiro de 2011
Geraldo, aqui em Curitiba já tem um cara que faz isto: http://www.sinalvermelhocuritiba.com/ É cômico, não fosse trágico.
De Geraldo Júnior a 1 de Fevereiro de 2011
Renato vi sua dica e achei interessante...vc realmente percebe a falta de educação...
De motite a 31 de Janeiro de 2011
Xará, já pensei nisso. Hoje mesmo vi um motociclista do CET passar dois semáforos fechados e notei que o capacete dele não tinha os obrigatórios (e exigidos) adesivos reflexivos.
Outra cena foi um cretino motorista de van escolar que deu uma baita fechada em um carro e ainda reclamou!!!
De Geraldo Júnior a 1 de Fevereiro de 2011
Isso mesmo Tite, não são só motociclistas que fazem isso, motoristas também fazem!!!!
São policiais , agentes da CET,etc. Falta mais educação no trânsito, e muito mais fiscalização...
De Paullo Ramos a 31 de Janeiro de 2011
Espetacular o texto "Porque quer". Moro em Joinville SC e aqui não é diferente, outra coisa meio doida é na Br 101 trecho entre Porto Belo SC e Curitiba PR, agora no verão acontece muitos acidentes bobos, engavetamentos, e sempre na faixa da esquerda, porque os motoristas andam somente nesta faixa, apenas um ou outro sai para direita quando vc pede passagem. Os mais apressados ultrapassam pela direita e quando voltam para esquerda, o mané que não saiu da frente se assusta e mete o pé no freio, o de tráz também distraído, afinal é turista e turista tem que se distrair, acaba levando tudo o que vê; ou não vê pela frente.

Paullo Ramos
De leandrolopesp a 31 de Janeiro de 2011
Paullo, desculpe te dizer que só conhecendo bem São Paulo e Joinville pra dizer que não é a mesma coisa. Primeiro que Joinville tem ruas de baixa velocidade apertadas, além de os motociclistas serem bem mais educados. Claro, ai chove bastante, o pessoal bebe bem mais, tem ruas de paralelepípedo, tem até mão inglesa.

Aqui é bem diferente. Tem muitas, mas muitas motos em péssimo estado, drogas, infra-estrutura, educação diferente. Se um motociclista anda na faixa como fazem ai, ele é atropelado pelo carro que está atrás. Faz muita diferença.

Em jlle qualquer lugar da cidade fica a 10 minutos da sua casa. Em São Paulo, vc provavelmente não saiu do seu bairro nesse tempo. Fora os engarrafamentos que se vc tem ai na av. blumenau, aqui nós fazemos 140km de vias paradas. As pessoas aqui ficam muito nervosas.

E ai o motociclista trafega num ambiente cheio de carros parados ou parando, com o risco de... abrirem a porta! De tentar trocar de faixa, e querem fazer 90/h nesse ambiente. É coisa de maluco.

Parece que enquanto ai todo mundo se distrai, aqui todo mundo se destrói.

Ainda assim, eu não sei fizer o por quê, mas eu prefiro andar em SP do que em jlle. Parece que as pessoas daí andam mais distraídas. Freiam em cima, prestam menos atenção na frente e nos lados. Não sei.
De Renato a 31 de Janeiro de 2011
Para ficar melhor é só trocar São Paulo pelo nome de qualquer cidade brasileira. Ótimo artigo, mas motoboys, mauricinhos e playboy não devem andar por aqui!

De leandrolopesp a 31 de Janeiro de 2011
É... acho que nem vc acha que seja por que ele quer, mas por que se acha indestrutível, um ás sobre duas rodas. Você mesmo já falou sobre empinar motos nos anos 80, como se fosse algo legal. É, mas dentro de determinados espaços, com os equipamentos adequados.
De Geraldo Júnior a 1 de Fevereiro de 2011
O máximo do absurdo foi ver na Av. Washington Luiz próximo ao viaduto que passa por cima da Vicente Rao (Roque Petroni Jr), um cara na moto empinando no corredor!!!
De leandrolopesp a 1 de Fevereiro de 2011
Confissão: eu já empinei minha CG, e na frente da polícia ali na Cruzeiro do Sul. Já conto: eu não sabia andar de moto direito. Recém "formado", ai eu estava colocando ou tirando a luva quando o semáforo abriu. Eu não sei como (até por que eu não sei empinar moto), eu levantei a moto NA SAÍDA do semáforo, na frente da polícia... mas foi por acidente, juro.
De Camata a 31 de Janeiro de 2011
Excelente texto. Espero que seja lido pelas pessoas que mais precisam.
De The Crow a 1 de Fevereiro de 2011
...o que acontece é que essas que deveriam ler, nunca lêem... no maximo comentam e ficam contra.

Pois são todas imortais.
De Angelo a 1 de Fevereiro de 2011
esqueceu-se de comentar que ainda há aqueles que quererm ultrapassar a qquer custo no corredor o que está na frente, ou quem tá na frente, segura e não dá passagem qdo possível pros idiotas.
De José Paulo a 1 de Fevereiro de 2011
Eu sempre digo : depois ainda falam que moto é perigoso. É sim, ainda mais pros kamicazes!
De Sérgio a 1 de Fevereiro de 2011
Tite, também sou quarentão e seu fã há 20 anos. Sempre que posso mostro seus textos para alguns amigos motoboys e acredito que já consegui pelo menos fazer eles pensarem!
Parabéns por mais um texto forte com o dedo diretamente na ferida.
Abraços.
De Hugo a 1 de Fevereiro de 2011
Tite, obrigado pelo texto.
Ando diariamente de moto para vir ao trabalho, e trafego com o único objetivo de chegar em casa. No trânsito preciso o tempo todo dar passagem para gente de carro, moto, caminhão, etc. que quer chegar em casa mais rápido do que o caminho permitiria, mesmo sem trânsito!
Mesmo apaixonado por motos, não consigo defender o veículo ou o estilo de vida. Ando de moto por que gosto. Qualquer outro argumento, como economia de tempo, de dinheiro, etc. É besteira! Não é seguro, não é economico, não é eficiente. Mas eu gosto. Ponto final.
As vezes alguém no trabalho me consulta: "Hugo, to pensando em comprar uma moto para economizar..."

Não deixo nem terminar a frase, e logo emendo "Não compre, o único motivo para andar de moto é porque você gosta. Se vai andar por qualquer outro motivo, não ande. Não recomendo".

Andando de moto, inevitávelmente você vai cair. Se você anda só por que é "economico", depois vai ser um velho frustrado que tem raiva de moto por que lhe quebrou um braço ou perna, na época que "andava de moto por falta de dinheiro". É besteira!
De Odil a 2 de Fevereiro de 2011
Caro Tite

Também tem muito motoboy nas estradas, nos finais de semana. Esse tipo, anda com motos superdimensionadas para sua capacidade, ergonomia e habilidade, fazendo barbaridades a mais de 200km/h. Domingo, na Bandeirantes, tinha outro que, morreu por que quis.

Abs

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