Quinta-feira, 10 de Janeiro de 2013
(A motoca do Tarcísio Meira)
Parece que a humanidade tem uma necessidade vital de criar novos nomes para velhas funções. No universo da motocicleta essa tendência já é observada na classificação dos tipos de motos, passando pela especificidade de cada função. Por exemplo, as motos "nakeds" (nuas, em inglês), que são simplesmente as motos como sempre conhecemos desde a invenção da roda, sem qualquer artifício aerodinâmico. Portanto, não precisava receber nenhuma classificação, porque já a chamávamos simplesmente de... moto!
Agora começou a surgir também a identificação do tipo de motociclista. Os proprietários de motos esportivas começaram a se identificar como "bikers", como se isso os fizessem diferentes de outros motociclistas. Já as motos esportivas passaram a ser chamadas de "bikes", que no idioma original significa simplesmente bicicleta! Mas a classificação que mais gera controvérsia, desnecessária, claro, é a de motociclista e motoqueiro.
Vou voltar no tempo. Lá nos anos 60, quando as motocicletas começaram a ser vistas como objeto de prazer e não apenas de locomoção nem de facilitação de transporte urbano. Naquela época, no Brasil, as motos eram praticamente brinquedos de luxo, ligadas a uma vida de playboy.
No começo dos anos 70, mais precisamente em 1973, a Rede Globo exibiu uma novela chamada "Cavalo de Aço"que tinha uma Honda CB 750F como uma das personagens mais marcantes (pelo menos para mim!), pilotada por Tarcísio Meira. Ela popularizou a moto que chegaria em grande escala até 1976 e o duro golpe da proibição de importação.
Neste época as motos eram chamadas de motocicletas só pelo meu avô e seus colegas. A juventude chamava simplesmente de moto ou pelo carinhoso apelido de motoca. Que tinha o componente charmoso de lembrar outra coisa bem cobiçada, as cocotas (que veio do francês cocotte). As minas, as gatas, eram chamadas de cocotas e a associação com motoca foi imediata.
Daí que os jovens que saíam com suas motocas à caça das cocotas eram chamados de motoqueiros. Podia ser motoquista, assim como quem trabalha com estoque é estoquista e não estoqueiro. A etimologia da palavra motoqueiro remete exclusivamente à motoca. Para quem gostava de se referir ao veículo como motocicleta, podia continuar se definindo como motociclista e pronto.
O termo motoqueiro tinha nada de pejorativo até meados dos anos 80 quando uma revista especializada começou uma desnecessária campanha para separar os recém motociclistas profissionais, que hoje chamamos de motoboys, dos outros que usavam a moto como meio de transporte e lazer.
E assim surgiu a diferenciação entre motoqueiros e motociclistas. Segundo essa campanha, os motoqueiros seriam aqueles que demonstrassem um mal comportamento no trânsito, usavam a moto como meio de renda ou donos de motos pequenas, criando uma espécie de "classe baixa" dos donos de motos. Já os motociclistas seriam aqueles que exibiam um bom comportamento, usavam motos grandes, como meio de lazer ou transporte de luxo, pertencente a uma "classe alta".
O resultado é isso que temos hoje: uma inútil e fabricada sociedade de classes entre os usuários de motos, muito mais ligada ao puro preconceito do que à língua portuguesa em si. No nosso idioma, os sufixos "ista"e "eiro" se referem àqueles que trabalham ou vivem de alguma atividade. O jornalista trabalha na produção da matéria prima para o jornal, que é a informação. E o jornaleiro é quem vende o jornal. Nenhum é mais ou menos importante que o outro.
Em São Paulo o estabelecimento que lava motos anuncia "Lavagem de Motos". No sul do Brasil, lavagem é a palavra usada para comida de porcos, por isso eles anunciam como "Lavação de Motos". E a máquina que está na sua área de serviço é uma máquina de lavar e não de lavagem nem de lavação. Portanto tem muito mais de etimológico do que de sociológico nos termos motoqueiro e motociclista.
Pena que o ser humano tem essa necessidade quase vital de criar rótulos e separar os indivíduos em castas. Os proprietários de barco à vela são "contra" os donos de barco a motor e vice-versa. Quem voa de asa delta se acha mais especial do que quem voa de parapente. Todos dividem o mesmo meio, aquático ou aéreo, mas precisam se dividir para ter assunto nos clubes e associações.
Voltando aos motoqueiros e motociclistas, não existe esse conceito de que o motoqueiro é bandido e o motociclista é o mocinho. Tudo papo furado, criado por uma imprensa preconceituosa e desinformada. O que existe são bons e maus motociclistas ou bons e maus motoqueiros. Estou cansado de ver donos de caríssimas BMW ou Harley-Davidson furando farol vermelho, rodando na calçada, fazendo conversão proibida, quebrando espelhos retrovisores dos carros, mas que na rodinha de amigos se proclama motociclista e tem ojeriza de motoqueiros. Da mesma forma vejo todos os dias motociclistas profissionais (hoje chamados de motofretistas) dando exemplos de bom comportamento e cortesia no trânsito, mas que são chamados de motoqueiros.
A questão é: por que estimular a criação de estereótipos preconceituosos se todos usam e são apaixonados pelo mesmo veículo?
Eu gosto muito de me referir à minha moto como motoca, logo eu sempre fui, sou e serei um MOTOQUEIRO e com muito orgulho!
De camis a 11 de Janeiro de 2013
Concordo contigo!! Esta separação é apenas mais um preconceito da nossa sociedade classista e elitista sendo explicitado. Pra mim, todos e todas são colegas, motociclistas ou motoqueiros, não importa, estamos tod@s no mesmo barco. Infelizmente, a lei da Gravidade é a mesma pra qualquer um qdo se leva "um chão" e outras coisas mais.
De Ricardo a 12 de Janeiro de 2013
Sempre pensei que motoqueiro = moto + maloqueiro
De Monstroqueiro a 15 de Janeiro de 2013
Tb acho q é tudo a mesma coisa!!!!
Um fato super importante a mencionar é de quem se "intitula MOTOCICLISTA" GERALMENTE são quem frequenta MOTO CLUBES, sou de moto clube e naum tenho nada contra, inclusive sou Presidente de um MC, Reparem q a maioria bebem bebidas alcolicas e váááááários saem bêbados quase caindo com suas motos e vão embora e só Deus sabe como chegam "Quando chegam INTEIROS!!!"
Agora me digam senhores "MOTOCICLISTAS"
Pilotar "Bêbado" é certo?
Bando de rotulistas!!!
Caiam na real!!!
De falou td a 16 de Janeiro de 2013
putz irmão, agora vc falou td, vejo varios sairem bebados de points de encontros e eventos........
De Anónimo a 12 de Agosto de 2015
Boooooa amigo....matou a pau!
De Marcos a 16 de Janeiro de 2013
Ah Tite!! Veadagem pura! É isso.... nada além de veadagem e hipocrisia. Hipocrisia cansa!
Lá pelo meio da década de 70, quando comprei a minha primeira motoca, éramos mesmo MOTOQUEIROS, que continuarei sendo MOTOQUEIRO até "ganhar asas" ou um tridente vermelho. Me perdoem os paulistas e paulistanos, sem nenhum preconceito, mas essa diferenciação nasceu aí e tenta espalhar-se Brasil afora. Está na hora de mudarmos isso e diferenciar apenas como BOM motociclista e MAU motociclista, independente da cilindrada ou marca da moto.
De Emerson a 16 de Janeiro de 2013
Um "motociclista" numa Harley, deu um murro no espelho retrovisor do meu carro, ele estava no meu ponto cego, ultrapassando pela direita sem dar seta e com faróis e lanternas desligadas, numa via de pista única.
Se isto é ser motocilcista, prefiro ser motoqueiro.
Quanto mais dinheiro as pessoas têm, mais direito elas ACHAM que têm sobre todas as coisas e pessoas, quanto mais caro o carro ou moto, menos uso se faz da seta...já repararam nisso?
Concordo apenas parcialmente. Não concordo com nenhum tipo de segregação quando levado em conta a classe social, a raça, a religião ou qualquer outro tipo de grupo ou cultura. Mas acho que se faz necessário separar o mau comportamento do bom. Para mim isso é simples. se você respeita as leis de trânsito, seja de cinquentinha ou hayabusa, você é motociclistas. Agora se vive furando sinal, parado em faixa de pedestre, quebrando retrovisor, desculpe mas de BMW ou de Traxx você é motoqueiro. Desde que existe o homem, existem as nomenclaturas. Agora, também não sou fundamentalista com nada. Se alguem me chama de motoqueiro não to nem aí. rs.
Com o máximo respeito às opiniões de todos, entendo que a conceituação, seja do que for, é condicionada aos costumes, ao habitat, ao tempo e sua evolução, às experiências e ao aprendizado.
Saudosismos à parte, sou da corrente que emprega essa distinção e defendo a tese de que para ser Motociclista independe o valor financeiro da Motocicleta, seu ano de fabricação/modelo, tipo, tamanho, cilindrada ou marca; seu uso se no labor ou no lazer, se na cidade ou na estrada. Ser Motociclista é ser coerente e racional, é ser cidadão de ilibada conduta.
Então, na verdade, o que se pretende é discriminar sim em função do próprio conceito que, vias de regra, as pessoas têm daquelas outras que andam sobre duas rodas, conceito trazido da má fama dos ancestrais motoqueiros americanos (rebeldia, deseducação, agressividade, violência, desrespeito, baderna, zoeira) trazidas à nós por nossos ancestrais empolgados pelo equivocado conceito de liberdade. Nos apropriamos, no Motociclismo, do termo usado pelos americanos do norte, facção. Mas será que sabemos o significado latu e stricto da palavra facção? Sabendo o significado, você ficaria confortável para se dizer sectário, extremista?
Bem, nós não somos assim, nossa sensação de liberdade ao pilotarmos nossas Motocicletas, quer queira quer não, nos remete à ilusão que mentalizamos em decorrência das histórias, das estórias e da ficção dos celebres filmes. Ninguém é livre, pois, ao menos, está preso aos seus costumes, tradições, conceitos e preconceitos.
Precisamos abolir o preconceito de aceitar os novos tempos e a evolução natural das coisas, mesmo que não concorde.
Defender ponto de vista, sempre, mas de forma racional e equilibrada e com a mente aberta para ouvir e ponderar os pontos de vistas alheios, não transformando as salutares discussões em contendas. A solução dos conflitos de opiniões no equilíbrio, está na filosofia do concordar em discordar.
Tudo na vida, quando existe equilíbrio, é sempre salutar, inclusive o saudosismo.
Pra mim existe o mau motociclista que chamo de motoqueiro e o bom motoqueiro que chamo de motociclista. Motociclista é aquele que aprende com os erros dos outros e motoqueiro é aquele que aprende ou não com os próprios erros. Motoqueiro é todo mau motociclista, independente da cilindrada,valor da moto e classe social.
De Mad Max a 14 de Março de 2014
Conheci seu blog hoje e estou gostando muito das postagens, mas venho aqui fazer uma ressalva e dar um outro ponto de vista sobre esse assunto interminável: Eu vejo sim diferença entre motoqueiro e motociclista...
...Mas essa diferença não está na classe social, na cilindrada da moto, na forma de pilotagem ou na depreciação de qualquer um dos dois termos. A diferença está na relação, no Espírito que rege ambos, a moto e seu dono. Como diz um ditado, \"A moto, Você pode comprar, já o Espírito...\"
Vejo uma diferença conceitual, onde ambos têm seu espaço garantido ao sol, mas que possibilita discernir aquele que tem na moto um meio de transporte daquele que tem na moto um estilo de vida!
Isso tudo vai além de definições, dicionário ou outras questões morais.
E por isso mesmo, não vejo problema que um ou outro goste ou prefira ser chamado de motoqueiro ou motociclista...
De Mad Max a 18 de Fevereiro de 2016
Complementando...
"BIKE" na língua "original", o inglês, não é simplesmente bicicleta, também é utilizado como uma forma abreviada para motocicleta sim.
E outra coisa, a língua é mutável, portanto, conceitos que não existiam, ou que existiam com determinados significados, podem passar a ter outros com o passar do tempo. A língua não é estática.
Melhor explicação que já li! Parabéns! Muito bom o Blog!
Comentar post