(Curiosidade: essa Yamaha vende mais que a Honda!)
Um raio-x do mercado brasileiro de moto, segundo a Abraciclo
Em algum lugar entre 2011 e 2012 o mercado interno brasileiro perdeu 400 mil motos. Na verdade elas não sumiram, o que sumiu foi o dinheiro para levá-las para casa. Do marca de dois milhões de motos vendidas ao ano, caímos para 1,6 milhão e os índices apontam para a falta de grana circulando. Ou na má vontade de os bancos abrirem as carteiras.
Banco é que nem pai ( ou padrasto): quando percebe que o filho não está correspondendo às expectativas corta a mesada. No auge das vendas de motos os bancos liberaram crédito a rodo. Mas nem todo mundo honrou os empréstimos e vivemos numa sociedade que tem no currículo uma enorme carga de picaretagem. O brasileiro inventa todo tipo de golpe pra pegar um bem e não pagar, desde o mais antigo da humanidade, a subtração mediante ou não coerção (popular mão-grande), ou na forma de golpes financeiros.
Depois de amargar uma inadimplência recorde nas últimos três anos, os bancos cortaram a mesada. De cada 10 fichas cadastrais pedindo crédito para compra de moto apenas duas são aprovadas. O que projeta uma realidade de 80% de futuros motociclistas sem crédito. Sacanagem dos bancos ou realidade?
Já cansei de escrever que motociclista é a categoria de pessoas que mais conspira contra si mesmo. Basta analisar os dados de fraudes contra as seguradoras e a forma como a maioria faz questão de se parecer diferente do resto da humanidade. Só que a sociedade já se cansou disso e a resposta vem na forma de animosidade no trânsito ou no corte da grana para a compra de motos novas. Estamos pagando o preço pela nossa eterna "rebeldia".
Sem dinheiro em circulação é óbvio que toda uma rede de consumo desaba, desde os fabricantes de motos, passando pelos prestadores de serviços e fabricantes de acessórios, imprensa especializada, seguradoras e os próprios bancos. Quer dizer, para os bancos nem tanto, porque essa dificuldade de crédito afeta diretamente as motos pequenas, que representam um volume de mais de 80%, porém o faturamento é pequeno em comparação com os automóveis. Para o banco tanto faz o veículo, o que eles querem é vender - caro - o dinheiro que compram barato.
Nos últimos 12 meses houve uma migração da modalidade de compra. Em 2011 o consórcio representava 27% da forma de venda, contra 21% da compra à vista e 52% do financiamento. Hoje o consórcio absorve 34% da modalidade de compra contra 25% à vista e 41% financiado. Deus salve o consórcio, a forma de compra mais brasileira já inventada. Experimente explicar para um americano ou europeu como funciona o consórcio e verá que filosofia alemã vai parecer muito fácil!
Pulverização
A previsão de crescimento para 2013 não é das mais otimistas e gravita na faixa de 3 a 5%. O ano de 2012 (até novembro) revelou uma queda de 21,2% nas vendas ao atacado em relação ao mesmo período de 2011. Mas os dois últimos meses contabilizados de 2012 já mostravam uma leve recuperação, discretíssima, mas suficiente para tirar a sola da bota da lama.
Já a fatia do bolo continua com a Honda dominando 80% do mercado, quase um monopólio. A marca que mais perdeu espaço nos últimos três anos foi a Yamaha, que viu sua fatia cair de 13 para 10%, resultado da entrada de novas marcas, que brigam ferozmente na faixa de preço mais popular. Por outro lado vimos as marcas "novatas" ganhando espaço. Isso mostra que a Honda continua confortável na faixa de 80% enquanto nove marcas (apenas das filiadas à Abraciclo) disputam os 20% restante.
Esses dados são resultado de uma política interna de vendas, porque a Honda conta com um banco próprio que na hora do arrocho pode preencher os espaços deixados pelas instituições financeiras tradicionais. Em setembro a Caixa Econômica Federal e o Banco Panamericano anunciaram uma "moção" de auxílio ao crédito. Pode ter funcionado para as outras nove marcas, porque logo em seguida a curva de vendas começou a subir.
Para a Abraciclo situações como o aumento vertiginoso dos casos de roubos e furtos, além do já descontrolado crescimento dos acidentes, não justifcam os casos de queda nas vendas das motos, porque são situações pontuais, reflexo das grandes cidades. Para a entidade, se hoje existe apenas 20% da operação de financiamento se efetivando, isso significa que tem 80% de pessoas querendo comprar sem conseguir. A demanda ainda está muito além da oferta.
Alguns dados da Abraciclo são curiosos. Você sabia, por exemplo, que em uma categoria a Yamaha vende mais que a Honda? O modelo custom da Yamaha, a XVS 950A faturou 1.062 unidades contra 479 da Honda Shadow 750 nas versões com e sem ABS. O modelo XJ6 da Yamaha também não decepcionou e chegou ao final de novembro com 3.284 unidades contra 2.694 da Honda Hornet 600 sem ABS. Porém se somar todas as versões da Hornet elas quase empatam com 3.946 (desprezando a versão "F" carenada).
Isso mostra um outro dado interessante: o mercado acima de 600cc continua crescente no Brasil e deve fechar 2012 com cerca de 44.000 unidades faturadas, o que dá uma vultuosa margem de cerca de 3.600 unidades/mês. Não é mal para um país como Brasil. Mas esses dados podem ser mais animadores porque estão de fora as BMW importadas, Ducati, KTM, Triumph, Bimota etc. Hoje o Brasil já vende mais motos acima de 600cc do que muitos países ricos. Confirma a teoria de que o dinheiro grosso está circulando, o que sumiu foram os trocados.
A Harley-Davidson, que só comercializa motos acima de 883cc, pode chegar ao final de 2012 com algo perto de 7.000 unidades faturadas. É mais do que nos mercados italiano, alemão, francês e só deve perder para o americano.
Tem muita gente de olho nestes 2% do mercado porque, se representa pouco em número, significa bastante em faturamento. Paras as marcas "premium", acostumadas com poucas e caras vendas, o Brasil é um novo Eldorado. Como a demanda ainda é grande, os preços praticados estão bem acima do peso. Existe uma margem de gordura paquidérmica para negociar. Se for aprovada a lei que obriga a publicar a incidência de impostos sobre os produtos industrializados, aí vamos saber realmente quem é o algoz desta tabela: o Estado, com sua fome insaciável de tributos, ou a indústria, que conhece melhor do que ninguém a velha lei da oferta e procura.
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