Às armas: primeira vez de um português na MotoGP: obrigado Miguel Oliveira (fotos: MotoGP.com)
Em um domingo histórico Celestino Vietti, na Moto3, Marco Bezzecchi, na Moto2 e Miguel Oliveira, na MotoGP vencem pela primeira vez.
Como a ausência de um super piloto como Marc Márquez pôde fazer tão bem para a categoria MotoGP? Simples, sem ele a bordo da Honda os terrestres tiveram chances de conseguir suas primeiras vitórias. Nas cinco etapas da MotoGP tivemos quatro vencedores diferentes: Quartararo duas vezes, Brad Binder, Andrea Dovizioso e Miguel Oliveira. Destes, apenas Dovi não era estreante em vitórias e esse monte de primeiras vitórias só foi possível porque o extra-terrestre MM93 está no estaleiro.
Que corridas! Até encerrar os últimos metros das três categorias da mundial de Motovelocidade no GP da Estíria, na Áustria, não era possível afirmar quem seria o vencedor em cada categoria. Como disse uma vez o falecido Niki Lauda: quem gosta de carro assiste Fórmula 1, mas quem gosta de corrida assiste motovelocidade.
Foram três corridas que fizeram jus à declaração de Lauda. Cada categoria com suas particularidades, marcas e equipes diferentes, mas cada corrida com muito equilíbrio como se fosse uma prova de 100 metros rasos no atletismo.
Estamos vivendo um ano esquisito em várias modalidades. No automobilismo e motociclismo a preocupação em viajar com uma enorme caravana pelo mundo fez o calendário encolher e à repetição de pistas em dois fins de semana seguidos. Como resultado, as equipes conseguem afinar melhor os equipamentos para a segunda corrida na mesma pista. Por isso as segundas corridas são mais emocionantes.
Glub, glub: pode beber, Celestino Vietti, sua vitória foi maiúscula.
Moto3
Eu já estava de olho no Celestino Vietti desde a etapa de Brno. O italiano faz parte da Academia VR46 do Valentino Rossi, uma espécie de criadouro de talentos. Estrou na Moto3 em 2018 substituindo o piloto titular na equipe Sky e os ótimos resultados o levaram a ser efetivado na equipe em 2019, ano que fez a primeira temporada completa. Só faltou a vitória!
Na primeira corrida em Spielberg, Vietti conseguiu arrancar o terceiro lugar praticamente na última curva. Chegou a ser entrevistado após a corrida, mas foi punido por ter excedido os limites da pista. Ficou tão “mordido” que desta vez mostrou muita consistência desde os primeiros treinos, principalmente no warm-up, sempre entre os cinco primeiros.
Mas quem fez a pole foi o surpreendente argentino Gabriel Rodrigo. Apesar de ter apenas 23 anos, Gabriel já zanza pela Moto3 desde 2014, sempre fazendo provas esporádicas, convidado por algumas equipes, quando conseguia uma grana. Chegou a fazer quatro poles antes desta, um pódio em 2018, quando conseguiu fechar uma temporada completa por uma equipe de ponta e terminou o ano em sétimo. Nas primeiras corridas de 2020 esteve sempre entre os primeiros nos treinos, mas nas corridas não confirmava a velocidade. Desta vez se manteve sempre entre os três primeiros e só não pegou um pódio por muito pouco, terminando em quarto. Mesmo assim não cravo ele como favorito porque alterna bons desempenhos com corridas medianas.
Completaram o pódio: o italiano Toni Arbolino que liderou o maior número de voltas e deu a impressão que venceria, mas como reza a tradição, vence quem lidera os metros finais. Não adianta liderar todas as voltas, menos a última! Em terceiro o japonês Ai Ogura, que deixou escapar a vitória na última volta.
O 13 da sorte do italiano Vietti.
O líder do campeonato, Albert Arenas, não foi bem nesta segunda prova da Moto3 na Áustria. Correu pensando mais no campeonato e foi beneficiado pelas quedas para terminar em quinto lugar e manter uma folgada diferença de 25 pontos sobre o segundo, Ai Ogura.
Como sempre uma corrida de prender a respiração da largada até a bandeirada!
O que eu não disse na transmissão: na verdade eu disse. Antes da largada falei que essa é uma categoria que não tem preocupação com desgaste de pneus, que até sobra pneu no final da corrida. Mas no fim, na hora das entrevistas dos três primeiros o Toni Arbolino me quebra as pernas ao afirmar que ficou preocupado com os pneus! Espero que tenha escolhido os pneus errados. Mas desconfio seriamente que foi apenas uma desculpa esfarrapada.
Moto2
A pole-position foi do espanhol Aron Canet. Apesar de ter apenas 20 anos já está na quarta temporada no mundial, três na Moto3, onde foi vice-campeão em 2019. Bastaram menos de 300 metros para ele perder a liderança. Pena que ao lado dele estava o também espanhol Jorge Martin, que largou como um torpedo, assumiu a liderança e abriu uma enorme diferença (para os padrões da motovelocidade) de 2 segundos. Mas na 16a das 25 voltas o italiano Marco Bezzecchi começou a fazer voltas de classificação e encostou no líder na penúltima volta. Na linha de chegada Martin cruzou em primeiro, mas não levou. Quando saiu da última curva ele excedeu alguns poucos centímetros o limite da pista. Como já tinha sido punido pelo mesmo motivo, acabou perdendo o primeiro lugar.
Bezzecchi (72) a primeira vitória caiu no colo.
Uma tremenda injustiça, porque ele já estava voltando para a pista e não obteve vantagem nenhuma. Seria mais justo se a direção da prova analisasse o tempo do piloto na última volta para saber se obteve alguma vantagem, porque tirar uma vitória de ponta a ponta por causa de centímetros é muito triste. Surpreendente terceiro lugar de Remy Gardner que, finalmente, correu mais concentrado sem cometer erros costumeiros.
Andando sempre no pelotão intermediário, Luca Marini conseguiu terminar em sétimo e viu sua vantagem na liderança do mundial cair para oito pontos sobre Enea Bastianini, décimo colocado nesta etapa e Jorge Martin. A categoria ficou muito equilibrada e Martin nem se mostrou tão frustrado com a perda da vitória porque sabe que já garantiu seu passaporte para a MotoGP em 2021.
O que eu não disse na transmissão: que estava prestes a elogiar o Sam Lowes quando ele perdeu o ponto de frenagem e acertou o Denis Oncu a meia-nau. Montou na moto, voltou pra corrida e... caiu de novo! Nesta hora eu ia comentar que meu recordo foi três quedas num único treino em Goiânia, mas fiquei com vergonha!
Bandeira de Portugal no lugar de honra da MotoGP.
MotoGP
A principal tensão pré-corrida foi o sumiço do Alexandre Barros! A produção mandou o aviso pra ele às 8:15 e nada. Chegou 8:45 e nada de Alexandre. Na largada ele ainda estava sumido e finalmente ele entrou no link da transmissão quando a corrida foi interrompida. Ficou sem internet em casa. Você sabe, já expliquei zilhão de vezes que estamos cada um na própria casa. Morro de medo de acabar a luz na minha rua, algo absolutamente corriqueiro graças à desgraça de fornecedora Enel. Depois desta manhã fiquei mais apavorado ainda.
Até o acidente do espanhol Marc Márquez na primeira etapa, os pilotos da MotoGP largavam pensando em quem seria o segundo colocado. O domínio da dupla Marc/Honda em 2019 foi tão avassalador que marcou 151 pontos a mais que o vice, Andrea Dovizioso. Essa contagem equivale a seis vitórias de diferença! Mas veio o acidente, o erro grosseiro na recuperação, que causou uma nova fratura e agora o anúncio oficial de que não voltará antes de três meses. Ou seja, dificilmente correrá em 2020. A MotoGP agradece essa ausência.
As duas Honda oficiais continuaram amargando posições no final do grid de largada. Mas nesta etapa tivemos uma surpresa: o segundo tempo de Takaai Nakagami com uma... Honda da equipe privada LCR. Novamente fica a dúvida se o problema está na construção de uma moto feita sob medida para Marc Márquez ou se a equipe oficial ficou perdida sem um piloto de ponta para ditar o ritmo.
Sem freios, Maverick Viñales foi obrigado a pular da moto a 200 km/h!
A corrida foi de acabar com as unhas e enfartar até adolescente. Na largada o espanhol Joan Mir, de Suzuki, pegou todo mundo no contra-pé e partiu como um Exocet abrindo espaço para o resto do pelotão. A KTM conseguiu a primeira pole-position, desta vez com Pol Espargaró. Estes dois, mais o japonês Nakagami se destacaram do resto do grupo e Mir começou a imprimir um ritmo forte com a Suzuki.
Aqui vale uma observação. Na MotoGP tem dois tipos de motores: os de quatro cilindros em V das Honda, KTM, Ducati e Aprilia e os motores de quatro cilindros em linha da Yamaha e Suzuki. Os motores quatro-em-linha tem virabrequim mais largo e isso ajuda a ser mais estável e veloz durante as curvas. Já os motores em V (na verdade em L, porque tem ângulo de 90º) são mais rápidos em aproximação e saída de curvas. Os pilotos da Yamaha e Suzuki conseguem fazer as curvas mais rápidos, mas só quando estão sozinhos, sem nenhuma moto com motor V-4 por perto. Pode conferir: as duas vitórias da Yamaha neste ano foram de ponta a ponta, quando Quartararo largou em primeiro e sumiu na frente. É um papo técnico chato pra caramba, mas tem a ver também com comprimento de bielas, configuração em V, efeito giroscópico do virabrequim etc. Já escrevi um texto técnico sobre isso no passado, mas procurar e atualizar.
Desta vez quem largou na frente foi Mir de Suzuki e ele já tinha dois segundo de vantagem quando o mundo viu uma cena horripilante. Na 17a volta Maverick Viñales ficou sem freio na Yamaha número 12 a 250 km/h. Não teve outra escolha senão pular fora da moto. Isso mesmo, ele se ejetou do banco a 200 km/h. Haja coragem e confiança no equipamento!
Uma chegada típica da Moto3, mas com muito mais potência! Oliveira (88), Miller (43), Pol (44) e Mir (36)
A moto seguiu reto, bateu no airfence e pegou fogo. Bandeira vermelha, de novo. E lá se foram as chances de a Suzuki de vencer. Com a nova largada aquelas equipes que ainda tinham pneus macios no estoque se deram muito bem: Jack Miller (Ducati) Pol Espargaró (KTM) e o português Miguel Oliveira (KTM). Estes três se isolaram nas três primeiras posições, com Miller e Espargaró num pega suicida. Oliveira ficou só comboiando e quando entraram na última volta parecia uma corrida de Moto3. Espargaró tentou passar na última curva, abriu demais e levou Miller junto. Oliveira aproveitou, passou os dois e deu a primeira vitória para Portugal, o que levou muita emoção a todo box. Como prêmio por ter vencido a 900a corrida da classe rainha, Oliveira ganhou um belo BMW M4.
Quem ficou bicudo foi Joan Mir, claro, que não tinha pneus macios e viu sua chance de vitória pulverizada, mas ainda fez um bom quarto lugar. Divizioso em quinto e a outra Suzuki de Alex Rins em sexto.
Um esclarecimento: as equipes têm um número limitado de pneus por etapa. Essa regra é justamente para equilibrar os orçamentos e não dar vantagens para quem tem mais ficha no brinquedo. Durante os treinos os pilotos testam várias combinações de pneus e consomem boa parte deles. Deixa um jogo pra corrida e quando tem essa interrupção com nova largada nem sempre sobrou pneu macio na prateleira. Foi o que aconteceu com Jack Miller na primeira prova da Áustria.
Decepção total das Yamaha. Com problemas sérios de freios, Viñales deu aquele susto, Valentino Rossi ficou em nono, Quartararo em 13o e Franco Morbidelli em 15o.
A falta de Marc Márquez deixou o campeonato muito equilibrado, que ainda tem Quartararo em primeiro, com 70 pontos, Dovizioso em segundo com 67 pontos e Jack Miller com 56. Olhando assim não dá pra dizer que estamos com saudades do genial Marc Márquez. Mentira, estamos sim!
O que eu não disse na transmissão, ou melhor, o que eu disse: assim que o monitor mostrou a moto espatifada do Viñales enfiada no airfence eu cantei a bola: ficou sem freios! Mas demorou pra acreditar que ele tenha simplesmente pulado da moto como um assento ejetor do James Bond. A impressão era de que ele tinha perdido o pé de apoio na frenagem e escorregado da moto. Isso é tão comum que foi o que vitimou o querido e saudoso Marco Simoncelli, quando escapou o pé direito da pedaleira e, sem apoio, fechou a curva e foi atingindo por Colin Edwards e Valentino Rossi. Mesmo assim, depois de rever a cena deu pra ver que o cabra realmente se jogou no asfalto naquela velocidade. Depois o Alexandre confirmou.
Mas a cagada maior veio depois da bandeirada. Nós temos um chat entre todos os comentaristas e produtores o tempo todo informando sobre intervalos, detalhes técnicos, recados em geral. Eu pisquei o olho e perdi a cronologia pós pódio e achei que não teria mais comentários. Desliguei o microfone, tirei o fone e já estava longe da mesa quando escutei a voz to Téo José me chamando! Voltei correndo, coloquei o fone, esperei minha deixa de novo e... esqueci de ligar o microfone! Assim as pessoas acharam que eu tinha simplesmente sumido, quando na verdade estava aos berros gritando para um microfone desligado. Desculpem por isso...
Andrea Dovizioso: desempregado e vitorioso. (Foto: Ducati)
Dovizioso na MotoGP, Jorge Martin na Moto2 e Albert Arenas na Moto3 foram os vencedores
Sempre imaginei como seria para um locutor ou apresentador quando tem de narrar/comentar um grave acidente ao vivo. Bom, neste domingo (16) acabei de saber: dá vontade de desmaiar, gritar, chorar, vomitar e mijar. Tudo isso, não necessariamente nesta ordem. Quando vi o malaio Hafizh Syahrin (não acertei uma vez a pronúncia deste cara) rolando no asfalto, que nem um boneco de posto de gasolina, lembrei na hora do Marco Simoncelli e quase me borrei.
Quando um piloto cai consciente (eu sei bem disso porque já caí umas 200 vezes) o corpo adquire uma postura defensiva. Os membros mantêm uma dinâmica típica de quem sabe que vai se levantar. Mas quando o piloto cai e rola inconsciente o corpo parece uma mariola rolando no chão. Braços e pernas ficam molengas e isso é um péssimo sinal. O nosso cérebro tem uma chavinha que diante de um trauma “desliga” o resto do corpo como forma de proteção, tipo “fica quieto e espera esse liquidificador acabar”. Não significa necessariamente trauma crânio-encefálico, pode ser uma concussão, quando o cabra levanta pegando a Globo no 13. Depois volta ao normal.
Nos acidentes de moto a pior situação é essa: a moto ou o piloto ficam na pista e o resto do pelotão vem atrás. Atropelar ou ser atropelado nunca termina bem. Por isso eu gelei na hora da transmissão e só relaxei quando apareceu a informação de que todos os pilotos estavam conscientes. Vamos às corridas!
Albert Arenas: o piloto mais calculista da Moto3, deu o bote na última volta! (Foto: MotoGP.com)
A programação começou como sempre pela Moto3, a categoria mais equilibrada do fim de semana. Durante os treinos livres e na classificação dois pilotos se destacaram pela velocidade e regularidade: os espanhóis Raul Fernandez e Albert Arenas. Do primeiro ao 16º colocado a diferença era de menos de um segundo, o que já previa uma corrida de fortes emoções.
De fato, da primeira à última volta não era possível prever quem venceria. Nesta categoria é normal ter várias trocas de posição em cada volta. O narrador não pode nem piscar que perde lances importantes. Na metade das 23 voltas um pelotão se destacava com os espanhóis Arenas, Jaume Masia, o turco Deniz Oncu, os italianos Celestino Vietti, Toni Arbolino e o sul africano Darryn Binder. De repente surgiu no meio desse povo o japonês Ai Ogura e esse grupo ficou embolado até a última curva da última volta, quando Albert Arenas conseguiu sair do terceiro para o primeiro lugar praticamente na linha de chegada.
Pecado a punição para Celestino Vietti, que fez treinos consistentes, estava com ritmo para vencer, mas na última volta passou o limite da pista para cruzar em terceiro e foi punido com acréscimo de tempo, caindo para a sexta posição. Melhor para John McPhee, que deixou para atacar nas voltas finais e foi premiado com a terceira posição. Vietti chegou a ser entrevistado no final da prova, mas não subiu ao pódio. Excelente segundo lugar para Jaume Masia que tem um estilo muito agressivo, principalmente nas ultrapassagens, e liderou até quase a última curva. Mas deixou o recado pra todo mundo.
O campeonato viu Albert Arenas abrir uma enorme vantagem de 28 pontos sobre John McPhee (95 a 67), mas tem muita água ainda pra passar por baixo dessa ponte.
O que você não viu: quando a transmissão vai para o intervalo o sinal da geradora de imagens continua chegando para os narradores e comentaristas. Por isso vimos as entrevistas pós-corrida. O Celestino Vietti chegou a ser entrevistado como terceiro colocado. Estava lá todo feliz quando alguém chegou e disse que ele tinha sido punido por ter superado os limites da pista na penúltima curva. Sinceramente, acho um exagero porque não foi nem um palmo que passou do limite, mas como já tinha duas advertências acabou acrescentando tempo ao final, o que o derrubou para o sexto lugar.
Você também precisa parar de cobrar do narrador TODAS as ultrapassagens que rolam nesta categoria. Imagina 30 motos largando, com pilotos que ainda não tem dente do siso, comendo o fígado um do outro. Não tem como narrar todas as ultrapassagens, são inúmeras por curva! E tem de anunciar a programação do canal, ler as mensagens dos assinantes, chamar os patrocinadores etc. Sempre vai escapar um ou outro lance.
Na Moto2 deu Jorge Martin do começo ao fim! (Foto: KTM)
Moto2
A maior surpresa do treino foi a pole do Remy Gardner. Esse piloto é filho do campeão mundial Wayne Gardner (1987) mas parece que não recebeu muito do DNA campeão. Ele comete muitos erros, cai muito e nunca é uma aposta. Eu não falei no ar, mas nunca botei a menor fé nesse cara. Dito e feito: ficou pra trás logo na largada e depois caiu! A corrida estava super equilibrada até a abertura da quarta volta quando Enea Bastianini escorregou de traseira na saída da curva 1 e caiu, deixando sua moto no meio da pista. Os pilotos passaram muito perto, mas o malaio Hafihz Syahrin acertou em cheio. O piloto caiu já apagado e pregou um susto em muita gente. A prova foi interrompida para limpeza da pista e feita uma nova largada com a ordem que as motos estavam na volta número 3.
Nesta nova largada Jorge Martin partiu muito bem e sumiu na frente de todo mundo, com Luca Marini o tempo todo na cola e Marcel Schrotter em terceiro. Seguiram assim até a bandeirada. O inglês Sam Lowes se atrasou, corroeu o pneu traseiro em derrapagens insanas, mas conseguiu cruzar em quarto, com Xavi Vierge em quinto. Estes dois se enroscaram a partir da metade dessa prova, chegaram a bater carenagens, mas terminaram inteiros.
Para o campeonato o tombo do Bastianini não poderia ser melhor. A liderança passou ao mezzo-fratello Luca Marini com 78 pontos, seguido por Bastianini, com 75 e a dupla Jorge Martin/Sam Lowes com 59.
O que você não viu, ou espero que não tenha visto: neste domingo foi minha vez de errar feio. Na briga entre Sam Lowes e Marco Bezecchi eu falei Bastianini, o cara que caiu na terceira volta. As motos são iguais e vamos combinar que esses nomes italianos todos se parecem. Bezecchi, Bastianini, Balestrieri etc. Se fosse Silva e Pereira eu não teria errado.
Dovi: o demitido mais rápido do domingo! (Foto: Ducati)
MotoGP: o milagre
“Esta noite vou rezar”, assim Valentino Rossi, 41 anos, desabafou depois de ver a cena do terrível acidente entre Johan Zarco e Franco Morbidelli. Como explicado no primeiro parágrafo, Zarco mudou de trajetória de repente e Morbidelli não teve como desviar. Na pancada Zarco foi arrancado da sua Ducati, que continuou sozinha até bater na proteção e atravessar a pista bem entre Valentino e Maverick Viñales. A prova foi interrompida e isso foi decisivo para o resultado.
Repare o estado que ficou o capacete do Morbidelli: che spavento! (Foto: Petronas)
Até o acidente tudo caminhava para uma grande atuação de Pol Espargaró com a KTM. A marca austríaca vinha de vitória na prova de Brno e corria em casa, porque a pista de Spielberg é sede da equipe. Desde o começo do ano, o piloto de teste da KTM, Dani Pedrosa, já deu mais de 300 voltas nesta pista, desenvolvendo a moto nova que não tem um parafuso da versão 2019. Mudou tudo: motor, quadro, suspensão, rodas e pneus.
Mas veio o acidente e a prova foi interrompida. Enquanto os fiscais limpavam a pista a geradora de imagens mostrou a expressão do Valentino Rossi ao ver o quanto ele ficou perto de uma lesão muito mais grave. Acho que ele não teve uma noite de sono muito tranquilo nesta noite de domingo. Não me surpreenderia se ele anunciar a aposentadoria no final do contrato, mesmo que já tenha avisado que vai para a Petronas, pilotos do quilate dele podem parar a hora que bem entender, sem dar satisfações pra ninguém. Vide Nico Rosberg na F-1.
Para a segunda largada alguns pilotos aproveitaram a colocaram pneus macios na roda traseira, sabendo que seriam apenas 20 voltas. Esse foi o pulo do gato para as motos Suzuki e a Ducati de Andrea Dovisioso. Jack Miller disparou na frente na largada, trazendo Dovizioso na cola e Pol Espargaró conseguia um ritmo muito forte, junto o português Miguel Oliveira. Mas as duas Suzuki começaram a aparecer, ganhar posições e numa manobra fantástica Alex Rins ultrapassou a Ducati de Dovi assumindo a primeira posição. Nem teve tempo de comemorar, porque logo em seguida forçou demais e caiu, deixando o caminho livre para Dovizioso.
O que o Pol Espargaró tem de rápido tem de afobado: duas quedas em duas provas. (Foto: MotoGP.com)
Pol Espargaró até assinalava para uma chegada no pódio, porém preferiu largar com os pneus médios, errou uma curva, perdeu a trajetória e, ao voltar, acertou Miguel Oliveira. Duas KTM abandonaram na mesma curva! Na casa da KTM... O Pol Espargaró é um caso à parte: o que tem de veloz tem de desequilibrado e deixou escapar dois grandes resultados pelo excesso de afobação.
A prova caminhava para um final com Dovizioso, Miller e Joan Mir até a última curva, quando Miller alargou demais e Mir conseguiu roubar a segunda posição numa manobra de levantar a plateia (se existisse). Foi o primeiro pódio de Mir e serviu para também apresentar o cartão de visitas da Suzuki. Equipada com motor de quatro cilindros em linha, é uma moto que vai bem nas pistas de alta velocidade.
As Yamaha e as Honda novamente decepcionaram. A melhor Yamaha foi a de Rossi, em quinto lugar. Fabio Quartararo ficou sem freios nas primeiras voltas e só terminou em oitavo lugar porque conseguiu arrumar a moto pra segunda largada. E Maverick Viñales teve problemas com a embreagem logo após a largada. Teve de esperar esfriar para voltar a atacar, encerrando em 10º. Já com as Honda oficiais é só tristeza: Alex Marques até conseguiu fazer treinos convincentes, mas na corrida ficou sempre de 14º pra trás. Stefan Bradl já deve sonhar com a volta de Marc Marquez porque seu desempenho é sonolento. Terminou em último entre as motos que cruzaram a chegada.
Esta vitória de Dovizioso sela uma curiosa coincidência. Em 2019 na semana que a Ducati anunciava a despedida de Jorge Lorenzo o espanhol foi pra pista e venceu. Hoje, horas depois de anunciar a demissão de Andrea Dovizioso o piloto italiano foi lá e venceu também. Jeito estranho de estimular os pilotos!
O campeonato ganhou mais equilíbrio, com Quartararo ainda em primeiro, com 67 pontos, seguido do “rei de Spielberg” Andrea Dovizioso, com 56 e Viñales com 48. No próximo domingo, dia 23 terá mais uma etapa em Spielberg e Marc Marques ainda não estará no grid de largada.
Acho que Valentino Rossi vai pensar muito sobre a chance que a vida lhe deu. (Foto: MotoGP.com)
O que você não viu: o cachorro do Alexandre Barros desandou a latir feito louco!!! Eu ouvia e mandei um aviso pelo chat da plataforma de transmissão, mas ele não conseguiu calar o bichinho. Acho que este áudio não vazou para o público, mas eu entrei em pânico.
Tenho acompanhado os comentários dos fãs nas redes sociais. Ainda tem um monte de viúvas do SporTV. Mas parece ninguém percebeu que esta foi apenas a QUARTA transmissão dessa equipe, enquanto a dupla anterior trabalhou junto na motovelocidade por 13 anos. Espero estar bem melhor nos próximos 12 anos e meio, estou me esforçando muito para melhorar a voz, a dicção e decorar os 110 pilotos que participam de todo o fim de semana. Só preciso de um pouco mais de treino!
Pode anotar: temos mais um monstrinho na MotoGP: Brad Binder. (Foto: MotoGP.com)
Primeira vitória da KTM e de Brad Binder na MotoGP
Desde os tempos da faculdade de jornalismo meus professores de rádio e TV me desestimularam a trabalhar na mídia eletrônica. Segundo eles, minha voz era tão ruim que eu precisaria fazer de tudo para ser um bom redator. Fiz mais do que isso: fui um ótimo redator e um excelente fotógrafo. Porém a vida me conduziu até aqui aos 61 anos para fazer comentário justo onde: na televisão!
Logo depois da primeira transmissão a FoxSports me ofereceu os serviços de uma fonoaudióloga por conta da casa. Pobre moça está com uma dura missão de me transformar no William Bonner, pelo menos a voz, porque a cara... Toda semana de corrida ela me chama no zap e ficamos estudando como melhorar minha voz. Desta vez ela aconselhou acordar mais cedo, ingerir muito líquido e fazer gargarejos com água morna. Fiz tudo isso que ela recomendou, por isso tive de sumir da transmissão três vezes na Moto2 para fazer xixi!
Isso é só pra você tentar entender como é fazer transmissão em regime de home office. Além disso eu fico com três computadores ligados na minha frente. Um com a plataforma de reunião virtual. Outro com o site da MotoGP no live timing e um terceiro para acessar o Google e descobrir porque o alemão Pit Beirer estava numa cadeira de rodas no box da KTM. Ainda tenho de ficar com o cursor em cima do botão de silenciar o microfone porque a qualquer momento meus cachorros poderiam acordar e sair latindo freneticamente. E tem gente que reclama dos comentaristas...
Para esta quarta etapa do Mundial de Motovelocidade (terceira da MotoGP) eu consegui acordar uma hora mais tarde porque não teve a MotoE. Obrigado Eric Granado! Por isso dessa vez consegui até tomar café da manhã! Comentar alimentado é muito melhor...
A programação começou com a eletrizante Moto3. É a categoria adrenalina com testosterona. Estudei todos os treinos e dois pilotos se destacaram: Raul Fernandez e Gabriel Rodrigo. Nesta categoria a competitividade é aquela velha briga de foice no elevador com a luz apagada. O pega pra capar começou na largada e logo de cara o argentino deu uma escapada de traseira que minou a confiança. Daí em diante foi ladeira abaixo. Isso não é anormal; o psicológico de um piloto fica realmente afetado depois de um quase tombo. Menos para os super homens que voltam ainda mais rápidos. O que não é o caso do Gabriel.
Magistral: Dennis Foggia dominou a Moto3. (Foto: MotoGP.com)
Desta vez Albert Arenas correu pensando no campeonato e fez a lição de casa direitinho. Pilotou para fazer o maior número de pontos e nem ameaçou a liderança do Dennis Foggia, que foi magistral! Ele teve a corrida o tempo todo sob controle. Às vezes parece que eles estão se matando, mas nesta categoria a troca de vácuo faz muita diferença, por isso alguns pilotos percebem que podem liderar, mas preferem ficar ali no meio do bolo para atacar só no final. Na maioria das vezes dá certo, mas na segunda prova de Jerez o Arenas espirrou da pista porque estava embolado.
O que eu não comentei no ar: que o Albert Arenas é favoritaço ao título e mostrou isso neste domingo ao correr usando mais a cabeça e menos o punho direito. Que o Gabriel Rodrigo me fez queimar a língua de novo!!! Nunca mais aposto neste moleque!
Vitória de ponta a ponta: é raro, mas acontece muito! (Foto MotoGP.com)
Moto2
Mais uma vez estudei todos os tempos de todos os treinos e cravei a vitória no Sam Lowes. Estudei e levei pau. Porque ninguém neste mundo de meu Deus poderia imaginar o que o Enea Bastianini fosse liderar de ponta a ponta. Isso é que nem meteoro: acontece a cada 60 anos. O Sam Lowes veio na toada e conseguiu arrancar um segundo lugar depois de tirar quase dois segundos de diferença e cometer pequenos erros. Experiente (o mais velho dos três primeiros) decidiu colocar a cabeça no lugar e garantir o segundo posto.
O Joe Roberts é um mistério. Vem de três temporadas medíocres, fez a pole na primeira etapa no Qatar, depois foi 17º nas duas corridas de Jerez e agora fez a pole de novo. Como entender um piloto com mais altos e baixos do que um eletrocardiograma? Dessa vez ele literalmente suou o macacão para se manter em terceiro nas últimas voltas.
O que eu não comentei no ar: o estado deplorável ao final da corrida do vencedor Bastianini e do terceiro colocado, Roberts, enquanto o “véio” Sam Lowes ( faz 30 anos no mês que vem) estava absolutamente inteiro, como se tivesse chegado de um passeio no parque. Lowes é veterano na Moto2, chegou na MotoGP pela claudicante Aprilia e regressou à Moto2 para dar calor nas crianças.
Pol Spargaró foi alvejado por Johan Zarco.(Foto: MotoGP.Com)
MotoGP, hímens rompidos
Mais uma vez apostei no cara errado. Antes da corrida eu joguei todas as fichas no Fabio Quartararo. Porque vinha de duas vitórias convincentes. Mas o que vimos foi a largada perfeita de Franco Morbidelli que fez todos os treinos muito regulares, sempre entre os primeiros. Outro que fez treinos muito consistentes foi o francês Johan Zarco (sim, amigo, se ele é francês a pronúncia correta é Joãn Zarcô, qualquer outra é invenção), de Ducati 2019. Ele esteve sempre dentro do mesmo décimo de segundo do melhor tempo. No treino de classificação encaixou uma volta voadora (pegou vácuo) e fez a pole. Foi a primeira vez que dois franceses ocuparam os dois primeiros lugares na largada da categoria máxima.
Enquanto isso, Brad Binder fazia apenas o sétimo tempo nos treinos... que mineirinho!
Antes da largada o Téo José pergunta a todos os comentaristas qual palpite para o vencedor. O Edgard Mello Filho cravou Quartararo. O Alexandre Barros sugeriu Franco Morbidelli, mas deixou claro que as KTM estavam muito fortes. E eu cravei Quartararo. Veio a largada e o Morbidelli sumiu lá na frente. Zarco não durou nem 200 metros na liderança e ainda cometeu um pequeno erro que o jogou lá pra trás.
Tudo sinalizava para um flag-to-flag do Morbidelli, mas as KTM começavam a aparecer tanto com Binder quanto com Pol Spagaró. Neste bolo o Zarco também perdeu contato e estava se segurando entre os cinco, mas na alça de mira do Pol. Nesta briga o Pol alargou uma curva e quando voltou tentou fechar a porta do Zarco, que de bonzinho não tem nada e acertou o espanhol e mandou lá pra brita.
Quando Binder assumiu a segunda colocação estava a mais de dois segundos do Morbidelli. Diferença que simplesmente pulverizou em três voltas. Era visível que a KTM freava bem mais dentro do que a moto do Franco. Do jeito que chegou, passou e deu um abraço pra galera. Foi um festival de primeiras vezes: primeira vitória de um sul-africano no mundial de motovelocidade; primeira vitória de Binder na MotoGP e primeira vitória da KTM na MotoGP. E olha: se o Zarco não tivesse alvejado o Pol a KTM teria duas motos no pódio. E adivinha quem a KTM quer contratar em 2022? Um tal de Marc Marquez.
Falando nele, que grande, enorme, incomensurável cagada! Querer puxar ferro com uma placa de titânio parafusada no osso é coisa de cabaço no mais alto nível. Claro que a placa não aguentou e obrigou uma segunda cirurgia. Agora esquece 2020 (aliás, o ano que não existiu) e pode pensar em 2021. O mais patético da semana foi o coach Alberto Puig (se pronuncia púichi) vir a público afirmar que MM teve um acidente doméstico ao abrir uma janela! Fala sério, só se ele morar num castelo medieval!
Decepção gigantesca da dupla Honda/Repsol que conseguiram os dois últimos lugares no grid. Comentei no ar que a Honda pagou pelo preço de ter feito uma moto sob medida para o Marc Marquez (como já tinha feito com Casey Stoner). Deu certo por sete anos, mas neste domingo vimos que foi uma aposta arriscada. Tudo bem que o Stefan Bradl não estava familiarizado com a moto, mas Alex Marquez já está desde janeiro treinando e fazer o pior tempo do fim de semana certamente vai mexer com a cabeça do irmãozinho.
O que eu não disse no ar: que a KTM abandonou o quadro tubular de treliça e adotou o quadro perimetral. Além disso o motor V-4 é extremamente compacto, o que deixa a moto muito fina. A mudança do quadro + um motor compacto deixaram a moto mais maneável em pistas de média velocidade e deram mais retomada em saída de curva. A frenagem absurda do Binder pode ser creditada ao piloto e à escolha do pneu dianteiro.
Também não comentei o fiasco das Ducati oficiais. No caso do Dovizioso acho que tem grana no meio. Ele sabe que Jorge Lorenzo anda rondando os boxes da Ducati que nem mosca de padaria. Sabe que ele vai pedir um caminhão de dinheiro e que a Ducati pode aceitar. Isso realmente mexe com os intestinos da pessoa e reflete na falta de competitividade. Mas a Ducati de fábrica ver uma equipe satélite fazer pole e ainda chegar em terceiro é um golpe duro.
Para o campeonato não poderia ter sido melhor. Afastou uma possível hegemonia da dupla Yamaha-Quartararo, jogou luz em cima de motos que estavam “esquecidas” e vai prender a atenção até a última etapa, que ninguém sabe onde e quando será.
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