Terça-feira, 7 de Abril de 2020

Capacete, sua vida cabe aqui - Parte I

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Passei boa parte da minha vida dentro de um capacete (Foto: Claudinei Cordiolli)

Proteja sua cabeça, ela tem muita história.

Tente imaginar tudo que já viveu. A infância, o cheiro da comida da vó, o primeiro dia de escola, o vento fresco no campo. O carinho dos pais, família e amigos. Os primeiros machucados, ardidos e eternos. Pense em todo amor e frustração que já viveu. Dos prazeres mais simples aos desafios mais complexos. Uma carreira, o primeiro salário, anos de aprendizado. Imagine o tanto de conhecimento que já acumulou. Toda nossa vida está guardada em nossa mente como um computador com inesgotável capacidade de memória. Agora imagine perder tudo isso em uma fração de segundo. É o que pode acontecer quando se bate a cabeça.

Quem ainda não percebeu que o cérebro é um órgão vital? Sim, ele é tão importante para nos manter vivos e ativos quanto o coração. Daí vem a expressão “morte cerebral”, quando o indivíduo funciona da cabeça pra baixo, mas morre por inatividade cerebral. O coração bate, o fígado funciona, os rins filtram o sangue, mas a pessoa é declarada mortinha da silva. E toda a história de uma vida se vai como um sopro.

Parece óbvio que proteger o cérebro é vital! Mas não é isso que vemos nas ruas, nas casas, no trabalho. Não se dá a devida importância ao capacete como se ele fosse uma prova de fragilidade ou de falta de coragem. Assim, todos os dias, em algum lugar, uma história de vida se vai como um HD formatado. Ah, e não tem backup.

Se existe alguém no mundo capaz de comprovar a eficiência do capacete em diversas situações esse alguém sou eu. Desde a pré-adolescência já tive a oportunidade de bater a cabeça dezenas de vezes. Algumas bem graves e outras bem de leve. Em todas as atividades que pratico – moto, escalada, bicicleta e skate – já tive acidentes que teriam consequências bem graves (talvez fatais) não fosse pelo uso do capacete.

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Até para fazer manutenção em casa eu uso capacete, luvas e óculos. (Foto: Tite)

Sou tão xiita com essa questão que até mesmo para fazer manutenção em casa eu coloco o capacete, luvas e óculos de proteção. Quem me conhece sabe o pavor quase doentio que tenho ao ver pessoas subindo em telhado, em árvores ou em muros sem qualquer proteção. Já perdi um amigo e outro ficou paraplégico em acidentes domésticos tão prosaicos quanto a velha necessidade de regular a antena da TV.

Recentemente o Brasil entrou em choque ao saber da morte do apresentador Gugu Liberato em um acidente doméstico que poderia ter terminado apenas com um susto e luxações.

Em conversa com um diretor do SAMU de São Paulo, descobri que a maioria absoluta dos atendimentos são de acidentes domésticos e não de trânsito. É fácil entender: São Paulo tem 12,5 milhões de habitantes e seis milhões de veículos. Tem muito mais gente dentro de casa do que nos veículos.

Uma história de cabeçadas

Vou contar como era ser motociclista nos anos 70. O capacete não era obrigatório e só se usava muito de vez em quando nas estradas. Usar capacete era quase uma prova de covardia, de falta de macheza. Como eu tive um pai bem rigoroso, ele obrigava o uso do capacete sob ameaça de vender a moto. No começo eu não gostava, mas aos poucos fui acostumando, principalmente por vaidade: sem capacete a pele ficava ensebada, cheia de perebas e o cabelo oleoso e embaraçado (não ria!).

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Minha primeira moto em 1974, sem capacete, como todo mundo. (Foto: arquivo pessoal)

Quando o uso do capacete se tornou lei eu já usava 100% do tempo e pelo menos em uma ocasião ele salvou minha vida: peguei uma emenda de ponte desnivelada que fez a moto capotar de frente e aterrissei de focinho no chão. As marcas no capacete não deixaram dúvidas que eu podia ter formatado meu HD aos 15 anos de idade!

Depois, quando comecei a correr, primeiro de kart e depois de moto, perdi a conta das vezes que o capacete me salvou. No kart eu capotei cinematograficamente na curva mais rápida do kartódromo de Interlagos e lembro da batida seca com o cocuruto no asfalto. Nunca esqueci o barulho da fibra estalando na pancada. Em outra ocasião meu kart travou no final da reta e o piloto que estava atrás subiu nas minhas costas e deixou a marca do chassi no meu capacete!

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Note o kart de trás com as rodas no ar, depois bateria na minha cabeça! (Foto: arquivo pessoal)

Nas competições de moto nem consigo lembrar todos os acidentes, principalmente nas provas fora de estrada. Uma vez passei reto numa curva e meti a cabeça num mourão de cerca a uns 90 km/h destruindo um capacete novinho! O primeiro importado! O saldo do acidente foi um dedão quebrado.

Competição é assim mesmo. Os tombos fazem parte e todo piloto tem uma história de salvação pelo capacete.

Eu tenho uma filosofia: quem corre não racha. Quem pilota em pista não tira racha na rua. É que nem praticante de lutas marciais. Quem luta não briga na rua. A melhor coisa que aconteceu na minha adolescência foi meus pais permitirem correr porque isso evitou que me transformasse num rachador de rua.

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Corri muitos anos de motovelocidade e bati várias vezes a cabeça, mas estou vivo! (foto: Arquivo Pessoal)

Bike também machuca

Porém, por mais que eu acreditasse na importância do capacete ainda tinha muita resistência ao uso na bicicleta. Achava meio um exagero, afinal estava só dando um rolê e a bicicleta é praticamente um brinquedo. Foi só quando conheci o preparador físico José Rubens D´Elia que comecei a usar sob ameaça de violência física. Um dia ele apareceu com um capacete Bell importado, lindo, super bem acabado, jogou no meu colo e ameaçou: “se te pegar andando de bike sem capacete te encho de porrada”. Lembrou meu pai.

Empolgado com o capacete novinho, chique e cheio de charme decidi ser um ciclista politicamente correto e instalar buzina e espelhos retrovisores na bike. No caminho para a loja eu quase atropelei uma mulher com duas sacolas de compra e para desviar caí de cabeça no chão. Literalmente! Bati a testa, o nariz, ralei as mãos, os cotovelos e os mamilos (pense num banho ardido). Quando vi o capacete com a pala destruída e o casco amassado me deu aquela dor aguda na barriga e só imaginei o que teria acontecido se estivesse sem. Comprei outro capacete igual e nunca mais subi numa bike sem capacete.

Pensa que acabou? Nada! No ano 2000 comecei mais uma atividade com muita chance de quebrar o côco: a escalada! Nos primeiros anos eu simplesmente ignorava todas as recomendações de usar capacete, afinal queria um contato com a natureza e o capacete tirava um pouco da liberdade, o que não passava de uma desculpinha esfarrapada. Até que... um escalador acima de mim deslocou uma pedra que passou a centímetros da minha testa.

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Na escalada sofri uma queda e o capacete me salvou, de novo. (Foto: Leandro Montoya)

Comprei um capacete de escalada e passei a usar o tempo todo, mesmo nos trechos de caminhada perto das encostas. Só não dormia de capacete porque era desconfortável.

E veio o acidente. Em um trecho relativamente fácil, a rocha que estava me apoiando se desprendeu e caí uns 12 metros. De costas. A primeira coisa que bateu no platô foi minha mochila, que amorteceu parte da pancada. A segunda foi minha cabeça. Fez aquele estalo de plástico quebrando, meu óculos saíram voando aos pedaços e quebrei um dente. Quando vi a marca da pancada no capacete mais uma vez gelei e, apesar de todo ralado, terminei a escalada e ainda voltei pra casa pilotando a moto. Detalhe: neste dia eu tinha deixado o meu capacete em São Paulo e só não morri porque peguei um emprestado a pretexto de não queimar a careca no sol.

Pensa que acabou?

Em 2018 outra atividade entrou na minha vida. Procurando uma atividade física menos chata que academia, redescobri o skate depois de 46 anos! Só que dessa vez já usei capacete desde o primeiro dia. No começo usava o mesmo da escalada, depois comprei um de snowboard porque achei os capacetes de skate muito frágeis.

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No skate eu uso um capacete de snowboard porque acho mais seguro. (Foto: Kabé Rossi)

Como toda atividade que envolve risco de queda, no começo ninguém se machuca sério. Só depois de acreditar que já sabe tudo é que acontecem os acidentes. Foi assim mesmo: demorei pra sofrer a primeira queda mais forte, mas ela veio e fui catapultado de costas do skate, bati as costas e a cabeça tão forte que até dei uma leve apagada. O relatório de danos revelou um ralado no cóccix, mais um óculos de grau pro lixo e o capacete ralado. Comprei outro.

Duas semanas depois um garoto de 15 anos morreu ao bater violentamente a cabeça descendo a mesma ladeira.

Então o quê?

Por isso eu me desespero vendo as pessoas agirem como se fossem invulneráveis. Vejo ciclistas andando entre os carros, sem nenhuma proteção, desafiando a morte a cada quarteirão. Ou quando vejo os micro modais elétricos se popularizando sem trabalharem a devida importância ao uso do capacete. São patinetes, bikes, monociclos e scooters elétricos que, à falta de uma regulamentação, são conduzidos por pessoas sem nenhuma proteção.

Acredito que vamos assistir ainda muita notícia triste de acidentes com esses micro veículos até que se tenha consciência da importância de usar um equipamento tão simples, barato e eficiente quanto um capacete. Não existe desculpa: um capacete de bike pesa menos de meio quilo e pode ser levado em uma mochila. É o mais versátil e pode ser usado para qualquer um desses modais.

Um teste feito nos EUA mostrou a eficiência do capacete de bicicleta, comparando com outros tipos. Vale a pena ver clicando AQUI.

Só não deixe de usar. Mesmo que seja “só uma voltinha”, mesmo que seja “chato de transportar”, ou que seja “feio e desengonçado”, ou ainda “que estrague o penteado”. Nenhuma desculpa justifica o risco que representa uma batida de cabeça. Volte lá no primeiro parágrafo e reflita: vale a pena perder tudo que você já viveu?

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publicado por motite às 20:31
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Sábado, 4 de Abril de 2020

Capacete, aqui cabe uma vida - Parte II

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Capacete integral de qualidade, sua vida vale esse investimento.

Como escolher o tipo certo

Já não basta ter de escolher a moto que atenda as necessidades, ainda tem de decidir pelos equipamentos, de forma a atender a segurança sem levar o motociclista à falência. Hoje existem dezenas de marcas e centenas de modelos à venda, o que torna tudo ainda mais difícil.

O capacete é o único equipamento de segurança obrigatório por lei. Essa exigência gera controvérsias no mundo todo, sendo que em alguns países o uso nem sequer é obrigatório. Independentemente de legislação, o que determina o uso do capacete é o velho bom senso. Afinal trata-se de uma questão de sobrevivência.

Quando as motos ainda eram novidade no Brasil o capacete nem sequer fazia parte dos equipamentos. Foi só a partir dos anos 1970, quando inauguraram as fábricas brasileiras, que as cidades passaram a conviver com estes veículos em quantidade. Neste começo, a moto ainda tinha um aspecto romântico, ligado à liberdade e rebeldia. Por isso eram raros os motociclistas de capacete, apesar de já termos fabricantes nacionais.

A aceitação do capacete começou sendo uma expressão da identidade. Cada um queria ter um desenho próprio, como os pilotos de corrida. Assim, gastavam-se tubos de tinta em spray e quilos de lixa para ter um capacete exclusivo. Na garupa dessa moda, surgiram os primeiros estúdios de pintura que faziam obras de arte e isso ajudou a convencer da necessidade de usar capacete.

Logo em seguida veio a lei que obrigou o uso e daí pra frente o esquisito passou a ser rodar de moto sem o equipamento na cabeça.

Os tipos

Basicamente existem quatro tipos de capacete: integral, com a proteção fixa no queixo; aberto, sem a proteção na frente do rosto; basculante (também chamado de Robocop), que a proteção do rosto pode ser levantada e off-road, com ou sem viseira, ideal para uso fora-de-estrada.

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Os modelos abertos devem obrigatoriamente ter viseira. (foto: divulgação)

Antes de mais nada vale lembrar uma pesquisa feita por uma associação de motociclistas dos EUA que revelou um dado importante: 35% dos traumas crânio-encefálicos em motociclistas tem origem pelo maxilar. Portanto o capacete aberto, logo de cara, não é um equipamento que oferece 100% de proteção. O curioso é ver que donos de scooters e de motos custom adotam esse tipo de equipamento na ingênua crença que esses tipos de veículos não caem! Costumo argumentar que o asfalto não fica mais macio dependendo do tipo de moto; ele é sempre duro e áspero!

É bom lembrar que para usar um capacete aberto ele precisa obrigatoriamente ter viseira ou óculos específicos de motociclista, que acaba custando quase tão caro quanto o capacete!

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O modelo basculante é versátil para uso na cidade e estrada (Foto: divulgação)

Outro tipo que transmite uma falsa impressão de proteção são os basculantes (ou Robocop). Esse tipo de capacete nasceu para ser usado pela polícia, para funcionar tanto como proteção na moto quanto para proteger em casos de conflitos. Quando começou a ser usado por civis rapidamente se popularizou especialmente entre viajantes. A preocupação com relação a esse tipo de capacete são basicamente duas:

- Eficiência das travas da queixeira: como todo mecanismo que tem travas e molas, depois de um número de operações esses mecanismos podem falhar, tanto por desgaste natural dos materiais, quanto perda de eficiência das molas. No caso de um choque a queixeira pode abrir expondo o rosto.

- Rodar com ele aberto: obviamente que esse mecanismo foi pensado para facilitar algumas operações, mas não para rodar com a frente do capacete levantada. Principalmente acima de 80 km/h porque o vento empurra a cabeça para trás, forçando a musculatura do pescoço e ombros.

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Sem dúvida o modelo integral é o mais seguro. (Foto: divulgação)

Sem dúvida o modelo que oferece mais segurança é o integral, com queixeira fixa. Também é o mais vendido.

Por último, o modelo on-off road, com queixeira fixa, com ou sem viseira. Esse capacete é muito bom para usar na cidade, já que a velocidade é baixa. Porém, na estrada, acima de 120 km/h, a pala provoca muita resistência aerodinâmica, forçando a cabeça para trás.

Foto Capacete_5: Os tipos fora-de-estrada podem ser usados na cidade. (Foto: divulgação)

Materiais

Normalmente os capacetes são feitos de dois materiais: plástico injetado e fibras sintéticas (aramida, carbono ou vidro), que podem ser puras ou composta, (mais de uma fibra misturada).

A calota de plástico tem a vantagem de ser mais em conta pelo uso de material mais barato e pela facilidade de fabricação. Como a calota é feita em injetora a produção é de larga escala e isso reduz muito o custo final. Já os capacetes de calota de fibra tem processo industrial bem mais lento, quase artesanal e, obviamente, isso eleva o custo unitário. Além de materiais mais nobres.

Em termos de proteção, ambas as tecnologias são aprovadas pelas normas brasileiras. A grande diferença está na forma de absorção dos impactos. Por ter camadas sobrepostas, os capacetes de fibra distribuem as ondas de choque de forma mais uniforme, dissipando a energia pelo casco. Já os de plástico concentram a onda de choque no local da batida. Além disso, a calota de fibra não “quica” quando bate no asfalto, enquanto o plástico tem uma resposta elástica maior e pode quicar várias vezes.

Quando se pesquisa preços, pode-se encontrar desde equipamentos de R$ 70,00 até mais de R$ 8.000. Sinceramente, com toda experiência acumulada em quase 50 anos como motociclista, não dá para confiar a sua vida em um capacete de menos de R$ 600,00 (valores de São Paulo). Sei que não é fácil tomar essa decisão, mas se ajuda, pense em quanto custa um dia de internação na UTI.

Prazo de validade

Uma das maiores polêmicas sobre esse tema é sobre o prazo de validade. Que seja bem esclarecido: todo produto têxtil voltado para a segurança tem um prazo de validade. Os chamados EPI – equipamentos de proteção individual – tem o prazo determinado pelo fabricante, independentemente do uso. Até os pneus tem prazo. No entanto, alguns equipamentos tem prazo de validade indeterminado A MENOS QUE tenha sofrido as consequências de um acidente. É o caso, por exemplo, dos cintos de segurança dos carros, que devem ser trocados em caso de colisão.

Já sobre os capacetes essa regra do acidente é válida. Se o capacete sofreu acidente que bateu no asfalto ou em outro veículo, deve ser trocado. Jamais retocado para voltar a utilizar! Mesmo que a estrutura esteja aparentemente intacta, não se sabe se esse casco resistiria a uma segunda pancada no mesmo local. Mas sem exageros! Já vi motociclista querer trocar de capacete só poque deixou cair de uma altura de meio metro. Calma, esse tipo de queda não chega a comprometer a estrutura, mas pode matar um motociclista de raiva.

O período aceitável para aposentadoria de um bom capacete é de cinco anos, mesmo que não tenha sofrido acidentes. Porém, uma revista especializada americana foi mais longe. Pegou um capacete com cinco anos de uso e outro da mesma marca e modelo totalmente novo. Submeteu os dois aos mesmos testes de homologação e descobriu que o capacete usado apresentou rigorosamente os mesmos resultados.

Então por que trocar a cada cinco anos?

Porque fica largo! Tem itens no capacete que se desgastam com o uso e o principal deles é o poliestireno expandido – conhecido popularmente como isopor. Ele é o principal elemento de absorção e dissipação de impacto. Tem uma enorme durabilidade, porém não tem efeito memória: se apertar um pedaço de isopor ele não retorna ao formato original (como faz a espuma) e o ato de vestir e tirar o capacete, aos poucos, causa a compressão do poliestireno, deixando o capacete largo. Capacetes não podem ficar soltos na cabeça, senão o vento pressiona contra o rosto e dificulta a visão.

Algumas empresas substituem essa calota interna de poliestireno, assim como a forração, deixando o capacete praticamente novo. Não é uma solução totalmente reprovada, mas se fizer a conta de quanto é o investimento em um bom capacete, diluído pelo período de cinco anos, percebe-se que não chega a ser um custo tão alto assim por algo que salva nossas vidas.

E o que fazer com o capacete usado? Por mais que doa no coração, deve ser destruído. Isso mesmo. Ou, se for do tipo que se apega a bens materiais, guardá-lo como recordação. Jamais descartado no lixo – mesmo reciclável – porque ele vai aparecer em alguma cabeça.

Cuidados

O capacete é um item pessoal, que nem cueca! Não se empresta capacetes e cada um deve ter o seu. Por ser uma peça íntima, a higiene é uma preocupação e o cuidado é muito simples. Sempre que possível deixe o capacete virado com o interior para o sol. Também pode-se aspergir desinfetante em spray e sempre guardar o capacete com a viseira aberta para arejar.

Para limpeza do casco deve-se usar apenas com esponja, água e sabão. Pode ser polido com cera, mas cuidado com a viseira! Ela só deve ser lavada com água e sabão neutro, sem uso de álcool ou solventes. Para não acumular água de chuva pode-se polir com lustra móveis e algodão.

O maior inimigo do capacete são as bactérias. Uma reportagem do jornalista Celso Miranda fez uma revelação assustadora: ele levou um capacete de motofretista para análise em laboratório e descobriram que tinha mais bactéria do que uma latrina! Ecah!

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Guarde o capacete com a abertura para cima para evitar a proliferação de bactérias. (Foto: divulgação)

Nossa sugestão é realmente aposentar os capacetes com mais de cinco anos por questões de segurança e higiene. Ah e um recado aos românticos: nada de comprar um capacete de 70 reais para quem vai na garupa! Lembre: o asfalto é o mesmo para piloto e passageiro!

Por fim, não basta vestir o capacete, é preciso afivelar! Um capacete desafivelado tem a mesma função protetiva de um chapéu de palha. Em muitos acidentes que causaram o trauma crânio encefálico o motociclista estava usando capacete no momento do choque, porém o capacete saiu da cabeça e ao chegar ao solo o motociclista estava desprotegido. O mais difícil é vestir o capacete; faça o mais simples que é fechar a fivela. Importante: não pode haver folga entre a cinta jugular e a pele do pescoço. Para uma real proteção a cinta deve encostar na pele. Sim, num dia quente essa cinta irrita, mas não tem nada que irrita mais do que um dia de UTI.

publicado por motite às 23:00
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Quarta-feira, 20 de Setembro de 2017

Comprei um capacete!

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Johnny Cecotto em primeiro plano, em 1980, em Interlagos na Copa Brasil. (Foto: Tite)

Como escolher e manter o capacete de motociclista

Comprei um capacete! Grande coisa, você poderia dizer, afinal são vendidos quase dois milhões de capacetes por ano no Brasil. O surpreendente dessa notícia é que desde 1977 eu não entrava numa loja para comprar capacete! O último tinha sido um SS Induma, com entrada de ar, imitação de um Simpson australiano. Com esse capacete eu corria de kart e andava de moto. Logo depois virei jornalista e piloto de teste e passei a ganhar tanto capacete que nunca mais comprei… até uns meses atrás.

Dizem que homens compram as coisas porque precisam. E as mulheres compram porque está barato. Eu tive meu dia de mulher. Dificilmente eu entraria numa loja para comprar um capacete, uma vez que eles é que vem até mim. Mas em uma viagem a passeio por Morungaba, interior de SP, entrei na loja Euromoto de um grande e velho amigo Vincenzo Michele.

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Este tinha sido meu último capacete comprado em loja, Note o ano...  

Ao entrar na loja dei de cara com uma coleção nova de capacetes italianos X-Lite, réplicas de pilotos dos anos 70/80 como Giacomo Agostini, Mike Hailwood, Kenny Roberts e Johnny Cecotto. Todos os capacetes eram lindos e icônicos, mas quando peguei na mão senti que também eram muito leves e bem acabados. Aí fiz aquilo que jamais deveria: vesti o capacete. Ai, ai, o tecido era muito suave e ele envolveu minha cabeça como se fosse feito por encomenda.

Mesmo com todas essas qualidades ainda estava em dúvida, porque realmente não preciso comprar um capacete, assim como um tenista profissional não precisa comprar uma raquete. Só por curiosidade perguntei o preço e veio a supressa: era muito mais barato do que imaginava e, para piorar, o Vincenzo ainda ofereceu um mega desconto, quase 1/3 do valor da etiqueta. Não teve jeito… comprei o réplica do Johnny Cecotto, piloto que conheci pessoalmente e foi campeão mundial de motovelocidade de 350cc em 1975 . E fiquei super feliz porque realmente é ótimo!

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O X-Lite réplica do Johnny Cecotto: uma beleza e confortável. (Foto: Mario Villaescusa) 

Importante explicar que nestes mais de 35 anos tive patrocínio de várias marcas de capacete e agradeço todos os fabricantes e importadores pelo incentivo e confiança. Gostaria de citar todas as marcas, mas tenho medo de esquecer alguma e cometer uma injustiça. Mas desde que saí das competições e também reduzi minha participação na mídia não achei justo ligar para uma fábrica e dar aquele velho xaveco do "me dá um capacete que eu divulgo a sua marca". Por isso a surpresa de comprar um capacete após tanto tempo e descobrir que fiz uma ótima escolha.

Como escolher

O que para qualquer pessoa é uma atividade normal, comprar capacete foi algo quase inédito pra mim. Fiquei imaginando a dificuldade que as pessoas devem ter na hora da escolha, porque são centenas de opções, com preços que variam de R$ 150,00 a R$ 5.000. Por isso decidi ajudar criando uma espécie de guia de como escolher o capacete.

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É muita opção de capacete no mercado! (Foto: Luna Bartlewski) 

Em primeiro lembre que é a TUA vida que está em jogo. Fico verdadeiramente enraivecido quando vejo pessoas até esclarecidas comprando o que existe de mais barato, com a única intenção de cumprir a lei. O cérebro é um órgão vital (sim o bolso também é) e uma lesão pode gerar graves seqüelas permanentes. Por isso a minha primeira dica é: não economize na sua vida!

Se existe uma variedade de preços tão grande não precisa apelar para as extremidades. Nem precisa comprar o de R$ 5.000 e muito menos um de R$ 150. No meio do caminho tem uma infinidade de modelos que conseguem reunir custo decente com alto nível de proteção. Mas tente interpretar o valor como um investimento, no qual o maior rendimento é a segurança. Lembre que capacetes duram muito. Se não ocorrer nada de grave, pode calcular cinco anos para um uso normal. Já os motofretistas consomem mais rápido porque ficam expostos mais tempo ao sol e o ato de tirar e colocar o capacete comprime a camada de estireno (isopor). No caso deles o capacete deve ser trocado anualmente. Mas você não fica na rua oito horas por dia, portanto, pode gastar mais porque na ponta do lápis, um capacete de R$ 5.000 significa um investimento de R$ 83 por mês, que é bem pouco pelo enorme benefício que oferece.

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Mesmo para andar de scooter deve-se usar um bom capacete: o asfalto é o mesmo! (Foto: Mario Villaescusa) 

A segunda pergunta que se deve fazer é "para que eu quero um capacete?". Sim, porque existe desde o capacete de fora-de-estrada, até os "jets" que são os abertos. Antes de mais nada saiba que a dureza do asfalto não muda quando se roda de moto pequena ou scooter. Uma das maiores bobagens que vejo nas ruas são pessoas que usam capacete aberto porque rodam de scooters. Saiba que a dureza do asfalto é a mesma e 35% dos traumas crânio-encefálico acontecem por compressão do maxilar. As velocidades mais comuns de acontecer acidentes são abaixo de 50 km/h, por isso não importa o tamanho da moto, mas sim o tamanho da pancada!

Um modelo bem versátil são os de fora de estrada, que permitem boa ventilação, mas devem ser usados com óculos próprios e não são recomendados para alta velocidade porque a pala (pára-sol) empurra o capacete para cima. Alguns tem viseira mas aí já é melhor comprar logo um capacete integral esportivo mesmo.

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Capacete off-road funciona bem se não atingir altas velocidades. (Foto:Caio Mattos) 

Já o modelo articulado (chamado de Robocop) é um dilema porque é muito versátil para quem trabalha nas ruas todos os dias, mas o pessoal acaba usando ele aberto o tempo todo, reduzindo a eficiência. Além disso existe uma lei federal que exige a retirada do capacete para entrar em locais públicos (inclusive - pasme - posto de gasolina!). Também são mais frágeis na região do maxilar por causa do mecanismo de abertura. Esse capacete foi criado pela polícia alemã e deveria ser restrito ao uso militar.

Às vezes ficamos horas com o capacete enfiado na cabeça, portanto ele precisa ser confortável. Deve ficar justo, sem pressionar demais, mas jamais folgado. Alguns capacetes entram na cabeça tão folgados que parecem um sino de Igreja. O capacete deve "abraçar" com suavidade o rosto do motociclista.

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Capacete articulado é bom, mas tem de mantê-lo fechado. (Foto: Bruno Guerreiro) 

Pequeno, médio ou grande

Apesar de o Brasil ter um mercado de motos bem estabelecido, as marcas de capacete ainda trabalham com uma grade reduzida de tamanhos. Para saber qual o número do seu capacete é simples: pegue uma fita métrica dessas de costureiro e meça o perímetro da cabeça na altura da testa. O número que aparecer na fita é o mesmo do capacete. Normalmente entre os homens é de 57 a 60. O problema é que só as marcas mais sofisticadas tem numeração com escala de um e um centímetro. Os capacetes mais simples só oferecem números pares: 56, 58, 60 etc. Entre o maior e o menor escolha o menor porque ele lasceia  rapidamente. Se o motociclista usa óculos de grau não esqueça de provar o capacete com óculos!

Existem dois tipos de fivela dos capacetes: a de duas argolas, usada principalmente em modelos de competição, e as fivelas de engate rápido, tipo de cinto de segurança. As duas oferecem um alto grau de segurança, mas no caso do engate rápido devemos lembrar que todo engate de plástico apresenta desgaste, enquanto no caso das argolas de metal a durabilidade é quase infinita.

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O capacete já salvou minha vida também na escalada. (Foto: Leandro Montoya) 

Com relação ao material do casco, também encontramos dois tipos no mercado: o plástico injetado e as fibras compostas. Assim como no caso das fivelas, os dois oferecem segurança e são aprovados pelas normas técnicas de vários países. No caso do casco de plástico, por ser injetado, a produção é em larga escala, fazendo com que o custo unitário seja menor. Enquanto no caso da laminarão o processo de fabricação é mais lento, por isso a escala é menor elevando o preço unitário.

Independentemente disso, os capacetes de fibra podem resistir a mais de uma batida no mesmo local porque a fibra tem a capacidade de se regenerar em segundos, enquanto no caso do plástico a área impactada fica comprometida. De toda forma, quando cair e bater o capacete no chão ele deve ser substituído, seja de plástico ou de fibra.

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Também já bati o cucuruto andando de skate! (Foto: Douglas Gonçalves) 

Tão importante quando o material do casco é a espessura da calota interna de estireno (chamado comercialmente de Isopor). Esse é um material que não tem efeito memória, como uma espuma. Quando o estireno é amassado ele não volta ao tamanho original e é isso que deixa o capacete folgado depois de alguns anos. O simples ato de colocar o capacete já causa esse "afrouxamento" e quando um capacete fica folgado a ponto de girar na cabeça é hora de aposentar.

Sei que dói aposentar um capacete, principalmente quanto está novo, mas um capacete folgado pode até sair da cabeça durante uma queda. Lembra do primeiro conselho lá em cima: é sua vida que está em jogo, não economize porque um dia de UTI custa muito mais caro do que qualquer capacete!

Existe um mito quando se trata de capacetes. Tem gente que acha que ele deve ser duro, quando na verdade ele deve ser flexível! Se fosse para ser duro seria feito de ferro fundido e não de fibras e plástico. O casco não é o responsável pela absorção do choque, ele recebe a pancada mas quem distribui e absorve a maior parte da energia é o estireno. Por isso o capacete deve ser trocado quando essa calota interna de isopor fica amassada, a capacidade de amortecer o impacto fica menor.

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Na estrada o modelo fechado (integral) é o mais confortável. (Foto: Vespaparazzi) 

Já sabemos que é o estireno o grande responsável por dissipar e absorver a energia, portanto quanto mais grossa for essa camada melhor. Sim, daí vem outro acessório que tem se tornado um calcanhar de Aquiles: a viseira escura interna. Para abrigar essa viseira escura a camada de estireno precisa ser reduzida pela metade na altura da testa. Se por um lado é legal ter uma viseira escura, por outro saiba que sua cabeça está mais exposta! Ah, e se rodar com a viseira externa aberta e a viseira interna abaixada ainda pode ser multado porque o Denatran não reconhece essa viseira interna como peça homologada.

Belo e durável

Até aqui não comentei nada sobre a parte estética. O que para muitos - como no meu caso - é o primeiro item na hora da escolha, para outros nem passa perto. Pode olhar em volta e perceber que tem gente que escolhe capacete como se fosse um mal necessário. Usa com raiva!

Motociclistas que amam moto (como eu) faz do capacete uma extensão da personalidade. Por isso precisa ser bonito (como eu!) e refletir a paixão pelo veículo. Capacete velho ou sujo, com a viseira riscada só pode indicar uma pessoa relaxada e descuidada. Manter um capacete é bem mais fácil do que parece.

A limpeza da calota externa é feita apenas com esponja, água e sabão. Nada de solventes, álcool etc. Tem produtos específicos para limpar plástico, mas água e sabão são mais do que suficientes. A viseira merece atenção especial porque um pequeno risco pode ser um eterno aborrecimento. E viseiras são caras! Limpe com algodão, seque bem e depois passe alguma cera líquida polidora para que as gotas de água não grudem na viseira quando chove.

A parte interna merece muita atenção porque o suor gera fungos e bactérias que causam odor e aspecto viscoso. Quando pegar chuva o ideal é secar com secador de cabelo (na temperatura média) e periodicamente deixar exposto com a abertura para o sol. Pelo menos uma vez por mês pode aspergir spray de desinfetante tipo Lisoform. Capacetes precisam de luz, mas não gostam de ficar muito tempo no sol, por isso deixe somente o necessário para secar a espuma interna.

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Em pista o capacete deve ser bem apertado, senão compromete a visão. (Foto: Caio Mattos) 

Uma pergunta freqüente entre os motociclistas é se pode ajustar o capacete quando ele fica folgado. Existem especialistas de confiança que conseguem trocar a forração interna para ajustar ao tamanho da cabeça. Se for só um ajuste fino, quando não conseguiu encontrar o tamanho correto, OK, pode mandar ajustar. Mas se for porque ele ficou velho é melhor trocar, porque é sinal que a camada de estireno já está muito compactada.

Bom, sou um usuário de capacete desde os 12 anos de idade, quando ganhei minha primeira moto e ainda não era obrigatório. Bati muito a cabeça ao longo de todos esses anos competindo nas mais diferentes modalidades de motociclismo esportivo e aparentemente estou normal. Além disso uso capacete na bicicleta, nas escaladas e agora no skate. Em todas essas atividades já sofri acidentes nos quais o capacete salvou minha cabeça, por isso conheço bem de perto a importância desse equipamento. É como se você tivesse duas cabeças: uma para bater à vontade e outra para preservar seus miolos.

Uma das principais funções do capacete é reduzir a desaceleração causada por uma queda, que pode ser muito devagar (até mesmo caminhando a pé) ou em velocidade. O trauma crânio-encefálico (TCE) começa pela desaceleração causada pelo impacto, que pode iniciar uma concussão cerebral, evoluir para um edema e até a morte cerebral. E se engana quem acha que os capacetes de bicicleta são apenas enfeites. Quem acha capacete uma frescura pode fazer o seguinte: vem correndo a pé e bate a cabeça na parede com tudo! Depois me conta como foi lá no hospital!

 

Leia também Papo Cabeça neste LINK

 

 

 

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Segunda-feira, 11 de Julho de 2016

Detran-SP esclarece nota.

Capacete_artmix.jpg

Tem de expor o selo OU a etiqueta interna.

POSTAGEM, sobre capacete gerou uma reação da assessoria de imprensa do Detran-SP. De fato eu não estipulei prazo para as minhas dúvidas, e tomei a decisão de publicar o texto para não perder o momento, já que estamos entrando em período de férias. Segue abaixo a íntegra da mensagem e depois, lá no finalzinho a minha resposta da respostas. Ah, sim, eu já tinha corrigido a informação sobre apreensão do veículo, embora alguns policiais rodoviários ameaçarem apreender o veículo até se o sobrenome do motociclista estiver em letra minúscula!!!

Tite

Segue a nota: 

Geraldo, boa tarde!
Clipamos a matéria "Nota traz mais dúvidas do que respostas sobre o capacete" (http://motite.blogs.sapo.pt/nota-traz-mais-duvidas-do-que-respostas-133169), na qual você cita que enviou questionamentos ao Detran.SP e critica release que divulgamos recentemente a respeito do uso do capacete.
Pedimos desculpas por não ter respondido o e-mail a tempo da publicação. Quando for assim, não hesite em nos contatar nos telefones informados no rodapé do release e cobrar retorno.
De todo modo, envio abaixo os esclarecimentos e ressalto que o release foi produzido com base na legislação federal de trânsito, que também pauta as ações de fiscalização.
Caso continue com dúvidas sobre a fiscalização, orientamos o contato com a assessoria de comunicação da Polícia Militar, que fiscaliza a regularidade dos capacetes utilizados pelos motociclistas. Os contatos da PM são: (11) xxxxxxxxxx; imprensapm@policiamilitar.sp.gov.br.
Por favor, confirme o recebimento e nos informe seus números de telefone.
Continuamos à disposição.
Abraços,
Mylena Lira
Assessoria de Comunicação Detran.SP
(11) xxxxxxxxxxx
ESCLARECIMENTOS
O Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran.SP) ressalta que o uso do capacete é regulamentado pela resolução 453, de 2013, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), órgão máximo normativo de trânsito no país. Por isso, além das normas contidas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), vale o que o órgão federal determina.
Exigência do selo ou etiqueta com certificação do Inmetro
O artigo 2º da resolução 453 do Contran, no inciso 4º, estabelece que as autoridades de trânsito devem observar a existência do selo de identificação da conformidade do Inmetro ou etiqueta interna com a logomarca do Inmetro para fiscalização do cumprimento da resolução.
Dessa forma, o motociclista será autuado se o equipamento não tiver um ou outro, de acordo com o que estipula o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, estabelecido pelo Contran. Porém, essa infração não gera a apreensão da moto, diferentemente do que consta na matéria.
Capacete articulado
A resolução 453 do Contran especifica no artigo 3º, inciso 3º, que no caso dos capacetes modulares, além da viseira, a queixeira deverá estar totalmente abaixada e travada. Por isso, independentemente de existirem modelos de capacetes articulados com viseira interna (não previsto pela legislação), o motociclista que usa esse tipo de equipamento deverá sempre mantê-lo como determina a legislação. Do contrário, poderá ser multado, também como prevê o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito.
Óculos para motociclistas Está expressamente indicado no parágrafo 2º do artigo 3º da resolução 453 do Contran: "Fica proibido o uso de óculos de sol, óculos corretivos ou de segurança do trabalho (EPI) de forma singular, em substituição aos óculos de proteção."
Sendo assim, todas as informações constantes no release "Motociclistas devem ficar atentos ao uso correto do capacete" têm fundamento na legislação federal de trânsito e sua divulgação tem unicamente o objetivo de prestar um serviço aos motociclistas.
Portanto, não procede a afirmação de que a "nota traz mais dúvidas do que respostas sobre o capacete". Pedimos, por gentileza, que atualize o texto publicado com esse título para levar a informação correta aos leitores.

Minha resposta:

Oi Mylena

Na verdade eu não te dei prazo, mas o assunto era quente demais para esperar a resposta.
Sim, vou publicar sua resposta na íntegra, agradeço demais sua atenção e cuidado ao responder.
Só discordo da correção que me pede porque o release deixa sim muitas dúvidas, tanto que lhe enviei as perguntas. Se dúvidas não existissem não teria gerado as perguntas, certo?
E não se preocupe porque quem cria essas dúvidas é o próprio CTB, muito mal redigido, com várias lacunas e que sempre deixou os motociclistas em segundo plano em relação aos outros autores do trânsito. Basta ver a existência dos tachões de sinalização, verdadeiras armadilhas mortais para motociclistas, mas que estão aí espalhados por todas as cidades.
Agradeço sua atenção
Geraldo Simões




 

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Quinta-feira, 7 de Julho de 2016

Nota traz mais dúvidas do que respostas sobre o capacete

Capacete_artmix.jpg

Capacete pintado: sem selo do Inmetro, mas com etiqueta interna. Pode isso, Arnaldo? (Foto: João Lisboa) 

Exigência de certificação brasileira é uma forma de protecionismo.

Na condição de jornalista (sim, ainda sou e parece que é vitalício), recebo diariamente vários comunicados, chamados de press-releases. Entre eles os do DETRAN-SP que trazem várias ótimas informações, inclusive sobre onde serão as operações Lei-Seca e que nem sob tortura eu revelo. 

Mas quando enviaram essa nota sobre capacetes eu rapidamente mandei um email de volta com alguns questionamentos: 

  • A nota é clara e cristalina quando diz que “Os equipamentos certificados pelo Inmetro podem ser consultados no site do órgão (inmetro.gov.br), na área de “produtos certificados”".
  • “desde 2007, o capacete deve ter a certificação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), faixas refletivas de segurança nas partes laterais e traseira, além de apresentar bom estado de conservação, sem danos que comprometam a proteção”.

Portanto está mais do que óbvio que não faz qualquer referência à exposição de um SELO DE CERTIFICAÇÃO. Quem deve certificar marca/modelo do capacete é o Inmetro e não o usuário. Se por qualquer motivo o capacete perder o selo, ainda sim existe a etiqueta interna que traz as mesmas informações. A título de fiscalização e multa, o correto seria os agentes fiscalizadores portarem um documento com a relação de capacetes vendidos no Brasil com marca/modelo claramente especificada. O que não estiver na lista, aí sim pode ser autuado.   

Se um capacete é fabricado na mesma linha de montagem, sob as mesmas normas técnicas e obedecendo os mesmos critérios de certificação, como justificar que uma unidade comercializada em Miami não pode ser usada em São Paulo? 

Está mais do que evidente que esse necessidade de expor um selo é uma tremenda reserva de mercado disfarçada, com aval das polícias. Só espero que apareça logo alguma entidade isenta capaz de brigar contra esse tipo de arbitrariedade. Porque hoje, mais do que nunca, os brasileiros têm 100% de certeza que essas medidas são criadas e geridas apenas para defender interesses privados. Toda medida protecionista tem caráter corporativo e tem alguém (ou “alguéns”) ganhando um trocado em cima disso. 

Segue a íntegra do press-release do DETRAN-SP, feito pela assessoria de imprensa do órgão. O que se salva são as informações úteis e reais sobre conservação e uso. Principalmente a parte do estireno (Isopor) que comprime e deixa o capacete largo. 

Motociclistas devem ficar atentos ao uso correto do capacete 

Equipamento é obrigatório para o condutor e o passageiro e deve ser utilizado com a viseira abaixada durante todo o deslocamento 

O Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran.SP) alerta para o uso correto do capacete, equipamento obrigatório que aumenta a segurança dos condutores e passageiros de motocicletas, ciclomotores, triciclos e quadriciclos. 

Antes de iniciar o trajeto, é importante checar se o capacete está devidamente fixado à cabeça, preso ao queixo por meio da cinta e com a viseira abaixada. 

A viseira, cujo uso ainda encontra grande resistência por parte dos motociclistas, evita a entrada de insetos ou pequenos objetos, como pedras e faíscas, que podem provocar acidentes. Ela só pode ser levantada quando a motocicleta estiver parada. Na ausência da viseira, é obrigatório o uso de óculos de proteção específico para moto, que não pode ser substituído por óculos de sol, óculos com lentes corretivas ou de segurança do trabalho. 

Também para a segurança dos motociclistas, desde 2007, o capacete deve ter a certificação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), faixas refletivas de segurança nas partes laterais e traseira, além de apresentar bom estado de conservação, sem danos que comprometam a proteção. 

"O uso do capacete minimiza as chances de ferimentos graves em caso de acidentes. Por isso, é fundamental que os motociclistas usem o equipamento e os demais itens de segurança não apenas para cumprirem o que determina a legislação, mas principalmente para protegerem a própria vida", ressalta Neiva Aparecida Doretto, diretora-vice-presidente do Detran.SP. 

Tipos de capacete e viseira – Existem quatro modelos de capacetes de motocicletas regulamentados pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran): o integral (fechado), o misto (com queixeira removível), o modular (de frente móvel) e o aberto (sem a proteção para o queixo). 

Os capacetes popularmente conhecidos como “coquinho” –similares aos utilizados para a prática de ciclismo e skate– não são permitidos, pois não oferecem proteção completa à cabeça, rosto e olhos. 

Nos capacetes modulares, além da viseira, a queixeira deverá estar totalmente abaixada e travada durante todo o deslocamento do condutor.

As viseiras permitidas são aquelas nos padrões cristal, fumê light, fumê e metalizado. No período noturno, deve-se usar apenas a viseira cristal. Os demais modelos podem ser utilizados somente durante o dia.

Os equipamentos certificados pelo Inmetro podem ser consultados no site do órgão (www.inmetro.gov.br), na área de “produtos certificados”.

Conservação – A legislação federal de trânsito não estabelece prazo de validade para o capacete. O período para a substituição pode variar de acordo com a frequência de uso e a conservação. Por isso, o motociclista deve ficar atento ao estado do equipamento. 

É indicado trocá-lo sempre que ele sofra algum impacto forte, seja em acidentes ou por queda em qualquer situação, ainda que não apresente rachaduras ou outros danos visíveis. 

Outro indicador para a aquisição de um novo capacete é a espessura da espuma do forro interno. A diminuição da altura da espuma deixará o capacete folgado, comprometendo a fixação na cabeça e a proteção da área auditiva do motociclista. 

A viseira também deve estar em perfeitas condições, sem rachaduras ou arranhões que atrapalhem a visão do condutor. Se o capacete estiver em bom estado, é possível trocar apenas esse item. 

Manter o capacete limpo também pode contribuir para a conservação do equipamento. Para isso, é importante seguir as instruções do fabricante. 

Infrações – Os motociclistas recebem as penalidades de acordo com o tipo de infração cometida, conforme prevê o Código de Trânsito Brasileiro (CTB):

  • Leve – Pilotar com o capacete mal afixado à cabeça, utilizando viseira ou queixeira levantadas, sem óculos de proteção ou com viseira fumê no período noturno, por exemplo, é infração leve. O motociclista receberá três pontos na habilitação, além de multa no valor de R$ 53,20. 
  • Grave – Conduzir com capacete sem a certificação do Inmetro, sem as faixas refletivas ou com a estrutura danificada é infração grave, com cinco pontos na habilitação e multa de R$ 127,69. 
  • Gravíssima – Não usar o capacete ou colocá-lo apenas sobreposto à cabeça, sem estar devidamente encaixado, é infração gravíssima. Além de pagar multa no valor de R$ 191,54, o motociclista também responderá a um processo administrativo para a suspensão do direito de dirigir, que pode variar de um até 12 meses, dependendo do histórico do motorista. 

 

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Quinta-feira, 22 de Dezembro de 2011

Papo cabeça

(Capacete de escalada: sempre na cabeça, não na mochila...)

 

Divagações de um usuário de capacete

As vezes tenho a impressão que nasci de capacete! Com apenas 12 anos ganhei a primeira moto, uma Suzuki A 50II. Naquele longínquo 1972, capacete era artigo raro. Na verdade existia uma espécie de preconceito contra os usuários de capacete. Chegavam mesmo a duvidar da masculinidade e quem aparecesse na turma usando capacete era chamado de “mariquinha”. Bom, graças à esse pensamento assisti a muitos funerais de motociclistas machões.

 

Primeiro ganhei a moto de presente de natal do meu pai, só depois veio o capacete por insistência dele, que por ser ex-ciclista entende a dinâmica dos acidentes em duas rodas. Lembro até hoje, com clareza, do meu primeiro capacete. Foi comprado na loja Procópio do recém-inaugurado Shopping Center Iguatemi. Era um modelo SS da Induma, fechado, e fiquei tão feliz que vim com ele na cabeça, dentro do carro até chegar em casa, me sentindo o verdadeiro Emerson Fittipaldi.

 

Deste dia em diante o capacete virou uma peça normal do meu vestuário, quem nem a cueca. E nas poucas vezes que saí sem capacete – naquela época não era obrigatório – sentia-me como se estivesse nu.

 

Perdi a conta de quantas vezes o capacete salvou minha vida na moto. No que considero o pior acidente da minha vida, estava a apenas 50 km/h, fazendo manobra com uma ingênua 125cc, surfando em pé no banco da moto, quando a roda dianteira bateu em um olho de gato, desequilibrou e caí direto de cabeça no chão. O capacete rachou, tive uma concussão cerebral leve e fiquei dois dias enxergando tudo dobrado. Entreguei o que restou do capacete ao fabricante para analisar e servir como laboratório de desenvolvimento.

 

Durante os mais de 10 anos como piloto de enduro também bati muito a cabeça, em todos os sentidos, e fui atingido por pedras, galhos, outras motos, mas sempre muito bem protegido. Na motovelocidade levei todo tipo de queda, algumas acima de 180 km/h e meus miolos se mantiveram inteiros.

 

No final dos anos 90, quando decidi voltar a correr de motovelocidade aos 37 anos, tive de mergulhar nas atividades físicas para reduzir o peso na medida quase esquelética. Para isso comecei a pedalar com frequência. Inicialmente nas estradas, depois passei a usar na cidade. Foi quando meu preparador, José Rubens D’Elia me deu um capacete de ciclismo que, confesso, usava só nas trilhas de montain-bike, porque não consegui me convencer a usar o equipamento na cidade. O capacete, da marca Bell americana, era bem leve, bem feito, mas eu realmente não me sentia bem usando capacete em uma bicicleta. O que era uma tremenda besteira, como você verá adiante.

 

(capacete Shoei: leve, seguro e confortável)

 

Veio então os anos 2000, parei de correr de moto e iniciei uma nova atividade, da qual fiquei totalmente viciado: a escalada em rocha. Depois de assistir, perplexo, uma chuva de pedras bem do meu lado, comprei um capacete e passei a usá-lo até nas escaladas mais simples e fáceis. Já estou na segunda geração dos capacetes, ao adquirir um top de linha da marca Petzl francesa.

 

Alguns escaladores, especialmente os mais novos, acham o capacete uma frescura. Mas é comum receber pedras ou mesmo equipamentos no meio do cocuruto, principalmente quando em escaladas clássicas e longas. Já me safei de pedradas e até de mosquetão que voaram a uma velocidade inacreditável! Agora não deixo de usar a proteção e se quiser escalar comigo tem de usar capacete, punto e basta!

 

Recentemente notei que o paulistano adotou a bicicleta para se deslocar em São Paulo e driblar o trânsito. Esta tendência não é nova: em 1980 conheci um engenheiro alemão que só usava bicicleta e tinha toda uma estratégia para chegar ao escritório limpo e bem vestido como se tivesse acabado de sair de um Porsche. Mantinha algumas peças de roupa no escritório e ao chegar tomava banho, fazia a barba, se vestia formalmente e ficava impecável. Para voltar, colocava a bermuda, tênis e voltava a ser um ciclista.

 

Confesso que eu não me sinto seguro pedalando entre os carros em SP. Acho que a cidade deveria ter ciclovias permanentes e não apenas para lazer, nos fins de semana. E prevejo que a convivência entre ciclistas com motociclistas, motoristas e pedestres entrará em colapso brevemente.

 

Cerca de três anos atrás, um grande amigo passou a usar a bicicleta até para praticar um pouco de atividade física, na virada dos 40 anos. Dei aquele meu capacete Bell de presente pra ele com a recomendação de usá-lo mesmo pra ir até a esquina. Pouco depois ele ganhou um mais novo, mais bonito e seguro.

 

E eu mesmo continuava a sair de bicicleta apenas com meu boné. Ainda com aquela idéia de que capacete em bicicleta era uma tremenda frescura.

 

Em recente viagem a Nova York entrei duas vezes na gigantesca loja de artigos esportivos Paragon. Na verdade buscava equipamentos de montanhismo, mas passei pela seção de bicicletas e vi um belo capacete Bell, mais leve, mais bonito e certamente mais eficiente do que aquele que doei. Não comprei na primeira vez, mas fiquei com aquela imagem do capacete por alguns dias até voltar à loja por uma coincidência de percurso e pensei: “pô, por apenas US$ 49,00 um capacete bonito e Bell, acho que vale a pena”. Comprei e foi um sufoco trazê-lo na mala. A marca Bell sempre representou um ícone para quem gosta de velocidade.

 

Menos de uma semana de volta a São Paulo fui estrear meu capacete novo. Decidi também comprar um espelho retrovisor pra bike, uma buzina e uma lanterna traseira. Ou seja, resolvi estender para a bicicleta a minha noção de segurança veicular que sempre adotei e defendi nas motos.

 

No trajeto até a Decathlon fui desviar de uma pedestre e levei um baita tombo bem em cima da ponte do Morumbi. Havia anos que não levava uma queda tão forte de bicicleta! Acho que desde a adolescência não sabia o que era ralar o joelho no asfalto. Levantei louco da vida porque tinha quebrado a pala do meu capacete Bell novinho e nem reparei num corte na coxa direita.

 

Passado o susto fui até a loja e equipei minha bicicleta.

 

O susto maior viria apenas uma semana depois da minha queda. Em um domingo de feriado, em novembro, o meu grande amigo Luiz Vicente que nunca saía de bicicleta sem capacete decidiu ir até a ciclovia do parque Vila-Lobos, mas achou que em um passeio tão inofensivo poderia dispensar o capacete. Afinal era um domingo, a cidade estava vazia e tudo muito calmo.

 

De fato, a cidade estava vazia. Mas ele se desequilibrou sozinho, caiu e bateu a cabeça na calçada no único jeito e no ângulo correto para causar uma grave lesão. Tão grave que faleceu a caminho do hospital de Clínicas.

 

Obviamente que foi um choque por saber da preocupação dele com o acessório, mas naquela tarde ele achou que uma voltinha aparentemente tranqüila poderia ser apenas um dia a mais de lazer.

 

Na verdade eu pretendia escrever este artigo sobre os meus três tipos de capacete logo depois do meu tombo no Morumbi. Demorei, veio o acidente do meu amigo e achei que seria mais importante ainda tentar mostrar ao mundo que graves conseqüências começam em pequenos incidentes, até que se tornem grandes acidentes.

 

Um acidente nunca é causado por UM fator, mas por uma sucessão deles. Custa a gente acreditar que um dia de lazer, como passeio de bicicleta ou escalada na montanha, possa terminar em lesões graves ou até a morte. Curioso que em todo equipamento de escalada vem escrita uma observação em vários idiomas, alertando que aquela atividade pode resultar em acidente e até a morte. Mas não leio a mesma advertência em motos e bicicletas! Parece que é um tabu, um pacto silencioso para ninguém se lembrar que eles também podem ser fatais.

 

Por isso decidi contar esta história sobre a importância dos capacetes. Eles não são um enfeite, nem um mal necessário. E usá-los é o maior sinal de sensatez e amor à vida que você pode demonstrar.

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Segunda-feira, 25 de Maio de 2009

Modess na testa

(No calor infernal de Goiânia nasceu uma idéia cheirosa. Foto: Donini)

 

A importância de um absorvente íntimo para um piloto de motovelocidade.

Já disse várias vezes que uma das diferenças fundamentais entre a pilotagem de carro e moto é o uso do corpo. Na moto o piloto é obrigado a forçar braços e pernas, além de abdômen, glúteos, pescoço, enfim, o corpo todo; enquanto no carro o piloto movimenta basicamente os braços.
 
Só existe uma modalidade motorizada mais cansativa do que motovelocidade: motocross. Depois disso só mesmo aquelas modalidades toscas que não utilizam motores, como bicicross, mountain-bike, maratona, triatlon e outras torturas medievais que chamam de atividades físicas saudáveis.
 
Imagine o que significa pilotar uma moto, sob o sol escaldante do verão goiano, durante 45 minutos, onde o verbo aliviar não faz parte do glossário. A corrida do campeonato brasileiro de motovelocidade em Goiânia, no ano de 1998, foi uma demonstração do que pode ser o purgatório de um pecador renitente.
 
A pista de Goiânia é simplesmente a melhor do Brasil - e uma das melhores do mundo, segundo me confessou Kevin Schwantz - para correr de moto. Tem imensas áreas de escape SEM BRITA, trechos de alta, média e baixa velocidade e um retão delicioso. Ou seja, é um playground para quem corre de moto. Dizem, nunca confirmei, que o idealizador do traçado foi Edmar Ferreira, ex-piloto de moto. Daí o traçado ser tão gostoso. No entanto, o asfalto é uma autêntica merda, na falta de outra palavra mais educada. Muitos buracos, além de o composto da massa asfáltica não resistir ao calor – o que, em se tratando de Goiânia, trata-se de um eufemismo.
 
Assim que botei os pés no autódromo, o Alemão, meu chefe de equipe, já passou a receita: Quem treinou caiu, e quem ainda treinaria, com certeza também cairia. Você não sabe como isso anima um piloto... Saí para o primeiro treino livre, com a Honda RS 125 mais afinada que o primeiro violino da Orquestra Filarmônica de Londres. Já conhecia a pista e fui tratando de escolher a melhor trilha. Isso mesmo, tínhamos de achar uma trilha na qual a pista não estivesse escorregadia, com pó de asfalto. Com isso fui me aproximando do César Barros, que corria na categoria A, enquanto eu estava na B. Cheguei a pensar: "êba, estou melhor do que pensava, mais uma volta e vou ultrapassar o César, no meu primeiro treino livre, uau!"
 
Encostei, e na curva antes da entrada da reta o César demorou um milionésimo de microssegundo para começar a inclinar. Foi o suficiente para eu passar e... levar um tombaço bem na frente de todo mundo. E ainda quase fui atropelado pelo César. Depois deste, eu ainda levaria mais dois tombos, um em cada treino.
 
O domingo amanheceu com um calor de mais de 40°C e a umidade relativa do ar não passava de 25%. No segundo dia em Goiânia meu nariz já estava sangrando, sem falar no suor que escorria da testa que nem as Cataratas do Iguaçu. Já nos treinos percebi que o calor transformaria aquela corrida num sufoco. O capacete ficava encharcado de suor e não conseguia mais absorver a umidade. O resultado era terrível, porque as gotas de suor escorriam, passavam pelas sobrancelhas e caíam nos olhos, provocando aquele ardor de quem pingou colírio de gasolina. Imagine isso bem na frenagem no final da reta, a 212 km/h!
 
No caminho para a pista, diante de uma farmácia, veio a idéia: colocar um absorvente feminino dentro do capacete, para reter o suor. Parei numa farmácia e andei, meio sem graça, confesso, pelas gôndolas em busca de um modelo que fosse "aderente à calcinha e fininho". Precisei da ajuda da balconista, que indicou um tipo anatômico, com gel e com adesivo. Tornei-me um especialista no assunto a ponto de fazer outra escolha, por um de uso diário, que as mulheres costumam usar para..., para..., bom, vamos deixar estes detalhes sórdidos de lado.
 
(Meu capacete tem cheiro de calcinha... melhor que de cueca! Foto: Arnaldo Schver)
 
Já no warm-up testei meu Intimus Gel e o resultado foi excelente, obtendo muito mais firmeza do que a outra marca alternativa. O problema era o sal do suor afetar a cola do adesivo e fazer o absorvente sair do lugar e descer para os olhos, cobrindo a visão. Por isso preferi o modelo com gel. Nem preciso dizer que fui motivo de piada a manhã inteira, até minutos antes da largada que, como sempre na nossa categoria, seria pontualmente ao meio-dia.
 
Só de vestir o macacão o corpo já ficava suado. Fui para a largada e corri os 45 minutos sem ter problemas de suor nos olhos. Ao final da corrida, tirei o capacete e torci o absorvente, que escorreu suor como se fosse uma torneira. Muitos pilotos presenciaram esta cena, mas ficaram ainda brincando com meu acessório especial.
 
A etapa seguinte foi no Rio de Janeiro, também conhecido pelos pilotos de moto como Rio de Chuveiro, porque choveu em cinco corridas seguidas naquela pista. Menos em 1998, ano que fez um calor desumano. Quando eu circulava pelos boxes, antes do primeiro treino livre, vi que alguns pilotos já tinham, literalmente, aderido à moda do absorvente. Menos o César Barros, que apareceu com um sachê fabricado especialmente pela Shoei para fazer a mesma função do velho, bom e eficiente absorvente, só que muito mais caro. Ou seja, minha "invenção" já existia e eu nem sabia.
 
* Texto publicado no livro “O Mundo É Uma Roda” (editora SpeedMaster) à venda no site http://www.motonline.com.br  ou http://www.linhamoto.com.br

 

publicado por motite às 14:37
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Segunda-feira, 17 de Novembro de 2008

Cartas dos Leitores

 

(Burgman 400: teste foi feito, mas perdi o texto... Foto:Tite)

 

Burgmão 

Salve Grande Tite. Ainda não desisti de ver o seu "impressões ao pilotar" da Burgman 400. Caramba, aqui no blog pode, esse espaço é só seu. Conta pra nós o que aconteceu naquela curva. E o site Motite, sai quando?
Mário Sérgio Figueredo
 
Poutz, Mário, bem lembrado... eu tinha esquecido desse teste! Bom, posso adiantar que só não me estabaquei naquela curva porque meu anjo da guarda foi muito rápido. Eu estava subindo a serra de Campos de Jordão com minha linda e querida esposa na garupa. Fiquei distraidão olhando a paisagem e não percebi que a curva seguinte estava muito mais perto que imaginei. Além disso, “esqueci” que estava de Burgmão e entrei na curva como se estivesse de moto. E eu estava beeeeemmm mais rápido do que minha vã consciência permitia. Comecei a fazer a curva para a esquerda e o cavalete raspou no chão. Eu precisava inclinar mais pra conseguir fazer a curva, mas o cavalete não deixava. Olhei para o muro de concreto na curva e já me preparei para encher o cucuruto na parede quando fiz a derradeira tentativa de frear (com o freio traseiro, sempre) e inclinar mais ainda. A moto foi lá na faixa branca mas consegui fazer a curva. Continuei como se nada tivesse acontecido até que uns km depois minha jovem e querida esposa bateu no meu ombro e perguntou “Por acaso nós quase caímos ali atrás?”. E respondi “Sim, mas consegui corrigir”. O que ela disse em seguida é inadequado a menores e não fica bem repetir neste blog.
 
Capacete
Tite! Tudo certo? Será que pode me dar uma mão? O assunto é capacete e o barulho do vento! Tenho um EBF Spark. Em baixas velocidades, o barulho do vento é aceitável, normal, nem tem. Chegou a 80, 90... 100... terrível!!!
Comecei a pesquisar para comprar um outro. A primeira coisa que reparei foi a diferença das viseiras. Nos mais caros, a viseira é uma peça só, e não como esse acima, com uma placa lateral para prender. Imaginei que as entradas laterais dessa placa pudessem ser o motivo de tanto barulho nos 100km/h. Para testar, vedei a viseira inteira com fita isolante e saí na estrada. Resultado: mesma coisa.
Coloquei a mão por baixo do capacete, do lado, perto da orelha e percebi alguns "buracos".  Tentei fechar com a mão pareceu ser ali o problema. Voltei pra casa e peguei alguns pedaços de panos. Coloquei o capacete, fui colocando panos nos buracos que ficavam do capacete e saí novamente. Resultado: nem percebi chegar a 100km/h!!!
O meu EBF é 60. Comprei folgado mesmo. Só usava na cidade. Tenho um outro PEELS Mach 5 (percebeu que só tenho capacetes de qualidade! hehehe mas este foi ganho em uma promoção de frase do Arena Cross "Motoca revisada, bagagem amarrada e PEELS na estrada!) Esse PEELS é 58, fica firme na cabeça. Bem melhor que o EBF tamanho 60. Mas mesmo entrando justo, esse também tem barulho de vento. E parece que é mais que o EBF largão.
Então pergunto: qual comprar pra não sofrer tanto com o barulho do vento? Sei que a vida não tem preço, segurança em primeiro lugar, mas não queria gastar 1000, 2000, 3000 num capacete! Quero comprar um de +/- 300... 400...500... 600 (e rezar sempre antes de sair de moto!! hahaha)
Ah, outro problema que encontrei no EBF é a rotineira quebra das peças da viseira. Como quebram! Sem falar nas peças das entradas de ar.
Ah, li o livro em duas noites. No aguardo do próximo!
Tanaka
 
Bão, Tanaka, vc já percebeu algumas características importantes sobre capacete:
1)      NUNCA compre capacete maior do que seu número normal. O capacete precisa OBRIGATORIAMENTE ficar muito justo na cabeça, senão ele não cumpre sua função protetora com total eficiência. Os médicos plantonistas perceberam um dado interessante: às vezes o motociclista chegava com uma lesão de um lado do crânio, mas o capacete estava arranhado do lado oposto. Perceberam que o capacete folgado demais permitia que no momento do choque do capacete com o solo a cabeça balançava tanto dentro do casco que se chocava contra o próprio capacete, como se fosse o efeito de uma bola de basquete que bate no chão e volta. Usando o exemplo da bola, perceberam que o capacete deveria bater no chão, mas a cabeça não podia movimentar dentro, como se fosse uma bola de futebol de salão que bate no chão e não pula de volta.
2)      A viseira precisa ser uma peça inteira, de preferência sem encaixe externo. A calota não deve ter entradas de ar muito salientes para não gerar ruído nem ficar mexendo com a ação do vento. O mecanismo de abertura da viseira deve ser MANUAL, nada de botões para abrir e fechar a viseira. Quando fechada a viseira deve permitir uma total vedação ao vento e poeira.
3)      A forração deve ser de tecido anti-alérgico. Escolha um tecido de toque macio porque sua cabeça vai ficar encostando nele por horas a fio.
4)      Deve haver espaço suficiente para permitir uma boa audição. A espuma interna não pode tampar completamente os ouvidos.
5)      O fecho pode ser de engate rápido ou de argola dupla, o importante é escolher um capacete com a cinta jugular de toque macio porque também vai ficar encostando o tempo todo no pescoço.
6)      Dê preferência para calota de fibras (fibra de vidro, carbono, kevlar etc). As calotas de plástico são mais baratas, leves, mas têm a característica de “repicar” no choque com asfalto, como a bola de basquete.
7)      Por último: não economize – muito! Lembre que um dia de UTI pode custar mais de 10 capacetes caros! 
 
Oval
Opa Tite, Blz? o blog tá massa, seguinte: tenho uma cbx 200 e o freio traseiro está ruim D+, troquei as lonas e , quando vc aciona ele e a moto está quase parando nota-se que têm momentos que o freio trava mais (tipo o freio de bike quando o aro está torto e fica pegando mais em alguma parte), a lona está nova e quando aperto o pedal de certo ponto para baixo ele fica macio e agarra e fica pesado para a mola fazer ele voltar, andei vendo e o cubo está um pouco gasto, acho que pode ser isso, será? outra coisa que me falaram para por um enchimento no cubo, mas nunca vi isso será que fica bom?
Carlos
Cachoeira – RS
 
Sim, seu cubo está ovalizado. Vc pode usar duas saídas, a pobre é mandar retificar a pista frenante do cubo, mas as lonas vão gastar mais rápido e será preciso adaptar espaçadores para permitir a regulagem do freio. A solução certa é trocar a roda toda. O enchimento do cubo é uma solução mais porca do que a retífica. O problema é que a CBX tem roda de liga e não dá pra trocar só o cubo. Por isso prefiro rodas raiadas...

Bolsas
Olá Tite! Ainda sobre bauletos. Se motos desse estilo esportivo, como a Comet, não podem usar baú, existe algum estilo que seja mais apropriado ou preparado para usá-lo?
E insistindo na Comet, como se leva "bugingangas" nela? (e isso é uma coisa que você deve saber...!!! hahahahaha...!!!)
Robson Leonardo Carvalho dos Santos
 
Vc tem duas opções: usar aquelas horríveis bolsas de tanque (que invariavelmente arranha a pintura) ou os alforjes laterais. A opção mais corriqueira é simplesmente amarrar no banco do passageiro, sem o passageiro, claro. Mas esqueça os baús e bauletos em motos esportiva... Qualquer moto de estilo clássico pode levar baús e bauletos sem problemas...

Piloto
Tite, Blz? Sei que você tem muitos contatos com "gente grande", você já deve saber que eu amo motos, se não souber já esta avisado rsrsrs, eu estou infeliz com meu serviço, meu sonho desde pequeno é ser piloto de motovelocidade, leio todos os seus artigos e coloco todos em prática. Já ganhei de muita twister aqui na minha cidade apenas usando suas técnicas, isso porque eu tenho uma titan 150 (na minha cidade ninguem da pega comigo). Estava tentando achar algum site das equipes de motovelocidade, mesmo as de 250cc, para que eu possa estar fazendo algum teste ou sei lá. Vou fazer um video de como eu piloto nesse fim de semana, se você pudesse me ajudar com algum e-mail de alguma equipe eu agradeceria muito, eu seria eternamente grato. Quando eu terminar o vídeo eu te mostro, ai você também poderá ver (ou não) se eu tenho chance ou se apenas vou ser mais um sonhador no mundo das duas rodas. Obrigado desde já. Ah, nessa segunda eu compro seu livro, quero autografado viu hehe. Aê Tite, um video provando que o uso do knee-down é só pose para foto. http://www.youtube.com/watch?v=IoyB7i_dhlY
André

Como eu escrevi aqui mesmo no Motite, a melhor forma de começar nas competições é ir nas corridas. As equipes não contratam piloto apenas vendo um filme, ser piloto é muito mais que saber fazer uma curva ou dar ralo nos amigos de Twister. Vc precisa se interessar e comparecer nas corridas, se oferecer como mecânico, ajudante, lavador de peça, qualquer coisa e quando conquistar a confiança da equipe pedir pra fazer um teste na moto de corrida. Esse é um passo. Putz, não conheço muitas equipes assim. Mas tenho uma grande notícia, em 2009 deveremos ter duas novas categorias para pilotos novatos. Fique de olho! Hahahah eu já vi esse vídeo. Eu fazia isso na rua mesmo!

Triciclo
Tite, sou um grande admirador do seu trabalho, e não sei se você continua envolvido nos assuntos do mundo das motocicletas, porém como é uma dúvida do meu pai, resolvi apelar para seu conhecimento. Eu visitei o salão da motocicleta e tirei foto de um triciclo, porém este era bem simples e pequena, quando estava mostrando as fotos ao meu pai, ele ficou muito interessado em um desses. Meu pai já tem 60 anos e nunca subiu numa motocicleta, nem tem habilitação A, porém disse que gostaria de ter um triciclo desses, pois seria viável já que ele mora no interior de SP, econômico e ele não 'cairia'. Procurei em vários sites e não encontrei nenhum modelo desse tipo, só um da Harley Davidsom e outros preparados que são fabricados com motores grandes para customização. A pergunta é, você sabe se já existe esse tipo de triciclo no mercado nacional, e onde posso encontrar mais informações. Grato desde já por qualquer ajuda, e sentimos sua falta no motonline, embora o pessoal manteve o ótimo trabalho!
Douglas Sanches
 
Não lembro de ter visto algum triciclo pequeno, só aqueles enormes com motor de Fusca. O que tem muito é quadriciclo, que não recomendo usar no asfalto porque é difícil de pilotar. O triciclo mais conhecido é o By Cristo mas com motor VW. Já pilotei um desses e me diverti pra caramba!

 

 

publicado por motite às 18:58
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