
(entrevista pra TV Cultura depois de ganhar uma corrida de quadriciclo. Não lembro a data!)
As competições produzem tanto conhecimento quanto uma universidade. Mas só alguns poucos são capazes de absorver esse conhecimento e levar para toda a vida, inclusive para o mundo corporativo.
Desde os primeiros passos em qualquer competição motorizada os pilotos aprendem regras que são universais e indeléveis. Uma delas diz respeito ao acerto do equipamento. O objetivo de todo piloto é tirar o máximo de desempenho da máquina. Por isso é tão importante o conhecimento de mecânica e, hoje em dia, de eletrônica.
Um bom piloto precisa desenvolver uma sensibilidade muito grande para descobrir onde e como a moto – ou o carro, kart, barco, bicicleta – pode melhorar o desempenho. Cabe à equipe fazer o monitoramento dos tempos de volta em cada trecho do circuito para avaliar em quais trechos o conjunto moto+piloto são rápidos ou lentos.
Isso tudo é meio óbvio, mas existem regras para isso. Por exemplo: nunca se deve fazer duas alterações ao mesmo tempo. Porque na hora de avaliar o resultado a equipe não terá como julgar qual foi a mudança que surtiu efeito. Por exemplo, se a moto está instável não é recomendado mexer em calibragem e endurecer a suspensão ao mesmo tempo. É preciso primeiro estudar um item, avaliar o resultado e só depois partir para o próximo item.
Durante meus primeiros passos no kart eu aprendi muito com o meu professor Waltinho Travaglini e também com preparadores e até com o Ayrton Senna, que foi um exemplo para toda uma geração de kartistas. Ele passava horas em Interlagos testando sem parar e avaliando os resultados.
Além disso, o piloto precisa ser muito regular e se concentrar para fazer todas as voltas da mesma forma, senão não saberá se o tempo de volta piorou por conta de alguma regulagem ou por um erro de pilotagem.
No mundo corporativo as empresas às vezes se perdem em estratégias porque querem atropelar etapas ou fazer muitas mudanças ao mesmo tempo. O diretor de produção cria uma nova linha de montagem, o diretor de marketing inicia uma nova campanha publicitária e o diretor de logística altera as cotas de distribuição da mercadoria. Depois de 30 dias ninguém sabe se os resultados (bons ou ruins) foram provocados pela produção, pelo marketing ou pela logística!
Ou ainda pode ocorrer uma anulação das causas&efeitos. Se a mudança na estratégia de marketing promoveu um incremento na venda pode ser que a distribuição não seja tão eficiente e isso compromete o desempenho obtido pelo departamento de marketing.Temos exemplos disso debaixo do nosso nariz.
Até mesmo o gerenciamento de uma equipe é igual ao de uma empresa. Uma boa equipe precisa de um chefe que seja capaz de DELEGAR funções e não querer fazer tudo ele mesmo. O chefe de equipe precisa conhecer profundamente tudo que envolve a competição. Ele não precisa saber trocar um rolamento de virabrequim, nem mesmo saber pilotar. Mas precisa saber escolher o melhor mecânico e o melhor piloto para trazer resultado à sua equipe e aos patrocinadores.
No mundo corporativo o que vemos muitas vezes é um chefe que se acha numa condição muito superior ao de seus pilotos e mecânicos. É comum ver chefes incapazes de delegar, mas apenas de cobrar! Já tive chefes que pagaram caro por executivos, mas que transformavam esses executivos em meros executores de suas “idéias”.
Assim como o Ron Dennis não precisa sentar no cockpit da McLaren para identificar os problemas do carro, um verdadeiro chefe precisa confiar na capacidade dos seus executivos e não querer fazer o trabalho deles.
(esse da esquerda sou eu - segundo lugar)
No jornalismo é muito comum esse tipo de chefe. Eles chamam para si a responsabilidade executiva e com essa atitude rebaixam o cargo de toda sua equipe. No momento em que o diretor editorial assume a função de editor-chefe este é automaticamente rebaixado a editor, que por sua vez rebaixa o verdadeiro editor à função de repórter. E o repórter vira estagiário...
Se o mundo corporativo tivesse a capacidade de copiar melhor o mundo das competições veria que tem muito a aprender. Principalmente o verdadeiro significado da competição pela valorização da própria equipe e não pela humilhação dos adversários. Cansei de ver editores desdenhando as revistas concorrentes em vez de melhorar seu produto.
Mas isso é papo pra outro dia!
De Adalberto a 22 de Julho de 2008
Opa to esperando essa historia sobre editor metendo o pau (!!!) no outro... de preferencia com nomes... hahahaha
Entao e acrescento uma de certos chefes: EU acerto e VOCES erra,...
De Adalberto a 22 de Julho de 2008
Ops ERRAM* saiu uma virgula no lugar do "M"...
Tite, isso que você disse é o mote dos esportistas e ex-esportistas que dão palestras para executivos, e você sabe bem disso. Continue nos brindando com seus textos.
De Cristiano a 23 de Julho de 2008
Eu tenho certeza que o exemplo do marketing que funciona mas a produção não dá conta é a Yamaha Brasil...
Mas tem tmb a Toyota com a Hilux e a Honda com a Hornet...
De Alexandre Penna a 23 de Julho de 2008
O Tite, tá na hora de voce começar a guanhar dinheiro com palestras e consultorias!! Tem cara que com palestra de auto-ajuda ganha dinheiro, voce devia dar umas para empresas.
Abração
Penna
De
motite a 23 de Julho de 2008
Pow, Penna, só que as empresas só chamam ex-astronautas, pilotos de rally, ex-jogadores de vôlei, e outros tipos de exes...
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