Só uma nova ordem mundial para restabelecer o equilíbrio
Contam os historiadores que o primeiro paradigma universal foi o cristianismo, a ponto de dividir a História da humanidade em antes e depois de Cristo. O segundo paradigma de caráter universal foi a percepção de que a Terra é arredondada e que o Sol é o centro do sistema solar.
O conceito de paradigma é um fenômeno - ou conhecimento - que muda radicalmente tudo que se conhecia antes. Dizem os cientistas que estamos prestes a viver o terceiro paradigma universal que é a reprodução humana assexuada, algo que vai tornar esse mundo muito mais sem graça...
Só que existe ainda a suspeita de que um terceiro paradigma está próximo de se revelar e que vai mudar nossa forma de ver o mundo: contato com extra-terrestres! Há quem diga que eles já estão entre nós, mas vamos deixar as suposições e viagens doidonas de lado.
O que tudo isso tem a ver com o trânsito?
Muito simples: só um grande paradigma é capaz de reverter o quadro epidêmico que chegou o comportamento humano sobre rodas. No Brasil são 44.000 mortes em acidentes de trânsito por ano. Cinco por hora. São números inaceitáveis sob qualquer justificativa.
Para ficar só na cidade de São Paulo (região metropolitana) foram 1.152 óbitos em 2013, divididos em 512 pedestres (atropelamentos), 200 com automóveis (motorista+passageiro), 403 motociclistas (e garupa) e 35 ciclistas. A desproporcionalidade de motociclistas chama a atenção, porque a frota de moto é menos de 1/4 da de automóveis.
Sempre que o tema "acidente de trânsito" surge em pauta aparecem explicações que procuram tirar a responsabilidade de ser humano. É um tal de criticar as estradas, os veículos, a educação, etc. Mas por trás de todo acidente está o elemento fundamental causador, que é o fator humano. Apenas cerca de 4% dos acidentes entre veículos são atribuídos a problemas nas vias ou defeito nos veículos.
Alguns dados revelados pelo Relatório Anual de Acidentes do CET de São Paulo ajudam a direcionar a verdadeira responsabilidade. O primeiro dado que salta à vista é com relação aos dias da semana. Sábado e domingo são os dias mais violentos no trânsito da Capital. Para quem trabalha com segurança viária isso não é novidade, porque existe uma velha expressão: "durante a semana as pessoas se acidentam, no fim de semana elas morrem". E o motivo é fácil de acertar: bebida alcoólica e outros alucinógenos.
O segundo dado que passa despercebido pelas autoridades é com relação ao horário dos acidentes. Nos finais de semana eles acontecem com mais frequência das 23:00 às 8:00 horas, ou seja, na volta da balada, já doidão! Já durante os dias de semana o pico de acidentes é às 8:00 horas, o que indica que a vítima estava saindo de casa para o trabalho ou estudo.
Ainda analisando esse estudo, que é enorme, aparece um dado que entristece a todos nós. Os motociclistas que morrem no trânsito estão principalmente na faixa de 20 a 29 anos. Já entre os pedestres - e isso é uma grande surpresa - está acima dos 40 anos. Com relação às profissões, entre os motociclistas a maioria é de estudante e só bem depois aparecem os motoboys, ao contrário do que se imaginava.
Uma análise bem simplificada desses números pode ajudar a reduzir essa guerra civil que virou o trânsito de São Paulo. Em primeiro lugar é urgente que se intensifique a fiscalização, sobretudo nos fins de semana e de madrugada. Hoje só se vê blitz de trânsito até às 18:00 horas, depois parece que encerra o expediente. E também ampliar exponencialmente a figura do agente de trânsito para tirar da polícia militar essa função de tomar conta de motoristas e motociclistas. É preciso criar um policiamento específico para o trânsito, formado por pessoas que tenham treinamento educacional e não repressivo e que seja extensivo aos ciclistas e pedestres. As pessoas não nascem criminosas, elas se tornam por falta de orientação e educação.
No caso dos atropelamentos de pedestres fica evidente que a idade é um fator contribuinte e o que pode estar gerando essa situação é a falta de investimento nas vias, como a construção de passarelas e semáforos efetivamente inteligentes. Aí sim o poder público tem de trabalhar. Quanto mais idoso, mais lento é o ser humano e um semáforo de pedestres precisa levar isso em conta. O mesmo para passarelas que exigem esforço físico.
Pelo menos um número soa esperançoso: em relação a 2012, o ano de 2013 apresentou uma redução de 8% nas vítimas fatais no trânsito. Mesmo com o aumento da frota. Mas aonde entra o paradigma?
Querer reduzir os números de vítimas fatais no trânsito apenas com medidas burocráticas é um trabalho inócuo. O maior objetivo das campanhas de prevenção de acidentes deve acertar no alvo que é o fator humano. A cada dia que passa vemos uma decadência nas relações humanas, exposta até mesmo nas redes sociais. Parece que existe uma sintonia cósmica que transforma as pessoas em dois grupos: os do contra e os a favor. E com isso desaparece o grupo de pessoas mais necessário nessa missão, que é dos agregadores e cooperadores.
A sociedade está se baseando cada vez mais no conceito maniqueísta de que só pode haver dois lados para tudo: o certo e o errado, mas o problema é o caráter de quem julga. O que é certo ou errado? Está certo dirigir alcoolizado, falando no celular ou usar película escura proibida? Está certo pilotar uma moto a 90 km/h no corredor entre os carros? Está certo pular uma cerca para não ter de andar 200 metros e atravessar pela passarela? Para quem está atrás do volante, do guidão da moto ou a pé o conceito de certo ou errado é muito particular e adaptável à sua comodidade.
Aí que entra a minha esperança em um grande e transformador paradigma universal: só diante das crises o cidadão se mostra solidário. Uma ameaça de extermínio da humanidade, ou uma grande revolução na ordem social podem acabar com esse egoísmo predominante que se aflora no trânsito na forma do "esse veículo é meu, paguei por ele e ninguém vai me dizer como dirijo" (frase lida no vidro de um carro em SP).
Talvez um pequeno cataclismo para lembrar os cidadãos que somos humanos, filhos da mesma raça e que só evoluímos como espécie por meio da cooperação e soma de esforços. Em outras palavras, o que precisamos é de mais gentileza e cordialidade! Que venham os ETs!
Preste atenção nesta foto: a moto está estacionada na calçada e pode ser multada pelo agente do CET que está parado na calçada impedindo a passagem de pedestre. Quem quiser respeito precisa se dar ao respeito...
A falta de autoridade é o primeiro sintoma de descontrole
Lembra da escola? Quando a professora saía da sala e a criançada fazia a maior bagunça? No meu tempo a professora era a autoridade máxima e a simples presença dela era suficiente para a classe silenciar. Hoje essa autoridade está meio abalada.
É mais ou menos essa a sensação com relação ao trânsito. Parece que a professora saiu da sala e a criançada virou tudo de pernas pro ar. Não existe mais respeito às autoridades de trânsito, simplesmente porque essa figura há muito tempo não se dá ao respeito.
Quem é, hoje em dia, a autoridade de trânsito? É um mecanismo que filma, fotografa, processa e te envia uma multa? Ou é uma pessoa fardada, portando um bloco de anotação que também produz e envia multas. Essa é a única autoridade de trânsito que atua nas ruas.
Por isso as pessoas dirigem, andam e rodam do jeito que querem como se a professora tivesse saído da sala de aula. Sem a figura da autoridade não existe a quem respeitar.
Já houve um tempo em que o policial de trânsito era respeitado, talvez porque tivesse sim o papel mais educador do que punitivo. Lembro de várias vezes ver a figura de um desses agentes nos cruzamentos, com um apito, organizando um tumultuado cruzamento. Também ajudava os pedestres na travessia das ruas e havia um enorme senso de respeito. O guarda que ficava na porta da minha escola era nosso herói e de uma incrível simpatia.
Lembro claramente de um esquadrão batizado de Bem-Te-Vi, de policiais que usavam motos Suzuki 500, patrulheiros com casaco de couro e impunham um tremendo respeito pelas ruas. Eu já era louco por motos e queria ser um Bem-Te-Vi. Já pensou? ser pago pra andar de moto o dia todo?
Pode-se respeitar uma autoridade de duas formas: por admiração, no caso da família; ou por medo, no caso dos policiais. O respeito por admiração vem dentro de casa, com o comportamento exemplar do adulto diante das crianças. Crianças respeitam pais que exigem respeito. Sempre foi assim e assim deveria ser. Os ídolos são admirados - e respeitados - pelo que representam, por isso exige-se um comportamento exemplar. Ídolos que não se dão ao respeito perdem a idolatria ou a admiração. Pelo menos deveria ser assim.
Na época da Alemanha nazista as pesquisas mostraram que 98% dos alemães eram simpáticos ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), berço do nazismo. Mas será que algum cidadão alemão que abrisse a porta de casa e desse de cara com dois ou três paramilitares fardados e assustadores teria coragem de dizer que era contra o partido? Ainda se confunde muito os conceitos de admiração e respeito com o do medo. O respeito baseado puramente no medo é típico dos regimes ditadores autoritários. Existem crianças que respeitam os pais e outras que sentem medo.
Não sou sociólogo nem historiador, muito menos psicólogo para analisar o que aconteceu no Brasil nos últimos 30 anos para que a nossa autoridade de trânsito desaparecesse por completo. Pode ser a necessidade vital e urgente em dissociar o papel fiscalizador do trânsito da farda militar, após um logo período de regime militar. Mas calma aí, antes de perder seu tempo me escrevendo afirmando "então você apóia a volta dos militares?". Não é e se alguém entender assim recomendo que volte à escola. Só que hoje em dia as autoridades de trânsito perderam o status de autoridade para ser apenas o bedel da escola, aquele que dedura quem mata aula, ou quem briga no intervalo. O agente de trânsito não passa de um dedo-duro!
Para ser sincero, acho que existe uma enorme bagunça administrativa no papel fiscalizador do trânsito. Para começar deram poder de multa aos policiais militares, mas sem o devido treinamento. Em São Paulo a polícia de trânsito já foi extinta, agora voltou, mas com uma quantidade insuficiente de agentes para uma cidade com seis milhões de veículos circulando.
O resultado é essa impressão de que a professora saiu da sala sem prazo pra voltar.
Dentro da visão de quem vive e trabalha com trânsito há mais de 40 anos, diria que se as autoridades querem mesmo reduzir essa enorme catástrofe sob o eufemismo de "acidentes de trânsito" o primeiro passo é colocar de volta a professora na classe. Criar uma polícia de trânsito capaz não apenas de multar (e por apenas algumas horas do dia), mas também de disciplinar os atores do trânsito. Talvez até criar mais delegacias de trânsito e humanizar a relação entre o agente fiscalizador e o cidadão. Criar o papel de auditor de trânsito, que existe em algumas cidades do mundo.
Não é possível que toda vez que coloco o nariz na rua seja capaz de ver verdadeiras atrocidades cometidas por motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres e só eu esteja vendo! Ninguém vê que os semáforos perderam qualquer função e que motoristas e motociclistas passam no farol vermelho com a maior naturalidade?
Será realmente verdade que depois do escurecer motoristas tirem rachas nas avenidas, são flagrados por câmeras de vigilância, são vistos por moradores e dezenas de testemunhas menos por um agente de trânsito?
Quando foi a última vez que você, leitor, viu um agente do CET às duas horas da madrugada? Claro, que aparecem na região dos Jardins e Vila Madalena para multar os carros estacionados irregularmente, mas onde estão quando um carro importado, blindado, passa a 160 km/h por uma avenida?
O trânsito nas grandes cidades caminha para o caos generalizado, como aquela sala de aula sem a professora e qualquer tentativa de recuperar a organização parece tão inócua quanto a entrada da professora substituta na classe. Fala verdade, quem parava de fazer bagunça diante da professorinha substituta? uma jovem e inocente estagiária jogada na jaula dos leõzinhos!
A auto-regulamentação
Não gosto de comparar com outros países, mas uma das reações mais comuns em alguns países europeus e nos Estados Unidos é a auto-regulamentação em vários setores. Nos EUA chega a ser até uma invasão quando um vizinho reclama que o outro não corta a grama e deixa a rua parecendo uma "selva"!
No trânsito é comum os motoristas chamarem atenção se alguém para em local proibido, se invade a faixa de pedestre, se desrespeita um sinal de trânsito etc. E a reação do motorista infrator é de vergonha e não de raiva.
Aqui no Brasil os motoristas (e motociclistas, ciclistas e pedestres) atingiram um nível tão bizarro de desrespeito que recentemente um ciclista filmou um carro parado em cima da ciclo-faixa e foi ameaçado de agressão pelo motorista infrator! Aqui a auto-regulamentação não funciona porque a ausência de autoridade por tanto tempo criou a sensação de que todo mundo pode fazer o que quer sem dar satisfação a ninguém, nem aos outros cidadãos ao lado.
Só para encerrar. Cansado de todo dia encontrar um "presente" de cachorro na porta da minha casa, decidi fazer uma faixa com uma simples mensagem: "por educação, recolha as fezes do seu cão". Simples e direta. Funcionou por um bom tempo, até que a faixa ficou gasta, decidi tirar (acreditando no efeito educador) e, adivinha: voltaram os presentes!
Uma comunidade que deixa o cocô do cachorro na porta da casa do vizinho está simplesmente dizendo: "pra mim você vale menos do que essa porcaria que deixei na sua porta".
Sociedade assim só funciona com a professora o tempo todo na sala de aula... e armada!
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