(Rudolf Steiner, pai da antroposofia)
Uma das qualidades do site Motonline desde o nascimento, 10 anos atrás, é sempre que possível abrir espaço para notícias “não-motociclísticas”. É fácil perceber que os colaboradores do Motonline são pessoas novas no circuito jornalístico especializado, alguns especialistas em informática (Paulo Couto), em direito do consumidor (André Garcia), em coisa velha – ok, clássicas – (João Tadeu) e muitos outros colaboradores que você nunca viu em revistas especializadas. Além disso, um veículo de comunicação recebe uma quantidade absurda de press-releases de praticamente toda atividade humana. Os assessores de imprensa perderam a noção e já recebi até convite para participar de uma feira de artigos para supermercado!
Graças a esse tiroteio de informações, recebemos um informativo sobre a eleição do Cristo Redentor como uma das novas Sete Maravilhas do Mundo. A notícia tem nada a ver com moto, mas enche qualquer brasileiro de orgulho. E brasileiro orgulhoso que é, Ryo Harada, mentor do Motonline, não teve dúvida: colocou a notícia em destaque na primeira página.
Então um leitor nos escreveu indignado, perguntando “O que a eleição do Cristo Redentor como Maravilha do Mundo tem a ver com as motos?”. Como eu era o respondedor de cartas, esta caiu no meu colo e imediatamente pensei em devolver no fígado do missivista. Como eu estava bem alimentado, feliz, decidi escrever um editorial para explicar ao desavisado leitor que aquele não era um site feito por nem para idiotas. O texto é este que segue abaixo:
“O que tem a ver o artigo “Cristo Redentor é uma das novas maravilhas do mundo” com moto?”
O Essa pergunta pegou a todos de surpresa e, num primeiro, momento pensei em responder de forma irônica, mas decidi refletir sobre a questão. Para isso viajei no tempo, cerca de 10 anos atrás, quando estive na Alemanha visitando minhas filhas e tive a oportunidade de jantar com um importante filósofo estudioso da doutrina antroposófica (vá pesquisar “antroposofia” no Google!).
Sempre fui interessado e defensor da pedagogia Waldorf, por isso seria uma oportunidade rara de debater o assunto com um especialista. Com muita dificuldade para dialogar, misturando alemão, inglês e italiano, a ponto de me sentir um maluco sem idioma nem pátria, conversamos sobre tudo. De carros a política econômica, de esportes de inverno a literatura portuguesa e inglesa, e principalmente sobre nossas experiências de viagens. Só não falamos de futebol porque ambos eram agnósticos dessa religião. Quando o jantar já estava chegando ao fim – sim, os alemães têm o hábito de convidar para qualquer reunião com hora para começar e terminar – intercedi e perguntei: “tá, mas e a filosofia?”. Ele levantou, pegou um livro de umas 400 páginas e jogou no meu colo: “tá tudo aí, é só ler, mas eu não queria desperdiçar o tempo falando de filosofia”.
- Desperdiçar o tempo? Mas você é o especialista!
- Justamente por isso, eu sou tão especialista em um assunto que não quero me tornar um “Fachidiot”!
A expressão “Fachidiot” (pronuncia-se fahidiôt) significa fielmente “idiota em um assunto”. Quer dizer o seguinte: são aquelas pessoas que de tanto se especializar
Conheci várias pessoas com esse perfil. O maior deles – literalmente – foi oAyrton Senna. Era verdadeiramente incapaz de conversar ou olhar o mundo se não fosse pela ótica do automobilismo. Nas raras vezes que tentou desviar o assunto derrapou feio.
Talvez isso explique o motivo de eu ter uma certa alergia a encontros de motos e motoclubes. O assunto invariavelmente é só moto! Nada de anormal, afinal é que nos leva a essas reuniões, mas sempre me admiro quando desvio o assunto e descubro pessoas cheias de informações sobre os mais variados temas do conhecimento humano. Imagine o volume de sabedoria que se desperdiça nesses encontros! Faça uma experiência: no próximo encontro procure desviar o tema da conversa, em vez de motos questione sobre a atividade do motociclista e se prepare para que um universo de conhecimento se descortine à sua frente.
Quem teve a chance de ler o meu livro “O Mundo É Uma Roda” notou que a segunda parte é dedicada a temas e situações variadas para que leitores menos especializados em motos também pudessem se divertir. E o maior fenômeno desse livro é a enorme quantidade de elogios que recebo de esposas, filhos e pais dos leitores que nada têm a ver com motos! Recentemente uma esposa de leitor me escreveu afirmando que não agüentava mais ver o marido rir sozinho na sala e decidiu pegar o livro. Resultado: também leu compulsivamente. Porque uma das minhas preocupações, depois daquele jantar com o filósofo alemão, foi não cometer o suicídio cultural de me tornar um “Fachidiot”. Desde então tento fugir desse discurso monocórdio que tem a moto como tema central.
Acredito mesmo que todas as pessoas buscam esse ecletismo na vida, mesmo ao entrar em um site no qual o assunto é motociclismo. Pode-se notar esse fenômeno ao visitar o fórum Motonline ou a comunidade Motonline no Orkut. Geralmente os tópicos acabam derivando para assuntos correlatos. É um ganho excepcional pra todo mundo. O que eu já aprendi ao ler os tópicos do fórum e do Orkut daria para encher uma enciclopédia. Até receita de chocolate quente você encontra no fórum Motonline! E com conhaque!!!
Eu até entendo a preocupação de alguém em questionar o que o Cristo Redentor tem a ver com o motociclismo, mas a resposta é “tudo”. Tudo a ver! Claro, duvido que algum cidadão brasileiro chegue à base daquela estátua de
Pontualidade Germânica
Uma curiosidade sobre esse jantar que não foi relatada na época. O casal que convidou a minha família marcou o jantar às 19h37. Em princípio achei aquilo típico de alemão: não pode ser 19:30 nem 19:40, tem de ser 19:37! Ficava irritadíssimo com essa mania de marcar encontros em horários quebrados.
Naquela ocasião eu não tinha acesso à Internet em casa, muito menos celular, GPS, essas coisas modernas, então eu andava pra cima e pra baixo com um guia de ônibus, trem, metrô e bondes. Mesmo assim me perdia mais que cachorro vira-lata. Nesses guias, além de toda rede de transporte, constavam os horários de cada parada, tempo do percurso, trocas de viaturas etc etc e mais um monte de etcéteras.
No metrô eu me desesperava porque as linhas norte-sul-leste-oeste-nordeste-sudoeste-bombordo-estibordo eram diferenciadas por cores!!! Aí eu entrava na estação e lia no manual “pegar a linha verde”. Lá ia eu perguntar – em alemão – pra alemãzada qual era a linha verde. E eles olhavam com espanto pra minha cara, como se eu fosse louco e respondiam:
- A linha verde é aquela que tem os cartazes pintados de verde, os túneis são verde e no chão tem uma linha verde!
Como explicar – em alemão – pra essa gente que eu não conseguia distinguir a cor verde? Nem a vermelha, nem laranja, ocre, bege, creme, turquesa e um monte delas!
Quando descemos do ônibus percebi que a casa do filósofo era do outro lado da rua, olhei pro relógio: 19:37! Foi então que entendi o motivo dessa pontualidade doentia. Basta fazer o itinerário entre os dois endereços, somar o tempo de viagem do ônibus e do bonde e... bingo! Não há atraso, nem se quiser! Para ser pontual basta fazer o caminho inverso e descobre-se a que horas é preciso sair de casa para chegar na hora certa, incluindo os trechos de caminhada!
Mesmo assim, não resisti e perguntei por que não marcar, por exemplo, às 19:40? Foi então que comecei a entender a lógica alemã, muitas vezes confundida com ingenuidade. O anfitrião respondeu:
- E o que você ficaria fazendo três minutos lá fora? Já pensou se estiver nevando?
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