(conseguir patrocínio á fácil; difícil é manter! Eu e o César Barros, à direita)
Vida corrida – patrocínio, a missão
De todas as dificuldades encontradas na vida de um piloto a maior de todas é o patrocínio. Existem dois tipos de pilotos: aqueles que correm porque já têm o patrocínio e os que precisam correr atrás de patrocínio para começar. O primeiro caso geralmente termina em tremendos cheques sem fundo no meio motorizado. É certo que o dinheiro pode levar um piloto medíocre até as categorias superiores, mas para se manter no topo não basta apenas levar um contêiner de dólares. É preciso ser bom de verdade.
Em 30 anos convivendo com competições posso falar de cátedra de vi muitos ótimos pilotos sucumbirem diante da falta de grana, enquanto outros de capacidade mediana tiveram uma carreira longeva apenas alicerçada pelo vil metal.
Mas como conseguir o tão desejado patrocínio? Por incrível que pareça é mais fácil do que se pensa. A maior dificuldade é MANTER o patrocínio.
Como qualquer empreendimento, seja nas competições ou na vida coorporativa, é preciso o investimento inicial. Quem quiser montar uma empresa, ou seguir uma carreira, terá de investir em formação profissional (faculdade, cursos etc.) ou na compra de equipamentos. Nunca vi nenhum grande profissional em qualquer área que não tivesse investido uma grana preta em cursos de idioma, aperfeiçoamento técnico ou simplesmente em estágios mal remunerados. Aliás, sempre que encontro alguém que interrompeu os estudos sob a alegação de que custa caro eu respondo: “Você não tem idéia de como sai caro NÃO estudar!”.
Dificilmente alguém encontrará um piloto de alto nível com formação superior, porque a grande maioria interrompeu os estudos – assim como muitos outros esportistas – para se dedicar exclusivamente às competições. Existe uma boa dose de má vontade nisso, porque é perfeitamente possível ser piloto e estudar. Conheço pessoalmente muitos grandes pilotos que passavam suas horas livres jogando videogame e jamais se aproximaram de um livro. Imagine o que teria acontecido se eles não tivessem se tornado pilotos?
(Meu fiel mecânico Decino substituiu a mocinha do guarda-sol por falta de grana...)
Como já escrevi anteriormente, são necessários pelo menos três anos para um jovem tornar-se piloto. O primeiro ano é de aprendizado; no segundo colocará em prática o que aprendeu e o terceiro será decisivo para continuar investindo nesse sonho ou desistir de vez.
Para atrair um bom patrocínio existem duas estratégias: vencer provas ou ter uma tremenda capacidade de se relacionar com tudo que envolve o mundo das competições. Durante anos tentei buscar patrocínio com uma pastinha cheia de recortes de jornal debaixo do braço. Chegava nas empresas, me apresentava e fazia o discurso: “Olha eu sou piloto de kart, tenho bons resultados e preciso de patrocínio!”. O projeto era escrito de forma bem rebuscada porque eu já tinha amigos jornalistas que ajudavam na redação.
Tudo errado!
A primeira missão é estudar as empresas. Saber se aquela empresa tem produtos ou serviços que sejam pertinentes ao mundo da competição. Verificar o histórico de patrocínios da empresa. Levantar até o balanço para não perder tempo buscando uma empresa à beira da falência. E não basta pedir uma grana em troca de um adesivo na carenagem da moto. O bom negociador vai muito além do óbvio.
Conheci um piloto que sempre foi considerado um brilhante negociador: André Ribeiro, ex-piloto da F-Indy. Ele me ensinou a tratar as competições como um negócio que vai muito além da marca pintada na carenagem. Ele intermediava negócios entre as empresas que patrocinavam sua equipe. Por exemplo: ele colocou os executivos da empresa de telefonia ITT em contato com a direção da Honda (fornecedora dos motores) e daí fecharam um negócio de milhões de dólares em prestação de serviço comunicação. Esse entrelaçamento de relações comerciais fideliza o patrocinador.
Aí entra em cena o mais difícil: MANTER o patrocínio.
(A Bieffe me patrocinou durante a temporada de 1998)
Também conheci histórias de pilotos que conseguiram patrocínios milionários, torraram uma nota preta de empresas grandes e sérias em esquemas totalmente falidos e queimaram essas empresas para sempre. Geralmente o piloto guardava a maior parte do dinheiro para seu próprio enriquecimento e investia só um pouco na equipe. Depois passava o ano todo inventando desculpas esfarrapadas para os péssimos resultados e obviamente nunca mais pilotava na vida. E os patrocinadores nunca mais quiseram ouvir falar em investir em competições!
Mais importante do que levar resultados e títulos ao patrocinador o piloto precisa ser honesto e atencioso com os executivos da empresa. Hoje em dia existem empresas de marketing esportivo que vivem de gerenciar patrocínio, mas minha dica mais preciosa ao futuro piloto é uma só: seja amigo do patrocinador! Convide o patrocinador para ver um treino, apresente sua equipe, mostre seu empenho em zelar pelo nome da empresa dele. Mostre uma dedicação fraternal com toda a empresa que está patrocinando. Mantenha seu box limpo, organizado, apresentável e sua equipe uniformizada.
Se o filho do patrocinador é um moleque pentelho que quer montar na moto, mexer em tudo e fazer um zilhão de perguntas, tenha paciência e lembre que você também foi um pentelho um dia. Dê uma tarefa simples ao fedelho, como organizar o quadro de ferramentas ou distribuir adesivos, e você terá um torcedor fiel para sempre. Durante as corridas é hora de mostrar aos patrocinadores que a área VIP é muito melhor e mais confortável do que ficar nos boxes. Compre as credenciais necessárias e mande todo mundo pra lá. Nada pior do que um patrocinador pressionando na hora em que o piloto mais precisa de concentração.
Conseguir um patrocínio é uma benção tão grande que é mais do que justo dedicar-se carinhosamente à empresa. Atitudes simples podem funcionar melhor para fidelizar um patrocinador do que propriamente os resultados. Mostrar interesse pelo negócio, oferecer seu veículo para exposições em eventos, visitar a empresa, dar uma palestra sobre a vivência nas pistas são algumas atitudes simples que deixam os executivos seguros de terem feito um bom investimento.
A forma convencional de medir o retorno do patrocinador é por meio das citações na imprensa. Uma foto do carro ou da moto em uma revista de grande circulação é certeza de que a empresa já recuperou seu investimento. Na minha carreira de piloto tive patrocínio em duas ocasiões e os patrocinadores foram muito honestos na minha contratação: alegaram que era mais rentável patrocinar um piloto-jornalista que terminava nas posições intermediárias do que um piloto de ponta, mas que nunca aparecia nas revistas!
Nunca me abalei com isso, pelo contrário, usava minha condição de jornalista bem relacionado para conseguir retorno em revistas, inclusive nas concorrentes!
(A revista Moto! patrocinou em 1999)