
Para escalar é preciso equilibrar força e peso. Foto: Felipe Oliveira
Desde que comecei a treinar escalada esportiva de forma mais séria, decidi que precisava emagrecer para melhorar a relação peso x potência. Da mesma forma que nos veículos a motor, na atividade esportiva é fundamental equilibrar força e peso. Mais ainda na escalada porque envolve a natural força da gravidade sempre nos puxando pra baixo quando queremos ir para cima.
Um bom escalador é magro e forte. Não adianta ser magro e fraco e nem forte e pesado. Como eu já estou no limiar dos 50 anos e não tenho a menor paciência para malhar em academia em busca de força muscular, decidi reduzir o peso. E consegui jogar fora 6 kg em dois meses de treino intenso, sobretudo correndo na esteira e pedalando a ergométrica. Claro que também tive de regular o que passa pela boca adentro!
Só que ainda restam três insistentes quilos que se recusam a abandonar este corpo que não lhes pertence. Foi aí que entrou a parte séria: preciso correr na esteira de forma mais profissional e menos preguiçosa. Consertei meu velho frequencímetro que estava abandonado e fui atrás de um tênis de corrida que aliviasse as dores nos joelhos, ambos sequelados depois de 10 anos de tanto estabaco no fora de estrada.
Definitivamente não posso correr na rua, porque o impacto sobre minha velha coluna sifótica provoca dores noturnas. Por isso a esteira é minha salvação. Além de reduzir muito o impacto, posso ver TV, falar no celular, tomar os dois litros de água que indicaram, olhar o movimento na academia e ainda palpitar na conversa dos outros, que é meu esporte favorito. Daí meu maxilar ser tão forte: o que ele se exercita não é brincadeira!
New Balance: ótima relação custo x benefício
Foi na hora de comprar o tênis que veio a dúvida: qual comprar? A última vez que procurei um amigo especialista ele ficou duas horas pra falar até da influência da Lua nas passadas e os novos materiais que reduzem impacto, além de sensores que medem distância, tipo de piso, inclinação dos pés e só faltam correr sozinhos.
Aproveitei o natal pra passar a sacolinha na casa de mamãe e fui direto pra Decathlon, uma espécie de Daslu pra quem gosta de esporte. Decidi não pedir consultoria a nenhum especialista e confiar na minha intuição, afinal é um tênis, não um apartamento! Já tinha um valor na cabeça (200 reais) e poderia ser um pouco mais. Com apenas a informação do quanto gastar e da minha necessidade entrei na loja.
Como existe tênis nesse mundo! Primeira lição: existe tipo de pisada (pronador, supinador e neutro). Fiz um teste rápido e descobri que sou neutro (até nisso...). Depois vi tênis de 50 a 800 reais!!! Quase enlouqueci com tantas opções, marcas, cores, tecnologias, procedência, funções, especificidades (tem até pra golf!) etc.
Depois de mais de uma hora pedi socorro para a vendedora. Piorou! Os que eu achava melhores não eram tão bons e os que eu julgava feios, desajeitados e mais enfeitados que cruz de estrada eram os bons. Descobri que a Decathlon usa uma etiqueta amarela (ou vermelha, verde, sei lá) para identificar as ofertas. Fui direto nelas e descobri uma tremenda pechincha. Um tênis New Balance, modelo 755, bem ajeitadinho e com mega desconto. De R$ 299,00 por R$ 135,00! Na hora já achei que tinha alguma coisa errada, não podia ser menos da metade do preço!
A vendedora alegou que estava saindo de linha e ainda disse que era um produto bom, para pisada neutra e com baixo impacto. Comprei!
Sempre que compro alguma coisa acho que fiz uma péssima escolha. Tenho essa síndrome do “corno comprador” de achar que sempre fui enganado por um vendedor inescrupuloso. Por isso fui pra academia desconfiado e fiz minha primeira corrida com o tênis novo. UAU! Muito bom! Macio, leve, gostoso de pisar e consegui 55 minutos de corrida, um recorde!
Duas semanas depois vi o nosso principal instrutor de escalada, o atleta André Belezinha correndo na esteira com um tênis igual. Ele confirmou a qualidade do calçado e fiquei com a sensação de ter feito uma excelente escolha.
Mas, que raios isso tem a ver com as motos?
Tudo, porque a cada dia recebo mensagem de pessoas querendo conselho para comprar uma moto. E sempre fico pensando o que leva essas pessoas a perguntarem, em vez de pesquisarem? Certamente existem muito menos motos para escolher do que tênis. E a diferença de preços é gigantesca: temos motos de 2.500 a 120.000 reais!
Escolher uma moto é tão complexo quanto escolher um tênis, mas o mecanismo de julgamento é o mesmo. Primeiro definir a função. Pergunte-se: “para que eu quero uma moto?” Dependendo da resposta o motociclista determinará o tipo de moto que vai escolher: urbana, estradeira, uso misto, custom, scooter, esportiva, utilitária, com carenagem, sem pára-brisa, touring, sport-touring etc etc...
Uma custom grande e pesada não é recomendada para o dia-a-dia na cidade.
É preciso definir o USO que fará da motocicleta. Essa análise deve ser fria, porque precisa ser baseada em fatos concretos e não em teorias estapafúrdias como “esse estilo atrai mais mulher”, ou “essa moto dá status”, porque a chance de errar na escolha é altíssima. Seja objetivo e pragmático: a moto será usada como meio de transporte e pronto! Ou: quero uma moto para fugir do trânsito, economizar gasolina e fazer pequenas viagens com minha namorada na garupa.
O erro mais comum na escolha de uma moto é não definir o USO que o veículo terá. Isso gera motociclistas insatisfeitos porque compraram uma custom grande e pesada para enfrentar 20 km de congestionamento todos os dias. Ou aqueles que compram uma moto fora-de-estrada e jamais rodarão nem um quilômetro sequer na terra.
O segundo passo é definir quanto quer gastar. O preço é o primeiro grande fator seletivo. Sem definir o preço nem adianta começar a escolher. Por exemplo, eu adoraria ter uma BMW F 800 GS, mas acho que investir R$ 53.000 em uma moto está fora das minhas prioridades.
Só depois de definir o uso e o valor pode-se chegar às categorias de motos. Assim como os tênis as motos também têm suas especificidades. Claro que existem motos versáteis que atendem uma maior gama de uso, mas uma esportiva, por exemplo, é um inferno para usar diariamente no trânsito congestionado. E uma trail de um cilindro é um pé no saco pra viajar em alta velocidade.
Motociclista grande em moto pequena não combina!
Além disso é preciso avaliar o tamanho do motociclista e seu grau de experiência. Pessoas grandes ficam desajeitadas em motos pequenas, assim como pessoas pequenas não agüentam o peso de motos grandes.
E... e... ahá! Peguei você! Essa é mais uma série de artigos que será publicada em pílulas. Como envolve muitos detalhes o texto ficaria grande, chato e tenho de pensar nos meus amigos com déficit de atenção. Fique de olho no Motite que vou começar a série “A escolha”. Até a próxima!