Sexta-feira, 12 de Setembro de 2008
Recentemente estive em um prédio de escritórios e a recepcionista me tratou como se eu fosse um motoboy. Obrigou-me a deixar um capacete importado – e caro – na mão do segurança e subir pelo elevador de serviço. Depois de advertir sobre o valor do capacete subi e fui tratar de um assunto comercial. Eu seria recebido por um diretor de marketing de uma agência de publicidade que detém a conta de um grande fabricante de... MOTOS!
Não é a primeira vez que percebo essa imensa inversão de valores: quem fabrica, divulga e vende motos não utiliza e ainda discrimina o veículo. Durante anos a Abraciclo – Associação dos fabricantes de motos – realizou eventos mensais para apresentar o balanço do setor. Mas o estacionamento do restaurante não admitia motos! Hoje estes eventos são realizados em um hotel que recebe as motos em sua garagem.
Mais recentemente, no lançamento de um triciclo super fashion em um belo buffet de São Paulo, o estacionamento também não aceitava motos. E o empresário que nos convidou foi um dos maiores nomes do motociclismo nacional!
Outro dado curioso observado nestes eventos de imprensa. Só depois de quase uma década comecei a ver jornalistas chegando pilotando motos. A nova geração de jornalistas efetivamente usa suas motos, mas os diretores de redação, executivos de conta e publicitários das mesmas publicações chegam em confortáveis automóveis.
E os executivos das empresas fabricantes de moto? NENHUM, repito em letra de forma: ENE-E-NE-NHUM chega ao evento da Abraciclo pilotando as motos que fabricam e tentam convencer o público de comprá-las. Oras, nem os fabricantes usam os veículos que produzem!!!
Idem fornecedores. Fabricantes de pneus, óleos, correntes, capas de chuva até capacete, chegam aos eventos todos dirigindo seus automóveis. O que há de errado com essa gente? Ou comigo?
Há mais de duas décadas não vejo um funcionário dos departamentos de marketing e comunicação das fabricantes de moto pilotando os veículos que ajudam a vender. São raríssimas exceções os que ainda têm uma moto na garagem de casa. Além do pessoal da engenharia experimental e de desenvolvimento, parece que executivos destas empresas têm raiva de moto.
Lembro dos anos 80 quando um gerente de comunicação da Honda praticamente me obrigou a acompanhá-lo em uma trilha no interior de São Paulo. Ele com uma XL 250 recém lançada (dele mesmo, não da frota) e eu de XL 250 emprestada pela turma do marketing. Depois desse dia fiquei viciado em trilhas! Esse mesmo executivo costumava passear nos finais de semana com uma Honda CB 450 Custom e fazia questão de convidar os jornalistas. Esse executivo durou pouco na empresa...
Nunca trabalhei em multinacional de veículos (só de eletroeletrônicos), mas eu, doente como sou, se trabalhasse em uma fábrica de moto viveria montado nas produtos dessa marca 24 horas por dia! Chegaria aos eventos de moto para mostrar ao mundo que eu ACREDITO no veículo que ajudo a vender (tenho várias estratégias para chegar de moto a uma reunião social mais engomado e cheiroso que filho de barbeiro). Imagine se eu trabalhasse na BMW, Harley-Davidson, Honda, Yamaha ou qualquer outra marca? Pô, eu faria questão de pegar as motos mais espetaculosas da marca para chegar aos eventos com um imenso sorriso (cheio de bichinhos esmagados nos dentes...).
Até nas marcas consideradas mais fashion, dessas que conferem status ao indivíduo, valor agregado e outros conceitos modernosos, não se vê executivos usando as motos que vendem.
Mas quando visito as fábricas em Manaus percebo que o estacionamento está atulhado de motos. Os operários usam motos como se fossem sandálias Havaianas. Mas os executivos preferem os carros. Hummm, começo a entender!
Por isso entendo a agressividade dos seguranças em porta de agências de publicidade. Se nem mesmo as pessoas engomadinhas que fabricam as motos usam esses veículos, como fazer alguém receber bem um motociclista?
Ô caro ex-vizinho, chegar com bichinhos esmagados nos dentes parece mais a pasta dental do Shrek!
Mas é verdade, até aqui no serviço os motociclistas quando chegam, são vistos de uma forma muito estranha...
De Fernando Savian a 12 de Setembro de 2008
"Casa de ferreiro, espeto de pau."
Cara, nós somos minoria. O melhor é se conformar sem perder o tesão pras coisas, porque metade é merda, mas a outra metade do mundo ainda vale e pena.
Puta abraço
Edu
De Rodrigo a 13 de Setembro de 2008
Pow Tite, valeu por me convidar pro seu blog...que foi ?...tava faltando mala aqui ?
Não tem fórum aqui nesse blog ? Como é que se faz pra teclar livremente aqui ? Ou só dá mesmo pra comentar os textos ?
Voltando ao assunto "quem ama o que vende ?": Eu acho que quem ama mesmo não vende...e quem vende não ama.
Quem ama moto é um apaixonado, não pensa, só curti, provavelmente não pode ser um bom vendedor(falta-lhe razão, pois é pura emoção).
E quem vende moto geralmente é um ser racional, calculista, não tem paixão(sobra-lhe razão).
A razão é inimiga da moto. Eu sou um irracional !
De
motite a 15 de Setembro de 2008
Hehehehe, além de não ter fórum eu ainda exercerei todo o meu poder de tirano e editar (ou rapar fora) comentários que eu não gosto!!!
Democracia só é boa quando o Estado manda em todo mundo!
De André a 13 de Setembro de 2008
Poxa Tite, recebi seu convite hj. E cara, como fiquei feliz de voltar a ler seus textos! Vida longa a seu mau humor! Valeu!
De Ivan a 14 de Setembro de 2008
O Tite disse que tem várias estratégias para chegar de moto a uma reunião social mais engomado e cheiroso que filho de barbeiro.
Poderia passar uma dicas disso pra gente. Quem anda de moto como eu sempre precisa dessas informações.
Um abraço,
Ivan Soares.
De
motite a 15 de Setembro de 2008
Muito simples: use uma dessas roupas de náilon fininhas por cima do casaco e da calça. Coloque um anel de borracha por cima do sapato onde pega na alavanca de câmbio e tenha um kit limpeza à mão, composto de lenços umidecidos (desses de nenê) e um pequeno frasco de perfume. Mas chegue nos compromissos 15 minutos antes pra conseguir fazer tudo isso. Ah, é fundamental ter um bauleto na moto.
Agora, batom, blush, rímel essas coisas eu não entendo muito...
De Paulo Ricardo a 14 de Setembro de 2008
Tite, você tem alguma dica pra chegar com o cabelo penteado???? kkkkkkkk =]
De
motite a 15 de Setembro de 2008
Eu resolvi esse problema na raiz: eliminei cabelo da minha vida!
De Alexandre Penna a 17 de Setembro de 2008
Que tal um vidro de gel? Pra mim funciona que é uma beleza (a não ser que voce seja um daqueles que corta o cabelo so quando nem a mãe ta elogiando...)
Penna
De Vitor a 14 de Setembro de 2008
Grande tite, esse é realmente um problema que todos nós sofremos, a discriminação, infelizmente ela ainda é muito grande. Mas oque não podemos é desistir. Quanto as técnicas utilizadas para manter o cabelo, como o amigo Paulo Ricardo perguntou, eu não sei como vc faz, mas eu resolvi o problema de uma vez por todas. Raspei a cabeça e nunca mais preciso me preocupar em tirar o capacete e ficar arrumando o cabelo no retrovisor. Um grande abraço!!!
De Rodolpho a 14 de Setembro de 2008
Deve ser porque estamos em LISARB não?!....
Grande Tite!
Concordo plenamente! Para mim para escrever, vender e anunciar motos é preciso conhecer, andar, sentir as motos. Só pode ser alguém que nunca andou de moto para colocar num comércial de uma certa moto monocilindrica,um som de uma moto quatro canecos. Não engana ninguém.
ABS
De Alexandre Penna a 17 de Setembro de 2008
Ola Tite!
Infelizmente somos marginalizados mesmo... Aqui em campinas aindo consigo colocar a moto em um estacionamento, mas em SP eu NUNCA consegui para em 1 (e depois o segurio fica um absurdo porque vc tem de para na rua, vai entender,..)
Fora que em varios condominios voce é obrigado e tirar o capacete para entrar neles, e em postos de gasolina não te deixam entrar na loja para pagar se estiver com o mesmo...
Fora que na minha empresa voce é proibido "informalmente" de realizar visitas externas (digamos que o gerente acha isso no minimo deselegante...
O mais engraçado que a venda de motos de alta clindrada cresce mais que as de baixa, mas acho que os que compram ou não usam ou deixam elas mofando na garagem, pois ninguem sequer reclama
Ja soube de muitos executivos, diretores e empresarios europeus e americanos que vão trabalhar com suas motocas (alias, um executivio da volks alemã tem uma Ducati e ja foi flagrado indo ao trabalho com ela...) mas aqui tenho a impressão que consideram motocicleta veiculo d proletario, marginal ou qualquer outra coisa que não tenha uma boa imagem
De Edson Vasques a 17 de Março de 2009
Fui ser acompanhante do meu pai no Hospital Brasil em Santo André, e como ia passar a noite resolvi colocar a moto no estacionamento ESTAPAR, nas dependencias do mesmo. Fui tratado como lixo por esta empresa, que não aceitou o veículo no seu pateo e ainda fui obrigado a escutar que se quisesse que estacionasse na rua. Após arguir que estava sendo discriminado, o chefe da segurança do hospital ainda disse: seria bom que voce entrasse com processo contra a ESTAPAR ou contra a Hospital Brasil, pois já temos diversas reclamações, inclusive de médicos motociclistas. Não seria mais fácil a direção do hospital tomar providências? Parece que não, e se eu com 52 anos, avô, fui discriminado, quiçá os mais jovens e com motos pequenas. Aceitei o conselho do chefe de segurança e já instrui meu advogado para entrar com uma ação de danos morais e discriminação, que garanto, vai custar ao hospital bem mais caro do que os R$ 10,00 que iriam me cobrar. MOTOCICLISTA NÃO É BANDIDO SEUS TROUXAS.
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