Doença por moto não tem cura, mas tem nome: MOTITE Entre em contato: tite@speedmaster.com.br. ATENÇÃO: Conforme a Lei de Direito Autoral é proibida a reprodução total ou parcial dos artigos sem o consentimento prévio do autor: Geraldo Tite Simões
Mais um teste das antigas. Dessa vez a eleita foi a Hayabusa, uma moto que se tornou símbolo de velocidade. O desenho nunca foi uma unanimidade e não permite meio-termo: ou adoram, ou odeiam. Eu estou no segundo time e tive um ataque de riso dentro de um avião, voltando dos Estados Unidos ao ler um artigo na Cycle World no qual o autor declarava a Hayabusa como uma das motos mais feias já fabricadas no mundo! Como motociclista brasileiro é tudo doido, as revistas não podem publicar um depoimento desse tipo. Mas eu posso! E digo mais: ela fica ainda mais feia quando é instalada aquela rabeta horrorosa, eliminando o assento do garupa, que deixa a moto parecida com um corcunda! Eu diria que pilotar uma Hayabusa é como usar peruca: quem tem acha que ficou lindão, mas quem está de fora tem vontade de chorar!
Raia do absurdo
Com velocidade máxima de 320 km/h, a Suzuki Hayabusa chega ao limite do inimaginável
* Fotos: Luca Bassani
A SUZUKI GSX-R 1300 TEM o nome de batismo inspirado em uma ave de rapina: o falcão hayabusa. Segundo os ornitólogos, esta é a ave mais veloz do mundo e sua refeição predileta são outras aves. Quer dizer: o departamento de marketing da Suzuki batizou essa moto de Hayabusa querendo dar a entender que ela e mais veloz e vai devorar a Honda Blackbird - pássaro preto em inglês. O pior (para a Honda) é que conseguiram.
Existe uma cultura estranha entre os motociclistas. A velocidade é a característica mais importante para julgar o nível de sedução de uma moto. Isso explica essa disputa pela moto de série mais veloz do mundo. E vem mais por aí, porque a Kawasaki já preparou a ZX-12 Ninja, que promete ser ainda mais veloz. Segundo fontes oficiais, ela até agora não foi lançada porque era preciso desenvolver rodas e pneus de medidas absurdas.
Como é andar de moto a 300 km/h? E mais ou menos como ser sugado por um gigantesco aspirador de pó. A visão periférica fica tão apertada quanto num canudo, a respiração quase pára, o som do vento no capacete fica tão alto - apesar da carenagem - que o ronco do motor vai sumindo e preciso controlar as rotações pelo conta-giros. O medo deixa de ser uma sensação imaginária e torna-se bem real e presente. Não dá para evitar pensamentos como “e se quebrar esta roda?”. Para fugir desse tipo de temor, volto minha mente para as características desta deliciosa Supersport Touring.
Eletrônica
Para receber o cetro de moto mais veloz do mundo, a Suzuki produziu um motor de quatro cilindros em linha, refrigerado a líquido, com 1.298 cc, que desenvolve potência de 172,6 cavalos a 9.800 rpm. Sua principal característica é a fluidez, também conhecida como distribuição de potência, capaz de levar o motor, em sexta marcha, dos 2.000 até 11.500 rpm sem sinais de indecisão. Outra faceta deste propulsor é a rapidez com que sobe de giros, como se fosse um motor dois tempos. Traduzindo: é um motor agradável que dá muito prazer de pilotar, tanto numa pista como nas ruas.
Volto o pensamento para dentro da carenagem. Esta Suzuki tem um estilo bem particular. Dizer se é feia ou bonita é um julgamento que deixo para você, leitor, mas posso adiantar que ela foi inteiramente desenvolvida em túnel de vento, recebendo um estudo aerodinâmico voltado para altas velocidades.
Felizmente pude comprovar isso na prática, porque mesmo acima de 300 km/h a frente fica tão presa ao chão que parece estar caminhando sobre trilhos. A preocupação com a penetração aerodinâmica tem mais uma finalidade: melhorar o sistema de alimentação. O ar é captado na frente da carenagem, ao lado dos piscas, e pressurizado por meio de tubos até a caixa de filtro de ar sob o tanque. Quanto maior for a velocidade de passagem do ar, melhor será a respiração do motor, resultando em mais potência.
Para colocar as tomadas de ar no ponto de maior pressão aerodinâmica, foi preciso criar um farol de formato esquisito, que deixou a Hayabusa com cara de ciclope.As lâmpadas alógenas com lentes de aumento fazem muito bem o papel de iluminar o caminho. A eletrônica está presente na alimentação e ignição, tudo gerenciado por uma central que "lê" parâmetros climáticos e do motor para injetar a quantidade ideal de mistura em cada cilindro e na hora certa. Cada cabo das velas conta com uma bobina integrada. Aliás, este sistema está cada vez mais comum nas motos esportivas.
Doce delírio
Não sei quanto tempo fiquei acima de 300 km/h, porque a noção de tempo fica esmaecida, mas chegou a momento de frear. O que existe de mais potente em termos de freios está instalado na Hayabusa: São dois discos enormes de 320 mm na frente, mordidos por pinças de três pistões contrapostos. Na traseira, apenas um disco simples, pois o freio posterior e pouco usado nessas grandes e pesadas (215 kg) esportivas.
A suspensão dianteira é por garfo invertido. Esta tecnologia funciona muito bem nas pistas, onde o asfalto é liso como um carpete, mas para uma moto de uso urbano-estradeiro isso representa respostas muito rápidas dos amortecedores. O sacrifício de parte do conforto é largamente compensado na hora que chegam as curvas. É difícil fazer comparações porque as motos - assim como os carros - estão cada dia mais parecidas, mas posso garantir que a Suzuki Hayabusa apresenta-se um pouco mais estável que sua concorrente direta, a Honda Blackbird. A líder mundial preferiu investir mais no conforto.
Pode-se pilotar a Hayabusa como se fosse uma esportiva, e isso ficou evidente quando fomos para Interlagos fazer as fotos. Nas primeiras passagens até me assustei com a facilidade com que ela reage prontamente aos comandos e abusei da largura do pneu traseiro (190/50-17). Na saída da curva, adiantei o ponto de aceleração até sentir a traseira escorregar e recuperar a aderência. Fiz isso várias vezes para ver se o fotógrafo conseguiria registrar uma derrapagem controlada. Mas o juízo recomendou parar com essas brincadeiras - afinal, estava montado num brinquedo de R$ 33.900 e não me lembrava de o pessoal da Suzuki ter comentado qualquer coisa sobre seguro!
Com uma geometria de suspensão e ciclística impecáveis, a Hayabusa consegue a proeza de dispensar o amortecedor de direção. Pode-se acelerar com vontade que a frente fica lá, quietinha da silva ... E quando escrevo acelerar, isso significa fazer de 0 a 100 km/h em 2,8 segundos! Mesmo com todo esse desempenho, a Hayabusa é econômica, chegando a fazer até 18 km/litro.
Quanto a pilotar a 300 km/h, resta apenas uma perguntinha: para que uma moto que corre tanto se a Policia Rodoviária espalhou radares por tudo que e estrada?
Caro Tite, o "caro" vai por conta do que o Nelson Rodrigues dizia dos leitores, uns "desconhecidos íntimos". E pela admiração pelos seus textos, primeiro em revistas, depois no Motonline e, agora, nesse Motite (excelente título). Caramba, que falta fazem seus textos claros, bem escritos, bem-humorados e, sobretudo, consistentes na informação técnica, mecânica. Foi ótimo te reencontrar. O Motite já está na minha pasta de Blogs, nos Favoritos. É o segundo em ordem de funcionalidade. O primeiro é o do Luís Nassif, favorito também por admiração profissional e primeiro na lista por dever de ofício (também sou jornalista, como vc e ele). E como eu ainda preciso reservar mais tempo para trabalhar do que para andar de moto (ao contrário do que gostaria), leio o Nassif como profisional do ramo lê o jornal do dia. Mas vou dar uma sapeada (não é SAPO, sistema o blog?) pelo menos uma vez por dia no Motite para continuar aprendendo com vc. Parabéns pelo "Alma Selvagem". Queria comprar mas o Lokinho me deu de presente quando comprei na loja dele um relógio e uns adesivos pra minha Shadow 750 2007. Que já virou uma Varadero - motaça, cara. Lembro do seu teste. "Grande, muito grande". Grande abraço, sucesso, ótimas viagens e, agora que vc até emagreceu para virar "lagartixa" profissional, altas escaladas. Literalmente.
Ô, Tite. Obrigado pela resposta. E vc chegou justamente onde eu queria chegar. Desde que soube do Speedmaster, e até que a sua DR 650 se chama Speedmaster em homenagem ao curso, que esotu pensando em fazer. Quero mesmo. Entro no site para me informar? Eu estava pensando com que moto podia fazer o curso. Pensei até em fazer com a minha CB 400 1982. História incrível, cara. Comprei essa moto em 1987 de um fotógrafo daqui de SP, o Edu Simões, com quem eu havia trabalhado, aqui em SP, na Istoé. Mas quando comprei eu já havia voltado para o Rio (sou de lá, voltei em 94, e desde então virei um carioca transplantado na Paulicéia). A CB foi de caminhão de SP para o Rio (na época não me sentia com preparo para encarar a Dutra) e um amigo meu, ex-motoqueiro da Globo (os caras saíam feito uns doidos para levar as fitas de onde estivessem as equipes até a emissora). pegou no subúrbio do Rio. Fiz um curso de moto-escola e comecei a andar (Já sabia, mas até então só havia andado nas antigas 50tinhas da Honda, lembra?). Dez anos depois, em 97, vendi a CB para esse mesmo amigo que foi buscar a moto no subúrbio. E agora, em 2008, num rolo de amigo, vendi para ele uma XT 660 e peguei a CB de volta como parte do pagemnto. Está inteira mas precisa dum trato - colocar banco original, reativar o painel e trocar o guidão de custom por um original. Tanque também. Mas de máquina, tá boa, motor sequinho (sem vazamento). Rodas, pára-lama dianteiro e espelhos originais, o famoso Metagal. Tô pensando até em colocar a bichinha num dinamômetro, ver quanto os anos de batente roubaram de potência dela e devolvê-los todos num trabalho de recuperação. Cheguei a pensar em fazer o Speedmaster com ela e, depois, dar esse acerto. Mas essa possibilidade de fazer o curso de Big Trail aí já melhora tudo. Em tempo: agora eu praticamente só vou ao Rio de Varadero - muito melhor do que de avião ou de carro. E a Dutra tá um tapete em quase toda a extensão. Mais uma vez, obrigado pela atenção e entrarei em contato. Abs, P.S. Concordo com vc - entre a Shadow e a Varadero, a Varadero é moto de verdade. Mas, confesso: tenho também, no coração, uma porção Custom. E oscilo entre a Shadow (ficou invocada na versão injetada e com grafismos mais ousados), a Boulevard 800 (na minha opinião bem melhor que a 1.500), a Harley, claro, Fat Boy ou aquela - esqueci o nome agora - que é Harley com desenho da Porsche, uma custom pra lá de invocada. Lembro de uma matéria sua e de outra do Paulo Couto te citando. Na sua matéia, vc falava que chegou a ter 6 motos na garagem. E o Paulo disse que a melhor são duas. Concordo com vc, depende do uso. O ideal seria uma pro dia-a-dia, outra para grandes viagens, outra para passeios curtos, uma para estrada de chão e outra para enrolar o cabo. No meu caso, essa seria uma naked. Esportivas, com todo o respeito aos Jaspions, não me fazem a cabeça - talvez, bem provável, por medo. (Mas pra ter todas essas, precisa ser milionário - e eu sou só jornalista). Abraços motociclísticos,
Olha, sobre o curso trate comigo mesmo: geraldo@speedmaster.com.br
não precisa ser milionário para ter duas motos: uma Biz usada custa menos do que o seguro de uma motona e vc roda a semana toda. No final de semana curta a Varadero!
Vlw, Doc, obrigado. Vou entrar em contato. Vc falou da Biz, fui no Escolha II e caí no link "A melhor moto do mundo". Excelente. E... escrever, não sei. Mas falar de moto, adoro. É "motite" em alto grau. Abraço, Oc