(Lavar a calçada com mangueira pode, fazer xixi no vaso não pode! Foto: Tite)
Desde que me conheço por gente meu avô, “Seo” Renato Della Latta, já dizia: “O mundo vai acabar porque as pessoas não respeitam a natureza”. O que eu achava uma tremenda sacanagem, porque mal tinha nascido e o mundo já acabaria dali a alguns anos! Podia esperar pelo menos eu fazer 18 anos pra tirar carta!
Como um legítimo oriundi, importado de Lucca, Itália, meu avô tinha uma consciência ecológica muito avançada para seu tempo. Ele lembrava, resignado, as tardes que passava nadando no hoje fétido e morto rio Tietê e dizia que o futuro do planeta dependia de fontes alternativas de energia limpa, como por exemplo, do movimento das marés. Hoje já existem estudos avançados neste tipo de captação de energia.
Meu avô morreu há 20 anos e não teve a chance de ver que o planeta caminha inapelavelmente para o fim que ele predestinava.
Muita gente muda de vida e de comportamento em nome da ecologia e meio ambiente. O que é louvável, desde que feito da maneira certa. O problema começa no momento em que se criam idéias estapafúrdias sem um pingo de sensatez. Na semana passada ouvi uma das maiores besteiras já criadas em nome do meio-ambiente. Um dos diretores da Fundação SOS Mata Atlântica recomendava que as pessoas fizessem xixi durante o banho como forma de economizar a água da descarga. Na reportagem, o diretor afirmava que não havia perigo de contaminação por doenças nesta prática.
De fato, tem gente que até toma xixi e não morre. Mas como fica a questão da HIGIENE! Eu fico enojado de usar o chuveiro dos clubes, albergues e academias por causa do forte cheiro de amônia, fruto do “ecológico” hábito de fazer xixi durante o banho. Eduquei minhas filhas a não repetir essa porcaria em nossa casa, nem nos lugares públicos, e agora vem um “especialista” ensinar os jovens a empestear os banheiros!
O cheiro de urina é biologicamente projetado para ser forte e duradouro. Somos mamíferos que usavam o cheiro da urina para marcar o território e expulsar os intrusos. Parece que às vezes os especialistas se esquecem que somos humanos, sim, mas fazemos parte do reino animal! E xixi é fedorento, seja de qual animal for!
O que me deixa potencialmente irritado é ver uma mamãe ensinando seus pimpolhos a mijar no chuveiro, enquanto a empregada lava o quintal com a mangueira. É esta falta de coerência que me enfurece no discurso dos “ecochatos”. A única forma de evitar a impregnação do cheiro de urina é lavar cuidadosamente o box do chuveiro, inclusive com desinfetante. Esse tempo extra com o chuveiro ligado já anula todo efeito “ecologicamente-correto-e-higienicamente-nojento”.
O porqueira do diretor da fundação faria um serviço muito mais limpo – em todos os sentidos – se criasse campanhas de reaproveitamento da água. Por exemplo: reusar a água das máquinas de lavar roupa e louça para lavar a calçada, garagem, piso etc, atitudes que minha mãe já pratica há décadas. Ensinar as crianças a desligar o chuveiro enquanto se ensaboa, durante o verão, ou usar um balde para captar a água excedente do chuveiro, durante o inverno. Porque não há meio de convencer uma criança a desligar o chuveiro por alguns segundos em pleno inverno.
Em suma, existem medidas muito mais sensatas e higiênicas para economizar água do que ensinar maus modos às crianças. Hoje elas fazem xixi no box do banheiro, amanhã estarão fazendo xixi na calçada com a maior naturalidade do mundo!
Pets
Aqui no meu bairro existem vários vizinhos caridosos, amantes dos animais. A moda mais recente é recolher os cães e gatos das ruas, levar ao veterinário, vacinar, castrar, colocar uma plaquinha de identificação e... soltar de volta na rua! Eles ficam vagando, com suas coleiras, mas sem residência fixa. Para alimentar esses animaizinhos fofinhos os moradores com síndrome de São Francisco de Assis espalharam casinhas de madeiras pelas calçadas e colocam pratinhos com ração e água. Um gesto de ingênua bondade, mas de infinita insensatez. Quem agradece a comida cara e sofisticada são os... RATOS!
(Oi, adivinha quem veio jantar?)
Os ratos são os animais domésticos mais livres do meio-ambiente. Eles entram na tua casa, comem tua comida, aproveitam do conforto e caem fora de volta para turma. Ou seja, é praticamente um adolescente.
Meus vizinhos alimentam os ratos de duas formas: por meio de ração de primeira qualidade, mas também com uma refeição que os ratos simplesmente A-DO-RAM: grãos! Nessa ingenuidade ambiental, meus vizinhos jogam milho para atrair as rolinhas (Streptopelia Turtur), que comem o suficiente pra encher a pança e deixam o resto para os ratos! Depois meus vizinhos não entendem porque aumentou tanto a população de ratos no bairro! Só na minha casa, nestes cinco primeiros meses do ano já capturei meia-dúzia de fofinhos roedores. Alguns anos atrás, um vizinho quase morreu de leptospirose, mas acho que ninguém associou a doença ao hábito de alimentar a rataiada.
Podem reparar numa coisa: quem mais faz pelo meio-ambiente é justamente o que menos divulga suas ações. Ou por humildade, ou porque preservar o lugar onde vive é o mínimo que se pode fazer para valorizar sua existência! Quer respeitar o meio-ambiente? Quer pagar de ecologicamente correto? Quer fazer discurso bonito na escola dos filhos? Quer economizar água e deixar seu banheiro fedendo a amônia? Tuuuuudo bem, mas vamos combinar: APRENDA A FAZER DO JEITO CERTO!!!