Terça-feira, 31 de Maio de 2011

Uma nova revista no mercado

A Superténéré já tá nas rua, é só pegar!

 

Rolling Stolen

 

A revista que é uma roubada!

           

Como todo mundo sabe, não existe a menor chance de reduzir o número de roubos e furtos de motos. A prova disso são as cotações de seguro. Nas motos mais roubáveis o valor do seguro chega a 1/3 do preço da moto. O que significa que a cada 3 anos de seguro o dono da moto poderia comprar outra!

 

Dessa análise, eu e meu vizinho Daniel, parceiro de boas idéias, decidimos criar um veículo especializado especialmente voltado para este mercado. Qual mercado? De seguros? Segurança pública? Alarmes e travas? Não, é uma revista destinada ao consumidor final, ou seja, aos ladrões! Isso mesmo, é a primeira revista especializada voltada a este enorme mercado que cresce diariamente e certamente atrairá as agências de publicidade, afinal ladrão também é gente e consome produtos como armas de fogo, roupas de grife, aparelhos eletrônicos, cartão de crédito, banco etc. Ninguém pode negar que eles consomem, se compram ou não é apenas um detalhe.

 

Veja como ficou a pauta da primeira edição da Rolling Stolen.

 

Teste comparativo: Hornet x XT 660, qual melhor moto para fuga. Vamos analisar características técnicas como a distância livre do solo que facilita varar as lombadas, subir e descer calçadas e handling em alta velocidade. Qual acelera mais de zero a dois quarteirões. Teste “saidinha do banco” de retomada de velocidade com garupa.

 

 

 

A Hornet dá fuga até na terra!

 

Lançamento: Superténéré, muito mais da hora que a XT 660. Saiba quais concessionárias estão vendendo e como seguir os novos compradores otários. A moto de fuga do momento: mais de 200 kmh de final, sem corrente e dá pra roletar lombada sem olhar!

 

Segurança: A importância de usar colete à prova de bala. Como conseguir o seu com policiais corruptos.

 

Pilotagem: As técnicas para pilotar com a mão direita e segurar o ferro na esquerda. Como frear apenas com uma mão sem deixar a moto morrer, nem você. Pratique slalom na comunidade e fuja com mais eficiência apenas com uma mão usando o contra-esterço.

 

Serviço 1: Novos alarmes e travas, como desativar ou arrebentar. Dispositivos de rastreamento, saiba como impedir o playboy de acionar a central. Métodos de persuasão de playboys para entregar o sensor de presença.

 

Serviço 2: Usadas, quais os picos que recebem a motoca puxada. Cotação de receptação: saiba quais são as mais valorizadas nos desmanches clandestinos. O que avaliar na hora de puxar a cabrita. Tudo sobre liquidez de moto e de playboys.

 

Turismo: O frio está chegando e a playboyzada sobe as montanha. Mostramos quais as cidades de serras que os mauricinhos gostam de dar um rolê de motoca.

 

Scooter: Um dia você ainda vai puxar uma. Ideal pra zuar na comunidade porque tem porta-bagulho debaixo do banco e os gambés não crescem o olho no baculejo. Já tem uns scooter grandão que levam ainda mais bagulho e dão menas bandeira.

 

 

 Scooter é bão pra levar os bagulho e dá menas bandeira!

 

Perfil: Zero Bala, o maluco que mais puxa bike do pedaço. O mano pega os playboy na estrada ou na balada. Nunca perdeu uma bike. Os segredos do maluco de mais responsa na comunidade.

 

Pequena da hora: A CG continua a motoca de mais pegada na parada. Tem várias zeras rodando por aí e é grana na mão. Cada cegezinha dá pra uns 100 papelotes. É puxar a moto e receber o braite!

 

Parcerias & negócios: painel completo com a bolsa de propina. Quanto as delegacias estão cobrando pra livrar 155, 156, 157 e 160 e quais oferecem a melhor relação custo/malefício. Como formar parcerias com gambés e dicas de bons negócios no atacado.

 

 

 

Zero Bala, um maluco de responsa que só puxa bike zera

 

Legislação: a importância de esquentar a cabrita na moral. Vamos mostrar os melhores e mais eficientes despachantes e agentes de Detrans, Ciretrans e Denatran que resolvem tudo sem stress. Onde comprar DUT oficial, como conseguir endereços falsos e os cartórios que reconhecem firma até de defunto. Box com as ferramentas e dicas para pinar o chassi de moto comprada em leilão, sem deixar vestígio.

 

Esporte: Uma emocionante reportagem com os melhores locais para puxar motos pra fazer MotoCross, enduro, rali ou velocidade. Como preparar uma bike cabrita pra fazer track-day nos autódromos. Conheça as trilhas de Minas Gerais e saia com a moto especial que quiser usando apenas um 38.

 

Ferramentas: Um guia completo com os principais canos do mercado, desde o 38 a tambor, até mini-metralhadora israelense. Guia especial com dicas do Paraguai e como conseguir armas exclusivas das forças armadas.

 

Não perca a edição número 1 da Rolling Stolen, a revista para quem curte moto, mas não é otário de comprar. Pegue uma no jornaleiro mais perto, se ele reagir, atire!    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Terça-feira, 17 de Maio de 2011

Síndrome de super-herói

Para quem se acha imortal: a kryptonita do motociclista é o pára-choque de um caminhão

A síndrome de Highlander

Nos anos 80 o psicólogo e professor Dan Kiley surpreendeu o mundo científico com a publicação do livro Síndrome de Peter Pan, no qual defendia a doentia incapacidade de alguns homens em crescer, no sentido do amadurecimento intelectual e comportamental. Segundo esta teoria (já aceita como doença), os homens com esta síndrome tem dificuldade de aceitar que já entraram no mundo adulto e continuam se comportando como adolescentes, de forma irresponsável, rebelde e quase sociopata.

Bom, nem precisava escrever um livro, porque até a Eva já tinha percebido que o Adão e todos os homens que vieram a seguir nunca passaram dos 15 anos de idade!

Aquilo que as mulheres tanto detestam na mais evidente característica masculina, e causa principal das eternas crises conjugais, é também responsável pela fila cada vez maior nos hospitais e agências funerárias. Sim, quem me conhece sabe que não compartilho o tabu geral da mídia especializada ao tocar no tema morte. Motociclistas morrem sim.

Quando eu dava aulas de fotografia na faculdade de jornalismo costumava começar com uma pegadinha: qual a condição essencial para enxergarmos os objetos? A quase totalidade dos alunos respondiam “ter luz”. Então eu usava uma imagem comum nos filmes policiais: imagine que você está sendo interrogado em uma sala escura. À sua frente um detetive joga um facho de luz bem forte nos seus olhos, você será capaz de vê-lo? Não, obviamente, no entanto tem luz! A condição para vermos os objetos é que haja a reflexão da luz. A luz atinge o objeto que volta para meio e seus olhos podem vê-lo.

Hoje, no meu curso de pilotagem de moto SpeedMaster eu faço a seguinte pergunta: qual a condição essencial para um motociclista morrer? E as respostas são variadas, como imprudência, negligência, imperícia etc. Mas a resposta certa é apenas uma: a condição essencial para que qualquer pessoa morra é estar viva, apenas essa, mais nenhuma!

Mas é disso que muitos motociclistas esquecem: nós somos mortais!

A partir daí desenvolvi a teoria da Síndrome de Highlander, aquele personagem do filme do mesmo nome, que atravessa a história como imortal. Ele só morre se cortarem-lhe a cabeça. A imortalidade já foi tema de inúmeros livros, filmes e permeia a história da humanidade desde os primórdios. Um bom livro (e filme) a respeito é “Orlando, a mulher imortal”, de Virgínia Woolf.

O problema está na extrapolação da ficção para a realidade e pessoas agirem como se fossem imortais. É isso que vejo hoje em dia nos vários filmes na Internet com motociclistas em motos esportivas pilotando a 300 km/h nas estradas como se fosse a coisa mais normal do mundo. Em um destes filmes pode-se ver o motociclista ultrapassando os carros pela direita a mais de 290 km/h e ainda por cima com a postura errada, equipamento inadequado e total ausência de técnica.

Pouca gente sabe, mas até para correr a 300 km/h na reta é preciso técnica, porque nós, pessoas, quando colocadas em cima da moto somos o pior apêndice aerodinâmico possível.

E não pense que estou falando de filmes europeus ou americanos, onde começou esta mania, mas são imagens feitas no Brasil, em estradas bem perto de suas casas.

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Ah, doce adrenalina

A principal característica a Síndrome de Highlander é a prepotência, padrão de comportamento que transborda nos homens na faixa de 15 a 25 anos. É aquela famosa sensação de que as coisas ruins só acontecem com os outros. A fascinação pelo perigo vem daí e do fanatismo por histórias de personagens heróicos como Super-Homem e outros.

 

Por isso o exército recruta jovens na faixa de 18 anos. Tem nada a ver com o vigor físico, porque um adulto de 30 anos pode ser mais bem preparado fisicamente do que um sedentário de 18. Na real é para aproveitar essa prepotência e mandar o moleque em direção ao campo minado porque ele tem certeza de que só os outros explodirão pelos ares.

Quando vejo essas imagens de motociclistas aparentemente adultos, muitas vezes esclarecidos, donos de empresas, bem posicionados financeiramente (uma moto destas custa mais de R$ 50.000) e até inteligentes não consigo entender em que parte da vida ele deu uma guinada de volta à adolescência.

Não é possível que um homem adulto, com dependentes à sua espera, com um futuro inteiro pela frente, muitas vezes calçado na competência profissional e intelectual seja capaz de se atirar numa estrada a 300 km/h disposto a matar ou morrer só pelo efêmero prazer da velocidade!

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Quando estou com muita vontade de correr vou pra pista e deixo a vontade passar!

É inaceitável que a bordo destas motos estejam pessoas que dirigem uma empresa, que educam filhos, que controlam administrações públicas, mas que voltam à adolescência só para provar aos amigos que tem um brinquedo mais bacana ou é mais corajoso. Tenho a clara impressão de que no momento que este homem adulto veste o macacão de couro, luvas e botas ele incorpora o super-herói dos quadrinhos. O seu macacão é o equivalente à roupa do Super-Homem. Acorda, aquilo era ficção! A kryptonita do motociclista é o pára-choque de um caminhão!

Pode parecer inacreditável, mas eu, com toda experiência de 40 anos como motociclista, sendo 22 anos como piloto de competição e razoavelmente experiente morro de medo de correr na estrada! Meus amigos até brigam comigo porque sou muito lento para os padrões da maioria, mesmo quando estou montado em uma esportiva de 180 cavalos. Sem falar que odeio pagar multas.

E não me venham com aquele papo de que quem compra uma moto esportiva quer acelerar tudo que ela dá porque isso é desculpa muito da esfarrapada. Eu tive arma de fogo por mais de 15 anos e nunca matei ninguém! Lembro de ter comprado a arma (um rifle de caça) porque achei-a bonita, bem acabada e fácil de acertar os alvos que criava no sítio: latinhas de alumínio, garrafas pet e abacates. Mas vendi a arma porque concluí que seria incapaz de atirar em uma pessoa ou qualquer outro ser vivo.

Portanto é perfeitamente possível ter uma moto esportiva pela beleza das linhas, pela tecnologia, pelos aspectos mais diferentes, sem se deixar seduzir pela velocidade insana, em local inadequado. Eu tive uma Honda CBR 1000RR por anos e rodava com ela na estrada super numa boa, só pelo prazer de curtir a moto com todo aquele motorzão!

Muitos psicólogos já tentaram definir esta necessidade que temos em competir com veículos em alta velocidade. Nenhuma destas teorias chegou nem perto da realidade, porque psicólogos não são pilotos. Mas Platão foi o que melhor definiu, ao dizer, quatro séculos antes de Cristo, que o sonho de todo homem é ser herói.

Os verdadeiros heróis são aqueles que perceberam a reles condição de mortais e decidiram curtir a velocidade de suas esportivas no local certo: na pista de corrida. Hoje já existem vários cursos de pilotagem específico para motos esportivas em várias cidades, realizados em autódromos seguros. Também são feitos track-days para que o motociclista possa extravasar essa sanha por velocidade, sem correr o risco de levar mais algum inocente junto.

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Não tem nada mais gratificante do subir no pódio, mas a foto é montagem!

Durante uma corrida, ultrapassar um adversário é o momento mais sublime. É a prova de coragem a habilidade ao mesmo tempo. E melhor: está todo mundo vendo o seu feito heróico. Subir ao pódio e levar para casa um troféu é a recompensa pelo heroísmo. E vencer é a glória total que nos coloca efetivamente na condição de super-herói para todo mundo ver e respeitar. Então porque fazer isso na estrada onde poucos estão vendo e a maioria odiando aquilo?

Aliás, quando vejo estes filmes no youtube de motos a 300 km/h na estrada, não consigo achar o sujeito corajoso nem habilidoso, só vejo um louco sem noção. O melhor lugar para provar coragem e habilidade é na largada de uma corrida, com 15 motos na frente, mais 15 atrás e você ali no meio, com o coração a 220 bpm, pressão arterial em 18:12, encharcado de adrenalina, mas absolutamente excitante. Confesso a você leitor(a) que uma das situações mais difíceis de um piloto é parar de correr, porque a adrenalina vicia, mas como qualquer droga pode matar! 

 

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Na pegada da onça

Prepare-se para uma aventura...

 

Projeto Puma, com apoio da Biosphere e Land Rover estuda a onça pintada na serra paranaense

 

Texto e fotos: Geraldo Tite Simões*

 

Você pagaria mais de R$ 2.000 para passar 15 dias dormindo em barraca, tomando banho morno, caminhando quilômetros dentro da mata cheia de mosquitos e ainda carregando carga como um sherpa nepalês? Pois acredite que muitos europeus pagam e trabalham duro só pelo prazer de contribuir de alguma forma com o Projeto Puma, uma ONG sediada em Lages, SC, que tem incentivo da organização internacional Biosphere e apoio da Land Rover.

 

O objetivo do Projeto Puma é estudar o comportamento dos grandes felinos que restaram na área preservada de mata atlântica no estado do Paraná, dentro da APA (área de proteção ambiental) de Guaratuba. Para coletar dados são organizadas expedições anuais nas quais são instaladas armadilhas fotográficas e uma divertida caça às pegadas para identificar quais mamíferos ocorrem na região e se eles podem ser considerados alimento para a onça pintada, também chamada de puma.

 

 

Para conhecer este projeto de perto, um grupo de jornalistas foi convidado pela Land Rover do Brasil para participar de um dia de atividade, como se fosse a expedição normal. Fui nessa expedição a convite do site Interpress, co meu ex-colega e amigo Luís Perez. Nossa jornada começou em Curitiba, PR, por uma boa estrada de asfalto até chegar à base em uma região de terreno bem difícil. Apesar do sol tímido de outono a previsão era de chuva, o que nos dava garantias de muita lama. Ótimo, porque como reza a cartilha do fora-de-estrada, “quanto pior, melhor”.

 

Se normalmente as estradas de terra já são um obstáculo natural aos veículos utilitários, depois de uma temporada de chuvas, com queda de barreiras e de pontes o caminho virou um rascunho do inferno. Com três modelos Defender 110, conseguimos passar facilmente pelos 14 km de estrada bem castigada até a sede do projeto, muito bem escondida no pé da serra do mar. A demora ficou por conta das paradas para gravar imagens e fotografias.

 

Nossa missão seria acompanhar parte das atividades dos biólogos que estudam a presença dos grandes felinos que ainda restam. Só que acompanha uma expedição desta natureza consegue entender o quão comprometido está o ecossistema. É uma cadeia alimentar muito bem equilibrada e se uma espécie começar a rarear muitas outras podem ser ameaçadas ou até extinta. A onça pintada (Panthera onça) está classificada no Brasil como seriamente ameaçada de extinção. No Estado do Paraná calcula-se que existam apenas 6 indivíduos. Trata-se do maior felino das Américas e ocorre desde a América do Norte, onde é conhecida como cougar, América central e do sul, também chamada de puma, apresenta-se na coloração tradicional com pintas, parda ou negra. Estas duas últimas são mais raras.

 

Malika Fattik e Marcelo Mazzolli instalam a armadilha fotográfica

 

Nossa expedição começa com um completo café da manhã, preparado na cozinha com forno a lenha. A cabana, feita de madeira nobre como a canela-preta (Ocotea catharinensis) é antiga, mas muito bem conservada e confortável, como a maioria das casas do sul. Atualmente é proibida a extração desta madeira que se caracteriza por ser muito resistente e dura. Nesta cabana o cheiro de lenha queimada no fogão é constante e serve para abrir o apetite depois de uma noite nas barracas, montadas na grande área em frente à casa. Do nosso grupo de jornalistas alguns nunca tinham experimentado o camping e foi bem melhor do que se podia prever: colchonete inflável, saco de dormir e travesseiro, tudo fornecido pelos anfitriões. Apesar do frio e de certo desconforto para um homus urbanus como eu, dormi feito criança.

 

Acampamento em frente à sede da ONG Projeto Puma

 

Armadilha do bem

A bióloga Valeska de Oliveira, 29 anos, especializada em mamíferos, explica o funcionamento das armadilhas fotográficas: máquinas digitais com sensor de presença, capazes de captar o movimento em um raio de 8 metros. Se algum animal passar nesse campo a máquina registra e depois basta retirar o cartão de memória para conferir os resultados.

 

Mas se por um lado essas máquinas funcionam para identificar a fauna local, por outro traz uma conseqüência nefasta. “O flash da máquina pode atrair os caçadores, que não só roubam as máquinas como também descobrem por onde os animais estão passando”, explica Marcelo Mazzolli, 46 anos, biólogo PhD em ecologia e cientista responsável pelo Projeto Puma. Por isso as armadilhas são colocadas em locais mais afastados das trilhas e camufladas com galhos e folhas.

 

Pegada e Jaguatirica, um felino menos ameaçado, mas igualmente importante

 

A área total mapeada é muito extensa e seria impossível cobrir tudo. Para viabilizar o estudo os cientistas analisam o que chamam de corredores, passagens entre as cadeias de montanhas por onde os felinos passam em busca de alimento. O corredor de Guaratuba é muito importante por causa da região alagada próxima ao mar e este tipo de felino precisa de abundância de água para viver.

 

Nosso grupo partiu para um destes corredores e tivemos uma sorte incrível logo nos primeiros quilômetros de trilha ao nos deparar com pegadas de cinco espécies diferentes de mamíferos. Segundo Marcelo Mazzolli, quando se consegue estabelecer um padrão de população é possível avaliar se está aumentando ou diminuindo as espécies que servem de alimento para os grandes felinos. A principal delas é a anta ou tapir (Tapirus terrestris) o maior mamífero da América do Sul.

 

Já em volta da cabana de madeira encontramos várias pegadas deste dócil animal que ronda as goiabeiras. É fácil identificar a marca porque além de pesada, a anta tem três dedos bem espaçados e arredondados. Depois de alguns dias de chuva o piso ficou bastante enlameado e ficou fácil achar as pegadas.

 

Caminhada na mata

 

Na primeira trilha mais descobertas: pegadas de mão-pelada (Procyon cancrivorus), também conhecido como guaxinim. Poucos metros depois outra pegada de um cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), chamado de graxaim.

 

Até que finalmente, depois de mais alguns minutos de caminhada veio o grande prêmio da nossa “caçada”. Primeiro pegadas de veado mateiro (Mazama americana) e bingo! Pegadas de um felino de médio porte, bem marcadas na lama e recente. Após a medição a bióloga concluiu que podia ser de uma jaguatirica (Leopardus pardalis) um bom indicativo de que a fauna da região está ainda bem diversificada. Para nossa surpresa ainda encontramos mais pegadas de anta e até achamos o local onde ela parou e tirou um cochilo.

 

O papel dos voluntários é caminhar por estas trilhas, instalar as armadilhas fotográficas e registrar estas pegadas com auxílio do GPS. Segundo Malika Fettak, 45 anos, relações públicas da Biosphere, “entre as atividades dos voluntários está o curso de navegação por GPS e bússola magnética, registro das pegadas, instalação das máquinas fotográficas etc. É uma forma de conhecer a mata atlântica e colaborar com a preservação”.

 

Marcelo instala a armadilha fotográfica na mata

 

Um dos efeitos deste trabalho é quase automático. À medida que os moradores da região se acostumam e se interessam por este trabalho, passam a dar mais valor ao significado da preservação e espalham este conceito entre amigos e familiares. É comum encontrar moradores que ajudam no trabalho dos biólogos seja como empregados ou voluntários. Só o fato de abandonarem a espingarda já representa um grande avanço.

 

Pena que o pior animal do meio-ambiente ainda seja o homem. De todas as armadilhas fotográficas instaladas pelo Projeto Puma, cerca de 25% são furtadas. Pior é que elas não tem qualquer serventia que não seja a de flagrar os animais silvestres. “Mas já conseguimos registrar a presença do pior de todos os predadores da natureza, os caçadores”, sentencia resignada a jovem bióloga Valeska.

 

A bióloga Valeska de Oliveira na função de motorista da expedição

 

Também confesso que fiquei admirado com o cardápio de nossa refeição principal, quando foi servida carne bovina no jantar. Não sei muito de ecologia e meio-ambiente, mas na condição de um leigo interessado, sei que a principal atividade que levou os grandes felinos à beira da extinção é a pecuária de corte. Os grandes felinos não sabem identificar se um bezerro tem dono ou não. Para ele é só uma ótima refeição. Mas para os criadores de gado, os felinos de grande porte representam ameaça e devem ser abatidos. Não acho muito coerente uma ONG que luta pela preservação dos grandes felinos estimular o consumo de carne bovina.

 

Já nossa experiência com os carros da Land Rover foi perfeita. Voltamos da expedição com apenas dois carros o que nos obrigou a usar os banquinhos adicionais do porta-malas. Na minha condição de nanico, fui empurrado para o “chiqueirinho” e admito que para meus 1,68m não senti desconforto, pelo contrário, viajei na boa e ainda sobravam quatro dedos de espaço entre minha pelada cabeça e o teto. O Defender é efetivamente um carro para enfrentar qualquer terreno, desde que bem pilotado, claro. Com sete pessoas a bordo passamos por todos os atoleiros e subidas lamacentas que encontramos no caminho. É realmente um veículo para dar a volta ao mundo, pena que seja tão caro (mais de R$ 100 mil).

 

*Geraldo Tite Simões, jornalista e fotógrafo, ministra o curso SpeedMaster de Pilotagem (www.speedmaster.com.br) com apoio de Pirelli, Honda, Tutto e Shoei.

publicado por motite às 15:46
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Sexta-feira, 6 de Maio de 2011

Faça a sua parte

Tá difícil? Vai a pé!

 

Qual a sua cota?

 

Nesta discussão sobre mobilidade urbana leio e ouço muito falatório, mas vejo pouca gente realmente dando alguma contribuição válida. Por isso achei fantástico encontrar um velho amigo fotógrafo que disse ter trocado o carro e a moto pelo ônibus. Isso mesmo, ele transporta cerca de R$ 5.000 em equipamento fotográfico dentro de uma mochila e pega ônibus em SP. Claro que não vou contar quem é, mas a atitude dele é louvável e ainda explicou que usa uma mochila bem velha, remendada, para não despertar interesse dos trombadinhas.

 

Ele também revelou que evita horários e linhas congestionadas e não é todo dia que recorre à dupla metrô/ônibus. Quando coincide de ser um horário sossegado e regiões menos tumultuadas vai de coletivo. Se tiver urgência, vai de scooter e quando precisa transportar muito equipamento vai de carro.

 

Já faz tempo que nós, fotógrafos da era analógica, descobrimos que as câmaras compactas resolvem grande parte das necessidades de qualquer repórter fotográfico. Em muitos casos o fotógrafo leva um caríssima e sofisticada câmara só para impressionar o cliente. E funciona! Mas hoje em dia os equipamentos compactos têm a vantagem de não dar bandeira e é perfeitamente possível fazer um bom trabalho levando pouco equipamento.

 

Decidi experimentar essa tática do meu velho amigo: fui de ônibus!

 

Havia tanto tempo que eu não pegava um ônibus que entrei pela porta errada. Depois, ao perceber o erro, usei uma estratégia que adotava quando fazia alguma burrada muito grande no exterior: dei uma de estrangeiro, joguei um monte de moedas na mão do cobrador e voltei para o lugar certo.

 

Ainda falta um pouco de organização nos transportes coletivos. O metrô é uma beleza e qualquer estrangeiro se locomove facilmente, mas os ônibus em SP são muito bagunçados e faltam informações sobre itinerários. Um turista estrangeiro terá muita dor de cabeça para se locomover aqui e outras grandes cidades, menos Curitiba, onde tudo funciona.

 

Mas não é de transporte público que quero escrever e sim de atitudes. Nós estamos vivendo a era do grande desafio da mobilidade urbana. Além das dificuldades naturais do excesso de veículos, temos de conviver com os problemas agregados como poluição do ar e queda na qualidade de vida em geral.

 

Primeiro é preciso entender que o Brasil entrou numa parábola crescente de desenvolvimento econômico que vai continuar por mérito ou inércia ainda por muitos anos. E que a conseqüência deste crescimento é o acesso a um dos bens de consumo mais festejados do brasileiro que é o automóvel. E mais recentemente, a moto.

 

Além disso, desde os anos 50 o Estado brasileiro apoiou sua economia na chegada das grandes fábricas, sobretudo de automóveis, caminhões e seus derivados. Pode parecer uma teoria da conspiração, mas aposto meus rins como a deficiência do transporte público, o esquecimento das opções de transporte ferroviário e hidroviário e a falta de investimento na malha viária tem muito a ver com a nossa dependência financeira das montadoras.

 

Imagino o seguinte diálogo entre executivos de grandes multinacionais do setor e o Estado brasileiro: “OK, nós montamos fábricas no seu país, investiremos centenas de milhões de dólares por muitos anos, mas queremos garantias de que vamos vender bastante!”. Entre as “garantias” está este insano e inexplicável modal de transporte de carga sobre rodas (e pneus). Um país com a geografia do Brasil não utiliza trem nem navios! Até a Áustria, encravada nos Alpes, transporta carga e pessoas por trem!

 

Depois de 60 anos dependentes da indústria automobilística, sobretudo nos últimos 15 anos com a chegadas de novos fabricantes e importadores, como vamos convencer o Estado a oferecer meios de locomoção que substituam os carros, motos e caminhões? Não dá!

 

Por isso chegou a hora da atitude. Fazer aquele trabalho do beija-flor que tenta apagar o incêndio na floresta sozinho. Quando uma coruja viu aquilo e indagou se ele realmente acredita ser capaz de apagar o fogaréu, ele simplesmente respondeu: “não, mas estou fazendo a minha parte”.

 

Fazer a sua parte significa buscar alternativas para amenizar o caos na mobilidade urbana. E neste trabalho as empresas precisam acordar para ao anacronismo que representa contratar alguém para trabalhar oito horas por dia diante de um computador, algo que este empregado poderia fazer dentro de casa, com metas, organização e sem tirá-lo do lugar.

 

Ou então a crueldade que significa impor quatro horas por dia de deslocamento em transportes coletivos, sendo que o gerente de recursos humanos da empresa poderia dar prioridade a quem mora perto do endereço da empresa. Os profissionais de RH olham todas as qualificações, mas esquecem de verificar o endereço. No século 21 é sensato que as empresas adotem uma política distrital de recursos humanos. Olhem em volta, visitem as faculdades e pensem em deslocar as pessoas o mínimo possível.

 

Tem muita empresa de grande porte que faz propaganda se proclamando “responsável ambientalmente”, mas considera como ambiente só aquele espaço abstrato de floresta onde vivem araras azuis e jacarés. Minha rua também é meio ambiente. A avenida Paulista também é meio ambiente.

 

É como a família que tem um tremendo cuidado com o lixo reciclável, com formas sustentáveis de consumo, mas quando vira as costas a empregada doméstica passa a manhã toda varrendo a calçada com uma mangueira como se água fosse um bem menor! A dona da casa ensina até a reutilizar a água da máquina de lavar roupa e louça, mas ao sair a empregada joga tudo no ralo e abre a mangueira...

 

O exemplo do meu amigo fotógrafo é surpreendente por se tratar de um esforço semelhante ao do pequeno colibri. Se cada um fizer uma pequena parte, um pequeno esforço, tudo em volta melhora. E nem pense em esperar ajuda e incentivo da administração pública. Nesta luta do beija-flor contra o fogo na mata, o papel do Estado tem sido de incendiário!

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publicado por motite às 23:46
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Quinta-feira, 5 de Maio de 2011

O Tite é Tutto!

(Vou ficar ainda mais bunitin! Foto:Eric click2rodas)

 

O Tite é Tutto! Desde o dia primeiro de maio o curso SpeedMaster de pilotagem passou a contar com mais um importante patrocínio: a Tutto, marca de equipamentos de segurança para motociclistas, incluindo os capacetes Shoei. Agradeço ao Raphael Karan e ao Marcelo Caetano por acreditar e incentivar esta importante iniciativa de marketing e espero dar o devido retorno às marcas. Agradeço também à SBK pelo enorme apoio concedido no começo das atividades do curso o que sempre será lembrado e respeitado.

 

Na foto estou usando um capacete Shoei XR 1100, macacão racing Gold, luvas e botas racing. O equipamento é bastante confortável e leve. O macacão tem forro lavável (ainda bem pq a gente sua mais que tampa de marmita) e o capacete é tão silencioso que a sensação quando fecha a viseira é que desligaram o mundo!

 

Muito obrigado à Tutto e a tutti!

 

P.S. - o próximo curso SpeedMaster módulo básico será dia 2 de julho e o avançado será dia 3 de julho. Corram pq as vagas são limitadas.

 



publicado por motite às 13:03
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