
(Livro-TCC: tão bom que não parece TCC. Foto da capa: Daíza Lacerda)
Homenagem é uma coisa estranha. No Brasil são comuns as homenagens às personalidades que mais ferraram do que ajudaram. Por exemplo: os bandeirantes, que massacraram os índios de Sul a Norte e viraram nome de ruas, estradas, ganharam estátuas gigantes como a ridícula Borba Gato de São Paulo e se tornaram heróis.
Ou militares que mandaram jovens para a morte em batalhas duvidosas como a Revolução de 32, a Revolução Farroupilha, ou que promoveram chacina política em um golpe de Estado. Eles estão por aí em estátuas, pontes, ruas e estradas.
Existem homenagens em forma de prêmio. Oscar, Pulitz, Prêmio Esso, Jaboti etc. Ou o prêmio Abraciclo, que é conferido aos jornalistas que escrevem sobre motos e bicicletas. Ganhei duas menções deste prêmio: uma em 1983 e outra em 2006. Em 2008 um trabalho meu sobre dicas de pilotagem foi premiado, mas inscrito pelo diretor do filme Alma Selvagem, Renzo Querzoli e ele que foi receber o prêmio*.
Não mandei nenhum trabalho para o prêmio Abraciclo porque não gosto de ver meu trabalho de uma vida inteira ser comparado com de jornalistas que escrevem uma vez ou outra sobre o assunto, muitas vezes com um texto claramente "inspirado" no trabalho de outros profissionais.
Mas em 2008 recebi a homenagem que considero maior que qualquer prêmio seja em estatueta ou cheque. A estudante de jornalismo Daíza Lacerda – que conheci pela comunidade do Orkut – apresentou um trabalho de conclusão de curso que virou um livro intitulado “Motociclista: condutor de histórias” e recebeu 9,5 da banca. Sei que bancas raramente dão 10 porque é uma filosofia de trabalho: não existe a perfeição!
Este livro começa contando a história de um jornalista especializado: EU! E ela me descreve como “um homem robusto, de estatura média, ligeiramente careca”. Se ela perdeu 0,5 ponto no trabalho foi por culpa desse “ligeiramente careca”. Ninguém é rapidamente careca. Careca é uma coisa que demora muuuuito para conseguir e fica pra sempre!
O capítulo dedicado à minha pessoa é uma homenagem tão honesta, sincera e fiel que vale mais que qualquer prêmio. Livros são eternos, ficam registrados na Câmara Brasileira de Livro e no Arquivo Nacional. Ninguém pode contestar ou apagar. Está lá. Para sempre.
Daíza, tenha certeza que você já uma jornalista, infelizmente, porque bem que eu avisei para ser médica, arquiteta, bióloga...
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(Mulher no guidão! Tudo de bão!)
O destaque do livro fica por conta da visão fiel sobre a moto. Daíza conseguiu fugir da armadilha de fazer o discurso em defesa da moto, motoboys ou, pior, enaltecendo as “mulheres motociclistas”. A postura foi muito fiel a quem vê um assunto sem contaminar com as experiências e filosofias pessoais. É a chamada isenção, tão difícil de conseguir no jornalismo e na vida.
Ela usou o tema “moto” por ser ela mesma uma motociclista que não se intimida em pegar 300 km pilotando a CGzinha. Se as empresas do setor motociclístico ainda tivessem profissionais com esta paixão sincera podem ter certeza que teríamos campanhas muito mais humanas e menos comerciais.
Parabéns, Daíza, e muito obrigado por me tornar eterno!
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* Obs: A pedido do diretor Renzo Querzoli, devo esclarecer ao público que a inscrição do capítulo "Pilotagem Segura" do filme "Alma Selvagem" no Prêmio Abraciclo de Jornalismo foi feita com o meu consentimento. E que não inscrevi em meu nome por não concordar com os critérios de julgamento do referido prêmio. Portanto, declaro publicamente que abro mão do prêmio de R$ 4.500 em dinheiro conferido à empresa organizadora do prêmio e faço tornar público que não houve qualquer ato de má fé por parte do diretor do filme.