Quarta-feira, 28 de Maio de 2014

O suspeito

 

(Câmera no capacete é seguro???)

 

Médico aponta para o risco de câmera no capacete

 

O acidente com o ex-campeão mundial de Fórmula 1, Michael Schumacher já completou cinco meses e o alemão continua em coma, lutando pela vida. Muito se especulou sobre o acidente - e continua até hoje, por uma desnecessária e exagerada cautela da família - mas não se teve conhecimento de nenhum laudo oficial sobre o que exatamente poderia ter provocado um trauma crânio-encefálico tão grave.

 

Em meio a boatarias, já que não há notícias oficiais, o ex-piloto já foi até declarado como morto, mas recentemente a porta-voz dele afirmou que já estaria reconhecendo pessoas e com sinais de consciência.

 

Independentemente do seu estado, fica uma suspeita no ar: o que teria provocado uma lesão tão séria e grave, durante uma queda de esqui, mesmo com o uso de um capacete?

 

Levando-se em conta que um esportista com sete títulos mundiais, como é o caso de Schumacher, não é exatamente uma pessoa displicente no tocante à segurança, pode-se imaginar que ele estivesse usando um equipamento adequado e até o mais sofisticado, feito sob medida, por alguma empresa que adoraria ver sua marca estampada na cabeça de uma celebridade. Portanto chamou a atenção de um médico paulistano como um acidente de esqui poderia ter causado uma lesão tão séria, mesmo com o uso de equipamento específico.

 

Para o neurocirurgião Sérgio Roberto Simões, 57 anos, a grande suspeita é a mini-câmera de vídeo instalada no capacete do ex-piloto:

 

- Hoje essas pequenas câmeras se popularizaram e são usadas por vários esportistas, mas os capacetes não foram fabricados prevendo esse acessório.

 

Segundo o médico, que é também motociclista há mais de 40 anos, pela descrição das lesões o trauma foi na parte frontal do crânio, local onde normalmente é acoplada a câmera.

 

- Essas câmeras são leves e os suportes são feitos de forma a desacoplar facilmente, mas tudo indica que o ângulo do choque fez a câmera ser empurrada para dentro do capacete.

 

 

(Os parafusos podem atravessar o casco)

 

É bom lembrar que no suporte de fixação da câmera tem parafusos que regulam o enquadramento. E esses parafusos são feitos de metal, o que não combina nem um pouco com a estrutura de um capacete.

 

- Os capacetes devem ter peças exclusivamente de plástico e que se destroem no caso de um choque, justamente para evitar que perfure o casco, explica o médico.

 

 

(Nada deveria ser fixado na parte frontal do casco)

 

De fato, os capacetes são feitos de forma a dissipar o impacto, mas também proteger contra perfurações. No entanto o casco não pode ser "duro" senão o choque se transfere para o crânio, ele precisa ser deformável. A instalação de um componente com metal nessa estrutura pode vir a agravar uma lesão, dependendo co ângulo de impacto.

 

- Os capacetes de esqui são abertos, sem viseira, então imagine se o choque literalmente empurrar a câmera contra o rosto, alguma peça pode realmente perfurar o osso frontal do crânio.

 

Tudo que envolveu o acidente alemão, enquanto esquiava nos Alpes franceses, foi mantido sob segredo, mas na época uma imagem feita no local do resgate mostrava manchas de sangue na neve, o que reforça a teoria de que houve efetivamente uma perfuração.

 

Por enquanto trata-se de apenas uma hipótese levantada pela análise das lesões descritas pelos porta-vozes do ex-piloto e dos médicos, mas fica a advertência com relação às câmeras. É cada vez mais comum ver motociclistas e esportistas de aventura usando as câmeras no capacete, segundo o Dr Sérgio Roberto Simões, "existem acessórios específicos para 'gripar' a câmera na moto, bicicleta ou no tórax, sem comprometer a região crânio-encefálico que é vital e frágil".

 

Basta saber que o capacete não foi projetado para receber esse acessório extra para entender os riscos dessa mania. Pior que é cada dia mais comum motociclistas que instalam câmeras no capacete e rodam em velocidades elevadas. "Tente imaginar a força de uma pequena e leve câmera a 200 km/h impactando contra o solo, pressionando o capacete para perceber os riscos envolvidos", esclarece o médico, que ainda conclui:

 

- O casco do capacete deve ser liso, sem interferência externa, nem peso extra. Qualquer peça colocada pode agravar uma situação já crítica. Só a pressão aerodinâmica sobre a câmera já compromete a estabilidade do capacete. É melhor instalar na moto!

 

De fato, o acidente que vitimou Ayrton Senna foi uma sucessão de fatores indesejáveis, mas um deles foi letal: o braço de suspensão que se partiu atingiu o capacete como uma lança, justamente no ponto mais vulnerável do casco, entre a viseira e a borracha de isolamento. Felipe Massa também foi atingido por uma mola igualmente na parte frontal, perto da viseira. E as câmeras geralmente são colocadas perto das viseiras!

 

Essa advertência serve não só para motociclistas, mas para todo praticante de esportes de natureza que chegam mesmo a fixar a câmera diretamente na cabeça, sem o capacete. Portanto, escaladores, ciclistas, maratonistas, esquiadores, pára-quedistas, cavaleiros e demais aventureiros, fiquem ligados com o perigo de a câmera ser um fator agravante em caso de quedas.

 

 

publicado por motite às 15:01
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Quarta-feira, 21 de Maio de 2014

A criminalização da vítima

 

(Aaaah se eu te pego!!!

 

Recentemente a opinião pública ficou chocada com o resultado de uma pesquisa que mostrou um lado cruel do comportamento humano. Segundo a pesquisa, a maioria dos entrevistados acredita que a mulher é culpada em caso de violência sexual, porque sai de casa de minissaia ou decote. Ou seja, transfere para a vítima a violência praticada pelo algoz.

 

Este tipo de raciocínio serve para medir como o senso comum pensa e reage, mas naturalmente não reflete o pensamento de todos. Fosse a pesquisa realizada em uma universidade certamente a resposta seria diferente (ou não, né Geisy Arruda?). Mas o incômodo das pesquisas é que elas revelam o comportamento médio de uma parcela da sociedade, de diferentes níveis. O que os teóricos da sociologia chamam de "comportamento de massa".

 

Transferindo esse tipo de pensamento para o trânsito podemos perceber o quão distorcida é nossa sociedade. Basta o exemplo simples da linha de pipa com cerol, que já vitimou motociclistas e ciclistas por todo o Brasil. Usar cerol (vidro moído colado na linha) é proibido e está na Lei. Mas o Estado é incapaz (ou desinteressado) em fiscalizar e transfere para a vítima o ônus desse acidente, obrigando o uso de antena anti-cerol por motofretistas. E quem não usar é multado!!! É como se amanhã fosse criada uma lei que impedisse as mulheres de saírem de casa de minissaia ou vestido decotado. Trata-se do mesmo tipo de ação.

 

Quando esse tipo de atitude vem do senso comum, daquele comportamento de massa é totalmente compreensível, porque massa, seja ela de bolo, de argila ou de pessoas é facilmente moldável. Pode-se dar à massa o formato que quiser, mas quem molda a massa? No caso do bolo é o confeiteiro, no caso da argila é o artista, mas e no caso do povo?

 

Até duas décadas atrás creditava-se essa capacidade de moldar o pensamento aos meios de comunicação de massa. Pedagogos e intelectuais condenaram a televisão como o demônio do século 20. Há quem indique a religião, outros o Estado, mas não dá para definir como um comportamento se espalha e altera a psique de uma sociedade.  

 

Atualmente o vetor que mais facilmente tem alterado o comportamento é a internet, por meio de textos apócrifos com falso conteúdo "científico" e espalhados como se fossem verdadeiros até mesmo por pessoas inteligentes e de formação superior! Porque sabe-se há décadas que uma mentira bem contada repitas vezes se torna uma verdade.

 

Mas e quando essa distorção da realidade vem dos profissionais que deveriam combatê-la?

 

Recentemente uma grande rádio de São Paulo deu espaço para um "especialista", que atua na área de saúde pública, para falar sobre o "problema das motos". Claro que o depoimento foi carregado de preconceitos e temperado com expressões como "legião de mutilados", "estropiados" e por aí a fora. Todo o discurso do médico foi no sentido de condenar o veículo motocicleta como o algoz, sem jamais, em momento algum trazer ao público o papel do motociclista, ou seja, da pessoa que monta em cima da moto. Ou ainda, devolver ao Estado a culpa por formar maus motociclistas e motoristas.

 

Só para exemplificar: em dado momento o entrevistado afirmou ter medo de pilotar motos porque um parente próximo foi vítima de um acidente fatal. Daí vem dois questionamentos:

 

1) Você já viu qualquer alguém afirmar que vendeu o carro porque um parente próximo morreu em uma acidente de carro?

 

2) O número de vítimas fatais por atropelamento é maior do que em motos, mas ninguém nunca veio a público, em um meio de comunicação, afirmar que andar a pé é perigoso ou que vai parar de atravessar as ruas porque um parente próximo morreu atropelado!

 

A motocicleta, enquanto veículo e meio de transporte, está sendo criminalizada como a grande responsável pelo que se convencionou chamar de "carnificina", quando na verdade o alvo deveria estar no SER HUMANO!

 

Sempre tem aquele discurso monocórdio que afirma: "ah, mas na moto a pessoa está vulnerável em caso de acidentes nos quais o motociclista não teve responsabilidade".  Sim, é parcialmente verdadeiro, mas esse tipo de acidente representa 4% de todos. O restante 96% teve influência direta de quem estava pilotando, seja no comportamento de risco (68%), seja na falta de um comportamento preventivo (28%). Basta analisar a quantidade espantosa de pessoas pilotando motos sem habilitação ou auto-didata.

 

Em suma, a moto está pagando o preço de uma sociedade cada vez mais violenta, mal educada e especialistas mal informados. O pior é que visões distorcidas geram respostas igualmente desfocadas, como os recentes casos de linchamentos que nos levaram de volta à Idade Média. Com base nestes pensamentos retrógrados políticos criam e votam leis que geram mais preconceito contra o veículo motocicleta, como a agressiva proibição de entrar em postos de gasolina vestindo capacete! Bem vindo à Idade Média!

 

Só para finalizar, como esperar uma resposta séria e responsável da categoria política se ela é formada por seres humanos que vieram da sociedade? Político não veio de outro planeta, não nasceu em laboratório, ele veio do povo. O mesmo povo que trata a mulher vítima de violência sexual como a culpada e o estuprador como vítima! O mesmo povo que promove linchamento. É nesse tipo de pessoa que está condenado o nosso destino...

publicado por motite às 12:59
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Quarta-feira, 14 de Maio de 2014

A arte de fazer carros de corrida

 

Ralliart Brasil: Mitsubishi Motors apresenta nova divisão de alta performance

 

Equipe será responsável por projetar, fabricar, desenvolver, preparar e customizar veículos que encarem os mais difíceis desafios no asfalto e na terra

 

A Mitsubishi Motors apresenta a Ralliart Brasil, divisão de alta performance que agora chega ao país trazendo ainda mais tecnologia e desempenho para os veículos Mitsubishi em competições na terra e no asfalto.

 

“Em todo o mundo, os veículos com a grife Ralliart têm o equilíbrio perfeito entre performance dinâmica e prazer ao dirigir. Mais do que isso, a grife representa o aprendizado adquirido em quase três décadas de desenvolvimento e produção de carros de competição”, garante Robert Rittscher, presidente da Mitsubishi Motors do Brasil.

 

Ao longo dos anos, os veículos Ralliart conquistaram os maiores títulos do automobilismo mundial: foram 12 vezes campeões do Rally Dakar, maior prova de rali do mundo, quatro vezes do World Rally Championship (WRC), mundial de rali de velocidade, 11 títulos no P-WRC, com carros de produção, além de inúmeras conquistas em campeonatos nacionais, regionais e europeus.

 

“A Ralliart Brasil será responsável por projetar, fabricar, desenvolver, preparar e customizar veículos que encarem os mais difíceis desafios da terra e do asfalto”, explica Guilherme Spinelli, diretor da Ralliart Brasil. “As competições são nosso grande laboratório, onde podemos testar todos os componentes no limite máximo e desenvolver produtos mais resistentes e com uma tecnologia superior”, completa.

 

 

A Ralliart Brasil já nasce com uma grande estrutura. Com sede na cidade de Mogi Guaçu, interior de São Paulo, está instalada em uma área de 10.000 m2, com todos os equipamentos necessários para projetar e preparar veículos de alta performance. Tem um escritório de engenharia avançada na França, chefiada por Thierry Viadort, que esteve à frente da Ralliart Japão por 26 anos e conquistou, entre outros títulos, 12 vezes o Rally Dakar. Além disso, conta com todo o complexo do autódromo Velo Città, local de testes e adequação dos veículos, e o apoio da fábrica da Mitsubishi Motors em Catalão, responsável pela produção de peças e veículos.

 

Hoje, a equipe da Ralliart Brasil é responsável por 84 veículos, entre picapes L200 Triton utilizadas na Mitsubishi Cup, os modelos Lancer, que disputam a Lancer Cup, os protótipos de desenvolvimento, além dos carros que enfrentam o Rally Dakar, Rally dos Sertões e o Campeonato Brasileiro de Rali Cross-country.

 

“Esses veículos participam de diversas competições durante o ano e em várias partes do Brasil e do mundo. Além da manutenção antes e depois de cada prova, nossa equipe está sempre trabalhando para aperfeiçoar ainda mais os modelos em durabilidade, resistência e tecnologia”, afirma Spinelli.

 

São 30 anos de história, trabalho e comprometimento. Hoje, a Ralliart está presente em mais de 20 países, mas somente no Brasil está ligada diretamente à fábrica, adquirindo um importante know-how e troca de experiências para um melhor aproveitamento dos veículos.

 

Sit&Drive Ralliart Brasil

Além de toda a tecnologia, comprometimento e alta performance, a Ralliart Brasil destaca-se pela comodidade e equilíbrio que oferece aos pilotos através do sistema sit&drive. Desde a preparação, passando pela logística, até a manutenção no local da competição, é de responsabilidade da equipe de profissionais especializados da Ralliart Brasil.

 

 

(sobrou até pra mim... volta rápida ao lado do Ingo)

 

Os pilotos só precisam chegar no dia da prova com seu macacão e capacete. O carro estará pronto para largar, devidamente revisado e abastecido. “Isso possibilita que nos concentremos somente na pilotagem. É ótimo poder chegar de manhã e saber que iremos largar com o carro pronto, totalmente revisado por uma equipe que entende do assunto. Isso nos ajuda a conquistar resultados ainda melhores”, comemora o piloto João Franciosi, campeão do Rally dos Sertões com uma L200 Triton.

 

A Mitsubishi Motors oferece um pacote completo para o piloto. Além do carro de fábrica e de toda a preparação para uma competição, há mais de 15 anos organiza o principal campeonato de rali cross-country do País, a Mitsubishi Cup, referência no cenário nacional. E, pela segunda temporada, realiza a Lancer Cup.

 

Tanto na terra, como no asfalto, a Ralliart Brasil oferece os carros e um pacote completo de serviços para atender os pilotos e suas famílias, que podem usufruir de um lounge, com espaço confortável, bebidas e alimentação, durante todo o dia de disputas.

 

“Para nós, é um sonho de consumo. Não nos preocupamos com nada. É como o nome diz: ‘sit&drive’. Nós sentamos e corremos”, comenta o piloto Sergio Maggi, que participa da Lancer Cup pelo segundo ano.

 

O sistema sit&drive Ralliart Brasil também está presente nas maiores provas off-road do mundo, como Rally Dakar e Rally dos Sertões, além das etapas do Campeonato Brasileiro de Rali Cross-country. “Temos os veículos certos para cada competição, seja uma etapa de fim de semana do Brasileiro ou os 15 dias de Rally Dakar. Nossa equipe está preparada para fornecer todo o suporte e logística para os pilotos se preocuparem apenas com o prazer da corrida”, destaca Guiga. Além disso, a Ralliart também tem veículos de competição que são customizados de acordo com a preferência de cada piloto e o tipo de prova que pretende disputar.

 

Próximos passos

A Ralliart Brasil já trabalha na criação de kits exclusivos para os veículos Mitsubishi.

 

“Estamos empenhados no desenvolvimento de kits de customização. O cliente poderá adquirir uma personalização exclusiva, seja para melhorar a performance ou mesmo criar um aspecto inovador, único”, explica Fernando Julianelli, diretor de Marketing da Mitsubishi Motors.

 

Ralliart Brasil

Site: www.ralliartbrasil.com.br

Facebook: www.facebook.com/RalliartBrasil

 

publicado por motite às 19:43
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Imagina na Copa

 

Em homenagem à Copa do Mundo e todos os gringos que baixarão por aqui, uma doce lembrança do Rio de Janeiro nos anos 80. Esta crônica faz parte do livro O Mundo É Uma Roda, que vc pode adquirir comigo mesmo, assinado, autografado e beijado pelo e-mail tite@speedmaster.com.br pela bagatela de R$ 30,00 + frete. Pede logo que estou duro!

 

O Rio de Janeiro continua lindo

 

Histórias de um fotógrafo de Fórmula 1

 

Estava eu, zanzando pelos boxes de Jacarepaguá em 1981 (ou 83, sei lá) quando um grupo de jornalistas alemães brancos como umas bribas chegou na maior cara de pau me pedindo pra levá-los no Maracanã ver jogo de fussball. “Nem f***”, respondi educadamente, porque não curtia futebol naquela época e aqueles caras fediam tanto que jamais entraria num carro com aquele murundum todo. Até que um deles sugeriu “entao vamos ver um sambao” (assim mesmo, sem til nos as). E continuei ajeitando minha Pentax ME Super II sem ligar pros caras até que um deles falou a palavra mágica: “Nós podemos pagar!”.

“Uh, money makes the world go around”, pensei com meus botões e mandei um valor pros caras recusarem: 50 Marcos por cabeça (dava mais de 50 dólares cada). Os caras toparam!

- Ja, gehen vier jezt, leute! – comecei a falar alemão de uma hora pra outra.

Só que eles estavam em seis e eu de moto. Liguei prum cumpadre carioca e disse que tinha 20 pratas (brasileiras, é claro, coisa tipo 50 reais) pra ele emprestar a Rural 1968 por uma tarde. O cara, numa pindaíba de dar gosto, topou na hora e ainda levou o carro até a porta do circuito. Quer dizer, carro é um eufemismo, era uma carroça caindo aos pedaços, sem freio de mão, sem bateria e fedendo a cachorro molhado porque o cara tinha uns 12 vira-latas que usavam a Rural de dormitório. Quando os gringos bateram o olho no carro até ficaram emocionados:

- Que legal, seu amigo coleciona carros antigos?

- É, respondi, tem uma coleção raríssima com várias Kombis, Fuscas, Galaxies e Corcel. Preferi omitir que o cara era atravessador de um ferro-velho, mas afinal, eram carros antigos, não eram?!

A parte do sachê de cachorro molhado foi fácil resolver porque a catinga dos alemães era mais forte do que todo o canil da prefeitura debaixo de chuva. Mas a cada vez que precisava ligar a geringonça os gringos tinham de descer e empurrar. Imagine isso num calor de 40°C com os caras suando mais do que tampa de marmita, e a catinga aumentando.

Lembrei de um negão que trabalhou comigo na produção de um comercial de TV e ele deu a letra de um ensaio perto de nada menos que a subida da Rocinha. Bom, 23 anos atrás favela era ponto turístico e a gringaiada adorava passear pela favela. Quando passava uma criança bixiguenta com o bucho estufado de vermes, os gringos repetiam “Oh, vie süsser kinder” (* que criança fofinha!).

Parei a Rural em frente ao ginásio, já endireitada na descida para facilitar a partida e calcei as rodas com quatro tijolos. Por garantia arranquei o cachimbo da bobina e meti no bolso. Eu já tinha fotografado o carnaval do Rio no tempo da avenida, mas nunca tinha visto um ensaio. Quando a bateria começou a tocar dava pra sentir o bumbo batendo no meu plexo braquial. Os gringos quase choraram de emoção e eu de felicidade.

“Nunca foi tão fácil ganhar 300 dólares”, pensei, já imaginando o destino daquela grana, que equivaleria hoje a algo como 1.500 reais. Como nunca fui muito bom de samba e estava me sentindo mais deslocado do que cebola fatiada em salada mista, acomodei-me de frente para umas mulatas sambistas, abri umas cervejas e não falava nem ouvia nada que os gringos diziam porque tava um batuque lascado. Os alemães pulavam mais do que siri na lata, mas aparentavam inocência.

Tudo bem até que vi um dos gringos colar numa mulata de corpo escultural e pressenti que aquilo cheirava encrenca. O cara chacoalhava molenga que nem minhoca em calçada quente, pensando que estava sambando e a mulata achando que o gringo era autista. A mulata era realmente deslumbrante, por isso achei melhor interceder antes de uma desgraça se consumar. Levantei e um negão com o pescoço da largura de um poste bateu no meu ombro, apontou pro gringo e mandou: “O gringo ali é seu amigo?”

- É, mas vai deixar de ser daqui a pouco!

Nesse segundo de distração escutei um PAF! E meus joelhos já amoleceram. Virei e vi um alemão com a marca de cinco dedos na bochecha, com uma mulata pulando e gritando. Tava feita a cagada.

Gritei pros gringos “Run, seus sonófobitches, schnell, coooooorre” e saí correndo pra mostrar na mais cristalina pantomima que o tempo tinha fechado. Os cariocas nem se esforçaram muito, só fizeram menção de vir atrás, mas chegamos os sete na Rural com o rabinho entre as pernas, enxotados, com os dentes ainda dentro da boca. E cadê que eu lembrava do cachimbo da bobina. Descemos quase toda a favela e nada de a Rural pegar, o cheiro de gasolina, misturado com sovaco de gringo já tava dando náuseas e nada da carroça pegar. Os caras empurraram quase toda zona sul do Rio até que lembrei do cachimbo, mas não tive coragem de contar porque certamente eles fariam abajur com a minha pele. Discretamente, abri o capô, fiquei olhando aqueles seis cilindros em linha um tempão e quando eles saíram de perto meti o cachimbo. Empurraram mais uma vez e, cosp, gasp, tuf... pegou!

Dois anos depois cruzei os alemães de novo na F1, mas desta vez nem sequer mencionaram qualquer passeio. Uma pena, porque meu cumpadre tinha acabado de comprar uma Veraneio 71 novinha em folha, só faltava o assoalho!

 

 

publicado por motite às 14:04
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Sexta-feira, 9 de Maio de 2014

Faz parte

(Molezinha, média horária de 8 km/h em SP)

 

Profissionais de Recursos Humanos começam a olhar torto para as motos

 

O deslocamento para ir e vir do trabalho faz parte das estatísticas de acidente de trabalho. Mais do que isso, causa um tremendo impacto em uma rede produtiva que pode ser desde um simples comércio e uma complexa linha de montagem industrial. Essa preocupação já está tão presente nas relações trabalhistas que alguns profissionais de Recursos Humanos começam a selecionar quem tem carteira nacional de habilitação na categoria "A", para motociclistas. Selecionam para excluí-los do cadastro de admissão.

 

Parece exagero, mas sabe-se desde sempre que a recuperação de uma vítima de acidente de moto pode demorar 30 dias ou mais, o que causa um tremendo abacaxi para a área de recursos humanos. Imagine se a vítima for um operário que realiza um trabalho complexo e importante em uma linha de montagem. A falta imprevista desse profissional vai mexer diretamente na produção até que se consiga deslocar um "reserva" à altura, com mesmo grau de especialização e intimidade com o equipamento.

 

Segundo a pesquisa patrocinada pela Abraciclo e realizada em conjunto com a área de saúde de São Paulo, 68% das vítimas de acidente com moto não são os frotistas (moto-boys), mas sim pessoas que compraram moto em busca de mobilidade urbana. Em um artigo do advogado André Garcia, publicado na revista CIPA, em 2013, o tempo de percurso exagerado,  a baixa qualidade do transporte público e o alto custo são as condições que contribuem para o uso da motocicleta como forma de se movimentar uma cidade como São Paulo, que tem uma das piores médias horárias de deslocamento do mundo.

 

No exemplo usado pelo advogado, um trabalhador que more em São Bernardo do Campo e trabalhe no centro financeiro de São Paulo, pode gastar de 1h40min até duas horas e R$ 12, 20 por dia só em deslocamento. Se ele usasse uma moto utilitária gastaria pouco menos de R$ 4,0 e 30 minutos para fazer o mesmo itinerário.

 

(Palestras teóricas ajudam a conscientizar a segurança veicular)

 

Ah, mas ele pode se acidentar... Sim, pode, porque o sistema de habilitação é ridiculamente falho e não há forma de se especializar depois de "habilitado". Sem contar nos 28% de motociclistas que rodam pela cidade sem passar pela formação mínima necessária. Sem nem sequer ter carteira de habilitação.

 

Nesse contexto de necessidade de mobilidade eficiente e risco de acidente no ir e vir do trabalho é que deveria entrar o papel da iniciativa privada. Claro, porque nem dá para sonhar a curto prazo com uma alternativa apresentada pela administração pública, que joga contra moto desde que inventaram a roda. Qualquer cidadão que tenha estudado a história recente do Brasil sabe o quanto o País foi loteado à indústria automobilística, a ponto de se boicotar qualquer intenção de oferecer transporte público de qualidade.

 

 

(Aula prática é fundamental)

 

Em outras palavras, quem quiser se mover que se vire!

 

Já que não podemos esperar nada de efetivo das vias políticas, a esperança é que a iniciativa privada faça esse papel. E aqui vão alguns conselhos para quem trabalha com recursos humanos e se arrepia diante de uma habilitação de motociclista.

 

1) Leve informação - não espere que um neo-motociclista procure saber tudo sobre segurança e técnica de pilotagem logo depois de pegar sua habilitação. Ele(a) vai montar na moto e aprender pela pior maneira possível: na prática. Existem empresas e profissionais especializados em realizar palestras e cursos para neo-habilitados. Tenho conhecimento de redução de até 90% nos casos de acidentes com motociclistas depois de realizado um permanente trabalho de conscientização em uma grande empresa.

 

2) Incentive o uso de equipamento - curiosamente a maioria dos neo-motociclistas que trabalha em indústria já usa os EPIs - Equipamentos de Proteção Individual. Mas tiram antes de montar na moto e voltar para casa. Um dos argumentos para o relaxamento no uso dos equipamentos é o custo de aquisição. Já defendi até um financiamento consignado. A empresa empregadora compra os equipamentos diretamente do fornecedor a preço subsidiado e revende em suaves prestações aos funcionários. Mas para que isso dê certo é preciso fiscalizar...

 

3) Curso - nem sempre as palestras teóricas são suficientes para desmistificar alguns preconceitos ao pilotar uma moto, que é um veículo naturalmente mais difícil do que um carro. O exame para aprovar um novo motociclista é tão ridículo que nem sequer colocam a segunda marcha. Também existem cursos que recebem os novatos assim como profissionais que vão até a empresa e ministram cursos "in loco".

 

4) Prevenção sempre - é importante promover as semanas de prevenção de acidente de trânsito, mas lembrar que o tema "moto" deve permear todas as palestras, porque mesmo quem não pilota deve saber como reagir perto de uma.

 

5) Blitz educativa - nomeie um profissional da CIPA para fazer blitz periódicas no estacionamento das motos e verificar como está a manutenção. Itens como pneus e freios devem ser observados regularmente.

 

6) Não é lazer - existe um preconceito sobre motociclistas: todo mundo acha que nós amamos tomar chuva, voar nos buracos, levar cusparada de motoristas de ônibus ou fugir de cachorros. Nada disso, quem usa moto em São Paulo e grandes cidades o faz por necessidade. Muitos sonham mesmo é ter um carro, mas a moto é mais acessível, só por isso!

 

7) Família - ensine os neo-motociclistas que a família é o porto seguro deles. Voltar para casa inteiro e saudável é tão importante quanto manter um padrão de vida.

 

8) Tempo investido - quem recorre às motos pode economizar até uma hora e meia por dia. Aproveite para dar a estes profissionais a oportunidade de fazer um curso, praticar esportes, investir na carreira etc. O tempo que se economiza em deslocamento pode e deve ser investido em qualidade de vida.

 

E última dica: este ano será realizada de 8 a 10 de outubro, em São Paulo, a XX FISP - Feira Internacional da Segurança e Proteção, voltada aos profissionais de área de segurança no trabalho. É uma boa forma de conhecer o que existe na área de segurança veicular.

 

 

publicado por motite às 00:00
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