Sexta-feira, 30 de Novembro de 2012

Esse cara sou eu

 

O cara que sobe em você toda hora

Que monta nas costas e finca a espora

Que está todo tempo pensando e sonhando

Em sair por aí sem destino acelerando

 

E no meio da estrada se manda

Pra mostrar ao mundo como se anda!"

Esse cara sou eu

 

O cara que acelera até os duzentos

Atropela até os seus pensamentos
Te lava, enxuga e encera

E sem dó te pega e acelera

 

Por você ele corre o perigo

E encosta o umbigo

Esse cara sou eu

 

O que deita você com carinho na curva

Que te traz pra casa com sol ou com chuva

Te freia, reduz e nunca derrapa

Troca a pastilha e lixa a sapata

 

De manhã dá a partida feliz
Arruma a bagagem e diz

Esse cara sou eu
Esse cara sou eu

Eu sou o cara que não cobra nada

Nem sente falta de mais cilindrada

Que troca o seu óleo depois da balada

Esse cara sou eu

Esse cara sou eu

 

O cara que passa o domingo polindo

Que fura o pneu mas arruma sorrindo

Se dá pane seca te empurra feliz
Suado, cansado, sempre te diz

Filho de rico é sortudo playboy

Que ele é motoboy

Esse cara sou eu

Esse cara sou eu

Esse cara sou eu

Esse cara sou eu

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Terça-feira, 27 de Novembro de 2012

Olhai por nós, os moradores!

 

Sei que adiante um dia vou morrer, de susto, de bala ou vício*

 

Na noite do dia 20 de novembro, feriado do Dia da Consciência Negra, estava voltando para minha casa, a bordo de uma moto BMW F 650GS 2008, como sempre fiz por mais de quatro décadas. Na porta da minha casa fui abordado por três elementos em duas motos, uma Yamaha Fazer 250 preta 2012 e uma Honda CG 150. Um deles desceu da garupa da Fazer, me apontou uma pistola automática 9 mm e começou a me ameaçar, perguntando se eu era policial, se a moto tinha alarme, essas coisas. Ele tentou tirar o meu capacete Shoei, mas como o fecho é de argolas, e não de engate rápido, ele não conseguia e um dos comparsas gritava “Deita ele, deita ele”. Na linguagem deles significa simplesmente “mata o cara, mata o cara”. Eu mesmo soltei as argolas e entreguei o capacete... foram embora!

 

Foram embora, levaram minha moto e deixaram um fantasma para trás: eu!

 

Foi o terceiro assalto a mão armada que sofri em um perímetro de pouco mais de um quilômetro. O primeiro foi no ano 2000 e os assaltantes, armados, eram profissionais e estavam tranqüilos. Não me ameaçaram e ainda deixaram ficar com o telefone celular, mas levaram a bateria. O segundo foi em 2008, quando uma turma em CGs me cercou e levou uma moto Yamaha MT-03 recém lançada. Também não ameaçaram, mas levaram minha mochila com os cartões compact flash e todo meu trabalho de dois dias como fotógrafo, inclusive com as fotos da moto roubada. E agora, em 2012 um novo assalto.

 

Pela matemática simples pode-se concluir que o período entre uma ação e outra está reduzindo pela metade, o que projeta uma vida infernal a partir de 2015 para mim. Se o mundo não acabar agora em 2012.

 

Ser assaltado é uma experiência que mexe com a vítima. E mexe naquilo que temos de mais dignificante que é a coragem. Nos dois primeiros não cheguei a ficar muito assustado, mas neste último foi literalmente apavorante, porque houve a ameaça real de morrer ali, na porta da minha casa. Em um segundo de lucidez joguei o sensor do portão eletrônico embaixo de uma caçamba de entulho, porque se o portão estivesse aberto seria desgraça na certa.

 

Depois da humilhante imagem de ver minha moto ir embora nas mãos de um marginal veio toda a depressão do mundo como se uma bigorna de 50 kg caísse sobre os ombros. Aquela sensação de impotência diante de uma ação tão violenta mexe com o ser humano. Não consegui – e ainda não consigo – sentir a revolta que a maioria sofre a ponto de pensar nas mais sanguinolentas vinganças. Só uma tristeza que parece não ter fim.

 

Estou pouco me lixando para a moto, que eu nem gostava tanto assim e estava coberta pelo seguro, mas pelo ato de banditismo que fui obrigado, mais uma vez, a assistir quieto e impassível. Fazer parte de uma rotina de violência deixa qualquer pessoa doente da alma.

 

Por vários dias pensei “e se o cara tivesse atirado?”. No momento do assalto cheguei mesmo a projetar a imagem, o barulho, a “picada” da bala entrando, a queda na pressão arterial, o desmaio, o sono profundo e o silêncio. Será que minha esposa teria ouvido o tiro? Será que eu morreria nos braços dela? O resgate chegaria a tempo? A bala atingiria alguma artéria? Algum órgão vital? A arma estava apontada pra minha barriga, o projétil poderia passar pela musculatura, perfurar o intestino, atingir a coluna e me deixar paraplégico. Ou varar o fígado e eu sangrar até a morte. E se o resgate chegasse tarde demais e eu morresse ali, na porta de casa.

 

Imaginei o desespero da minha esposa, segurando minha cabeça e sentindo o sangue quente e espesso escorrendo pelo corpo, pelas mãos, pelo chão. Ela não colocaria o dedo no buraco da bala para tamponar o ferimento porque não foi treinada para isso, mas se eu tivesse forças avisaria “tampone os furos!”. Aprendi isso no hospital.

 

E o que viria depois? A polícia chegaria cheia de perguntas com aquela cara de quem soltou pum no elevador. Para os policiais era mais uma vítima de latrocínio. Mais uma ficha pra preencher, um corpo pra identificar, empacotar, colocar na gaveta, jogar no rabecão e mandar pro IML. Mais um.

 

Como seria esta noite? A notícia sairia nos telejornais? Colocariam minha foto tirada do Facebook, com um resumo tipo “jornalista especializado, 53 anos, casado, duas filhas bla, bla,bla”. Talvez entrassem com cena na porta do IML, entrevistariam algum amigo meu, que pediria mais ação da segurança pública. Alguém faria um depoimento emotivo acusando toda a cúpula da Secretaria de Segurança Pública, pedindo a cabeça do Alckimin, do Kassab e da Dilma. Enquanto meu corpo era preparado para o enterro depois da autópsia, que concluiria “morte provocada por hemorragia e falência dos órgãos, causada por projétil de arma de fogo”.

 

Não existe situação mais insólita na vida de uma pessoa do que escolher o caixão e a roupa que o morto vai usar. Já passei por isso e foi algo que espero não passar de novo. A gente olha para as caixas de madeira sem conseguir pensar em nada, enquanto o vendedor explica as qualidades de cada um: “este é de madeira MDF, mais barato; este é pinho maciço, com acabamento em veludo vermelho e alças de alumínio anodizado em prata; este é de peroba, com acabamento duplo, estofado, alças de aço dourado”, assim por diante, passando a lista de preço. E a gente não ouve nada, só fica pensando que diferença isso faz?

 

Quem faria isso pra mim? Na confusão ninguém lembraria que eu tenho um seguro de vida que cuida de tudo isso – e paga! Minha esposa, abalada, talvez em choque, lembraria, mas não saberia localizar minha “life planner” porque o celular foi junto com a minha vida. E ela já teve de escolher o caixão da mãe, por isso acho que não teria forças. O meu vizinho de infância, Daniel? Ele chegaria logo em seguida porque a “rádio-peão” espalharia a notícia pela rua com a velocidade a jato. Ele poderia assumir essa parte porque sabe ser frio quando precisa. Ou meu irmão mais velho, talvez? Ou Minha irmã mais velha? E a roupa? Escolheriam jeans, camisa e tênis, ou terno, calça e camisa sociais e sapato? Talvez houvesse uma discussão entre os “sociais” e os “casuais”, mas acabariam decidindo por algo mais casual, porque eu passei pela vida casualmente.

 

E minhas filhas? Como receberiam a notícia? Quem as ampararia? Não era a melhor época de perder o pai, no fim do ano, com o TCC pra apresentar, o aniversário chegando, natal, ano novo. Putz, estragaria o fim de ano das duas.

 

Sempre achei a relação pai-filho uma tremenda sacanagem da vida. Quando eu era pequeno meu pai contava a infância e juventude dele em Suzano, grande SP, e toda vez que a gente passava no rio Tietê ele falava “eu nadava e pescava neste rio”. Eu olhava pela janela do Gordini II pra aquele rio fétido e ficava morrendo de inveja por não ter conhecido meu pai na infância dele. Minha mãe falava como era pegar pêra, uva, goiaba, laranja e mexerica no pé pra levar de marmita na escola. E como meu avô criava, matava e preparava os animais sem qualquer remorso. Também tinha raiva de não ter conhecido minha mãe quando era menina.

 

Outra sacanagem de ser pai/filho é que depois os pais se vão e a gente fica sem ter pra quem contar as novidades. A condição de filho é uma tremenda farsa!!! A gente participa só de um período da vida de nossos pais. Tem amigo que convive por muito mais tempo!

 

Minhas filhas ficariam sem o pai precocemente. Como tocariam suas vidas? Elas receberiam o seguro? Daria para garantir por algum tempo, mas e depois? Elas continuariam em São Paulo, ou mudariam de cidade para fugir desse bangue-bangue urbano? Ser pai é levar a preocupação para a eternidade.

 

O que seria do futuro da minha mulher? Como seriam seus dias após o enterro? Quem cuidaria dela? Por ter uma vida marcada por grandes perdas talvez reagisse de forma mais pragmática. Mas se ela chora até assistindo Bambi, seria um dilúvio de lágrimas?

 

Meus pais, no crepúsculo das vidas, pós 80 anos, como resistiriam à notícia da perda do filho caçula? Será que resistiram? Perder um filho é levar uma rasteira da vida. É uma traição com a natureza dos acontecimentos. É uma inversão na ordem cronológica da história. Filhos nasceram para durar mais que os pais, punto e basta e não se atrevam a mudar isso!

 

É pra você, Geraldo

Confesso que passada uma semana desse “evento” continuo muito assustado, com uma pressão constante no peito e a sensação de que a qualquer momento vou chorar horas a fio até expurgar esse fantasma do Tite morto que está dentro de mim. Ando pela rua assustado como se aquela bala ainda estivesse por aí, querendo me acertar. O nome disso é stress pós-traumático. Na minha turma a gente chamava de cagaço mesmo. E a natural depressão apenas pela ideia da minha morte pode ser só uma gota perto do tsunami de dor e frustração que vem na sequência. Um tiro que pode mudar toda a história de vida de várias pessoas.

 

Menos daquelas que deveriam olhar por nós, os moradores. Logo depois do meu assalto o Secretário de Segurança Pública de São Paulo foi demitido. Sabe o que isso muda? Nada! Porque não foi o filho do governador que teve sua vida nas mãos de um marginal. Não foi o pai do comandante geral da polícia que foi ameaçado de morte aos gritos de “deita ele, deita ele”. Não foi o filho do Secretário de Segurança Pública que esteve na mira de uma pistola automática.

 

Vivemos em uma monarquia, na qual os reis e monarcas estão protegidos por seus exércitos e a plebe está entregue à insignificância de suas existências. O governador e sua família estão a salvo em carros blindados, seguranças armados e um esquema próprio pago por nós. Assim como a família de qualquer autoridade monárquica desse reino chamado Brasil.

 

Eu me desespero quando vejo o governador, meu xará Geraldo, aparecer na TV com dados estatísticos sobre a violência. Afirma que o número de assassinatos por mil habitantes diminuiu 6,5%. Que a violência geral caiu 15%. Com todo perdão da palavra, estou cagando para esses números, porque na hora que um marginal aperta o gatilho é 100% do nosso filho que morre. É 100% do nosso pai que vai embora. É 100% da uma história que escorre pelo ralo.

 

Meus vizinhos querem contratar vigilância privada, armada, para nossas ruas. Sou contra, porque isso facilita as coisas pro Estado e Município. Quando a população decide pagar pela vigilância a categoria política pode usar a verba da segurança pública em campanhas políticas e mensalões para garantir a permanência no poder. E sei que esse texto vai suscitar vários protestos contra os sistemas legislativo, judiciário e executivo, mas não adianta nada. Eu ligo a TV e descubro que um marginal preso por assassinato já tinha passagem pela polícia por latrocínio, roubo, receptação e tráfico de drogas. E COMO ESTE SUJEITO ESTAVA SOLTO??? De que adianta meus vizinhos instalarem câmeras de vigilância se isso só serve para saber que aquele bandido é o Manézinho, a comunidade de Ximboquinha e que vai ficar seis meses na cadeia! É apenas mais um assassino identificado. Essas câmeras só servem para que os pais vejam como seus filhos foram assassinados de forma covarde e cruel. Quantas imagens de assassinatos apareceram recentemente na TV? Prenderam alguém graças a elas?

 

Não dá mais para aceitar que minhas filhas estão dividindo espaço nas ruas com pessoas armadas, criminosas e assassinas! Não é aceitável que parado ao meu lado, no semáforo, esteja um cara que cumpriu pena por latrocínio e está solto, armado e pronto pra matar de novo. Não dá!

 

Geraldo, meu xará, desça do alto do seu trono de Rei do Estado de São Paulo e olhai por nós, os moradores, agora e não na hora de nossa morte. Porque seu eu morresse naquele assalto era 100% do meu sangue que seria creditado na tua conta!

 

* Parte da letra “Soy loco por ti America” de Caetano Veloso.

 

 

  

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Segunda-feira, 26 de Novembro de 2012

Uma luz sobre o assunto

 (Em alguns carros, a lanterna é junto com farol alto e baixo) 

Entenda de uma vez por todas como funcionam as luzes dos veículos

Alguns dias atrás encontrei um velho amigo de adolescência. Depois de atualizarmos toda nossa vida percebi que tinha algo muito diferente no rosto dele, além das rugas, claro. Mais à vontade, perguntei e ele admitiu que tinha feito cirurgia plástica, mas não por vaidade e sim em função de dois graves acidentes de carro que causaram ferimentos no rosto. Estranhei, porque nós somos de uma geração que aprendeu a dirigir carros na pré-adolescência e ele sempre dirigiu muito bem. Pedi detalhes e ele relatou que os dois acidentes foram à noite, em situações parecidas e sem envolver álcool, excesso de velocidade ou imprudência.

No fim do evento fomos juntos para o estacionamento e vi que ele saiu com o carro com os faróis apagados. Parei a moto ao lado e berrei “o farol está apagado!”. Mas ele respondeu: “mas as lanternas estão acesas, na cidade só uso as lanternas”.

Eu não quis provocar uma briga, mas na hora lembrei a descrição dos acidentes e percebi que ele ainda sofreria muitos outros se continuasse a rodar à noite com os faróis apagados. Que Deus proteja meu amigo!

É inacreditável, mas em pleno século 21 as pessoas ainda não sabem como usar um simples farol. Talvez isso explique parte dos graves acidentes que acontecem à noite. Ainda podemos encontrar motoristas e motociclistas que não sabem a diferença entre lanterna e farol e isso é desconhecido das autoridades de trânsito, porque nunca vi nenhuma campanha de esclarecimento sobre o assunto. Entre os especialistas e socorristas existe um ditado famoso: "de dia as pessoas se acidentam, à noite elas morrem!".

As luzes dos carros, motos, caminhões e ônibus não foram feitas apenas para que seus condutores pudessem ver à noite, mas também para serem VISTOS, tanto por pedestres quanto por outros autores do trânsito.

Esclarecendo, geralmente os veículos tem cinco situações de iluminação:

Lanterna ou luz de posição – A responsável por toda a confusão. Essa luz foi criada para ser usada com o veículo PARADO e tem a finalidade de ser visto mesmo em condições de pouca iluminação. Não deve ser usada com o veículo em movimento. Em muitos países essa posição foi abolida justamente para evitar essa confusão e foi substituída por leds que ficam permanentemente acesos, inclusive com a opção de manter só um lado aceso, quando o motorista estacionar em local escuro. Mas essas luzes foram criadas para países europeus, com baixo índice de insolação e grande incidência de neblina. Como o consumo de energia dessas luzes é baixo, podem ficar acesas até o dia seguinte sem problema. Infelizmente no Brasil esse tipo de iluminação é confundida com o farol baixo e até motoristas de veículos pesados trafegam à noite apenas com as lanternas acesas. É mais triste ainda perceber que os policiais e agentes de trânsito também cometem essa infração! Ou seja, nem que tem a função de fiscalizar conhece e aplica as leis.

Farol baixo – É a luz mais fraca dos faróis principais e deve OBRIGATORIAMENTE ser ligada a partir do pôr do sol. Como foi descrito, em pleno século 21 tem motorista que ainda não percebeu a função desse farol. Ele não provoca ofuscamento, desde que regulado, e tem de ser usado nas áreas urbanas, com ou sem iluminação pública. Em muitos países os carros ficam permanentemente com essas luzes acesas. No Brasil, apenas nas motos esse farol já fica sempre aceso, seja dia ou noite e não tem opção de desligar. Infelizmente vivemos uma época de narcisismo e egoísmo exagerados e alguns indivíduos de pouca ou nenhuma inteligência adaptam leds coloridos em vez de faróis. É uma cópia dos “angel eyes” usados em carros europeus para uso especialmente em condições de neblina. Aqui no Brasil virou moda “tuning” e se tornou substituto dos faróis. E a fiscalização não tem competência para coibir essa ação.

Farol alto – É a luz mais forte e só pode ser usado em áreas sem iluminação pública, estradas e zona rural. Deve ser desligado quando cruzar outro veículo em sentido contrário e também pode ser usado como sinal de advertência para ultrapassagem. Também deve ser desligado quando seguir algum outro veículo. O lampejador de farol, ou “flash” aciona o farol alto. Não deve ser usado em neblina, poeira excessiva ou chuva forte. Nestas condições ele espalha demais a luz e piora a visibilidade. O farol baixo é mais eficiente.

Luz de neblina – Essa é a campeã da desinformação. Posicionadas sob o pára-choque, elas tem a função de reforçar a iluminação em condições de neblina porque espalha o facho para baixo e laterais. A luz traseira de neblina tem a finalidade de tornar o veículo mais visível em condições de baixa visibilidade, como a óbvia neblina, chuva ou poeira. Infelizmente, mais uma vez a prepotência e ignorância do motorista médio brasileiro transformaram essas luzes em faróis e são usadas sem o menor critério. Fico pensando nos milhares de reais que são jogados fora anualmente em campanhas de segurança, aqui no Brasil, para um público incapaz de entender o funcionamento de algo tão simples e elementar. As luzes de neblina não devem ser usadas em noites claras de boa visibilidade, muito menos na cidade. As dianteiras não são visíveis pelos pedestres, nem pelos motociclistas, porque o facho não chega à altura dos olhos. E a luz traseira ofusca a visão quem vem de trás. Eu desafio algum leitor narrar algum episódio de multa para quem estava trafegando com as luzes de neblina acesas na cidade. Mas posso apresentar dúzias de multas ridículas para motociclista que roda com a viseira aberta (mesmo de óculos!).

Farol de milha ou longo alcance – Hoje esses faróis são mais raros, mas eram usados até meados dos anos 80, inclusive em versões de série. São faróis mais potentes que o farol alto e proibidos de funcionar nas cidades. A lei obriga, inclusive, que sejam cobertos por uma capa enquanto o carro estiver na cidade e só podem ser descobertos nas estradas. Comum nos carros fora-de-estrada pela elementar necessidade de iluminar os obstáculos com muita antecedência e clareza. Nas estradas ele é muito útil, mas nunca deve ser usado na cidade!

Pisca, seta ou luz de indicação de direção - é aquela luz acionada por uma alavanquinha (no carro) ou no botão (moto) e que avisa para qual lado você vai virar, ou mudar de faixa. Simples, né? Pena que quase ninguém sabe o que é e para que serve. Mas lembra de ligar o pisca-alerta quando está sob neblina, com o veículo em movimento, o que é perigoso e ilegal. O pisca alerta só deve ser acionado com o veículo PARADO!

Alguns motociclistas instalam faróis auxiliares, mas devem escolher modelos que sejam específicos para motos e que não acabem com a bateria. Atualmente os faróis originais das motos são muito eficientes. Mas o motociclista deve lembrar que ao transportar peso excessivo ou garupa a traseira afunda e a frente levanta, fazendo subir o facho do farol. Algumas motos (e carros) tem regulagem rápida para essa situação, mas quando não houver lembre-se de não colar nos carros da frente.

 

publicado por motite às 14:16
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Sexta-feira, 9 de Novembro de 2012

A dor fantasma

Administrar as perdas com sabedoria

No período em que trabalhei em hospital tive a chance de conviver com pessoas que aprenderam a administrar as perdas. Médicos, para-médicos, enfermeiros, religiosos, estão sempre convivendo com as perdas. E o hospital tem muito desse equilíbrio porque divide espaço com maternidade e centros de tratamento intensivo. É o tempo todo gente chegando e gente partindo.

 Neste período de 18 meses aprendi muito sobre a vida e a morte, como é natural neste ambiente. Mas uma lição ficou para toda a vida e acho um bom momento dividir esse aprendizado. Especialmente em época de redes sociais nas quais as pessoas dividem muito de suas angústias e alegrias e expõem suas feridas como se fossem prêmios.

 No começo dos anos 80 eu trabalhava como fotógrafo em um grande hospital de São Paulo. Era um serviço fácil porque se resumia a produzir material para projeções em aulas. E eu aproveitava o imenso laboratório para revelar filmes,  ampliar cópias P&B para os meu amigos fotógrafos e exercitava meu ofício de fotojornalista.

 Eu circulava pelo hospital com meu avental identificado por um grande CDF no peito, idéia de algum administrador muito bem humorado que achou divertido chamar meu departamento de Centro de Documentação Fotográfica só por causa do CDF. Uma tarde eu passava por um quarto e o paciente chorava copiosamente, sentindo fortes dores. Vi que era um jovem fui lá correndo tentar conter o cara até chegar um enfermeiro. Ele havia perdido uma perna em um acidente de trânsito duas semanas antes. Apontei pra perna que restou perguntando se a dor era ali. Pra minha surpresa ele berrou:

- Nãããaããooo, é NESTA perna!!! E apontou pro espaço onde só havia o coto!

 Na minha ingenuidade ainda questionei, “mas aí não tem mais perna, deve ser a outra, ela está quebrada?”

- Nãããaããaãooo, a dor é no pé que foi amputado! E desandou a chorar mais ainda.

 Achei melhor chamar um médico. E dei de cara com meu irmão, saindo do almoço. Ele era (e ainda é) médico e dava expediente no mesmo hospital, assim como minha irmã. Não, não era nepotismo, porque era uma empresa privada. Meu irmão teve uma carreira interessante na medicina. Se especializou em neurocirurgia, mas no começo enveredou pela chamada “medicina alternativa”, como homeopatia, acupuntura, xamanismo e outras menos ortodoxas. Hoje ele se especializou em UTIs.

 Expliquei que tinha um paciente com muita dor na “não-perna” e que devia ser uma maluquice qualquer. Para minha surpresa, ele simplesmente respondeu “normal” e foi ver o jovem amputado. Fiquei na porta olhando, mas sem escutar nada. Meu irmão voltou com a caixinha de agulhas, ficou ali mais de uma hora e o cara acalmou. Fiquei imaginando como seria uma acupuntura no não-membro!

 O luto

Quando alguém perde um membro é natural sentir dor na extensão dele. Os mais chegados à ciência dizem que é o reflexo das terminações nervosas que precisam cicatrizar. Os românticos chegam a comparar com a pior das dores de perda, como muito bem traduziu Chico Buarque de Holanda, na música “Pedaço de Mim”, quando compara a dor da perda a “uma fisgada no membro que já perdi”. Os mais espiritualizados explicam que é apenas a alma que continua cobrindo a extensão do corpo, até que se adapte à nova condição de não-membro.

 Depois de algumas seções de acupuntura o paciente deixou de sentir a dor fantasma no membro amputado. Fui tirar satisfações com meu irmão, afinal como se espeta agulhas num membro que não existe?

 A explicação foi uma lição. Segundo ele, na verdade, a acupuntura foi na perna que ficou. Estimulando a perna real por meio de agulhas, aos poucos o paciente foi se desligando da perna perdida. Segundo ele, “valorizando o membro que ficou foi mais rápido, natural e indolor aceitar a perda do membro que se foi”.

 É isso! Este é o grande segredo! Muitas vezes as pessoas valorizam demais a perda e esquecem do que ficou, mesmo quando o que ficou são elas mesmas! É mais comum do que parece e reflete na depressão profunda gerada pelo o que foi perdido em detrimento do que ficou recuperado.

 Vejo pessoas se desesperando e entregando-se a uma escuridão de sofrimento pelo que perdeu, deixando de valorizar o que ficou. Nas relações humanas isso é ainda mais fácil de perceber. A separação nunca será cicatrizada se o lado “deixado” não se der mais valor do que ao lado “separado”.

 Sim, existe o luto pela perda e esta é uma das manifestações mais universais da Humanidade. O ritual do luto é seguido por civilizações desde sempre e obedecem padrões até coincidentes em culturas que nunca tiveram contato. Porque a dor da perda é universal.

 A antroposofia e outras filosofias explicam o luto como a forma de interromper as ligações anímicas criadas com as pessoas de seu convívio. Segundo várias filosofias (não confundir com religião), a convivência faz com que as almas criem elos e, nos casos de parentesco ou casamento, chegam mesmo a se fundir.

 A perda da pessoa ligada animicamente gera a ruptura desses elos a ponto de causar sofrimento até na alma. Daí a necessidade de respeitar o luto, que é o tempo que a alma precisa para entender a nova condição. Mas normalmente o conceito do luto está ligado só à morte física e não à morte do relacionamento. A sensação de vazio é o luto pelo relacionamento interrompido.

 Por isso não consigo acreditar como sendo algo natural quando um casal (ou parte dele) “festeja” a separação. Talvez seja uma forma de disfarçar o luto constrangedor.

 E a melhor forma de amenizar esse luto é voltar-se ao que ficou. É normal encontrar pessoas repetindo quase como um mantra “preciso esquecer aquele(a) desgraçado(a)”. Mas esse é um tiro no pé. Nosso cérebro é um HD pastoso e cinzento que precisa ser programado. Tentar esquecer alguém é a melhor forma de mantê-lo vivo no pensamento, porque para esquecer é preciso lembrar. O jeito menos dolorido de aceitar a perda é pensar mais em si e menos no outro.

 Perda, não!

O conceito da perda por si só já traz uma conotação pesada e indesejável. Nossa formação ocidental católica-judaica-cristã usa a sensação da perda para nos carregar de culpa pela felicidade. Jesus morreu para nos poupar. A Bíblia está cheia de exemplos de perdas que trouxeram a redenção. O componente machista da religião contribuiu para que as perdas torturassem mais as mulheres desde a Eva, que desobedientemente comeu a maçã e perdeu a mordomia no paraíso. Quando os homens transam pela primeira vez ganham maturidade sexual. As meninas perdem a virgindade! O conceito da perda nos é imposto desde praticamente o nascimento.

 Subliminarmente a sociedade ocidental nos força a acreditar que tudo é para sempre, o que enfatiza o desespero pelo fim. As histórias infantis terminam com o mesmo golpe do "e foram felizes para sempre". Depois a criança cresce, casa e a religião católica continua condenando aos relacionamentos eternos ao obrigar publicamente, com testemunhas, declarar que ficarão juntos até que a morte os separe. Prefira acreditar na versão Viniciusdemoraeseana do "que seja eterno enquanto dure".

 E o melhor jeito de recusar este fardo essencialmente pessimista é acreditar na vulnerabilidade das pessoas e relacionamentos e reverter as perdas em ganhos. Valorizar menos o que se perdeu e supervalorizar o que ficou. Grandes histórias de vida começaram após uma perda.

 Mas por que eu estou escrevendo tudo isso?

 Bom, primeiro porque eu não quero passar minha vida escrevendo só sobre motos. E depois porque estou cansado de ver as pessoas mergulhadas nesta dor fantasma por algo que se perdeu a ponto de anularem a si mesmas. Respeite o luto, sim, mas valorize a vida!

 

publicado por motite às 19:04
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Quinta-feira, 8 de Novembro de 2012

Será que vai ser sempre assim?

(manda uma pra cá, por favor!)

O que precisará mudar para que a vida em sociedade volte à harmonia?

Ontem presenciei cinco veículos que atravessaram o farol vermelho no espaço de poucas horas em locais diferentes de SP. Dois deles quase me atingiram. E todos eles simplesmente ignoraram a existência do semáforo, como se fosse uma rua sem qualquer tipo de sinalização. Isso foi em São Paulo, nos bairros do Jardins e Sumaré.

São Paulo precisa de uma grande e definitiva catástrofe natural. Um terremoto, vulcão em erupção em plena Avenida Paulista, uma enchente que provocasse um tsunami no rio Tietê e a população ficasse com cocô até os joelhos. Uma tempestade que varresse metade dos prédios da cidade, um vírus mortal, ou um ataque terrorista com uma bomba de nêutrons.

Só uma grande desgraça coletiva pode devolver à população de São Paulo o senso de coletividade que ficou perdido em algum lugar da involução humana. Não é possível que motoristas, pedestres, motociclistas e ciclistas continuem o resto de suas vidas achando que estão sozinhos e que os outros existem com o único propósito de atrapalhar suas vidas.

Já escrevo há mais de 30 anos sobre trânsito e não me canso de repetir: o trânsito é uma organização social e reflete o quão organizada é uma sociedade.

Isso não significa que São Paulo é uma cidade habitada por selvagens e sociopatas... quando estão em casa! Basta assumir o comando de um veículo para que o mais equilibrado dos cidadãos se torne um egocêntrico em potencial, com traços de esquizofrenia. Os veículos estão proporcionando às pessoas a clara impressão de que sob aquele comando manda quem dirige e obedece quem está fora.

Já quebrei a cabeça tentando desvendar de onde vem essa tendência ao egocentrismo. Já bati na tecla da importância da família no papel de desenvolvimento da psique dos futuros motoristas e atores do trânsito. E não vejo, nem num futuro mais fictício e distante a menor possibilidade de alguma coisa mudar no comportamento do paulistano.

De um lado as autoridades públicas abriram mão de disciplinar o trânsito e ensinar os atores (todos que dividem o espaço público). De outro lado a família, equivocadamente, entregou o papel da educação formal aos professores. E no meio disso tudo temos uma fome incessante de arrecadação por meio de multas. Por isso eu torço por uma grande tragédia.

Todo mundo sabe que a humanidade já passou por várias tragédias naturais ou provocadas pelo Homem. A tragédia traz um componente solidário muito interessante, porque as pessoas passam a dividir e não mais a competir. A própria raiz da palavra solidário remete ao latim que significa “dar de si”. Diante das tragédias as diferenças sociais desaparecem e a união se transforma na única solução de sobrevivência.

Sociedades que passaram por uma grande tragédia saíram diferentes, com uma cumplicidade social muito maior. O Japão é o maior exemplo de surgimento de uma nova mentalidade depois da segunda Guerra Mundial. Deixaram de lado a ideia de dominação pela força e o país se livrou do exército para desenvolver uma das maiores economias do mundo.

É isso que a cidade de São Paulo precisa. Um cataclismo de proporções bíblicas que possa romper com a atual tendência à individualização e dar início a uma nova forma de vida em sociedade que contemple o próximo como alguém tão importante quanto a si mesmo.

Não vai acontecer essa armageddon tabajara. Infelizmente. E vamos ser obrigados a viver como se cada um tivesse raiva do sujeito que está ao seu lado. O motociclista continuará a rodar como se a rua e os menores espaços fossem de propriedade dele e ameaçar com uma fúria insana qualquer um que se colocar no seu caminho. O motorista continuará protegido por películas escuras para colocar em prática todo seu egoísmo na luta por um centímetro de asfalto e desrespeitar toda e qualquer sinalização que atrapalhe seus planos. O ciclista continuará a pleitear o direito de pedalar onde e como quiser e ignorar as regras de trânsito, comportando-se como pedestre quando convém e como motociclista quando quiser.

Enquanto isso, os guardas multam, a prefeitura arrecada, as famílias perdem seus filhos, as seguradoras, bancos e as financeiras enriquecem, as fábricas faturam alto e a sociedade continua caminhando desenfreadamente rumo à insustentabilidade.

Um tsunami, por favor!   

 

publicado por motite às 19:46
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