(Eu escondia o jogo e as especificações das peças)
Tem UM conceito que deve ser cuidado com muito carinho, como se fosse um bem mais valioso que todo o capital da empresa: informação! Sobretudo em uma época na qual a velocidade e variedade da informação crescem exponencialmente. Você sabe o que comentam sobre sua empresa no Orkut? Ela está no Twiter? Qual o número e a qualidade da visitação do site? E seus concorrentes? Como eles são vistos no mercado e para qual direção eles estão caminhando?
No meu tempo de piloto nós treinávamos muito na pista mais perto de casa, que no meu caso era Interlagos. A cada treino eu tinha de fazer várias experiências com uma série de regulagens, prevendo diferentes condições de piso (seco, molhado, emborrachado, sujo, limpo), de clima (quente, frio, úmido, seco), combustível (gasolina, proporção da mistura com óleo dois tempos, tipo de gasolina) e novos componentes.
Tudo isso era feito junto com outros pilotos e mecânicos e cada vez que acertávamos uma combinação perfeita entre as regulagens corríamos esconder as referências. Algumas peças como manga de eixo, coroa e pinhão trazem uma numeração gravada para facilitar a escolha. A primeira coisa que eu fazia depois de acertar o kart era cobrir com fita todas as peças numeradas, enquanto meu mecânico saía de box em box para saber o que os outros estavam usando. Informação!!!
Esse jogo de informação era mais valioso ainda quando corríamos fora de São Paulo. Os kartistas da outra cidade já estavam mais do que acertados para a pista e os “forasteiros” tinham pouco mais de uma hora para descobrir tudo. Era uma orgia de informações, a maioria delas, é claro, fajutas para confundir mais ainda. A briga ficava mais divertida e ajudava a manter um clima de espionagem nos boxes.
Além disso, eu estudava tudo que caía nas minhas mãos sobre pilotagem, mecânica, corridas etc. Note que estou falando de anos 70/80 quando as informações nos chegavam praticamente pela mídia impressa. Não havia um décimo do volume e da velocidade de informações que temos hoje.
Mesmo assim lembro de uma passagem bem ilustrativa. Em 1978 fui convidado para correr na inauguração do kartódromo José Carlos Pace, em Uberlândia, MG. Como de hábito no Brasil, o kartódromo ficou pronto na véspera da inauguração, o que nos dava total igualdade de condições com os pilotos locais. A pista era novíssima, estava suja de areia e tinha a maior reta que eu já havia visto em um kartódromo na minha vida.
Nos primeiros treinos foi um festival de rodadas até limpar e emborrachar a pista. Consegui dar algumas voltas atrás do Chico Serra para “copiar” o traçado e quando acabava meu treino corria pra beirada da pista ver os outros pilotos das categorias principais, entre eles Ayrton Senna.
Pode parecer loucura para quem nunca correu, mas só de olhar os outros pilotos é possível fazer um treino “mental”. Quando chegava minha vez de pilotar eu buscava na memória como os pilotos de ponta faziam e tentava repetir. Depois era só fazer o ajuste fino. Informação visual!
Ao contrário dos meus adversários, apostei em uma relação de transmissão “longa” para aproveitar o máximo o retão e escondi minha escolha. Na tomada de tempo lembrei de uma informação que eu havia lido muitos anos antes. Em um depoimento na revista Quatro Rodas, Emerson Fittipaldi explicava que nos dias muito quentes ele mantinha uma toalha úmida sobre os pneus para que eles não esquentassem demais na volta anterior à volta da cronometragem. Eu nunca tinha testado isso, mas naquele dia estava um calor infernal. Molhei os pneus, saí pra volta de apresentação e fui pra volta lançada. Deu certo! Pole-position da categoria! Salvo pelo meu banco de dados!
Tudo que eu precisava era largar na frente e segurar os outros 20 caras atrás de mim na primeira volta até chegar ao retão para abrir vantagem graças à minha relação mais longa. Tinha tudo pra dar certo, se eu não tivesse feito uma péssima largada! Meu plano foi desastroso porque eu perdia tempo no miolo e não conseguia ultrapassar o líder no final da reta. Um fiasco de estratégia!
Velocidade da informação
No mundo corporativo a briga pela informação é tão vital que existem centenas de cursos de TI – Tecnologia da Informação. Antes as empresas precisavam buscar informação. Hoje elas precisam buscar, gerar, distribuir e proteger a informação. Tanto em quantidade, mas principalmente em velocidade.
Em época de satélites particulares, câmeras até no banheiro e telefonia móvel com emissão de imagens, dados e voz o mundo está cada vez mais perto do que idealizou o teórico Marshall McLuhan no livro “Aldeia Global”. E olha que no tempo dele nem existia Internet! Gerenciar a informação passou a ter um peso vital no mundo corporativo e está cada vez mais difícil manter um segredo sobre lançamentos, investimentos, estratégias etc.
Quem não viu a famosa foto da CB 300 dentro do caixote de madeira que rodou na Internet seis meses antes do lançamento? Alguém da Honda esqueceu de cobrir as peças com fita como eu fazia no kart! Hoje já sabemos que a foto foi feita quando a moto estava sendo embarcada para o Japão para alguns testes. Como o celular virou máquina fotográfica e navegador da Internet, com um simples clic a foto estava em vários sites e jornais em questão de minutos! A velocidade da informação!
Acho inadmissível uma empresa que proíbe ou bloqueia o acesso ao Orkut ou ao MSN acreditando que isso possa aumentar o foco da mão de obra. Apenas um dia atrás tive um bom exemplo da velocidade e necessidade da informação. Um dos meus alunos estava pesquisando uma moto para comprar e visitou duas concessionárias. Na concessionária A ele foi mal atendido e saiu com péssima impressão. Na concessionária B foi tão bem recebido que decidiu retratar a experiência em um fórum de uma marca de moto concorrente.
Quando ele voltou dias depois à concessionária B, a vendedora já sabia quem ele era e qual impressão causou. E mais: como esse aluno citou meu nome no post, um executivo da fabricante da moto me enviou o link do fórum. Tudo isso em menos de 24 horas!
Graças à política de pesquisar fóruns da internet, a concessionária B efetivou a venda e ainda conquistou um cliente por muitos anos. Aparentemente foi apenas UMA venda, mas imagine o efeito multiplicador que isso causou no fórum? Essa vigilância é tão importante que as empresas contratam estagiários só pra fuçarem nos fóruns e Orkut e avaliar qual imagem a empresa passa ao público.
Também acho condenável uma empresa de comunicação não ter um site! Acredite, mas tem revista de moto no Brasil que não tem um site até hoje! E quando coloca um site no ar não passa de uma revista na internet!
A informação virou um bem tão valioso que já atraiu até a bandidagem. Recentemente a Polícia Federal desbaratou uma quadrilha que vendia informações pessoais para empresas de call-center. Tinha CPF, endereço, carro, cor da cueca de gente comum como eu e você, mas também de pistolões da vida política. Por isso estamos recebendo tantos spams e telefonemas de moças querendo estar vendendo qualquer porcaria! Sua vida está toda exposta a apenas um clic de distância!
Até esses textos que escrevo caem na aldeia global. Basta um CtrlC+CtrlV e pronto! O site furreca ganhou um artigo novinho em folha sem custo algum. É a apropriação da informação!
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