(Conhece essa moto? vem da Bielo-Rússia, outra desconhecida. Foto:Mário Bock)
Você conhece uma moto chamada Minsk? Não? Nem eu! Apesar de ter escrito este “teste” na base do “ou dá ou desce”, ou seja, ou eu escrevi isso ou o departamento comercial fritaria meu fígado com cebola. Como eu precisava muito de emprego... o resultado é mais uma lêndea do motociclismo brasileiro, que nunca foi vendida. Se alguém comprou essa moto por causa deste teste pode me mandar pro inferno porque eu mesmo já garanti a vaga ao lado do tinhoso por conta dessa matéria dos diabos! Bom proveito.
Minsk 125*
Chega da Rússia uma proposta de moto popu1ar, com tecnologia simples a um preço baixo: R$ 2.090
Que tal uma moto ao preço de um ciclomotor? Essa é a proposta da Minsk, uma robusta 125cc - com motor dois tempos, um cilindro - fabricada na Belárus, ou Bielo-Rússia, ex-república soviética e importada para o Brasil pela Nacar Imports (São Paulo, SP) e pela Mototrading (Fortaleza, CE). Seu preço de lançamento, já incluído o novo imposto de importação de 70% é de R$ 2.090, mas poderá até ser reduzido, quando começarem os processos de nacionalização que os importadores pretendem fazer.
O primeiro contato com a Minsk provoca um susto: ela lembra as 125 dos anos 60, mais precisamente as Yamaha todo terreno, como a TT 125, mas com acabamento bem rústico. O plástico foi praticamente esquecido no projeto da Minsk e a maioria das peças é feita em chapa de aço, incluindo pára-lamas e laterais. O guidão é alto e aberto, com cross-bar e os punhos são feitos de liga. Curiosamente uma das peças feitas de liga leve é justamente o cavalete central, que na maioria absoluta das motos é de tubos de aço.
Tudo na Minsk é projetado para resistir às condições adversas de clima e terreno dos países do leste e centro europeu, onde as temperaturas podem chegar a 20 graus negativos, ou 40 graus positivos e as estradas asfaltadas quase não existem. O sistema elétrico, por exemplo, é com magneto e não existe bateria, porque em temperaturas muito baixas até o ácido da bateria congela.
Por não ter bateria, todo sistema de iluminação e sinais só funcionam com o motor ligado. A buzina, por exemplo, tem sua intensidade variável, conforme as rotações do motor. Da mesma forma, os piscas ficam mais rápidos conforme se acelera.
Pensando nas regiões isoladas por onde rodam os consumidores tradicionais da Minsk, o conjunto de ferramentas é completo, incluindo kit de reparo dos pneus, com espátula, remendo, bomba e calibrador. Dificilmente alguém fica parado na estrada com a Minsk, até por questões de sobrevivência, já que um pneu furado no rigor do inverno pode colocar o motociclista numa situação de alto risco.
RODANDO
Na hora de ligar, a primeira surpresa: o pedal de partida fica do lado esquerdo, junto ao pedal de câmbio, um sistema semelhante ao da Jawa 250cc, de 1949. Para facilitar a partida, existe um afogador que fica no corpo do carburador (Bing de 26mm), cujo funcionamento também é semelhante ao dos antigos carburadores ingleses. Basta apertar um pino várias vezes para baixar a bóia na cuba do carburador, aumentando a quantidade de gasolina e enriquecendo a mistura. O carburador é por guilhotina, com um desenho retangular, ao contrário dos modelos japoneses, que são tubulares.
Não dá para esperar um alto desempenho de um motor simples, com potência máxima 10 cv a 6.000 rpm. Segundo o fabricante, a velocidade máxima é de 85 km/h, valor fácil de alcançar. A maior qualidade está na resistência, resultado da transferência de tecnologia entre a Minsk e a MZ Sirmson, da ex-Alemanha Oriental. O motor de l25cc é praticamente o mesmo da MZ 125, dois tempos, com mistura de óleo dois tempos feita diretamente no tanque de gasolina. A proporção recomendada pelo fabricante, para os 11 litros de gasolina do tanque, é de 50 cc de óleo para rodar na cidade e 60 cc para rodar na estrada. O consumo de gasolina, segundo dados do fabricante, chega a 31 km/litro.
O ronco também lembra o motorzinho da Yamaha TI 125, só que mais silencioso, em função do escapamento. Primeira engatada, (câmbio de quatro marchas), a pequena 125 começa a se revelar. O motor demora para ganhar rotações, mas depois de embalado reage como urna dois tempos à moda antiga, ou seja, pouca força em baixa rotação, mas boas respostas em alta rotação.
O banco tem cobertura de espuma muito macia, fazendo com que o traseiro do motociclista sinta a dureza da chapa metálica do assento. Nos planos de nacionalização da Minsk, deverá ser estudado um novo tipo de espuma mais consistente, que permita rodar por mais tempo sem massacrar o motociclista.
A boa surpresa são os freios, a tambor mas muito eficientes. Os cabos de acionamento do freio e embreagem não têm regulagem na ponta superior, apenas nas extremidades inferiores, como nos ciclomotores e bicicletas.
A estabilidade é bem limitada pelos pneus de uso misto, de fabricação russa. Aliás, outra curiosidade a respeito da Minsk é a forma de substituição dos pneus. Devido aos custos reduzidos das peças, os pneus são vendidos junto com as rodas. Ou seja, quando o pneu fica careca, troca-se todo o conjunto de rodas e pneus. Na Bielo-Rússia, é claro!
Uma das vantagens da Minsk deverá ser justamente a facilidade de reposição de peças e o baixo custo de manutenção, segundo os importadores. Cada revendedor se compromete a comprar um lote mínimo de peças de reposição. Soma-se a isso o fato de as peças da Minsk serem de reconhecida resistência a quebras e desgastes e o resultado é um veículo que oferece transporte por baixo custo. A corrente de transmissão, por exemplo, é toda coberta por uma capa de plástico sanfonado, aumentado a durabilidade em pelo menos quatro vezes.
Em termos de acabamento e estilo, pode-se dizer que a Minsk é uma moto antiga "0 km", incorporando tecnologias dos anos 60 com algumas modernidades. A transmissão primária (que passa o movimento da ponta do virabrequim para o câmbio) é feita por corrente, enquanto atualmente se adota um sistema de engrenagens. Para compensar, a ignição é eletrônica, dispensando o arcaico platinado.
O maior atrativo de venda da Minsk será, sem dúvida, sua vocação de moto popular. Trata-se de um produto para quem procura sua primeira moto, ou quem precisa de um veículo de transporte econômico. Atualmente, o preço é semelhante ao de um ciclomotor de 50cc, mas a tendência é reduzir os custos quando começarem as importações através de Nova Palmira, Zona Franca do Uruguai. Nesse caso, os impostos de importação serão menores, graças aos incentivos do Mercosul. Hoje, a Minsk 125 é vendida em 50 países, incluindo Argentina e Uruguai. De acordo com os planos da Nacar Imports, a redução das alíquotas de importação poderá viabilizar projetos de alterações na Minsk para modernizar a pequena 125 e tomá-la mais confortável.
De onde vem a Minsk?
O nome oficial da fábrica é Minsk Motorcycle and Bicycle Company, fica na Belárus (Bielorússia), país da Europa Central e tem 50 anos de atuação, desenvolvendo motos específicas para trabalho. O catálogo (impresso em cinco idiomas), que acompanha a Minsk 125 a identifica como "Motocicletas para regiões rurais". Por isso sua estrutura é robusta e simples.
A Minsk produz 20.000 unidades por mês dos dois modelos de 125cc, um mais voltado para fora-de-estrada, com pára-lama dianteiro alto e o outro, mais estradeiro, que será o escolhido para as primeiras importações ao Brasil. Esses dois modelos são vendidos em mais de 50 países. A meta da Nacar lmports é trazer 3.000 unidades neste primeiro ano, projetando 6.000 unidades para 1996.
* Publicado originalmente em Duas Rodas/julho de 1995.Foi mantida a redação original.