Novo pneu promete mais quilometragem
Tecnologia de fibras sintéticas e novo desenho são os segredos
Se existe uma mágica difícil de conseguir é desenvolver um pneu que consiga bom desempenho nos quesitos de aderência, frenagem, conforto e ainda dure muito. Geralmente esse é um compromisso difícil de alcançar no mundo real. Quer dizer, era, porque a Pirelli acabou de apresentar o Super City, voltado para motos da faixa de 100 a 160cc e que promete rodar mais de 25.000 km, o que seria o dobro da quilometragem alcançada pelo modelo concorrente.
Bom, foi uma apresentação estática, ou seja, nós apenas vimos o pneu em um mostruário e ouvimos tudo que os engenheiros e marketeiros tinham a dizer. E papo de engenheiro é bem bacana, só que precisa de um tradutor que, nesse caso, serei eu mesmo.
O engenheiro disse o seguinte: graças a uma nova tecnologia de construção, novos desenhos (e profundidade) dos encavos e materiais sintéticos a área de contato com o solo foi cresceu em 17% na largura mas ficou 11% mais curta. Como resultado o pneu oferece menor resistência mecânica, sem reduzir a estabilidade e conforto. Traduzindo: o pneu encosta menos no asfalto e menor atrito quer dizer menor desgaste.
Repare que não tem mais aquele risco central
Além disso, aumenta a rolagem, ou seja, se pegar uma moto e levar a uma determinada velocidade, desligar o motor e colocar em ponto-morto, com esse pneu a moto percorre uma distância maior se comparado com os modelos anteriores (Dura Spirit e Mandrake). Se um pneu oferece menos resistência ele não só dura mais como ajuda a economizar combustível.
A meta do projeto inicial era conseguir 30% a mais de rendimento quilométrico, sem perder as características originais. E o resultado foi 50% a mais, chegando a 26.000 km de durabilidade no pneu traseiro.
Detalhe do pneu traseiro: quase liso no centro.
Eu já sei as perguntas que você quer fazer então vou responder previamente:
1 – Se o pneu encosta menos no asfalto ele não é pior nas curvas?
R: Não, porque ele encosta menos no asfalto enquanto está em linha reta; nas curvas ele aumentou a área de contato com o solo graças ao novo desenho e fibras mais flexíveis.
2 – Mas se ele encosta menos em linha reta, então piorou a frenagem?
R: Não, porque na parte que encosta em linha reta reduziu a quantidade de encavos (sulcos), dando mais borracha e menos vazio. A parte “lisa” da banda de rodagem aumentou e quanto mais borracha mais aderência.
Humberto Andrade, da Pirelli: "Conseguimos o dobro de rendimento quilométrico".
3 – Então, se tem menos sulcos ele piorou no molhado?
R: Não, porque o que determina a aderência em piso molhado não é a quantidade de sulcos, mas o desenho e a profundidade. Além disso existe um efeito memória. Imagine uma bola toda preta. Faça uma linha branca tracejada e gire essa bola sobre um piso. O efeito visual será de um risco branco sobre um fundo preto. Com os sulcos é assim: ele não precisa ser um risco contínuo, pode ser tracejado que o efeito é equivalente ao de um sulco contínuo. Importante lembrar que os sulcos ficaram em média 0,5 a 0,6 mm mais profundos, o que traduz não só maior rendimento quilométrico como também maior capacidade de escoamento de água. Devo lembrar que os sulcos também são responsáveis pelo maior desgaste do pneu. Quanto menos riscos tiver um pneu mais o composto se mantém estável e menor é o desgaste. Onde tem sulcos o pneu sofre um stress mecânico que contribuiu para gastar mais rápido. E o que drena a água é o desenho e a profundidade dos sulcos, não a quantidade.
Rendimento no piso molhado garantido por sulcos em média 0,5 mm mais profundos.
R: 4 – Quanto custa?
R: Infelizmente não foi informado, o que me enfurece demais, porque até em classificado de Facebook quem não coloca preço leva uma bronca! Segundo os executivos da Pirelli, custará em média 10% a mais que o atual Dura Spirit. Se comparado com o principal concorrente, o Super City apresentou uma relação custo por quilômetro quase 50% mais econômico, com R$ 0,48 por cada 100 km, enquanto o concorrente apresentou R$ 0,89 por 100 km. Ou seja, ele dói mais na hora da compra, mas o motociclista vai demorar bem mais pra sentir a dor de novo.
5 – Quando estará à venda?
R: Em janeiro de 2016.
Samuel Barboza, da Pirelli: "O resultado foi tão bom que conseguimos uma patente mundial".
6 – Este pneu virá como equipamento de série nas motos?
R: Não, é apenas para o mercado de reposição.
7 – Mas se ele é tão melhor que o equipamento original, por que já não vem nas motos novas?
R: Por causa da economia de escala. Imagine uma fábrica que compra 800.000 pneus por ano. Se o custo do pneu aumentar R$ 1.00 serão R$ 800.000 a mais por ano só em pneus.
8 – Então o pneu original é ruim?
R: Não, ele atende a todas as exigências do fabricante da moto, só que as montadoras também visam custoxbenefício. Se o benefício extra implicar em alto custo é melhor ficar com o que atende um bom nível de segurança, mas não comprometa a margem de lucro.
9 - Quais as medidas disponíveis?
R: Inicialmente serão duas medidas: 2.75-18M/C 42P TT (dianteiro) e 90/90-18M/C 51P TT (traseiro). Até maio serão 11 medidas de pneus disponíveis.
10 - Ele dura mais porque é mais duro?
R: Não, isso é um preconceito! Um pneu não precisa ser duro para durar mais. O maior fator de desgaste é área x pressão. Se reduzir a área em contato com o solo consegue-se aumentar a durabilidade sem mexer na "dureza" do composto.
E chega porque não sou “professor pneu” pra ficar respondendo perguntas!
As medições foram auditadas pelo Instituto Falcão Bauer.
Participei do fórum apenas como ouvinte, representando a ABTRANS. (foto: Mário Bock)
Número de vítimas de trânsito só vai reduzir nas próximas gerações
Esta é a conclusão depois de assistir a dois dias de apresentações no fórum ViaFuturo, realizado em outubro, em São Paulo. Especialistas de várias áreas comprometidas com a segurança apresentaram teses e projetos que me levaram a confirmar tudo que escrevo já há duas décadas: não se muda o comportamento de uma sociedade apenas com conversa e multas, é preciso mexer na estrutura. E quando se fala da estrutura de um cidadão ela remete diretamente à escola.
Foram 37 painéis de 10 minutos cada... (foto: divulgação)
Confesso que por muitos anos fui contrário à ideia de ministrar educação de trânsito nas escolas – e para dizer a verdade ainda não estou 100% convencido. Mas basta por os pés na rua para perceber que essa sociedade que está aí padece de uma doença muito grave e que nem pode mais ser curada. Por isso a esperança recai nas futuras gerações, desde que seja rápido, antes de ser contaminada.
Foram 37 painéis, com 10 minutos de duração cada, todos voltados para soluções de mobilidade urbana, redução de acidentes e projetos de futuro. Temas que variaram da redução da poluição e melhoria da qualidade de vida, até a chegada dos carros autônomos, sem motorista, como forma de eliminar o erro humano. Uma verdadeira cruzada pela redução de vítimas.
Motos: 25% da frota, mas 75% de indenizações do DPVAT. (Foto: Tite)
E tudo quase caiu por terra quando o secretário de Transporte de São Paulo, Jilmar Tatto, ao abrir as solenidades, soltou uma pérola ao afirmar que o problema de trânsito em São Paulo são os carros. Desculpe a falta de tato – sem trocadilhos – mas é a mesma coisa que afirmar que a culpa da falta de leitos em hospitais públicos é o excesso de pacientes; ou que o problema de goteira no telhado é a chuva!
Como sempre se repete nesses eventos somos bombardeados com uma sequência de dados estatísticos que daria para encher qualquer planilha de Excel. Tem de tudo: desde a velocidade x colisão frontal; com ou sem controles de tração; vítimas a pé, de bicicleta, carro, moto, ônibus; faixa etária; por região; quantos receberam indenização etc etc et cetera. Tem dado estatístico do que imaginar.
Ciclovia em Buenos Aires em frente ao aeroporto: integrando modais. (foto: Tite)
Mas só um convidado citou algo que parece esquecido pela maioria dos especialistas. Justamente o único convidado que não era da área de trânsito, mas de comunicação, um publicitário. Ele começou a apresentação afirmando que trânsito é reflexo do comportamento! Puxa vida! Alguém acordou! O genial Walt Disney percebeu isso há apenas 65 anos, quando produziu o fantástico filme do Pateta Motorista, que vi na infância e nunca mais esqueci. O automóvel existe há mais de 100 anos e faz mais de 100 anos que se sabe disso!
O trânsito – e seus problemas – não é resultado de um punhado de carros, motos, caminhões, bicicletas etc, mas de gente! Pessoas que estão, temporariamente, motorizadas, mas que nasceram e morrerão pedestres. É esse o foco de qualquer campanha que tente arrefecer as consequências do trânsito: investir nas pessoas!
Sociopata: pede ciclovia, mas anda fora dela só pra encher o saco. (Foto: Tite)
Sempre me surpreendo nestes eventos porque parece aquele jogo de empurra sem fim. O representante dos CFCs (centros de formação de condutores) afirma que as auto e moto escolas cumprem o que determina a Lei. O representante das polícias afirma que faz fiscalização. E os representantes dos Detrans afirmam que instalam radares, faixas, semáforos etc. O engenheiros de trânsito chamam para si a responsabilidade pela educação. Que me perdoem os engenheiros, mas educação é tarefa de pedagogo! E todo mundo aplica multa, defendendo que a multa é o mais eficiente instrumento de educação.
Os motociclistas foram bombardeados de todos os lados, como sempre. Toda vez saio desses eventos com a clara impressão que o sonho de todo prefeito é proibir a venda de motos. Quando envolve as secretarias de saúde nós apanhamos mais ainda! Só a Abraciclo, por meio do Marcos Fermanian conseguiu tocar no tema “motos” de forma positiva, mostrando a evolução dos sistemas de segurança ativos como freios ABS e combinados, além de explicar pela enésima vez que motos não poluem mais que carros.
Integração de modal ônibus+bike nos EUA: solução para topografia. (Foto: Tite)
Algumas declarações que anotei no meu caderninho:
- Segurança de trânsito deve se apoiar em três pilares: fiscalização, infra estrutura e educação. (não diga...)
- Hoje se trabalha um terceiro conceito de segurança, além da ativa e passiva entra em cena a segurança inteligente, que são os sistemas eletrônicos que “pensam” pelo motorista e corrigem alguma besteira.
- Substituir os radares por medidores de velocidade média reduz enormemente as colisões traseiras. Radares geram ondas de congestionamentos e choques.
- 27% dos municípios brasileiros respondem por 75% das vítimas fatais. Onde tem mais gente morre mais gente. (dããã, não diga!)
- Bicicleta virou moda, ops, desculpe, necessidade!
- Finalmente foi proibido usar tinta preta para “remover” as sinalizações horizontais (as faixas). Obrigatório uso de material antiderrapante nessas sinalizações (vitória dos motociclistas).
- 25% dos acidentes com carros poderiam ser evitados se o veículo tive sistema eletrônico de controle de estabilidade (ESC).
- Antes da invenção do airbag (em 1974) 41% das mortes eram causadas por colisões frontais. Hoje o ponto mais vulnerável são as colisões laterais, que respondem por 27% das mortes. A colisão frontal causa 25% dos óbitos.
- O seguro DPVAT arrecada 8,5 bilhões de reais; mas paga 4,4 bilhões de indenizações. Bela receita... A boa notícia é que reduziram as indenizações por mortes, mas aumentaram as por invalidez permanentes. A má notícia é que o número de fraudes e tentativas de fraudes aumentou muito. Tem 20% de inadimplência. No Nordeste a inadimplência é de 50%.
- As motos representam 25% da frota circulante de veículos, mas respondem por 75% das indenizações do DPVAT. E não tem planos de se criar um perfil de usuário, por isso o bom motociclistas continuará pagando a conta pelos malacabados.
- Aquele papo de que o Brasil tinha meta de redução de 50% nas mortes no trânsito era mentira. Nunca houve essa meta, quem estabeleceu essa meta foi a ONU, mas o Brasil nunca disse que concordava. Mas a partir deste fórum houve o acordo velado de atingir essa meta. Agora sim, tá valendo, por isso essa paranóia com a redução de velocidade...
- Finalmente foi aprovada a construção das escolas públicas de trânsito, visando educar as futuras gerações.
- 35% dos acidentes de trânsito no Brasil tem desdobramentos criminais.
- Ninguém pensou em como enquadrar o ciclomotor dentro dos modais de transporte e essa bagunça gerou um caos nas cidades do Norte/Nordeste e hoje, finalmente, ele foi considerado “motocicleta” e terá de ser emplacado e necessidade de pilotar com capacete e habilitação.
- Todo transporte público começa com um pedestre, que sai de casa e vai até algum ponto. Portanto o modal de transporte mais usado no Brasil são os pés! 30% de todo deslocamento feito no Brasil é a pé.
- A bicicleta é um modal de transporte que merece toda atenção e incentivo. Só precisa alguns ajustes de ciclovias para que permita o compartilhamento de modais.
- Caiu por terra o mito de que São Paulo não é uma cidade amigável com ciclistas por causa da topografia. Cidades com uma topografia muito pior, como São Francisco (EUA) e Madrid (Espanha) conseguiram aumentar o uso das bikes adotando o compartilhamento de modais. Um deles é permitir que ônibus, metrô, bondes e trens transportem bicicletas. Em São Paulo os motoristas da Uber já adotaram o engate para bicicleta em seus carros.
- Apenas dois jornalistas especializados em motos estiveram presentes no evento: eu (também representando minhas escolas ABTRANS e SpeedMaster) e a Suzane Carvalho (também instrutora de pilotagem). A assessoria de imprensa nos avisou do evento somente na véspera.
E assim terminou mais um fórum de trânsito e mobilidade, com a certeza de que essa geração que aí está é incorrigível e temos de investir no futuro. Ou, como mostrou o representante da Volvo, deveremos ter carros autônomos em breve. Se o maior responsável pelos acidentes de trânsito é o elemento humano, basta desaparecer com ele que acabam os problemas. Simples e funcional!
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