A vida pode mudar com apenas um diagnóstico. Foto: Tite.
Um retorno inesperado que mudou tudo.
Como você está hoje? Esta é a pergunta que mais ouço e leio das pessoas que seguem este blog. Para surpresa de todos eu até que estou relativamente bem. Ministrando aulas de pilotagem de moto para iniciantes, palestras em empresas, me virando do jeito que dá e a vida permite, com a saúde meio combalida pelo peso dos quase 65 anos, tentando embalar em um relacionamento amoroso.
Sobre esse último item uma curiosidade: depois de muito insistir, meu amigo Kabé me convenceu a entrar em um App de namoro, o tal Inner Circle. Já não gostei do nome porque tudo que tem círculo no meio é suspeito. Mas criei um perfil e foi patético. Primeiro porque, ingênuo, coloquei minha idade verdadeira, coisa que nenhum(a) over 60 faz. Todo mundo lá tem menos de 60 anos, não importa o tanto de rugas. E segundo porque minha timidez quase doentia me impediu de combinar qualquer encontro, apesar de ter recebido muitas curtidas.
Achei meio constrangedor o App, porque me senti como carne exposta no açougue, ou uma refeição no cardápio. Tipo, a pessoa entra no seu perfil e pede “hum, quero esse cochão duro e esse patinho”. Depois dá “like” e desaparece.
Além disso eu fui (e ainda sou, porque é um cargo vitalício) professor de Português. No primeiro erro grave já me desanima. E hoje em dia quase ninguém mais sabe conjugar verbos no infinitivo. É um tal de “faze”, “fica”, “encontra”, no lugar de fazer, ficar, encontrar. Torna-se até difícil entender se a pessoa está se referindo ao passado, presente ou futuro.
Depois de poucos dias cancelei meu perfil e voltei para minha vidinha calma e tranquila de solteiro, por enquanto... Mas aconteceu algo mágico, que vou deixar pra contar depois.
O retorno.
Durante 18 meses Maria e eu vivemos em casas separadas, mantendo um relacionamento cordial, amigável, mas com certo distanciamento. Nenhum “acerto de contas”, algumas poucas DRs, mas acompanhei a angústia dela não apenas pela quebra do pacto de união em casas separadas, como também pela chegada da menopausa com todo pacote incluído.
Continuamos saindo juntos com nossos amigos, ela ainda cozinhava pra mim, dividíamos a guarda dos nossos filhos caninos e a vida foi caminhando.
Neste período conheci mulheres muito interessantes, que até deram abertura para relacionamento, mas eu ainda vivia o pesadelo da disfunção erétil sem saber que poderia ser resolvida de maneira até mais simples do que imaginava.
Logo depois da cirurgia de remoção da próstata tentei tomar os remédios tradicionais mas tive taquicardia. E seguiu-se uma sucessão de erro e desinformação, causada sobretudo por um plano de saúde de merda, com médicos ridículos de tão ruins. Estou me referindo ao Intermédica, Notre Dame, ou seja lá qual nome que eles adotam, porque muda o tempo todo.
Muitos exames e consultas que chegaram a nenhuma conclusão se eu poderia, ou não, consumir os remédios para disfunção erétil. Segundo o urologista, sim. Segundo a cardiologista era melhor não.
Sem a segurança para transar continuei levando a vida de eunuco feliz e até conformado da minha condição, evitando mulheres interessantes, me agarrando ao skate como forma de liberar endorfina e adrenalina e seguindo minha jornada rumo à senilidade.
O skate sempre servindo como fuga para os reais problemas.
Até que algo totalmente fora do programa aconteceu. Em setembro de 2022 Maria veio com uma bomba:
– Não estou conseguindo me manter pagando aluguel, preciso voltar pra casa no fim do ano!
Fui pego de surpresa, meio assustado, porque não previa esse retorno. Ela foi clara na argumentação:
– Só por um tempo, até me acertar financeiramente. Mas vamos viver como colegas que dividem a casa, sem romance, sem amor, sem sexo!
Ops, já tínhamos vivido assim antes. Não foi uma experiência boa. Mas sou filho de uma mãe italiana, acolhedora, mantenedora, redentora e na hora não respondi nada. Só que ia pensar. Na verdade não pareceu um pedido, mas uma afirmação, tipo da que não oferece escolha.
Daquele momento até a possível mudança teria quase três meses para trabalhar essa volta na minha cabeça. Na minha, porque na dela já estava definido a ponto de avisar a imobiliária que desocuparia a casa no dia 31 de dezembro.
A época coincidiu com a produção do anuário AutoMotor do meu mais longevo trabalho como jornalista, ao lado de uma equipe super divertida, comandada pelo meu primeiro editor, Reginaldo Leme e sua filha-prodígio Daniela Leme.
Equipe que virou uma família: Reginaldo à frente, à esquerda, Miguel, eu, Ellen, Andrea, Bruno, Tiago, Daniela e Ed.
O trabalho de edição de texto, revisão, produção me manteve ocupado, mas sempre com a cabeça naquela novidade: Maria voltar para casa como uma room-mate. Durante dias seguidos fiquei matutando se seria uma boa ideia este retorno nestas condições de colega de casa. Ela se mantinha irredutível na postura de “apenas bons amigos que dividem as despesas”, mas eu começava aos poucos a alimentar uma possível volta à vida de casal. Mas, novamente, não tivemos muita chance para conversar seriamente sobre as consequências dessa volta.
E o tempo foi passando...
Silenciosamente, mais uma vez, vivi um dilema. Aceitar ou não esse retorno. Este era o momento certo para buscar ajuda terapêutica, porque certas decisões precisam de alguém isento para ajudar. Amigos e parentes são péssimos conselheiros. Porque não é a vida deles que pode desandar que nem uma maionese aguada.
Sem coragem pra dizer simplesmente “não quero”, pensei em criar uma suposta “namorada” para evitar o que imaginei ser um erro desde o começo. Com uma enorme dose de irresponsabilidade fui deixando o tempo passar sem tomar nenhuma atitude até que passei a alimentar seriamente a possibilidade de um novo começo.
E o tempo foi passando... Até chegar o dia 28 de dezembro de 2022.
A volta
O dia 28, era o nosso fechamento gráfico do anuário, que fazíamos dentro da própria gráfica Pancrom. Revisar mais de 300 páginas, textos, legendas, títulos, subtítulos, tabelas (muitas), fotos uma montanha de páginas acumuladas sobre uma mesa gigante, com vários colegas em volta. Pense num trabalho exaustivo.
Como sempre começamos pela manhã, sem previsão para ir embora, o que acontecia por volta de três da manhã do dia seguinte, depois de devorar muitas pizzas, batatas fritas, Big Macs, salgadinhos, litros de café e Coca-Cola.
Las embarazadas: Andrea, Dani e Ellen, tão inseparáveis que engravidaram juntas!
A parte boa desse trabalho é que a equipe se conhece há décadas, criando um laço verdadeiramente familiar. Só por curiosidade, três das mulheres da equipe engravidaram ao mesmo tempo – não do mesmo pai, felizmente!
Para manter o moral dessa turma, num trabalho verdadeiramente exaustivo temos uma receita infalível: o bom humor! Sim, por mais cansados, exauridos e esfomeados conseguimos manter o humor lá nas alturas. Especialmente neste fechamento eu estava atacado. Nem humorista profissional fez aquela turma rir tanto. Quando estávamos nos despedindo no estacionamento alguém comentou:
– Foi o fechamento mais engraçado da história!
E eu, sem preparar o terreno, sem avisar nada e sem falar nada, só soltei a notícia:
– Hoje a Maria voltou pra casa.
Montei na moto e saí pela Marginal Pinheiros vazia, morrendo de vontade de chegar em casa, porque enquanto eu estava na gráfica ela fez a mudança de volta ao nosso lar onde vivemos por 20 anos.
Quando abri a garagem de casa tinha muitos móveis espalhados, caixas de papelão, todo tipo de embrulho. Os cachorros acordaram e correram me receber. Fui até a suíte conferir se ela estava lá. Sim, estava no colchão ainda jogado no chão, sem cama. Deixei ela dormindo e fui pro meu quarto. Ao colocar a cabeça no travesseiro me deu um calorzinho no peito e me veio uma sentença:
– Eu vou reconquistar essa mulher!
(continua...)
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