(Eu sou um chimpanzé, mas olha o mico!)
Graças aos meus amigos do Orkut, surgiu um tema muito divertido: os micos motociclísticos. Aquelas situações vexatórias que nos pegam de surpresa e dão vontade de desaparecer no ar. Nos anos 90 eu tinha acesso às motos importadas para teste e vivia uma fase que chamo de falso glamour: num dia estava de Kawasaki Ninja 1100, no outro de Suzuki GSX 1100, no seguinte de BMW RS 1000, de Honda CBR 600F e assim por diante. Meus vizinhos deviam pensar que eu era milionário ou ladrão de motos!
O mais legal era pegar estas motos quando ainda nem sequer estavam à venda! Geralmente o importador ou a fábrica mandavam as motos para teste antes de anunciarem a venda e isso dava um status ainda mais sofisticado ao meu glamour efêmero. Depois de dois ou três dias de príncipe, devolvia a moto e voltava para minha XL 250R e à vida de sapo!
Lembro de vários micos dessa época. Um deles foi com uma Yamaha XTZ 750 Superténéré. Alta e pesada, eu tinha de tomar maior cuidado para não deixá-la cair. Enquanto estava rodando não tinha problema, mas quando eu parava era sempre um sufoco. Manobrar, então, nem pensar! Peguei a moto à noite e fui encontrar amigos que estavam numa badaladíssima pizzaria de Moema, São Paulo. A Pizzaria estava lotada, com muita gente na calçada. Parei a moto do outro lado na rua, tirei o capacete e coloquei no espelho retrovisor. Todo mundo ficou olhando aquela motona, com um nanico careca (e charmoso) em cima. Quando fui ligar do celular achei mais seguro apoiá-la no cavalete lateral e foi quando se deu o mico. Não vi que a calçada era toda irregular e assim que relaxei o peso a moto desapareceu sob meu corpo!
Aquele peso todo desceu a 9,8 m/s2 e bateu no chão com um detalhe arrepiante: o meu capacete caiu sob a moto e quando foi esmagado a viseira saiu voando, atravessou a rua e foi parar na frente da multidão. Eu consegui pular da moto e não passei o vexame de cair junto, mas a cena ridícula não terminaria aí. Quando fui tentar levantar a moto quem disse que conseguia! Ali tinha mais de 220 kg para ser removido e não mexia nem um centímetro, apesar de meus esforços! Ao longe comecei a ouvir algumas gracinhas até que o segurança correu em minha direção, com a viseira na mão, e me ajudou a sumir imediatamente dali, com o capacete sem viseira e o peso do vexame nas costas!
(Superténéré: mais de 200 kg desabando! foto: M.Bock)
Basta ter platéia para que alguma coisa de errado não dê certo! Outra ocasião semelhante foi dentro da escola das minhas filhas. Eu já era uma espécie de pai-herói porque os meninos achavam o máximo saber que por ali tinha um pai que corria de moto, testava várias motos e estava sempre com uma diferente. Às vezes levava minhas filhas pra escola de Honda GL 1600 Gold Wing, Harleys, BMW etc. E foi com a BMW que veio o segundo mico.
Era dia de festa junina e a escola estava lotada. Quando o vigia me viu chegar de BMW K1100 não teve dúvida e mandou parar lá dentro. Afinal era uma escola alemã e BMW é patrimônio daquela nação. Já escolado (sem trocadilho) olhei pro piso muito irregular, lembrei da Superténéré e disse que pararia na rua mesmo. Mas o vigia insistiu demais e lá fui equilibrar aqueles mais de 230 kg como se fosse uma moto de Trial.
Algumas salsichas e quentões depois a festa foi esfriando e decidi cair (literalmente) fora. Subi na BMW, comecei a manobrar quando o chão sumiu sob meus pés, de novo! E lá foi a alemã desabar solene e vergonhosamente que nem o III Reich! Mas desta vez foi ainda pior, porque um pequeno muro que protegia o tanque de areia serviu para agravar ainda mais as conseqüências, como se alguma coisa ainda pudesse ficar pior. E ficou, porque numa rápida avaliada tinha arrancado a pedaleira do garupa com suporte e tudo, arranhado a carenagem, esmigalhado um pisca e, claro, amassado o tanque! Sem falar no apimentado ruivinho que gritou no meio do pátio:
- Oooolha, o pai da Nina caiu da mooooooootooooo!!!
Sardento, fofinho!
Pilotando motos desde os 12 anos dá pra ter uma idéia da extensa lista de micos. Mas algumas ficam mais tempo na memória e parece que resistem a qualquer vestígio de Alzheimer. Como certa noite dos anos 70, com a recém presenteada Yamaha AS3 branca e vinho, linda. Decidi levar minha vizinha para festa para comemorar a moto nova. Ela apareceu de vestido comprido e comentei:
- Olha, nós vamos de moto, não é melhor colocar uma calça???
Diante da insistência dela, fomos assim mesmo. Até esqueci quando chegamos bem na porta da festa, com um mundo de gente na calçada (de novo...). Todo acidente é uma sequência de pequenos incidentes. Por exemplo: bem naquele momento bateu uma rajada de vento a sudoeste, com cerca de 15 nós de velocidade, que nos pegou a bombordo. O suficiente para o vestido se deslocar 8,3 cm em direção aos raios da roda traseira que estava girando a uma velocidade aproximada de 38 km/h. Em menos de 0,5 segundo o vestido estava todo enrolado no cubo da roda traseira e a vizinha completamente histérica apenas de calcinha, sutiã e sandália!
E como nada é tão ruim que não possa ficar pior, cometi a imprudência de comentar:
- Não falei pra vestir uma calça!
Naquela época – infelizmente – a gente ainda não usava capacete... Por isso eu tenho uma orelha maior que a outra até hoje!
Mas nada supera o mico que meu amigo pagou, também diante de uma festa lotada. Lembra daquelas festas de garage? Esta ainda tinha uma laje para funcionar como “anexo superior”. Lotada! Meu amigo, apelidado carinhosamente de Pato Donald, pela semelhança física com o importante astro de Hollywood, parou sua Yamaha 200cc, dois cilindros, que tinha um toque muito chique (a moto): partida elétrica! Imagine, ligar uma moto no botãozinho em meados dos anos 70! Só isso já garantia um status superior ao Pato.
Como ele era desses flanelinhas juramentados, tinha uma mania irritante de sempre travar o guidão da moto, mesmo que fosse parar 30 segundos. Naquela época a trava ficava na coluna de direção e não no contato, como hoje em dia. Já percebeu, né?
Depois de desfilar no meio dos “brotos” ele foi até a moto e fez o showzinho de ligá-la encostando apenas um dedo na moto. Que inveja! Acelerou um pouco e a fumaça dois tempos temperou toda vizinhança. Subiu na moto, engatou a primeira, acelerou freneticamente, soltou a embreagem e... e... capotou!!! De frente e na frente de todo mundo.
Levantou todo arranhado, sem entender o que estava acontecendo quando apontei pra chave e falei bem baixinho:
- Cabaço, você esqueceu de destravar o guidão!
Ele não ouviu, porque a risada, vaia e palmas da platéia encobriram o som... Mas acho que vi um mico pulando em cima de algum telhado!
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