Terça-feira, 30 de Março de 2010

Que filhos deixarás para o mundo?

(Olhe bem essa muda. Ela vai desaparecer)

 

Quem acompanha o Motite viveu junto comigo a triste história do pau-brasil agredido. Era uma muda que eu estava cultivando com muito cuidado por ser da primeira florescência da árvore-mãe que vive no meu quintal há mais de 15 anos. Quando já estava com dois anos e cerca de 1,0 metro de altura decidi plantar na frente de casa para acompanhar o crescimento dela. Em maio de 2009 os vândalos do bairro, delinqüentes mirins preservados por uma Lei irresponsável e omissa, quebraram a gema principal quando a muda já estava com 1,20m e muito saudável. 

Graças a um paciente trabalho de recuperação, consegui fazer o galho secundário crescer a ponto de assumir a sustentação da muda e ela se desenvolveu de forma saudável e forte até chegar a 2,0 metros com muitos brotos e projetando uma árvore adulta tão linda e frondosa quanto a mãe. Além disso, fiz uma proteção de madeira para evitar que alguém atropelasse a muda acidentalmente. 

Até que na manhã de domingo, 14 de março, veio o mais duro golpe que levei nos últimos anos. Os mesmos vândalos-mirins, protegidos por ONGS e outras formas de benesses aos fora-da-lei, simplesmente quebraram a árvore, com proteção e tudo, de forma tão violenta que sobrou apenas um toco de 10 cm. O que restou da muda e proteção foram jogados no mato perto de casa. Essa agressão ocorreu por volta de 6 horas da manhã, quando não havia vigilância na rua.

 

(Sumiu! Esse toco de 10 cm foi uma muda de pau-brasil de 2,0 metros)

 

Esperei muito pra escrever porque fiquei em estado de choque. Não lembro de ter sentido um vazio tão grande e uma raiva tão profunda que rogo a Deus não encontrar essas pessoas na rua.

Poucos dias antes, o ipê amarelo que eu também plantei cerca de 20 anos atrás desabou solenemente depois de atacado por cupins e pelo desprezo municipal frente às várias solicitações que fiz à Prefeitura, pedindo o tratamento da árvore. O pau-brasil foi até celebrado pelos vizinhos como o natural substituto ao ipê tombado. Além disso, aquele pau-brasil era uma forma de mostrar ao mundo que a natureza era mais forte do que o vandalismo. Que nada! 

Nada nem ninguém consegue reverter essa tendência de queda no material humano. A humanidade está caminhando a passos largos rumo a uma individualização irreversível. Se na Idade Média o conhecimento era repassado por meio de histórias contadas de pai para filho, criando um laço familiar muito forte, nosso futuro está fadado a ser formado por pessoas autômatas e individualizadas, cujo conhecimento será obtido via fibra ótica ou freqüência de onda. O conceito de família já está em franco processo de mudança. Filhos cada vez mais são criados por empregados e professores da escola “Mickey Mouse Feliz”, com “modernos” recursos de informática e comunicação. Estamos à beira do terceiro grande paradigma universal, que é a reprodução assexuada, e filhos poderão ser “adquiridos” como se fosse um filhote de dálmata. A família está com seus dias contados.

 

Quando a formação do filho não é feita pelos processos televisivos e pedagógicos pasteurizados, o que sobra para os pais é a educação social. Aí começa a desgraça, porque o mais primário dos preceitos pedagógicos está na afirmação que aquilo que um professor fala é infinitamente menos importante do que ele FAZ. Por mais que um professor de jardim da infância tente mostrar aos seus pequenos que fumar faz mal à saúde, todo esforço se perde se ele acende um cigarro na frente das crianças. De nada adianta um pai gastar horas tentando ensinar os filhos e não sujar a cidade se ele joga “apenas” uma bituca de cigarro pela janela do carro. Crianças aprendem por imitação e não por discursos bonitinhos. 

Passei esses dias pensando que tipo de monstro é capaz de arrancar uma muda de árvore? Não importa se é criança, adolescente, adulto, se essa pessoa hoje arranca uma muda pelo prazer de destruir o que será capaz de fazer de posse de uma arma de fogo? Ou de um taco de basebol? ou de um metro de corrente? Fiquei pensando como será o pai dessa pessoa, como será a casa dele, a educação que recebeu? Quais princípios morais essa pessoa levará para a vida? 

Então, desci hoje a rua de casa e vi como são formados esses monstros. Um caminhão de bebidas parou solenemente ao lado de uma placa de proibido estacionar, em uma estreita rua de mão dupla, obrigando os motoristas a invadir a contra-mão para passar. Nessa operação, sem visibilidade, um motorista quase me pegou de frente! Cansado de passar por isso todo santo dia, parei e fotografei para que o mundo saiba quem são os formadores de monstros. Que tipo de educação esse motorista pode transmitir aos seus filhos? Qual conceito de respeito ao próximo esse tipo de imbecil pode pregar? Pode até ser um desses insuportáveis cabeças-ocas pregadores de religiões fajutas e picaretas. No “culto” prega o amor ao próximo e deixa o dízimo para seus “bispos”  se locupletarem em mansões milionárias, mas na rotina estaciona um caminhão de forma ilegal e expõe o próximo a riscos por pura preguiça, que também é pecado, por sinal.

 

(Que tipo de ser humano esse motorista pode formar?)

 

Faz duas semanas que alimento uma sede de vingança insaciável. Fico imaginando o que seria capaz de fazer se tivesse flagrado essa covardia contra o filhote de pau-brasil. Pode até ser um exagero da minha parte, mas para quem viu uma semente germinar, brotar, crescer, sofrer uma agressão, se recuperar e depois morrer covardemente é uma indignação sem remédio. 

O grande gênio da nossa história, Albert Einstein, disse: “quando se agride o Homem ele se defende; quando se agride a natureza ela não pode se defender, mas pode se vingar”. Não tenho a menor dúvida que estamos vivendo uma nova era na qual a natureza mostrará alguma forma de vingança diante de tanta agressão. Quem sabe a profética hecatombe natural prevista pelos maias para dezembro de 2012 não seja baseada na vingança da natureza. Espero que sim, e que esse monstro que arrancou uma muda de pau-brasil pelo prazer da destruição tenha um fim muito lento e dolorido. Algo como ser atingido pela queda de um pau-ferro de duas toneladas! 

A melhor frase que li recentemente sobre a preocupação com a natureza foi “todo mundo se preocupa em deixar um mundo melhor para nossos filhos, mas quem está trabalhando para deixar filhos melhores para nosso mundo?”. Esse motorista da Antarctica certamente não faz parte dessa segunda preocupação.

publicado por motite às 19:38
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Domingo, 28 de Março de 2010

Made in where?

 

 

Desde a revolução industrial, lá no século 18, sabe-se que uma fábrica se caracteriza por ser uma unidade na qual entra matéria prima de um lado e sai produto acabado do outro. Entra ferro de um lado e sai sino do outro. Entra polímeros e monômeros de um lado e sai boneca Barbie de plástico do outro. Entra couro curtido de um lado e sai bola de futebol do outro. Simples assim.

 

Mas também sabemos desde sempre que a história da riqueza dos homens se fez com base no princípio mais elementar da economia: o lucro! Que é a diferença entre o dinheiro investido para fabricar o produto e a grana arrecadada com a venda. Igualmente simples e essencial para o funcionamento do mundo capitalista. E socialista também, senão China não fabricaria tênis e Cuba não seria o maior produtor de charutos do mundo.

 

Simples, gasta-se x para produzir um produto e vende-se por 1,5 x ou 2 x para reverter a diferença em lucro.

 

Curiosamente, desde que o mundo capitalista existe empresários têm uma certa vergonha em admitir isso. Que vivem de lucro. E que ficarão mais vivos, belos e perfumados quanto maior for esse lucro. Não sei onde está a vergonha em admitir isso publicamente. Os bancos, por exemplo, gastam centenas de milhares de dólares em propaganda tentando passar a idéia de que vendem felicidade por meio da compra de bens, quando na verdade o que desejam realmente é aumentar cada vez mais o lucro. E olha que mercado financeiro representa o maior lucro da Economia atual.

 

Diante dessa mais do que natural e simples observação não entendo qual a indignação de algumas pessoas quando se vêem diante de uma clara situação de aumento nas margens de lucro. Toda fábrica, desde clipe de papel até avião só existem porque querem aumentar as margens de lucro. Ou alguém já viu o diretor de uma multinacional aparecer em público afirmando do alto do púlpito: “Decidimos diminuir em 10% a nossa margem de lucro em 2010”. Isso não existe. Lucro é tão vital para uma empresa quanto o sal da comida.

 

Provavelmente o Brasil é onde se praticam as maiores margens de lucro do planeta. Sei bem disso porque passei pela experiência de produtor e vi a naturalidade com que comerciantes aplicavam 100% de margem nos produtos sem a menor cerimônia. Esse papo de que nossos carros e motos são caros por causa da incidência de impostos é bem conversa mole pra boi dormir, porque mesmo retirando a carga tributária ainda dão um enorme lucro. Parte desse lucro vem da oferta cada vez maior de mão de obra barata. Não é à toa que surgem pólos industriais em regiões como Camaçari (BA), Manaus (AM), São José dos Pinhais (PR), Taubaté (SP) e outras. Além de correr atrás de valiosos incentivos fiscais, as grandes empresas querem mão de obra qualificada e mais barata do que no tradicional grande ABC em São Paulo.

 

Nessa busca mundial por aumento nas margens de lucro surgiu a necessidade de repensar a logística da produção em escala. Algumas fábricas deixaram de transformar matéria prima em produto final e passaram a comprar pedaços de produto, montar e vender. Daí a origem do termo “montadora” para classificar algumas fábricas. Como essas peças precisam ser fabricadas por outras empresas, a roda da produção não pára.

 

Ingenuidade – Nessa busca por lucros ficou evidente que um fator determinante para aumentar as margens seria gastar cada vez menos para a produção, uma vez que a competitividade impede o aumento exagerado do preço. O sonho da alta casta industrial seria voltarmos à escravidão, assim bastaria um feitor e um chicote para tocar a produção.

 

A pressão por condições mais dignas de produção foi um dos fatores que mais forçou o aumento no custo de produção, deixando de lado a elevação absurdamente exagerada nos salários de alguns executivos de alto escalão. Para manter – e aumentar – as margens de lucro foi fundamental buscar a redução no custo da mão de obra e aí entra em cena o que se convencionou eticamente chamar de “países emergentes”.

 

O Brasil já fez o papel de “país emergente” nos anos 50, quando a indústria automobilística mundial aportou aqui com enormes fábricas, oferecendo trabalho e progresso à população. As pioneiras aproveitaram bem a mão de obra barata e “limpinha”, só não contavam que a forte imigração de europeus, sobretudo italianos, no pós-guerra trouxesse na bagagem a idéia do sindicalismo.

 

Chegamos aos anos 80 e o mundo descobriu uma fonte de mão de obra baratíssima, com a vantagem de não fazer a menor idéia do que vem a ser um sindicato. E mais: com mais de um bilhão de pessoas aceitando qualquer coisa por centavos de dólar. Essa é a China, que está se transformando rapidamente no maior pólo industrial do planeta. E sem as “frescuras” do mundo ocidental como 13º salário, férias, poluição, fundo de garantia etc.

 

Hoje é praticamente impossível comprar um tênis Reebok, Nike ou Adidas que não seja feito na China. Tive a chance de entrar em uma loja de produtos esportivos em Nova York e sair de lá frustrado por não achar um produto “made in USA”. Nem as bandeiras americanas são feitas nos Estados Unidos!

 

Aí, chegamos ao mercado de motos – nossa praia – e percebemos um inexplicável preconceito com relação a tudo que vem da China. Ou melhor, a tudo que não venha do Japão, EUA e Europa. É o maior atestado de alienação que alguém pode dar.

 

Na China existem pelo menos uma centena de fábricas de motos e scooters. Algumas delas são fornecedoras exclusivas das grandes marcas japonesas. Sim, existem Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki feitas na China. Tem muito brasileiro rodando com moto ou scooter chinês pensando que é japonês! E esses mesmos clientes dessas motos torcem o nariz quando vê ao lado outro scooter Made in China. Pior é saber que tem marca no Brasil que anuncia seu produto como “japonês feito no Brasil” e ele vem da China mesmo!

 

Não entendo o motivo dessa preocupação em esconder a origem. São ótimos produtos, de qualidade mais do que comprovada porque essas grandes marcas japonesas implantaram um padrão de qualidade excelente dentro das plantas industriais chinesas. Em outras palavras, os chineses fornecem a mão de obra mais barata, mas a administração industrial foi criada e é gerenciada pelos japoneses. A mesma metodologia que BMW aplica para produzir partes da F 650 GS na China.

 

A origem desse preconceito está no berço da industrialização chinesa. No livro “Henfil na China” o sociólogo Henrique Figueiredo Filho (Henfil) relata como os chineses se tornaram os grandes copiadores de produtos industrializados. Organizavam feiras na China e convidavam as grandes empresas de todo mundo. Quando a feira terminava eles trancavam o galpão e só liberavam as mercadorias depois de alguns dias. Na hora de retirar os equipamentos, os estrangeiros descobriam, perplexos, que estava tudo desmontado!

 

BMW by Dafra – Algumas pessoas ingênuas pregam o boicote aos produtos chineses alegando a falta de uma política trabalhista, digamos, mais humanista. A ingenuidade vem do desconhecimento, porque só quem vive aquela realidade pode julgar se 50 dólares por mês é um insulto ou a diferença entre viver ou morrer. E mais: não precisa dar a volta no planeta para se indignar. Quem deixa de consumir produtos chineses por motivos humanitários deveria abandonar definitivamente o álcool como combustível, porque aqui mesmo, no interior de São Paulo, muitas famílias trabalham literalmente até a exaustão no plantio, cultivo e corte da cana pelos mesmo US$ 50 por mês. Sem falar no trabalho infantil.

 

Então de onde vem essa bronca com relação às motos e scooters chinesas? Isso é fácil de explicar: vem de empresários aproveitadores que viram o crescimento exponencial do mercado de motos, sobretudo no Norte/Nordeste e foram na China em busca de produtos baratos, sem a devida preocupação com qualidade e muito menos a responsabilidade na assistência técnica. A busca pelo lucro superou a preocupação em contribuir efetivamente com a implantação de uma política industrial.

 

De todas as empresas que entraram nessa onda, a que me parece mais disposta a se tornar verdadeiramente uma indústria é a Dafra (e note que é uma opinião PESSOAL). Alicerçada no grupo Itavema, um dos maiores conglomerados econômicos do País, com larga experiência no mercado automobilístico, a Dafra ainda está alguns anos-luz de apresentar um produto comparável aos genuinamente brasileiros modelos da Honda e Yamaha da mesma categoria. Mas percebe-se o esforço em melhorar o produto.

 

Não é à toa que a BMW foi buscar parceria com a Dafra para montar a G 650 GS na Zona Franca de Manaus. Aliás, bastou ventilar essa notícia para que os membros de fóruns da Internet revelasse desdém com relação ao produto só por ser “fabricado” (sic) pela Dafra! Na minha humilde opinião – expressada diretamente à diretoria da BMW – pode ter sido um erro estratégico associar a marca alemã ao nome Dafra e não ao nome Grupo Itavema. Creio que no campo psicológico do mercado, o nome Itavema sofreria menos refração do que Dafra, mas... eu não estou lá dentro para levantar esses motivos.

 

Desdenhar a G 650 GS só por ser montada em Manaus é uma grande prova de burrice, na falta de uma palavra mais educada. Porque ela será MONTADA e não fabricada. As peças virão da Alemanha, Áustria, Itália e China e tudo isso será encaixado, aparafusado, soldado e milimetricamente gabaritado por técnicos da Dafra, treinados na BMW alemã. E mesmo que fosse fabricada em Manaus teria o padrão de qualidade da marca bávara porque só quem convive com alemão sabe o quanto são chatos (no bom sentido) com os detalhes.

 


(Aprende: Coreano não é chinês! Foto: Tite)

 

Xing ling é a mãe – Pior do que classificar todo produto chinês como segunda categoria é chamar tudo que vem da Ásia – menos do Japão – de chinês. Quando os experientes Sérgio Bessa e Milton Benite trouxeram as motos da coreana Hyosung pro Brasil eu fui um dos primeiros jornalistas a testar um modelo de 125 cc. Com estilo custom, fiquei impressionado com o alto nível de acabamento e qualidade geral. A Coréia é um país democrático, com economia estável e tem grandes indústrias como Kia, Hyundai e a gigantesca Hyosung. E tem gente que chama os produtos dessa marca (hoje vendidos com a marca Kasinski) de “Xing ling”, numa irônica alusão aos produtos chineses.

 

Lembro que nos anos 80 as pessoas voltavam indignadas dos Estados Unidos porque ao anunciar que eram brasileiros o americano comentava: “ah, que legal, eu tenho um primo que mora lá, em Buenos Aires!”. O brasileiro chegava aqui esbravejando: “povo burro da p***, acha que Buenos Aires é a capital do Brasil”.

 

E o que dizer de quem chama um produto coreano de chinês? Para um coreano deve soar como se dissesse que Pelé é argentino! O mesmo cuidado deve ser tomado com relação a outros países como Taiwan e Índia. Hoje a Índia já produz motos com bom padrão de qualidade e algumas delas devem aportar por aqui.

 

Repito, o que “fritou” as marchas chinesas no Brasil foi a ganância do empresariado brasileiro que investiu na ingenuidade do consumidor em busca de preço baixo. É fácil atrair um leigo com uma moto bonita, com freio a disco, uma gambiarra chamada de “ABS mecânico”, conta-giros, indicador digital de marchas, rodas de liga leve, mas que enferruja depois de dois meses ou tem os componentes plásticos trincados depois de poucos milhares de quilômetros. Sempre que ouço alguém comentar “as motos importadas da China estão vendendo bem!” completo com uma comprovação estatística: “sim, pode ser, mas quantos desses motociclistas estão comprando a primeira moto de suas vidas? E quantos comprarão uma segunda moto dessa marca?”.

 

Até hoje não conheci UM motociclista que tivesse comprado uma segunda moto dessas marcas oportunistas. Pelo contrário, conheço vários que pularam para as brasileiras ou coreanas.

 

Conforme expliquei anteriormente, existem ótimos produtos feitos na China, capazes de concorrer em igualdade com japoneses e europeus. Mas os empresários brasileiros que viram no mercado brasileiro de moto uma oportunidade de lucro rápido não foram atrás destes produtos. Foram em busca de margens de lucro estratosféricas, sem a devida relevância ao pós-venda. Cheguei a presenciar um dos maiores absurdos da minha extensa carreira de 30 anos em uma apresentação dos novos modelos chineses da Kasinski na época ainda do Abrahão. Em plena conferência de imprensa uma senhora, responsável pelo pós-venda, afirmou, sem qualquer cerimônia, que os consumidores não precisavam se preocupar com a reposição de peças pois eram  todas compatíveis com Honda e Yamaha!!! Olhei para o lado, vi o mesmo ar estupefato dos colegas jornalistas e comentei com um deles: “Equivale dizer que eles apenas trarão as motos, mas responsabilidade pela reposição de peças é do concorrente!”. Felizmente a nova administração da marca parece ser um pouco mais séria.

 

Pós-venda deveria ser o motivo número um de rejeição a estes produtos. Já tive problemas com pós-venda das marcas mais tradicionais do mercado, imagine uma empresa que precisa ocupar espaço no contêiner com uma montanha de motos, mas não traz nem uma roda sequer porque a do concorrente é igual!!!

 

É bom que fique bem claro: ser chinês não é sinônimo de baixa qualidade nem trabalho escravo. As grandes marcas já começaram a praticar uma política de RH mais sensata. É ainda muito embrionária, em um país totalitário. Mas da mesma forma que no nosso democrático Brasil temos trabalho escravo nas lavouras em pleno século 21, não vai ser fácil abrir tantos benefícios aos mais de um bilhão de chineses.

 

O que não pode é ficar com essa frescura de “queimar” um produto só por ter partes feitas na China, Índia, Coréia, Taiwan ou Paquistão. Alguém em plena consciência e maturidade acredita fielmente que os melhores carros do mundo são feitos com peças 100% fabricadas em seus países de origem?

publicado por motite às 02:44
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Sexta-feira, 26 de Março de 2010

Tô na Mídia, tou na mídia!!!

 

 

Mais uma grande reportagem sobre o Curso SpeedMaster de Pilotagem. Agradeço o jornal Oficina Brasil (320.000 leitores) e ao jornalista Arthur Rossetti pelo reconhecimento ao importante serviço prestado aos motociclistas. Segue abaixo a íntegra da matéria!

 

Caderno Duas Rodas – Jornal Oficina Brasil

Autor: Arthur Gomes Rossetti

 

Título: Curso ensina a pilotagem segura e defensiva

 

Para tirar  máximo proveito da motocicleta é preciso muito conhecimento

 

Andar de moto e antes de tudo uma prática agradável, prazerosa, que garante

satisfação e inigualável sensação de liberdade. Bom, pelo menos deveria se não fossem alguns contratempos da vida moderna. Vejamos o exemplo dos grandes centros urbanos como a cidade de São Paulo: ruas esburacadas, excesso de automóveis e caminhões e ônibus por todos os lados, pedestres distraídos, chuvas constantes, vias mal sinalizadas, entre outros fatores que se tornam verdadeiras armadilhas ao condutor de uma motocicleta.

 

Pensando na crescente necessidade em pilotar de maneira segura, o ex-piloto e instrutor Geraldo Simões, conhecido também como “Tite”, desenvolveu o curso batizado de SpeedMaster, voltado à filosofia de abrir a mente do motociclista para

que a condução da máquina seja previsível, sempre a considerar a segurança em primeiro lugar. O resultado foi a adaptação do conhecimento esportivo a favor da condução sem sustos.

 

História

Com mais de 20 anos de experiência no setor, Tite foi convidado em 1998 a participar do curso e de pilotagem esportiva, ministrado pelo ex bicampeão da maior categoria do motociclismo mundial da época a 500cc, Freddie Spencer, nos Estados Unidos. Após retornar para o Brasil o desejo em retransmitir o conhecimento adquirido foi latente, e a partir de então o curso colaborou para que mais de 1.500 motociclistas aprendessem as técnicas de direção segura.

 


 

Curso

Ao contrário dos treinamentos voltados exclusivamente a motos esportivas de alta cilindrada, qualquer pessoa que tenha uma motocicleta de no mínimo 250 cilindradas estará apta a participar, independente de o estilo ser custom, trail, big trail, street, entre outras. A premissa para participação e que as condições mínimas de segurança sejam alcançadas, como por exemplo, os pneus, freios, amortecedores, estrutura da moto, que deverão estar em perfeitas condições.

 

Quanto á vestimenta do piloto é obrigatória utilização de capacete, luvas, botas, macacão de couro ou jaqueta apropriada e calça jeans com proteções internas, comercializada em lojas do ramo.

 

Realizado na cidade de Piracicaba, distante a 140 km do centro de São Paulo, o circuito ECPA (Esporte Clube Piracicabano de Automobilismo) é o palco do treinamento, que inicia às 9 da manha e termina às 18:00 h, dividido em parte teórica, seguida de prática na pista. Sob o olhar atento de Tite e de mais dois auxiliares, a condução passa a ser aperfeiçoada a cada curva, ora de maneira individual ou coletiva.

 

Segundo Tite, a maioria dos acidentes ocorre devido o condutor da motocicleta acreditar que algo nunca cruzara o seu caminho. Com esta linha de raciocínio ele orienta que ao estar sobre um veiculo de duas rodas, o piloto deverá não apenas ter 'visão', mas sim uma 'pre­visão' do que poderá ocorrer. Dicas de como se comportar diante de cruzamentos, condução noturna, escapada de acidentes através da técnica do contra-esterço, técnicas de frenagem, entre outras são abordados no decorrer do dia.

 

Ao final do dia a turma é dividida de acordo com o tempo de habilitação e o estilo da motocicleta, para que seja possível também andar mais rapidamente e aplicar na prática todos os ensinamentos adquiridos. Conseqüentemente a condução torna-se melhor e mais suave, sem deixar de perder o domínio sobre a máquina.

Os alunos recebem também o certificado de participação, homologado pela Federação Paulista de Motociclismo e um brinde exclusivo.

 

Para mais informações sobre datas futuras, preços ou dúvidas, acesse o site www.speedmaster.com.br ou mande um e-mail através do endereço info@speedmaster.com.br

 

 

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publicado por motite às 15:22
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Sexta-feira, 19 de Março de 2010

O marginal sou eu

(Hey, você aí! Não pode mais morrer na 23 de Maio, só na Vergueiro! foto: Tite)

 

A população brasileira tem cerca de 18% de indivíduos negros e mulatos, os chamados “afro-descendentes”. Já entre a população carcerária essa média é de 50%, o que pode nos levar à conclusão que os indivíduos desta etnia são mais potencialmente perigosos e propensos ao crime do que os das outras etnias. E mais, com base nestes números poderíamos até sugerir a castração ou proibição de procriação destes indivíduos negros e mulatos. Pois os números* estão aí e refletem uma verdade insofismável.

A esta altura você aí do outro lado do monitor já está se preparando para escrever uma mensagem me chamando de preconceituoso, nojento, branquelo de m***, reacionário, louco e outros adjetivos menos publicáveis.

Pois foi com este raciocínio simplista e manipulado que a Secretaria de Transporte de São Paulo determinou a proibição do trânsito de motos nas vias expressas da Marginal Tietê e parte da avenida 23 de Maio. O secretário Alexandre de Moraes alega que a medida foi tomada com base em “critério técnico” (sic), a partir do elevado número de acidentes – muitos fatais – envolvendo motociclistas.

O erro técnico está exatamente aí: analisar os números! Como vimos no primeiro parágrafo, se analisarmos apenas os números teremos de mandar castrar toda a população afro-descendente brasileira. Números, meu caro leitor motítico, nunca foi um indicativo inteligente para tomar qualquer medida.

Já lá no comecinho do século 19 criou-se a teoria do “homem-lombrosiano”, segundo a qual as pessoas tinham um biótipo criminoso. Pelo comprimento do queixo, largura da cabeça etc poder-se-ia classificar uma pessoa como potencialmente criminosa, pois esse era o biótipo dominante nas cadeias da época.

Portanto, analisar apenas número já se mostra uma burrice há quase 200 anos! Mesmo assim, em pleno século 21, na maior metrópole da América do Sul existe uma pessoa, com poder de tomar medidas administrativas apenas assinando um documento, que pensa exatamente como o italiano Cesare Lombroso, o doidão que elaborou a teoria lombrosiana. Na época deram crédito ao pirado porque ele era um conceituado médico e mostrou um estudo feito “com base em critérios técnicos” (parece que já li isso antes...).

Secretário e prefeito olharam um papel com números e tomaram as decisões baseadas em “critérios técnicos”. Portanto, gostaria de perguntar: “Sim, caras-pálidas, mais QUAIS são estes critérios?” Para obter a resposta que todos já sabemos: “os números”. Ohhh, fascistas travestidos de democratas!

Quem é marginal? – Cerca de 10 anos atrás escrevi um artigo no qual eu defendia a urgência na criação de uma equipe de peritos para analisar os acidentes de trânsito envolvendo motos. Naquela ocasião eu sugeria que fossem levantadas as causas contribuintes que levaram ao acidente, tais como: condição de conservação das motos, tempo de habilitação, carga horária diária até o momento do acidente, grau de escolaridade, tipo e estado de conservação dos equipamentos pessoais de segurança, tipo de veículo envolvido no acidente, dados do motorista, estado de conservação do veículo envolvido etc etc etc...

Obviamente que em caso de acidente com óbito ou inconsciência da vítima, algumas perguntas teriam de ser respondias por familiares ou levantadas pelos peritos. Para executar essa ação bastaria treinar a equipe de resgate que socorre as vítimas, a polícia de trânsito e demais agentes de trânsito. De posse destas respostas poder-se-ia então, com enorme grau de acerto, determinar AS CAUSAS contribuintes dos acidentes envolvendo motos.

Não sei se influenciada por este artigo ou não (afinal nunca me perguntaram nada), cerca de três anos atrás, a Abraciclo – associação que reúne alguns fabricantes de motos – convidou um perito japonês que veio ao Brasil se reunir com os agentes de trânsito para quê? Ensinar a periciar os acidentes, na tentativa de levantar as causas dos acidentes. Ou seja, aquilo que eu vinha pedindo há mais de uma década finalmente estava prestes a ser implantado (sem nenhuma citação à minha pessoa, claro).

Passados três anos dessa ação o que temos como conseqüência? A medida arbitrária e fascista de  proibir a circulação de motos em algumas vias. Parece que aquela iniciativa da Abraciclo teve o fim inglório do fundo da gaveta.

Srs Prefeito e Secretário, aprendam de uma vez: motociclistas não se acidentam sozinhos, não existe um portal  misterioso na avenida 23 de Maio, nem na Marginal que engole os motociclistas e os teletransporta para a UTI. Os motociclistas se acidentam com outros veículos como carro, ônibus e caminhões. Se não for feita uma cuidadosa perícia nunca saberemos se o acidente foi provocado por irresponsabilidade do motociclista ou imperícia do motorista. O que se tem atualmente são números!

Além disso, a medida proibitiva comete o mais injusto dos preconceitos: os bons motociclistas pagam pelos maus. Está errado! O correto é punir severamente os maus e beneficiar os bons. Eu rodo de moto diariamente na 23 de Maio desde 1976, quando fui estudar no centro da cidade. Nunca caí, nem quebrei nenhum espelho retrovisor, nem matei nenhum motociclista e nem morri (toc, toc, toc). Por que, srs administradores, eu serei equiparado a um motoboy irresponsável, semi-analfabeto, prepotente, arrogante e sociopata? Por que eu tenho de pagar pelo erro dos outros? Não seria mais justo eu ser beneficiado e  esses psicóticos motorizados serem punidos ou retirados de circulação?

Ah, mas isso custaria caro ao município porque exigiria investimentos em formação, contratação de peritos e agentes fiscalizadores, compra de radares, uma série de custos. A proibição é a forma mais econômica e fácil de resolver um problema difícil.

E eu não endosso o coro daqueles que pregam um motim nas urnas. Muito menos sou defensor corporativo dos motociclistas profissionais (moto-frete). Achei ingênua a declaração do presidente da Abram ao esbravejar nas rádios que “os motociclistas saberão responder essa medida nas urnas”. A ingenuidade vem do fato que para cada motociclista que boicotar uma candidatura terão 10 motoristas que apoiarão. Os motoristas celebrarão essa medida porque eles (e eu me incluo na lista) não agüentam mais a horda de criminosos motorizados que rodam como se o mundo vivesse em função da pressa deles.

Aí está o maior problema dos órgãos que pretendem “defender” os motociclistas: sempre que tentam proteger uma centena de bons e responsáveis acabam por beneficiar os milhares de cretinos que usam o ofício de motoboy porque são incapazes de fazer qualquer outra coisa na vida pela pura condição de sociopatas que são.

Se hoje a sociedade alimenta um ódio visceral aos motociclistas a maior responsabilidade está nos próprios motociclistas que c*** e andam para o resto da humanidade e querem resolver apenas o problema imediato. Por isso é preciso muito cuidado ao criticar ou aplaudir certas medidas restritivas.

Só estou tentando mostrar que decisões tomadas sem critério técnico efetivo podem prejudicar uma parcela pequena de bons cidadãos, por culpa e obra de uma maioria psicótica que não sabe (ou não quer) viver em sociedade.

Outra enorme parcela de responsabilidade cabe ao poder público que por mais de seis décadas entregou o Brasil às montadoras de automóveis, criando uma dependência tão grande que dá a impressão de que o Brasil estacionará se a indústria automobilística cair 1% que seja. Uma cidade do tamanho de São Paulo tem um transporte público caótico, antiquado, desconfortável e inviável porque por mais de 60 anos a prioridade sempre foi a venda de automóveis.

Por exemplo, neste elaborado “critério técnico” mencionado pelo Sr Proibição, Paulo Kassab (mistura de Paulo Maluf+Gilberto Kassab, porque proíbe, mas faz), não levou em conta que o trecho da 23 de Maio proibido para as motos foi acrescentada à força uma faixa de rolagem adicional para melhorar o fluxo de quê? Dos automóveis! Veja o mecanismo protecionista disfarçado: primeiro espremeram as faixas e fizeram os carros rodarem a poucos centímetros, sem deixar espaço para as motos. Como resultado os motociclistas se espremiam tanto que obviamente aumentou o número de ocorrências. Qual a solução? Voltas ao número de faixas de antes? Não, proibir a circulação de motos.

A Prefeitura de SP está se especializando em proibições. Em vez de organizar, normatizar e fiscalizar a publicidade externa, proíbe. Em vez de educar, segregar, restringir e fiscalizar a área de fumantes em locais públicos, proíbe. Em vez de educar, normatizar e fiscalizar a circulação de motocicletas, proíbe. Qual será a próxima proibição? E sabe qual será a conseqüência dessas medidas restritivas aos motociclistas? Os acidentes mudarão de endereço, mas não diminuirão, como querem os burocratas. O motoqueiro que morreria na 23 de Maio morrerá na av. Vergueiro. Porque o perigo não está na rua, está no comportamento do motoqueiro.

Alguém precisa iluminar a cabeça desses homens para mostrar que não adianta em nada proibir o trânsito de motos nas marginais, o que precisa urgentemente é proibir o trânsito de marginais nas motos!

* Esses números não são oficiais, pois nem o IBGE consegue determinar com rigor científico qual o grau de miscigenação da população brasileira, mas é um dado genericamente aceito. É um verdadeiro samba do afro-descentente mentalmente perturbado.

 

publicado por motite às 18:13
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Quinta-feira, 11 de Março de 2010

O que é melhor para você?

(Tracker, o melhor on-off do mercado?)

 

Um tempão atrás uma amiga pediu um conselho para comprar um carro. Perguntou exatamente assim: “Qual o melhor carro para usar na cidade, mas também pegar estradas de terra”. Eu tinha acabado de acompanhar a produção de um comparativo entre os off do mercado na época que estava ao lado da redação da revista Car & Driver e sabia tudo. Respondi: “olha, o melhor é o Chevrolet Tracker porque é feito pela Suzuki, com experiência em jipes e é efetivamente um fora de estrada, ao contrário de Palio Adventure Locker e EcoSport que são carros normais disfarçados de fora-de-estrada”.

 

Ela comprou o Tracker e meses depois veio falar comigo em tom de decepção, afirmando que o carro gastava muito, não era flex e perdia muito valor de revenda. E o marido dela ainda me alfinetou comentando “grande especialista que você é”...

 

Pára tudo. Cheguei pra eles e falei: “vocês não me perguntaram qual o mais econômico, nem qual tinha maior valor de revenda, muito menos o mais confortável, mais espaçoso, com maior porta-malas, nada disso. Perguntaram qual o MELHOR. E o melhor é a Tracker! Se gasta muito, se desvaloriza, isso não interfere no conceito de MELHOR. Garanto que na hora que vocês estiverem com lama até a porta, numa subida de 35º e passar na boa, verão que isso é ser MELHOR”.

 

Claro que não falei nestes termos educados, mas com muito mais palavrão e sutileza típica de um velho ranzinza.

 

Semanalmente recebo mensagens de leitores perguntando “qual melhor moto?”. E a resposta é sempre a mesma: “Não existe a MELHOR, mas aquela que atenda todas as suas necessidades, desde a financeira até a prática”.

 

Eu mesmo já escrevi que a melhor moto do mundo era uma Honda Biz 125, da mais simples, com freio a tambor e partida a pedal e quase fui excomungado da comunidade internética. Mas uma moto que faz 30 km/litro, tem custo baixíssimo de manutenção, índice de roubo quase zero e ainda me leva para Santos (a 62 km de SP) por R$ 7,0 em 50 minutos é a melhor moto do mundo! Não é a mais confortável, nem a mais rápida, muito menos a mais glamorosa, mas é perfeita para um pão duro incorrigível como eu. E ainda levo um monte de tranqueira debaixo do banco!

 

Vejo meus amigos investindo 50, 60 a 70 mil reais na compra de motos esportivas com 200 cavalos e fico imaginando como eles conseguem rodar pelas ruas esburacadas de SP ou pelas rodovias do interior de Minas que parecem um solo lunar, de tanta cratera. Dá pra chamar isso de “a melhor moto?”. Ou uma pesada BMW de 1.200 cc com mais 150 kg de bagagem, excelente para viagens transcontinentais, mas quando tomba é preciso chamar um guindaste para levantar do chão! Ou tem uma pastilha de freio que custa R$ 300,00!!! Essa é a MELHOR?

 

Não existe o conceito de melhor. Quem leu o excelente livro “Zen e a Arte de Manutenção de Motocicletas” sabe que determinar a qualidade, seja em que segmento for, pode levar um homem à loucura. O mesmo pode-se dizer do conceito de “melhor” ou “pior”. Nada pode ser tão difícil na vida do que determinar o que é efetivamente melhor, se nem podemos lançar mão de uma bola de cristal! Quantas tragédias familiares e pessoais não conhecemos que tiveram como estopim a preocupação em “fazer o melhor”.

 

O que é melhor para mim pode ser o pior pra outra pessoa. Dããã, escrito assim parece mesmo uma grande conclusão filosófica universal, mas é graças a esse pensamento  que não se pode de forma alguma qualificar carro, moto, sapato, cachorro ou pessoas como “qual o melhor”.

 

Mais ainda, como mostrei no exemplo da minha amiga frustrada, fazer a pergunta de forma errada pode resultar na resposta igualmente equivocada. Por isso não me atrevo mais a responder qual melhor moto, nem a melhor oficina, melhor médico, melhor escola, melhor time, melhor piloto, melhor nada!

publicado por motite às 17:47
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Quinta-feira, 4 de Março de 2010

Oh insensatez...

(Não basta rodar no corredor, precisa correr muito!)

 

Todos os dias úteis atravesso metade da cidade no sentido norte-sul e sul-norte quatro vezes por dia. Sempre de moto, chova ou faça sol. Nestes primeiros dois meses de 2010 foi muito mais chuva do que sol. Por isso convivo com a fauna urbana de seres motorizados tanto quanto um frotista, taxista ou motoboy. Um hábito que deveria fazer parte da rotina diária de quem administra o trânsito e, sobretudo, de quem cria e fiscaliza as regras de trânsito.

 

Vejo diariamente a dificuldade de gerenciar o trânsito de uma cidade como São Paulo, com mais de seis milhões de veículos e 15 milhões de pessoas zanzando pra todo lado. Admito que não queria estar na pele desses técnicos. Mas adoraria estar na vaga pública desses vereadores que criam projetos de lei para “melhorar” o trânsito. Porque não exige um pingo de inteligência, tem estabilidade no emprego, verba de representação e semana de quatro dias. Ô, vidão!

 

Um desses burocratas eleitos propôs um projeto que obrigaria as motos instalarem placas também na dianteira. Alguns países asiáticos já tiveram essa exigência e muitas décadas atrás também era obrigado na Europa. Fiquei intrigado com essa exigência e fui pesquisar. Até que veio a revelação: esses “pardais”, câmeras fotográficas inteligentes que flagram carros com IPVA e licenciamento atrasados são colocados de forma a registrar a imagem da placa DIANTEIRA. E por que não traseira? Por causa dos caminhões! As placas dos caminhões ficam embutidas de tal forma que não podem ser flagradas pelas câmeras, que não conseguem interpretar os números pintados na carroceria.

 

Veja bem se todos nós entendemos a lógica: por causa dos caminhões quem vai ter de instalar a placa na parte dianteira são os motociclistas!!! Entendeu como é bom ser vereador? Não precisa gastar nem uma sinapse sequer!

 

Uma grande rádio de São Paulo faz declarada campanha contra motos há décadas. Claro que o fato de ser patrocinada pela companhia de taxis “vermelho e branco” não tem qualquer influência nestes ataques. O âncora do jornal, quase tão antigo quanto a invenção da rádio-difusão, sugere periodicamente que os motociclistas sejam obrigados a colar os números da placa também no capacete ou em um colete. Segundo ele, os números das placas das motos são pequenos demais e isso induz à impunidade porque a fiscalização não consegue ler. Bom, então como explicar as multas aplicadas às motos?

 

O que o decrépito jornalista precisa é de um oftalmologista, urgente! Porque o número das placas das motos são apenas 10% menores em relação aos carros. E colar a placa da moto seja no capacete ou no colete torna-se uma exigência absolutamente inócua no momento que usar a mochila ou alguém sentar na garupa! Uma medida anacrônica que surgiu depois de alguém afirmar que na Bolívia os motociclistas ostentam a placa em um colete. Basta uma rápida olhada pela janela lá da redação da rádio, em direção à avenida Paulista para perceber que a realidade social de São Paulo é levemente diferente da de La Paz.

 

O mundo não carece de mais leis. Nem de políticos que buscam projetos delirantes com o único propósito de aparecer na mídia. Muito menos de jornalistas preconceituosos e caquéticos. O que o mundo precisa urgente é de sensatez!

 

Uma pessoa lúcida e de bom senso teria capacidade de perceber que basta aumentar a placa da moto, como na Inglaterra, Alemanha, Suécia, Holanda, França, países efetivamente exemplares, para acabar com essa preocupação. Uma medida simples, fácil de executar e que não mudaria em nada a vida dos motociclistas. Difícil? Sim, quando falta sensatez fica tudo mais complicado.

 

Insensatez geral – Nessa minha jornada diária sul-norte-sul de São Paulo vejo que a “questão do motoboy” está cada vez mais longe de uma solução. E vamos combinar que eu não entro nessa frescura de chamar de “moto-frete” ou “motociclista profissional”, é tudo motoboy mesmo. Também não faço distinção de motociclista e motoqueiro porque é tudo a mesma coisa e ponto! Podem criar moto-faixa, cursos, regulamentação, placa vermelha o escambau a quatro.  Nada vai funcionar porque falta a mais elementar das qualidades humanas: a sensatez!

 

O trânsito todo congestionado, os carros rodando a 25 km/h. Se uma moto trafega no corredor a 50 km/h já está no dobro da velocidade. O percurso será feito na metade do tempo. Mas não é suficiente e o insensato motociclista quer rodar a 70, 80 ou até 100 km/h entre os carros. Seja em uma prosaica e esculhambada CG 125 ou em uma moderna e performática CBR 1000, todos se equivalem quando é necessário mostrar um pingo de bom senso. Também não podem esperar o farol abrir e calçada já virou rua faz tempo! REcentemente segui um "fino motociclista" com uma BMW GS 1200 e o cara simplesmente furou todos os semáforos e ainda usava a calçada o tempo todo. Ele pensa que é motociclista, mas é tão motoqueiro quanto o mano que chuta um espelho retrovisor de carro.

 

Essa insensatez não é exclusividade de motoboys, manos e cachorros loucos. Adoro ver um publicitário, vestido de Armani, exalando Paul Gaultier sair de uma reunião sobre a campanha ambiental de uma grande empresa e subir em uma Harley Davidson com dois canos diretos no lugar do escapamento. O mauricinho adora pagar de preocupado com meio-ambiente mas arranca o silenciador e catalisador da moto pra fazer um estardalhaço e poluir o “nosso” meio-ambiente com fumaça e ruído. Ou sobem em um Land Rover Defender diesel desregulado emitindo toneladas de material particulado pelo escapamento.

 

Para essa gente engomada, "meio-ambiente" é um espaço abstrato onde vivem livremente micos leões dourados e onças pintadas, mas eles nunca foram além das areias do Guarujá. Os ecólogos de butique agem como se cidade não fizesse parte desse meio-ambiente que tanto querem defender! Não sou mico mas gosto de respirar um ar melhor e manter meus tímpanos longe de ruído de escapamento.

 

Bom senso, caro leitor, é isso que faz falta!  

publicado por motite às 14:44
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