Ajudem-me!!!
Hoje fui na Bienal do Livro, no Anhembi, em São Paulo e fiquei preocupado. Aliás, a Sociedade Brasileira de Psicologia e Psicanálise deveria ficar ainda mais preocupada porque, a julgar pela quantidade de títulos de auto-ajuda, ninguém mais vai fazer análise. Psicoterapeuta: seu ofício está no fim!
Você está com auto-estima baixa? Não sabe ganhar dinheiro? Não sabe conquistar uma garota? Quer se separar? Quer casar? Criar os filhos? Os cachorros? Perdeu o emprego? Tem bilau pequeno? Unha encravada? Pereba? Encosto? Diabetes? Mau hálito? Não sabe chefiar? Nem ser chefiado? Precisa de um emprego decente? Seus filhos são uns pentelhos? Acha sua mãe uma gostosa? Quer cozinhar melhor? Transar melhor? Dirigir melhor? Precisa emagrecer? Engordar? Crescer? Encolher?
Seja lá qual for sua necessidade ou angústia existencial a resposta está nos milhares de títulos de auto-ajuda expostos nas livrarias. Não sei como isso tudo começou, mas quando vejo as gôndolas lotadas de livros de auto-ajuda tenho a clara impressão que a humanidade voltou à Idade da Pedra. Ninguém mais sabe como educar os filhos, ter sucesso financeiro, ser um bom chefe ou mesmo dar uma boa e natural transada sem a ajuda de um livro.
O que está acontecendo? Quanto mais meios de comunicação e informação a serviço do conhecimento menos as pessoas sabem ser elas mesmas! Abaixo a idiossincrasia, Adeus às vicissitudes! Bem-vindos estereótipos dos humanos-perfeitos talhados na literatura de auto-ajuda. Literatura, coisa nenhuma: manuais! Porque esses livros têm tanta literatura quanto uma bula de remédio. Não sabe criar o filho único? Tome um manual do proprietário de filhos únicos!
Essa é boa: tinha um livro ensinando a criar meninos! Isso mesmo, com distinção de sexo. Claro, porque a anta-mãe ou anta-pai não é capaz de perceber a diferença entre menino e menina, precisam de um livro pra ensinar. Isso tem um cheiro de homofobia explícita, mas estava lá, na enésima edição com mais de milhão de exemplares vendidos no mundo e o autor é venerado na Austrália como um gênio.
É uma decepção ver para onde está caminhando essa geração de leitores de manuais. Futuramente teremos um exército de filhos com a mesma educação, ou uma enxurrada de livros de auto-ajuda mofando nos sebos do mundo todo.
Saí da Bienal com a certeza de que se é verdade que livro de auto-ajuda ajuda, o maior ajudado nessa história é o editor!
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Outra constatação preocupante: 80% dos autores acima dos 40 anos são gordos!!! Caramba, eu terei de engordar pra fazer sucesso como escritor?