(estilo moderno que lembra as BMW F 800)
Nem Tornado, nem Falcon: XRE 300
De uma tacada só a Honda tirou dois modelos de produção e introduziu um novo conceito. A palavra da moda é Adventure, “aventura” em inglês (não diga?), que está em qualquer novo produto. Tudo é adventure: de bicicleta a carros urbanos; de escova de dente a cartão de crédito. Parece que o mundo que descobriu o marketing da aventura, embora essas empresas raramente invistam nos eventos relacionados à aventura.
O que inicialmente chama a atenção na XRE 300 é o desenho que reflete a tendência de “urban-adventure-almost-off-road-pero-no-mucho”! Etendeu? É mais ou menos como um chuchu: afinal, é legume, verdura ou fruto? Ou as três coisas? Uma moto com aro dianteiro de 21 polegadas é off-road. Mas o pára-lama rente ao pneu é urbana! O guidão largo com cross-bar é off-road, mas o farol fixo no quadro é urbana! Sacou, sacou? O banco é largo como em uma Falcon, mas o curso das suspensões está mais para a Tornado. Em suma, é um produto totalmente novo, que mistura off-road com urbana e o resultado é uma moto pequena, versátil e... deliciosa!
Muita gente acha que só porque corri de motovelocidade e ministro cursos de pilotagem on-road sou um fã das motos esportivas. Engano, porque minha praia sempre foi mais o fora-de-estrada. Disputei enduros e ralis por 10 anos e motovelocidade por apenas quatro anos. Daí minha preferência por motos on-off. Mas não é por isso que achei a XRE bem mais interessante do que a CB 300; é porque montado em uma moto de caráter mais off o motor de 291,6 cc me pareceu mais esperto e respondão.
Quando meu colega, o jornalista Laner Azevedo, da revista Moto Max, desceu da XRE estava todo sujo de terra, mas com um sorriso de orelha a orelha. Dada as dimensões daquela cabeça, percebe-se que se trata de um sorriso gigantesco! Ele falou “Pô, meu, dá pra encostar as pedaleiras nas curvas!”. Pelo que conheço do Laner sei que isso significa... a moto faz curva pra caramba!
Como eu estava limpinho demais – e com preguiça de vestir a parafernália off-road – decidi rodar com a XRE apenas no asfalto. Karaka! O Laner tem razão: a moto é muito mais divertida do que a CB 300! Pra começar, ela tem freio traseiro a disco e abusei do direito de derrapar e fazer as curvas no estilo motard. Delícia pura! O motor ganhou 2,8 cv em relação à Tornado. Como resultado ficou muito esperto em retomada e saída de curva. Para quem torce no nariz diante de um duplo comando de quatro válvulas, pela tradicional falta de resposta em baixa rotação, pode se preparar, porque a injeção eletrônica deu outra pegada ao motor. É só cutucar e ele responde!
A posição de pilotagem foi levemente alterada em relação à Tornado. Ficou mais baixa e não existe mais aquela regulagem de altura (que sempre achei uma bobagem), porém o banco mais largo exige manter as pernas mais abertas, o que reflete em dificuldade pros baixinhos. Mas esse papo de moto baixa ou alta é só questão de costume.
O painel ficou mais simples e ganhou um conta-giros digital de difícil visualização. Confesso que acho outra bobagem conta-giros neste tipo de moto. Normalmente os usuários querem o tacômetro só pela frescura de falar “ó, minha moto tem conta-giros”, mas a maioria nem sabe pra que serve! Aposto que esses mesmos usuários têm conta-giros nos carros e nunca deram atenção pra eles! E para acabar com mais uma choradeira, daqueles que reclamam da mangueira de freio passando pela frente do painel, agora a mangueira mudou, mas ficou engruvinhada na altura da bengala esquerda. Na minha opinião, ficou pior, porque agora pode enroscar em algum galho no fora-de-estrada de verdade. Como sou um off-roader meio psicótico, não gosto de nada saliente na moto porque já vivi situações desesperadoras de ver um varão de freio ser arrancado por um galho!
(painel com conta-giros)
Nestas horas, quando vejo uma fábrica se curvar diante das pesquisas de mercado e das clínicas fico preocupado, porque maioria nunca foi sinal de sabedoria. Eu preferia ter a mangueira passando por cima do painel, mas longe de enganchar em qualquer obstáculo! Como de hábito, na “minha” eventual XRE eu começaria rapando fora esse guidão e colocando um sem cross-bar (aquela barra horrorosa que serve pra reforçar o guidão). Pelo menos não tem mais os pesos nas extremidades do guidão.
Ótimo o bagageiro, com capacidade para sete quilos!!! É mais do que muita moto maior! Também gostei da capa protetora do escapamento. E gostei muitíssimo mais mesmo do novo farol, com lâmpada de 60/55W. Você não tem idéia do sufoco que passei de Tornado em uma viagem à noite, entre Natal e Maceió. Foi a única vez na minha vida de motociclista que refuguei e pedi carona a um motorista de picape porque não conseguia enxergar nicas de pitibiriba! Pra piorar estava chovendo e a estrada não tinha as faixas demarcatórias. Enfim, amarelei! Agora com esse farol acho que daria pra encarar.
O desenho ficou bem atual, bonito e já começaram as piadas: uns chamam de mosquito da dengue, outros comparam com a Suzuki DR 800 (a primeira a usar o duplo pára-lama dianteiro), mas eu achei que ficou mais parecida com as BMW F 650/800. Nada contra, pelo contrário, um projeto que nasceu para substituir dois produtos com seguidores fiéis não poderia ser diferente.
A opção por um estilo mais estradeiro/urbano fez com que a XRE se afastasse da CRF 230 (modelo off-road). Agora quem quiser uma Honda fora de estrada terá de optar pela 230. Só estranhei a opção pelo mesmo pneu da Tornado. Ele é muito eficiente no fora de estrada. Eu acompanhei os pilotos em um rali no Pantanal e fiquei impressionado com o desempenho dos pneus em diferentes situações (areia, terra, lama), mas é excessivamente barulhento no asfalto. Outra alteração na “minha” XRE seria trocar esse pneu por outro de especificação mais on-road.
Quando tiver a oportunidade de fazer um teste mais completo eu conto mais! Por ora é só.